O NOVO HOMEM - Psicologia (2024)

Psicologia

Eeefm Doutor Francisco De Albuquerque Montenegro

josivaldoeokara Bezerra 14/10/2024

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<p>O novo homem: Conhecimento ·</p><p>Iniciação · Realização</p><p>J. van Rijckenborgh</p><p>O novo homem</p><p>Conhecimento · Iniciação · Realização</p><p>por</p><p>J . van Rijckenborgh</p><p>3.ª edição</p><p>2016</p><p>Copyright © 1953 Rozekruis Pers, Haarlem, Holanda</p><p>Título original: De komende nieuwe mens</p><p>3.ª edição, de acordo com o acordo ortográfico de 1990, corrigida e</p><p>revisada pela 5.ª edição holandesa de 1999</p><p>2016</p><p>Impresso no Brasil</p><p>Revisão da tradução: Neusa M. Messias de Soliz</p><p>Revisão de texto: Antonio Candido Gonzalez, Geraldo Caixeta, José de</p><p>Jesus, Marcia Regina de Matos Moraes, Mariluce Moisés de Deus Vieira,</p><p>Roquefélix Dias de Luz, Ruth Roder</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)</p><p>Rijckenborgh, J. van, 1896–1968.</p><p>O novo homem: conhecimento : iniciação :</p><p>realização / por J. van Rijckenborgh ;</p><p>[tradução Marcus Vinicius Mesquita de</p><p>Sousa]. -- 3. ed. -- Jarinu, SP :</p><p>Pentagrama Publicações, 2016.</p><p>Título original: De komende nieuwe mens</p><p>ISBN: 978-85-67992-53-2</p><p>1. Gnosticismo 2. Rosacrucianismo I.</p><p>Título</p><p>16-08209</p><p>CDD-135.43</p><p>Índices para catálogo sistemático:</p><p>1. Rosa-Cruz : Ordem : Ciências ocultas</p><p>135.43</p><p>Todos os direitos desta edição, inclusive os de tradução ou reprodução do</p><p>presente livro, por qualquer sistema, total ou parcial, são reservados à</p><p>Pentagrama Publicações</p><p>Avenida Vereador João Pedro Ferraz, n.º 605</p><p>13.240-000 – Jarinu – SP</p><p>Caixa Postal 39 — 13.240-000 — Jarinu — SP — Brasil</p><p>Tel. 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aprisionamento humano</p><p>Formas-pensamentos e sua atividade</p><p>O arqui-instinto do sangue</p><p>O ser-desejo, o eu sanguíneo</p><p>O sistema fígado-baço</p><p>A atividade do átomo-centelha-do-espírito</p><p>A expulsão do eu sanguíneo</p><p>I-5 Não há ligação entre o homem natural e o homem espiritual</p><p>Os três egos naturais</p><p>A aparência da cultura</p><p>A inquietação</p><p>O trabalho do Senhor</p><p>I-6 Gravidade e libertação</p><p>A fé nos vossos corações</p><p>Anseio como faculdade magnética</p><p>O microcosmo</p><p>O caminho para a porta dos mistérios: estar silencioso perante Deus</p><p>Os dois campos eletromagnéticos</p><p>Transfiguração</p><p>O novo campo de vida</p><p>I-7 A loucura da cruz</p><p>A camisa de força da natureza</p><p>A resistência ao transfigurismo</p><p>Em boa companhia</p><p>O Reino Universal</p><p>O setenário cósmico</p><p>A terra dialética</p><p>As forças naturais e os arquétipos</p><p>I-8 Deus · Arquétipo · Homem</p><p>O reino de Deus está dentro de vós</p><p>Os arquétipos humanos</p><p>O átomo-centelha-do-espírito e o arquétipo</p><p>Nossa atual realidade existencial</p><p>A restauração da antiga unidade: Deus–arquétipo–homem</p><p>A Fraternidade Universal de Cristo como mediadora</p><p>O Consolador</p><p>O que é a imagem do homem imortal</p><p>I-9 A alquimia divina e nós</p><p>A fórmula alquímica divina fundamental de nosso planeta</p><p>A substância primordial, a matéria mágica universal</p><p>O Grande Alento</p><p>A alma original</p><p>O gás hidrogênio</p><p>O princípio anímico nascido da matéria</p><p>Os nascidos duas vezes</p><p>O renascimento da água e do Espírito</p><p>A bomba de hidrogênio viva</p><p>Hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, carbono</p><p>Nosso planeta-mãe sétuplo</p><p>Os quatro alimentos santos</p><p>I-10 Conhece-te a ti mesmo!</p><p>Lúcifer</p><p>A alma, um mero fenômeno natural</p><p>A inutilidade do homem-eu e de seu mundo</p><p>A ilusão do ocultismo natural</p><p>A unidade do homem com o campo luciferino</p><p>O inferno e o fogo do inferno</p><p>A hierarquia dialética</p><p>A ilusão da religião natural</p><p>O curso do destino em Lúcifer</p><p>O chamado da Escola Espiritual à reflexão</p><p>Salvação mediante evolução, uma impossibilidade</p><p>Dois princípios de fogo serpentino</p><p>Cristo e Lúcifer</p><p>A tarefa de Pentecostes</p><p>A ressurreição da estrela da manhã</p><p>O Espírito e a noiva</p><p>I-11 A rosa da manifestação sétupla de Deus</p><p>A Rosa-Cruz</p><p>A concreticidade e a realidade da grande meta</p><p>Nosso campo de existência, um todo isolado</p><p>Os quatro alimentos dialéticos</p><p>Os quatro alimentos santos</p><p>O mar de águas vivas</p><p>Os dois campos atmosféricos</p><p>O chamado de Cristo para o retorno</p><p>O lançamento da pedra fundamental</p><p>Novo edifício templário</p><p>O trabalho do aluno construtor de templos</p><p>A entrada no campo eletromagnético primordial</p><p>I-12 A inevitabilidade do caminho da cruz</p><p>A rosa estilizada</p><p>O caminho da cruz</p><p>A joia preciosa no lótus</p><p>A meta única da Escola Espiritual</p><p>Os dois campos de vida</p><p>O chamado da Fraternidade</p><p>A necessidade da ação autolibertadora</p><p>A percepção do chamado</p><p>O falso misticismo</p><p>O perigo da religião natural</p><p>O trilhamento da senda</p><p>Fiéis, chamados e eleitos</p><p>I-13 A ascensão para a liberdade</p><p>Deus conhece todos os seus filhos pelo nome</p><p>O estado pecaminoso da consciência-eu</p><p>O átomo luciferino e o átomo de Cristo</p><p>A necessidade fundamental do renascimento da alma</p><p>O batismo de Jesus no Jordão</p><p>As três fases da ascensão evangélica para a liberdade</p><p>O início atingível</p><p>I-14 O evangelho vivo da liberdade</p><p>A linha de separação</p><p>A peregrinação de Jesus</p><p>O declínio do eu em Jesus, o Senhor</p><p>O evangelho escrito no coração</p><p>A via-crúcis evangélica, um caminho de alegria</p><p>A última página do Evangelho</p><p>O verdadeiro Círculo Apostólico</p><p>A bênção proveniente do Terceiro Templo</p><p>A graça todo-poderosa</p><p>A horrível paródia do Evangelho da liberdade</p><p>I-15 O conhecimento da natureza da morte</p><p>As causas do estado de queda da humanidade</p><p>A preparação para seguir a Cristo</p><p>O microcosmo como uma pilha atômica</p><p>A imprescindibilidade dos reinos naturais subumanos</p><p>A tragédia dos esforços por autoproteção da humanidade dialética</p><p>I-16 A ilusão da dialética</p><p>A tragédia geral do mundo</p><p>O autoconhecimento libertador</p><p>O cansaço da alma buscadora</p><p>Loucura</p><p>A tentativa de imitar o reino de Deus na dialética</p><p>O aprisionamento contínuo da humanidade</p><p>Judas e o curso de seu destino</p><p>A assinatura tríplice da traição</p><p>O fim fatídico</p><p>O grande perigo na senda</p><p>I-17 As duas formas no microcosmo</p><p>O fantasma tríplice</p><p>O fim de Judas</p><p>Os três grandes obstáculos antes de encontrar-se a verdadeira senda</p><p>O ser aural, o eu superior</p><p>O eu inferior</p><p>O firmamento como lípica</p><p>O estado dependente do ser aural</p><p>Lúcifer, o deus ígneo</p><p>O ser aural como deus natural</p><p>A ilusão do ocultismo</p><p>O sol espiritual latente</p><p>A tentação no deserto</p><p>I-18 É necessário que ele cresça e eu diminua</p><p>O poder do eu superior</p><p>A influência do ser superior no processo de nascimento terreno</p><p>Nossa existência atual, apenas um processo natural</p><p>A ficção da ideia da sobrevivência e da reencarnação</p><p>A existência não divina do ser humano mediante autoagrilhoamento ao eu superior</p><p>Um novo céu e uma nova terra</p><p>A aniquilação completa de nosso estado natural</p><p>Jesus Cristo, o Outro</p><p>O caminho da humildade perfeita</p><p>A volta da luz</p><p>Parte II · A senda sétupla da nova gênese humana</p><p>II-1 Fé, virtude, conhecimento</p><p>Os perigos dos esforços no plano horizontal</p><p>A chave para a senda: a fé</p><p>A verdadeira posse da fé</p><p>A virtude</p><p>O conhecimento</p><p>Um novo archote é inflamado</p><p>II-2 Autodomínio — I</p><p>O autodomínio</p><p>O inferno nas regiões fronteiriças do Além</p><p>As consequências dos instintos naturais reprimidos</p><p>O surgimento das assim chamadas regiões superiores da esfera refletora</p><p>O estado de efésio</p><p>A culpa recíproca de homem para com homem</p><p>A necessidade da senda de cura</p><p>II-3 Autodomínio — II</p><p>As doze energias</p><p>As três fases de crescimento do homem dialético</p><p>A estrela de Belém</p><p>A espada na alma</p><p>A luta das duas naturezas</p><p>O verdadeiro autodomínio</p><p>II-4 Perseverança</p><p>A perseverança dialética</p><p>A pureza do coração</p><p>“Choque”</p><p>A</p><p>vitória!”</p><p>Quem quiser seguir esse caminho de cruz vencerá. Finalmente, o último</p><p>golpe de lança no flanco, no baço, demonstrará que se completou a morte</p><p>do homem terreno. Somente então o homem celeste crescerá de eternidade</p><p>em eternidade. Da mesma maneira que temos levado a imagem do homem</p><p>terreno, assim levaremos a imagem do homem celeste.</p><p>Todavia, prestai atenção! Primeiro vem tudo o que pertence à alma, e</p><p>depois o espiritual!</p><p>Com ambos os pés plantados firmemente na realidade iniciemos nossa via</p><p>dolorosa em direção à aurora de ressurreição!</p><p>***</p><p>[18] Cf. Rm 7:19.</p><p>[19] Nas línguas anglo-germânicas, a palavra fígado (Leber, em alemão,</p><p>liver, em inglês) significa “vivente” (N.T.).</p><p>[20] Cf. 1 Co 15:50.</p><p>[21] Cf. 1 Co 15:51,53–54.</p><p>[22] Essa decisão da vontade provém do novo Marte, a faculdade da</p><p>vontade renovada em Deus. Ver: Rijckenborgh, J. van. A iniciação de</p><p>Marte do primeiro círculo sétuplo. In: O mistério iniciático cristão: Dei</p><p>Gloria Intacta. Jarinu: Rosacruz, 2003. cap. 6, p. 101–110.</p><p>I-5 Não há ligação entre o</p><p>homem natural e o homem</p><p>espiritual</p><p>Em poucos capítulos apresentamos o advento de um tipo humano</p><p>inteiramente novo. Apesar de essa apresentação ainda não estar completa,</p><p>achamos conveniente fazer primeiro um resumo dos tópicos já discutidos</p><p>e tirar algumas conclusões necessárias antes de prosseguir em nossas</p><p>explicações.</p><p>Possivelmente já compreendestes que o homem dialético é provido de uma</p><p>consciência tríplice, um eu tríplice. Portanto, é absolutamente necessário</p><p>sempre poder determinar qual eu, dentre esses três, se acha em atividade</p><p>quando observamos o procedimento de nossos semelhantes e somos</p><p>forçados a entrar em contato com eles — o que acontece a todo o instante.</p><p>Esses três estados de consciência no homem não constituem apenas</p><p>distinções metafóricas ou filosóficas, porém são inteiramente</p><p>demonstráveis, científica e organicamente.</p><p>Assim, existe uma consciência totalmente central, ou um eu, a qual tem</p><p>sua sede no santuário da cabeça. Essa consciência utiliza os centros</p><p>cerebrais e origina-se da constituição destes centros. Todas as nossas</p><p>aptidões intelectuais ou o treinamento delas são resultantes da atividade</p><p>desse eu. Em consequência, ele está apto a perceber intelectualmente os</p><p>fatos e os valores da vida, na forma em que se lhe apresentam, deles tirar</p><p>conclusões e tomar decisões intelectuais.</p><p>A consciência do santuário da cabeça é, ademais, provida de uma</p><p>faculdade volitiva. A vibração que emana dessa faculdade volitiva impele</p><p>o sangue, os nervos e os músculos à ação. Com base na aparelhagem desse</p><p>centro de consciência, podemos compreender perfeitamente que muitas</p><p>pessoas são governadas primariamente por essa consciência e, em</p><p>consequência de hereditariedade ou de treinamento, ficam quase que</p><p>completamente sujeitas a seu governo. Quando este é o caso, falamos, para</p><p>designar este tipo, de homem intelectual. O homem que chamamos</p><p>ocultista, entre outros, pertence a determinada classe desse tipo de</p><p>consciência central da cabeça.</p><p>Podemos perceber o segundo estado de consciência no santuário do</p><p>coração. Em princípio, essa consciência também trabalha</p><p>independentemente das outras duas. Organicamente, está situada no</p><p>coração sétuplo, todavia deveis compreender bem que ela nada tem a ver</p><p>com o átomo-centelha-do-espírito, situado no ventrículo direito do</p><p>coração!</p><p>Essa consciência central do santuário do coração tange todos os registros</p><p>da vida emocional humana. Tendes de ver, pois, e muito claramente, que a</p><p>vida emocional é um instrumento perfeito de consciência, capaz, por</p><p>exemplo, de funcionar independentemente do santuário da cabeça. Com</p><p>efeito, o homem pode “pensar” com o coração. A palavra “pensar”, porém,</p><p>desperta ideias diretamente ligadas à faculdade intelectual. Assim, talvez</p><p>seja melhor dizer que a consciência do coração é capaz de perceber</p><p>totalmente a vida e seus vários fatores, ponderar sobre isso e, por sua</p><p>iniciativa, tomar decisões.</p><p>A consciência do santuário do coração é também provida de uma</p><p>faculdade volitiva que podemos indicar como emoção, comoção ou</p><p>sentimentalidade. Pela vibração dessa faculdade volitiva o homem</p><p>também é levado à ação. Chamamos místicas as pessoas que vivem</p><p>sobretudo dessa consciência central do coração. Entre elas, devem ser</p><p>contadas todas as que se entregam inteiramente à vida religiosa natural.</p><p>O terceiro estado de consciência tem sua sede no santuário da pelve, ou</p><p>para ser mais exato, à frente deste, e está organicamente ligado ao sistema</p><p>fígado-baço-plexo solar, sobre o qual já se falou minuciosamente.[23] Essa</p><p>consciência central do abdome é a mais fundamental dos três egos</p><p>naturais. Ela determina o caráter com que viemos ao mundo. Todas as</p><p>nossas inclinações ocultas ou pronunciadas, todo o nosso carma,* estão</p><p>contidos nesse ego. Esse eu do sistema fígado-baço exerce forte e</p><p>dominante influência sobre os outros dois egos, e é com ele que “saímos”</p><p>à noite e fazemos nossas assim chamadas experiências noturnas.</p><p>Os egos da cabeça e do coração podem ser cultivados dialeticamente até os</p><p>limites determinados pela natureza. O ego do abdome, entretanto, não</p><p>pode ser submetido à cultura de espécie alguma. Esse ego é o verdadeiro</p><p>homem dialético, o qual é obrigado a mostrar seu ser verdadeiro,</p><p>desprovido de adornos — nu. Visto que ele não pode mostrar-se, oculta-se</p><p>quase sempre por trás da aparência mais ou menos cultivada dos centros</p><p>da cabeça e do coração. Ouvimos às vezes palavras untuosas e enfáticas,</p><p>transbordantes de compreensão e de amor pela humanidade, porém, atrás</p><p>de tudo isso, acha-se a besta primitiva, bramando e armando o bote.</p><p>A consciência abdominal também dispõe de uma faculdade dedutiva,</p><p>perfeitamente aparelhada, na estrutura do plexo solar, bem como uma</p><p>vontade. A vontade da consciência abdominal chama-se instinto, e todos</p><p>nós sabemos que o ser humano que é impelido pelo instinto também passa</p><p>à ação. Se um ser humano vive desse terceiro ego de forma primária e</p><p>totalmente desenfreada, ele representa o homem primitivo, o genuíno</p><p>homem natural desenfreado, o materialista brutal, o usurpador grosseiro.</p><p>Ficará claro, após refletirdes um pouco, que todas as experiências</p><p>dialéticas no terreno da Civilização, da Cultura, da Religião e da Magia se</p><p>originam de um número incontável de esforços para trazer ordem e</p><p>equilíbrio às funções e aos aspectos dos três egos naturais. Entretanto,</p><p>compreendereis também ser justamente dessa maneira que grande</p><p>quantidade de hipocrisia é despertada, e tensões poderosas e quase</p><p>insuportáveis surgem na vida humana. Todas as moléstias que atormentam</p><p>o gênero humano são provocadas por essa desarmonia e essas tensões</p><p>entre os egos da cabeça, do coração e do abdome.</p><p>Quando irrompem os instintos primitivos do homem, este passa a uma</p><p>conduta de vida de tal modo terrível que fica submetido a um demonismo</p><p>generalizado. Em todas as fases da história do gênero humano, vemos seus</p><p>guias esforçar-se para evitar esse perigo básico, submetendo os egos da</p><p>cabeça e do coração a todos os métodos educacionais possíveis.</p><p>Tão logo, contudo, o individualismo, a autoconservação e as normas de</p><p>vida se achem em perigo — e isso é uma lei natural na dialética — o</p><p>terceiro ego, em virtude de sua natureza, intervirá. O mundo se</p><p>transformará em inferno furioso; e o homem, em selvagem predador.</p><p>Todas as tentativas da cabeça e do coração para ocultar, disfarçar,</p><p>argumentar ou fantasiar a situação não podem mascarar a realidade: não</p><p>há ligação entre o homem natural e o homem espiritual.</p><p>O homem natural é provido de três focos de consciência, dois dos quais</p><p>têm de servir de “válvula de segurança” para a terceira consciência</p><p>fundamental. No entanto, em vista dos resultados da vida natural, tudo isso</p><p>se mostra insuficiente: ou uma catástrofe intensa ou uma desordem</p><p>dramática irrompe, e o resultado é, em qualquer dos casos, a morte e o</p><p>giro ininterrupto da roda da dialética.</p><p>Desse modo, quem começa a estudar objetivamente o organismo humano</p><p>dialético, e, ao final de suas deduções, experimenta desespero, fornece</p><p>com isso — desde que esse desespero seja visível e possa realmente ser</p><p>comprovado — a prova de um acontecimento excepcionalmente notável</p><p>no próprio sistema.</p><p>O homem é um ser natural. Todo o seu sistema* de vida se origina da</p><p>presente natureza, e todo o seu impulso vital se origina de sua unidade</p><p>com ela. O sofrimento, a dor e a tristeza do homem natural, portanto, não</p><p>provêm do desespero de sua alienação de Deus, porém, da resistência que</p><p>tem de enfrentar em seu desenvolvimento natural.</p><p>Assim como o coelho emite seu grito de morte quando o arminho o acossa,</p><p>o homem protesta se enfermidades ou dificuldades burguesas impedem o</p><p>fluxo natural de sua vida. Ao examinar a questão, verificareis ser possível</p><p>convencer qualquer ser humano da existência da dialética e de suas leis,</p><p>mas… no fundo, ele de modo algum se preocupará com isso. Ele a</p><p>considera natural e, frequentemente, até mesmo maravilhosa, uma vez que</p><p>a dialética está em perfeita harmonia com seu verdadeiro estado natural.</p><p>Ele considera a luta segundo a natureza como verdadeiramente humana e</p><p>viril. O estilo de vida predominante no mundo moderno atual se originou</p><p>completamente dessa luta e dessa lei.</p><p>Os seres humanos nesse estado de ser natural meramente se desesperam</p><p>pelo fato de o mundo não se desenvolver do jeito que eles gostariam que</p><p>se desenvolvesse, da mesma forma que se desesperam quando sofrem um</p><p>colapso econômico. Assim, portanto, não deveis deixar-vos enganar</p><p>quando esses indivíduos, possivelmente repletos de sentimentalidade</p><p>religiosa, fazem soar seus lamentos contra o mundo, taxando-o de ruim,</p><p>pois eles assim o consideram meramente por não ser-lhes possível</p><p>conseguir o que desejam.</p><p>Desse modo, vós mesmos deveis analisar-vos a fim de saber se</p><p>ingressastes na Escola Espiritual por serdes um desiludido segundo a</p><p>natureza ou por realmente vos saberdes um estranho neste mundo, cuja</p><p>alma é consumida pelo desespero de sua alienação de Deus. Se chegardes a</p><p>esta última conclusão, isso quer dizer que se realiza em vosso sistema</p><p>notabilíssima atividade, visto ser essa inquietação o efeito do trabalho do</p><p>átomo-centelha-do-espírito. Quando um homem ainda possui esse átomo,</p><p>e a Gnosis pode fazê-lo vibrar, cumprem-se as palavras:</p><p>Queremos viver conforme teu exemplo grandioso e sábio,</p><p>ligados como átomos que, juntos, são nosso ego.</p><p>Queremos esforçar-nos em obter a consciência desse ego,</p><p>Até que o átomo reconheça: sofro “dor no ego”.[24]</p><p>O que importa aqui é a dor do átomo-centelha-do-espírito no ser comum</p><p>natural, porque somente essa dor, somente esse tormento é libertador.</p><p>Quem conhece algo dessa dor sabe que esses vergões se prestam a sua</p><p>cura, pois mediante essa dor o verdadeiro aluno compreende que a Gnosis</p><p>o encontrou.</p><p>Quem sofre a dor natural, ruge qual fera na selva; quem, porém, sofre a</p><p>dor do ser humano tocado pelo Espírito se torna bem-aventurado, pois:</p><p>Então a força divina a grande luz acenderá.</p><p>O átomo-centelha-do-espírito arderá com o fulgor do Senhor</p><p>e, através da sombria matéria, da noite se elevará.[24]</p><p>Assim, quem “sofre dor no ego”, em consequência do despertar do átomo-</p><p>centelha-do-espírito, inicia o processo de que acabamos de falar, processo</p><p>esse que representa, literal e corporalmente, o dobre dos três egos</p><p>dialéticos, porquanto, como sabemos agora, do átomo-centelha-do-espírito</p><p>nasce a imagem nítida do homem imortal, cuja concepção mental se</p><p>introduz, por fim, no sistema fígado-baço para atacar a posição-chave do</p><p>ser natural dialético.</p><p>Em primeiro lugar, o átomo-centelha-do-espírito impele o santuário do</p><p>coração a nova atividade libertadora, e assim a consciência central do</p><p>coração é a primeira a ser banida de seu estado natural. A seguir, mediante</p><p>nova atividade mental, a consciência central da cabeça é ligada à torrente</p><p>renovadora. Após isso, a imagem do homem imortal terá de entrar no</p><p>canal fígado-baço para atacar o terceiro ego. Nesse momento, o machado é</p><p>colocado à raiz da existência dialética.</p><p>Logo que essa terceira atividade tem início no aluno, ele começa a se</p><p>preparar e enobrecer para o advento do novo tipo humano, isto é, ele é</p><p>organicamente preparado para encontrar Cristo nas nuvens do céu. Desse</p><p>modo, cumprir-se-ão as palavras: “Tragada foi a morte na vitória”.[25]</p><p>Doravante discutiremos e examinaremos convosco como esse</p><p>desenvolvimento se realiza. Temos de examinar em conjunto, passo por</p><p>passo, esse caminho de renovação.</p><p>Se não possuirdes o átomo-centelha-do-espírito, ou se ele ainda não</p><p>houver sido inflamado pela Gnosis, tomareis, por certo, todas as nossas</p><p>informações e considerações em sentido puramente intelectual ou místico,</p><p>de acordo com as inclinações do primeiro ou segundo ego em vós.</p><p>Entretanto, essas informações e considerações, essencialmente, nada vos</p><p>dirão, e nada vos tocará. Com isso, não vos movereis.</p><p>Se, porém, conosco sentirdes dor no ego segundo o átomo-centelha-do-</p><p>espírito, e, por conseguinte, a luz da Gnosis tornar-se em lâmpada para</p><p>vossos pés, todas as exposições recebidas da Escola Espiritual suscitarão</p><p>uma força muito especial em vós. Cada palavra calará imediatamente no</p><p>átomo-centelha-do-espírito, sepultado no sangue do coração. Através das</p><p>maravilhosas qualidades do Espírito, ficareis em condição de examinar</p><p>toda a palavra recebida, reconhecê-la de imediato como verdade. Isso</p><p>introduzirá, consequentemente, no circuito do sangue, uma força dantes</p><p>nunca conhecida. Desse modo, o trabalho do Senhor, o trabalho da</p><p>Fraternidade Universal de Cristo, será consolidado em vós.</p><p>A essa luz, compreendereis as palavras de Paulo: “Portanto, meus amados</p><p>irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor,</p><p>sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”.[26]</p><p>O trabalho do Senhor, nesse sentido, não é nenhuma atividade pastoral que</p><p>a Escola da Rosacruz deva fazer para vós; pelo contrário, ele é o trabalho</p><p>metódico realizado pela Gnosis em vós e para vós. Essa atividade, que a</p><p>Fraternidade empreendeu em vós e para vós, não é um trabalho sobre o</p><p>qual nada sabereis nem uma libertação automática, porém um trabalho</p><p>para o qual vosso inteiro átomo-centelha-do-espírito, sofrendo “dor no</p><p>ego”, precisa cooperar inteligentemente. Por isso, vós que sois alunos na</p><p>senda, sede firmes e constantes!</p><p>***</p><p>[23] Ver cap. I-4.</p><p>[24] Tsé, Lao. “Tao”: Consciência universal. Paráfrases por C. van Dijk.</p><p>Amsterdã: Nederlandsche Keurboekerij, 1933.</p><p>[25] Cf. 1 Co 15:54.</p><p>[26] Cf. 1 Co 15:58.</p><p>I-6 Gravidade e libertação</p><p>Um dos objetivos mais importantes fixados pela Escola Espiritual</p><p>moderna, em tudo o que tem sido revelado sobre o advento da nova raça</p><p>humana, é fazer com que os que estão em condição de compreender sua</p><p>mensagem entrem em contato, tanto quanto possível, com as normas, os</p><p>fundamentos e os aspectos da nova gênese humana. O convite a eles</p><p>dirigido para que usem de todos os recursos na tentativa de participar</p><p>dessa nova gênese humana esclarece suficientemente esse intento. Com</p><p>efeito, todas as especulações, todas as inseguranças, todas as incertezas,</p><p>têm de ser removidas tanto quanto possível; e todas as considerações</p><p>filosóficas, afastadas.</p><p>Se possuís algo do verdadeiro discipulado, existe em vós um anseio</p><p>fundamental pela volta ao Reino Imutável. Pois bem, na fase atual da</p><p>revelação da Fraternidade, é dada uma orientação a esse anseio, e o</p><p>desenvolvimento de cada aluno que demonstra resolução interior é</p><p>instigado. Deveis compreender bem, todavia, o que vem a ser “instigar” a</p><p>vida de alguém. Não se trata de ajuda negativa, porém, principalmente, da</p><p>aquisição de compreensão, de conhecimento. Não é sem razão que a</p><p>Sagrada Escritura diz enfaticamente: “Meu povo está sendo destruído,</p><p>porque lhe falta o conhecimento”.[27]</p><p>Conhecimento, no sentido da Doutrina* Universal, significa adquirir, com</p><p>base na atividade do átomo-centelha-do-espírito, compreensão do caminho</p><p>e da verdadeira vida e, além disso, de todos os fatores coadjuvantes à</p><p>disposição do candidato. Se esse conhecimento está presente, o aluno, por</p><p>si mesmo, entra em atividade. É dessa automaçonaria libertadora que</p><p>a</p><p>Escola Espiritual gostaria que participásseis.</p><p>A nova raça humana não nascerá como por milagre, porém, quem estiver</p><p>determinado a tornar-se um de seus membros terá de alistar-se nesse</p><p>grupo mediante ação autolibertadora. Tereis de iniciar-vos na senda</p><p>estreita da automaçonaria. “Operai a vossa salvação com temor e tremor”,</p><p>[28] diz o apóstolo Paulo, isto é, “trabalhai por vossa libertação, em</p><p>autoesquecimento”. Conseguireis, triunfareis incondicionalmente se assim</p><p>o crerdes.</p><p>Crer, na concepção da Fraternidade, significa ter o conhecimento íntimo, e</p><p>este “saber interior” é a atividade do átomo-centelha-do-espírito. Por esse</p><p>motivo, Paulo fala de “fé nos vossos corações”.[29]</p><p>No entanto, ele não quer com isso referir-se a nenhuma forma de</p><p>sentimentalidade, nenhuma crença tradicional eclesiástica ou bíblica mas</p><p>sim à vibração radiante do átomo-centelha-do-espírito no ventrículo</p><p>direito do coração.</p><p>Para obter essa fé, para despertar essa vibração, sois admitidos no Átrio da</p><p>Escola Espiritual. Não suponhais, entretanto, que a Escola Espiritual possa</p><p>fazer ou faça algo em vosso benefício antes que, com base nessa nova e</p><p>exclusiva vibração de fé, “tenhais transportado montanhas”. Dissemos que</p><p>fostes admitidos na Escola Espiritual basicamente com o objetivo de</p><p>despertar a vibração do átomo-centelha-do-espírito ou, misticamente</p><p>formulado: “Para libertar a fé nos vossos corações”. Declarações</p><p>semelhantes a esta são, muitas vezes, fórmulas ou chavões que poderão ser</p><p>ouvidos em qualquer parte, de qualquer pessoa. Pronunciados e ouvidos de</p><p>modo superficial são de muito pouco significado. Quando dizemos que</p><p>“estais na Escola Espiritual com a finalidade de libertar a fé nos vossos</p><p>corações”, isso poderá dar-vos, de início, uma espécie de tranquilidade</p><p>burguesa, uma sensação de estar em casa. Não vos equivoqueis, porém!</p><p>Nesta Escola não estais em casa! A tarefa da Escola é inquietar-vos,</p><p>“instigar” vossa vida.</p><p>Quem aqui já se considera em casa não possui ainda o átomo-centelha-do-</p><p>espírito em atividade. É por isso que esse átomo, o átomo-centelha-do-</p><p>espírito, “sofre dor no ego”, conforme a citação de Lao Tsé no capítulo I-5.</p><p>Quem sofrer essa dor singular em seu próprio ser experimentará a mesma</p><p>dor em conexão com o mundo em que vive, e anseio ilimitado pela pátria</p><p>original perdida despontará. De acordo com esse anseio, a instigação</p><p>surgirá em vossa vida.</p><p>Que vem a ser anseio, do ponto de vista científico?</p><p>Anseio é força, força atrativa, gravitacional, uma faculdade magnética. E</p><p>como acontece com todos os ímãs, essa também tem outro polo, um polo</p><p>magnético que repele. Quando nosso anseio, um dos polos magnéticos, é</p><p>dirigido a um objetivo, aquilo que se lhe opõe é repelido pelo segundo</p><p>polo magnético. Isso é de suma importância, e deveis refletir bem a esse</p><p>respeito!</p><p>Nossa personalidade é o centro de um sistema chamado microcosmo, um</p><p>minutus mundus, um pequeno mundo. Onde está esse microcosmo e onde</p><p>vive? Aqui, neste mundo! Este mundo em que viveis foi organizado de</p><p>acordo com o mesmo princípio de vosso pequeno mundo. Por isso,</p><p>falamos de cosmo, o mundo, e de “microcosmo”, o pequeno mundo, que</p><p>sois vós mesmos.</p><p>O cosmo em que vivemos percorre o espaço com imensa velocidade. Por</p><p>que razão não somos lançados fora da esfera terrestre? Isso se deve à força</p><p>de atração, à força de gravidade da terra. A força magnética de nosso</p><p>cosmo nos mantém em nosso lugar. O campo eletromagnético deste</p><p>mundo mantém totalmente unidas todas as criaturas que estão dentro de</p><p>seu alcance. Todavia, o funcionamento e a faculdade de ligação desse</p><p>sistema dependem inteiramente de vós e de mim! Nascemos desta</p><p>natureza, dos princípios materiais desta ordem. Em virtude desse</p><p>nascimento, nosso campo eletromagnético da terra pessoal está</p><p>completamente sintonizado com o campo eletromagnético da terra, de tal</p><p>maneira que formamos um todo com este mundo. Se nossos desejos,</p><p>nossos anseios, estão focalizados na linha horizontal da vida, se estamos</p><p>voltados a esta natureza e às coisas deste mundo, é evidente que</p><p>fortalecemos os liames magnéticos com a natureza terrena, pois nosso</p><p>desejar constitui uma ação magnética atrativa. Uma vez que esse desejo</p><p>esteja dirigido à terra, o segundo polo magnético repelirá então,</p><p>naturalmente, tudo o que não esteja voltado à terra, e, assim, serão</p><p>afastadas quaisquer influências libertadoras.</p><p>Averiguamos, desse modo, que somos mantidos prisioneiros pelo campo</p><p>eletromagnético desta terra em razão de nossa natureza dialética e de</p><p>nossas próprias atividades eletromagnéticas e microcósmicas, e que, nisso,</p><p>somos nosso próprio carcereiro. Suponhamos que, nesse estado,</p><p>experimentemos sofrimento e sejamos confrontados com a dor e com a</p><p>resistência, o que, considerando a dialética, é inevitável. Seria esse</p><p>sofrimento, esse torvelinho de misérias, a dor do átomo-centelha-do-</p><p>espírito? Certamente que não!</p><p>Em virtude das leis naturais deste cosmo, aprisionados no campo</p><p>eletromagnético de nossa ordem de natureza, somos todos objetos de luta,</p><p>ódio e instintos naturais. Essa é a maldição deste campo de existência.</p><p>Quando viveis todas essas experiências, quando os golpes do destino caem</p><p>sobre vós, o que fazeis? Ansiais por auxílio, por uma saída, por proteção.</p><p>Desse modo, emana de vós uma atividade eletromagnética espontânea.</p><p>Será isso o anseio, o desejo de salvação, o grito magnético por auxílio que</p><p>parte do átomo-centelha-do-espírito? É essa a “fé nos vossos corações”?</p><p>Certamente que não!</p><p>Trata-se apenas de uma atividade eletromagnética de vossa natureza, de</p><p>vosso ego natural tríplice, a qual não causa, de maneira alguma, um único</p><p>desvio no campo magnético deste mundo. É um desejo terreno por posse,</p><p>proteção e segurança terrenas. Quando, com base em semelhantes desejos,</p><p>desenvolvemos atividades místicas, ocultistas, ou pseudotransfigurísticas,</p><p>apenas poderemos suscitar, por causa da natureza do campo magnético,</p><p>reações de nosso campo natural de existência. Assim procedendo, jamais</p><p>conseguiremos libertar-nos da esfera refletora. Portanto, libertação, por</p><p>mínima que seja, está fora de cogitação.</p><p>É bem possível que a experiência vos faça reconhecer, intimamente, tudo</p><p>isso como verdadeiro. Quanto esforço não temos envidado com</p><p>sinceridade natural! Temos sofrido por milhares de esforços inúteis. Pode</p><p>ser também que nos tivéssemos aproximado, com sinceridade natural, da</p><p>Escola Espiritual, mas encontramos a porta fechada, visto que a Escola</p><p>Espiritual não pode ajudar-nos antes que a “fé haja despertado em nossos</p><p>corações”, antes que o átomo-centelha-do-espírito no coração tenha sido</p><p>despertado.</p><p>Se compreendemos isso, devemos agir inteligentemente. Sabemos agora</p><p>que qualquer movimento é um movimento de nosso campo magnético que</p><p>emana de nossa orientação natural. Seus resultados, portanto, apenas</p><p>podem ser úteis a esta natureza. O que fazer então?</p><p>Devemos aquietar esse movimento magnético, essa perseguição a nossos</p><p>desejos. No início, devido à descoberta de que essa perseguição nenhum</p><p>resultado traz, pelo contrário, efetiva uma ligação crescente com esta</p><p>natureza. Entretanto, a segunda fase dessa quietude e desse silêncio deverá</p><p>ser uma rendição à Gnosis, um esvanecimento ante os portais dos</p><p>mistérios, tal qual narram as lendas.</p><p>Na Doutrina Universal, todos os candidatos são instruídos sobre a</p><p>quietude, sobre o silêncio. Dizia-se nos mistérios antigos: “Somente em</p><p>Deus espera silenciosa a minha alma; dele vem a minha salvação”.[30] E</p><p>nos novos mistérios: “E procureis viver quietos!”[31] Isso podeis</p><p>encontrar, por exemplo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses.[32]</p><p>Compreendereis agora que, mediante esse verdadeiro silêncio, mediante o</p><p>aquietamento das tempestades eletromagnéticas da natureza, nova</p><p>possibilidade surge para o aluno. Nessa quietude, ele pode ser tocado pela</p><p>força irradiadora do campo eletromagnético da Fraternidade Universal.</p><p>Existem dois campos eletromagnéticos neste cosmo terrestre, ambos com</p><p>seu centro no coração da terra. Um é o campo magnético central desta</p><p>natureza; e o outro, o campo magnético</p><p>central da Fraternidade.</p><p>Se um homem que dispõe de um átomo-centelha-do-espírito em seu</p><p>coração anula seu instinto natural, e, no sentido exposto, chega à quietude,</p><p>ele será tocado irrevogavelmente pelo campo magnético da Fraternidade.</p><p>Então, o átomo será despertado no ventrículo direito do coração, e nova</p><p>vibração, novo anseio e, por conseguinte, nova faculdade magnética, serão</p><p>desenvolvidos. Desse modo, a faculdade magnética ficará à disposição do</p><p>aluno, faculdade essa que não se origina desta natureza. A verdadeira fé</p><p>terá despertado em seu coração, e ele ficará repleto de esperança</p><p>inextinguível, de ingente força magnética mediante a qual atrairá a seu</p><p>microcosmo numerosas forças e valores não originários desta natureza.</p><p>Devido a essa força de gravitação transformada, toda a sorte de novos</p><p>materiais de construção, necessários à recriação de todo o sistema, serão</p><p>acumulados no sistema microcósmico. Assim, descobrimos que a</p><p>transfiguração* é, de fato, uma questão de novas leis eletromagnéticas.</p><p>Quando o aluno está no começo dessa nova revelação, ele sente, necessária</p><p>e naturalmente, o pleno amparo do campo eletromagnético da</p><p>Fraternidade, de modo inteiramente impessoal e sem a participação de um</p><p>pretenso iniciado de aparência majestosa, pois, do mesmo modo como o</p><p>homem natural se sintoniza com o campo magnético da natureza, em</p><p>virtude de seu estado de ser, assim também o aluno se sintoniza com o</p><p>novo campo de vida onde nasceu. Agora é o novo campo de vida que o</p><p>prende e, verdadeiramente, adota. Esta adoção, contudo, é um abrigo em</p><p>Deus, um abrigo na Gnosis.</p><p>Imaginemos que nós, como alunos dessa Escola, tivéssemos ingressado</p><p>nesse novo campo magnético! Nosso microcosmo então mostraria esses</p><p>novos fenômenos magnéticos, e, juntos, desenvolveríamos uma faculdade</p><p>magnética sobrenatural e, irrevogavelmente, perturbaríamos as funções</p><p>magnéticas desta natureza! Tornar-nos-íamos a causa de desvios</p><p>magnéticos sem conta e concentraríamos forças na atmosfera que</p><p>produziriam um caos no reino da natureza. Em cooperação com o centro</p><p>magnético da Fraternidade no coração da terra derrubaríamos os muros</p><p>desta prisão natural e faríamos que esta ordem mundial retrocedesse</p><p>aceleradamente a um novo princípio, conduzindo os homens renovados à</p><p>salvação e os demais a uma nova oportunidade.</p><p>Começais a compreender agora, caro leitor, em que fundamento a Escola</p><p>Espiritual esteia seu trabalho de renovação de vida e de salvação da</p><p>humanidade?</p><p>Provar-vos-emos que a senda da transfiguração é um novo processo</p><p>científico, um processo alquímico, um casamento alquímico com a</p><p>Hierarquia de Cristo, um processo iniciado, desenvolvido e coroado pela</p><p>automaçonaria. Empreendamos juntos, portanto, cuidadoso estudo do</p><p>cosmo e do microcosmo a fim de vencer a morte na natureza em Jesus</p><p>Cristo, nosso Senhor!</p><p>***</p><p>[27] Cf. Os 4:6.</p><p>[28] Cf. Fp 2:12.</p><p>[29] Cf. Ef 3:17.</p><p>[30] Cf. Sl 62:1.</p><p>[31] Cf. 1 Tl 4:11.</p><p>[32] Atentai, porém, que o conteúdo dessa Epístola foi extensamente</p><p>deturpado pelos antigos padres da Igreja. O tornar-se silencioso ante a</p><p>Gnosis foi modificado para tornar-se silencioso e calado ante a autoridade</p><p>eclesiástica, aceitar tranquilamente a teologia moral etc.</p><p>I-7 A loucura da cruz</p><p>Já explicamos como toda a série de desejos e atividades humanas, em suas</p><p>infinitas variações, está intimamente ligada aos processos</p><p>eletromagnéticos no microcosmo. O campo eletromagnético individual do</p><p>homem é uno com o campo eletromagnético da terra — de modo que, em</p><p>mais de um sentido, seu centro de gravidade encontra-se neste mundo. Ele</p><p>é controlado pelo magnetismo da terra. Toda a sua vida e todos os seus</p><p>esforços, todo o seu trabalho e todos os seus desejos se caracterizam por</p><p>essa dependência. Ele é da terra, terreno.</p><p>Todos os esforços comuns, religiosos, ocultistas e humanísticos têm sua</p><p>origem e seu objetivo nas atividades conformes com as leis naturais. Elas</p><p>originam-se da natureza, desenvolvem-se nela, com base nela e a ela</p><p>retornam.</p><p>Quando observais o mundo, com sua diversidade de atividades, chegareis à</p><p>conclusão irrefutável de que nenhuma delas, embora quase sempre</p><p>totalmente opostas entre si, são antagônicas à natureza ou contrárias à</p><p>camisa de força eletromagnética fundamental. Por isso, de modo algum</p><p>interessa aos transfiguristas saber, agora ou no futuro, a que sistema</p><p>econômico pertencerá o sistema de vida da humanidade, que ponto de</p><p>vista o homem adotará em qualquer campo de vida da presente natureza ou</p><p>como pautará seu comportamento com relação à religião, ao ocultismo ou</p><p>ao humanismo. O transfigurista está completamente orientado para</p><p>libertar-se totalmente deste campo de natureza! Ninguém poderá imaginar</p><p>tipo de homem mais radical do que o transfigurista. O tipo radical natural</p><p>esforça-se por uma ou outra mudança no campo econômico, social ou</p><p>político, consequentemente, uma mudança violenta no plano horizontal. O</p><p>transfigurista, entretanto, deseja distanciar-se desse plano horizontal por</p><p>meio de poderosa intervenção autorrevolucionária em seu próprio ser.</p><p>São poucos os transfiguristas existentes neste mundo. Quando dizemos</p><p>isso, é possível que vos reporteis, com surpresa, ao grande</p><p>desenvolvimento da Escola Espiritual com seus inúmeros alunos.</p><p>Precisamos esclarecer, porém, que a maioria de nós não pode ainda ser</p><p>designada como transfigurista. Se um ser humano se interessa pelo plano</p><p>de desenvolvimento da Escola da Rosacruz Áurea e se orienta por tudo o</p><p>que ela apresenta, isso não significa que ele de fato realize na vida esse</p><p>plano de trabalho. Compreendereis existir aí grande diferença, diferença</p><p>essa que será observada ainda por muito tempo, pois a Escola</p><p>transfigurística será, no futuro, forte e rigorosamente combatida, e em</p><p>vista desse combate, muitos alunos virão talvez a abandoná-la.</p><p>Será dito: “O transfigurismo é uma forma clássica de loucura que surge na</p><p>história do mundo de tempos em tempos. O transfigurismo é um absurdo</p><p>extremo, impossível segundo a ciência. O transfigurista procura realizar</p><p>algo que é total e fundamentalmente impossível”. Ou alguém ainda</p><p>asseverará: “A única coisa que se pode razoavelmente esperar é conseguir-</p><p>se certo objetivo elevado por meio desta ou daquela forma de cultura”.</p><p>Dirigir-se-á a atenção para diversas conquistas culturais que,</p><p>aparentemente, confirmarão totalmente essa assertiva.</p><p>Então, se não estiverdes firmes em vossa convicção, abandonareis a</p><p>Escola. E, quando fordes inquiridos: “já fostes membro dessa Escola?”,</p><p>corareis de vergonha e, faltando à verdade, direis: “Eu, não! Que ideia é</p><p>essa?” A negação de Pedro é coisa que sempre se repete entre os alunos</p><p>que ainda estão no Átrio. Não obstante, os transfiguristas, sob a alcunha de</p><p>tolos, estão em muito boa companhia!</p><p>Jesus acha-se ante o Sinédrio, o Sínodo Geral de seu tempo. Taxam-no de</p><p>tolo perigoso… e Jesus silencia.</p><p>Paulo está ante Festo, o governador, e lhe faz uma exposição do</p><p>transfigurismo. De imediato, surge a reação do romano: “Estás</p><p>louco!…”[33] e Paulo silencia.</p><p>Agostinho brada contra os maniqueus!* Vede como ele zomba</p><p>ironicamente deles e os coloca à falsa luz!… e os irmãos maniqueus,</p><p>porém, silenciam. Como poderiam dialogar, diante da inexistência de uma</p><p>base para entendimento mútuo? Já lestes sobre as acusações feitas aos</p><p>cátaros* e sua extremada e perigosa loucura, como se dizia na época?</p><p>Quase uma nação inteira foi massacrada, porém os irmãos cátaros… eles</p><p>silenciaram.</p><p>O transfigurismo, necessariamente, deve ser um absurdo para todos os que</p><p>pertencem a esta natureza. O mundo exala religiosidade, porém, a religião</p><p>fundamental de libertação é tachada como loucura. Essa é a assinatura da</p><p>dialética.</p><p>Atentai para as famosas palavras de Paulo em sua Primeira Epístola aos</p><p>Coríntios:[34]</p><p>Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos</p><p>salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e</p><p>aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde</p><p>está o inquiridor deste século? Porventura não tornou</p><p>Deus louca a sabedoria deste</p><p>mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua</p><p>sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. […] Porque a</p><p>loucura de Deus é mais sábia do que os homens.</p><p>Conclui-se, portanto, que estamos praticando a heresia do transfigurismo</p><p>em muito boa companhia. Esse herege é louco, um fanfarrão tolo, um</p><p>transviado. Ele é absorvido pela loucura da cruz. E justamente essa</p><p>loucura assume acepção elevada e racional e torna-se em uma força</p><p>majestosa para os que estão aptos a compreender e dispostos a carregar a</p><p>cruz da transfiguração. Dessa forma, o transfigurista não desperdiçará</p><p>sequer uma palavra com os que continuam cheios de ambição em meio a</p><p>esta natureza. Conservar-se-á silencioso, sem pronunciar uma palavra</p><p>sequer de defesa, transigência ou aquiescência.</p><p>É por isso que possuímos uma escola fechada, e somente se fala a quem se</p><p>supõe, no momento, poder compreender até certo grau a base racional da</p><p>loucura gnóstica. O mundo dá-nos provas muito abundantes de que,</p><p>malgrado sua formidável sabedoria, não é ainda capaz de conhecer a Deus</p><p>“na sabedoria de Deus”. Por isso nos distanciamos do mundo a fim de</p><p>mergulhar em outra realidade, livres de qualquer hipótese dialético-</p><p>filosófica de trabalho.</p><p>Essa outra realidade estaria presente, então, em nossa natureza? Pode-se</p><p>descobrir qualquer vestígio dela? Seria possível experimentar essa “outra”</p><p>realidade de modo prático, a fim de proteger-nos contra nova ilusão?</p><p>Nossa resposta a essas perguntas é uma afirmativa franca e sincera: sim!</p><p>Cristo é uma elevada e racionalíssima realidade e não uma aparição</p><p>histórica. Indicamos essa realidade como sendo o campo de radiação da</p><p>Fraternidade e já dissemos que o coração desse campo de radiação está</p><p>situado no coração deste mundo.</p><p>Como devemos compreender isso? A filosofia da Rosa-Cruz moderna</p><p>afirma que a verdadeira terra divina, a esfera também denominada Reino</p><p>Universal, não é um planeta que desapareceu em um nada nebuloso por</p><p>trás do véu dos tempos primordiais, mas sim que ainda existe em toda a</p><p>sua perfeição.</p><p>Esse planeta original é um conjunto de sete esferas girando umas dentro</p><p>das outras, e uma delas pode ser indicada como o aspecto dialético desse</p><p>setenário. Isto é, esse aspecto, mediante suas leis dialéticas naturais, libera</p><p>forças a serviço dos outros seis aspectos, da vida perfeita, que encontra sua</p><p>expressão única e divina no próprio setenário.</p><p>É claro, portanto, que o eterno coração paterno do Logos* impulsiona e</p><p>estimula todos os aspectos da totalidade planetária divina.</p><p>Consequentemente, aqui, mesmo aqui, também se encontra o campo de</p><p>radiação magnético da Fraternidade, visto ser esse campo o coração</p><p>fundamental deste planeta.</p><p>O que estamos acostumados a chamar de “nosso mundo” é a sétima parte</p><p>da realidade cósmica divina, altamente notável, muito misteriosa e quase</p><p>totalmente desconhecida. Nós, os habitantes deste vale de lágrimas,</p><p>fazemos parte de uma onda de vida que foi originalmente chamada à</p><p>glória no campo do setenário divino e submergiu, porém, em um campo de</p><p>existência onde nenhuma vida verdadeiramente divina é possível. Estamos</p><p>exilados, estruturalmente desnaturados e reduzidos a um estado de</p><p>degeneração geral.</p><p>Existe em nós agora uma perseguição fundamental ao progresso e à</p><p>prosperidade, evocada pelo anseio ardente do exilado em nós pelo sangue</p><p>e pelo lugar de seu nascimento. E o mundo inteiro corre veloz para a frente</p><p>qual animal acossado e clama por cultura. Compreendeis o que essa</p><p>perseguição significa? É um vestígio atávico, uma influência do passado</p><p>sombrio, transmitido de geração em geração. Ele faz-se sentir, clama,</p><p>todavia ninguém mais pode conhecer a realidade, e ninguém mais tem a</p><p>capacidade de conhecê-la porque a faculdade de conhecimento</p><p>desapareceu.</p><p>A humanidade dialética possui, com efeito, uma faculdade de</p><p>conhecimento e uma sabedoria, porém com essa sabedoria e essa</p><p>faculdade de conhecimento ela já não pode encontrar “Deus na sabedoria</p><p>de Deus”.</p><p>A realidade da queda humana até sua decadência atual e a monstruosa</p><p>degeneração de nosso campo de vida fazem que a sétima parte da</p><p>perfeição cósmica seja continuamente violentada. Não obstante, pode-se e</p><p>tem-se de dizer que Deus atacou este mundo em seu coração, pois, a</p><p>despeito de tudo, este campo de vida também está compreendido no</p><p>universo do setenário. Essa condição efetiva esclarece a presença do</p><p>campo de radiação eletromagnético dos hierofantes* de Cristo.</p><p>Simultaneamente, averiguamos e sabemos, por experiência própria, que a</p><p>humanidade degenerada está presa no campo de radiação eletromagnético</p><p>de uma natureza inimiga e não divina, e, ainda, que ele é, em sua essência,</p><p>uno com ela. Assim, já não nos perguntamos de onde vem a atração</p><p>magnética da Fraternidade, porém: onde está a causa dessa contranatureza</p><p>dialética? Onde encontramos o núcleo das forças dessa degenerescência</p><p>natural e geral?</p><p>A fim de encontrar resposta a essas perguntas precisamos aprender os</p><p>mistérios do setenário cósmico, e dirigimos aqui a atenção para isso.</p><p>É possível terdes compreendido, pelo que já foi dito, que nosso campo de</p><p>existência nada mais é do que pequena parte de uma esfera, a qual não</p><p>deve ser considerada como corpo independente, porém pertencente a um</p><p>sistema de sete corpos que giram uns dentro dos outros e juntos formam a</p><p>verdadeira terra divina — o Reino Universal. Cada parte desse sistema é</p><p>perfeita em si mesma e tem a faculdade orgânica de proteger-se</p><p>inteiramente contra qualquer ataque a sua essência e a seu objetivo, razão</p><p>por que o funcionamento global do setenário cósmico permanece</p><p>assegurado.</p><p>Já dissemos que o coração* cósmico de Cristo pulsa no centro de nossa</p><p>esfera terrestre, e isso, é claro, também acontece com as outras seis esferas</p><p>do sistema. Consequentemente, podemos falar de coração sétuplo do</p><p>cosmo, de que nosso coração humano sétuplo teria de ser o reflexo. A</p><p>maravilhosa faculdade orgânica, a inteligência e o núcleo espiritual do</p><p>mundo setenário acham-se inclusos em cada uma de suas esferas, da</p><p>mesma forma que no microcosmo humano tudo está contido no interior do</p><p>ser aural.</p><p>Conhecemos, em geral, muito pouco da esfera onde vivemos. Nosso</p><p>presente campo de existência estende-se por sobre uma parte</p><p>relativamente muito pequena de nossa misteriosa terra. O Além, também</p><p>indicado como esfera refletora, pertence inteiramente a nosso domínio de</p><p>vida.</p><p>É neste campo de existência, com suas duas esferas, que se processa o giro</p><p>da roda* do nascimento e da morte que tão bem conhecemos. Temos de</p><p>considerar nosso campo de existência como uma prisão, como uma cela,</p><p>dentro do enorme sistema do setenário cósmico.</p><p>O que chamamos de superfície da terra é uma camada relativamente bem</p><p>fina. Desta, nossos geólogos e técnicos conseguem penetrar apenas uma</p><p>pequena camada e, assim mesmo, de maneira parcial. Tudo o que fica por</p><p>baixo dessa camada é, em sua maior parte, desconhecido do homem</p><p>comum. Em geral se supõe que a temperatura aumenta à proporção que se</p><p>vai penetrando o seio da terra, de modo que, a certa profundidade, será</p><p>encontrada uma massa líquida ardente e, finalmente, o calor infernal de</p><p>um núcleo gasoso.</p><p>Entretanto, o transfigurista sabe que o interior da terra é composto de</p><p>campos de força e de vida que se abrangem reciprocamente e estão</p><p>intimamente ligados entre si, sendo capazes de se corrigirem e</p><p>neutralizarem uns aos outros de maneira a assegurar o funcionamento do</p><p>todo.</p><p>Dirigimos a atenção para dois destes campos existentes nas profundezas</p><p>da terra. Nestes campos residem forças que poderíamos chamar de forças</p><p>naturais e arquétipos.</p><p>Uma força natural é a faculdade mediante a qual um plano é executado e</p><p>mantido. O campo de forças naturais é um campo magnético muito</p><p>poderoso, ou ainda melhor, um campo onde se desenvolve ilimitada</p><p>quantidade de tensões, vibrações e condições magnéticas diversas, todas a</p><p>serviço do funcionamento do cosmo. Essas forças naturais não atuam às</p><p>cegas em nosso campo de existência, como frequentemente se acredita,</p><p>porém estão ligadas aos arquétipos. Em outras palavras, todas as forças</p><p>naturais estão irrevogavelmente ligadas a um plano, a uma inteligência</p><p>superior, que as conduz. De acordo com essa condução elas se manifestam.</p><p>Os arquétipos são as imagens-pensamentos viventes e vibrantes da Gnosis.</p><p>São chamados arquétipos pelo fato de a ideia divina original ter-se</p><p>corporificado neles. São esses princípios viventes primordiais, essas</p><p>imagens-pensamentos de Deus, que evocam e aplicam as forças naturais.</p><p>Quando, por exemplo, no complexo corpo sétuplo da terra há qualquer</p><p>coisa que ameace desenvolver-se de modo a vir perturbar a harmonia e o</p><p>perfeito funcionamento do todo, a faculdade sensorial da terra,</p><p>minuciosamente sintonizada, percebe isso imediatamente, e os arquétipos</p><p>e as forças naturais — que corporificam a ideia e a vontade de Deus —</p><p>intervêm prontamente com fins corretivos.</p><p>Imaginai agora que vossa presença neste campo de vida, vossa conduta de</p><p>vida, vosso estado estrutural de ser, vossa luta pela existência, em suma,</p><p>todas as vossas atividades e as de vosso próximo, não estejam em</p><p>harmonia com o plano fundamental de Deus, com o campo de força dos</p><p>arquétipos — e não estão mesmo! Nesse caso, em virtude de sua natureza,</p><p>as forças naturais se voltarão violentamente contra vós. Sentireis essas</p><p>forças, por conseguinte, como sendo desarmoniosas. Assim, sereis</p><p>impelidos pelos fatos de um lado para o outro no mundo dialético,</p><p>causando explosão após explosão.</p><p>Loucura absoluta não é, pois, o transfigurismo, que tenciona uma</p><p>reconciliação total com a vontade universal, e sim o esforço pela cultura</p><p>dialética, o qual quer perpetuar a separação dessa vontade universal.</p><p>Estais aprisionados agora neste campo eletromagnético de forças naturais</p><p>que se opõem a vós. Nele também se desenvolveu um mal, um satanismo.</p><p>Este mal, contudo, não provém das forças naturais, porém é consequência</p><p>de nossa vida caótica e absurda.</p><p>Vosso cativeiro durará até achardes o caminho de retorno. A isso vos</p><p>chama o campo eletromagnético da Fraternidade. Para tanto sois apoiados</p><p>pela força radiante dos hierofantes de Cristo. E, um dia, experimentareis</p><p>de novo as forças naturais como benfazejas e santas.</p><p>***</p><p>[33] Cf. At 26:24.</p><p>[34] Cf. 1 Co 1:18–21,25.</p><p>I-8 Deus · Arquétipo · Homem</p><p>Fizemos rápida alusão aos mistérios do setenário cósmico em nossas</p><p>considerações sobre as forças naturais e sobre os arquétipos. Com isso,</p><p>explicamos que a verdadeira terra consiste em um sistema de sete planetas</p><p>que giram uns dentro dos outros; que nossa onda de vida decaída,</p><p>comprimida como em uma prisão, manifesta-se em uma parte muito</p><p>pequena do planeta dialético do setenário cósmico; que este campo de</p><p>existência não foi idealizado como tal e, devido a esta existência não</p><p>divina, entramos e estamos em conflito fundamental com as tensões</p><p>magnéticas das forças naturais, as quais experimentamos de maneira</p><p>desarmoniosa.</p><p>As forças naturais estão ligadas aos arquétipos, que são os pensamentos</p><p>vivos de Deus, e expressam-se em um dos estratos terrestres.</p><p>Todo o setenário cósmico é uma expressão, uma realização de uma ideia</p><p>definida, um plano. Uma vez que esse setenário divino é infinitamente</p><p>matizado e variado em sua manifestação, fica claro que a ideia global no</p><p>estrato terreno dos arquétipos consiste também em um número infinito de</p><p>elementos mentais de construção. O edifício imperecível de Deus foi, um</p><p>dia, erigido com esses elementos e, do mesmo modo, é conservado</p><p>imperecível por estes valores eternos. Tudo o que não está em harmonia</p><p>com essa natureza divina, surge e perece numa contranatureza, tal qual a</p><p>humanidade* adâmica experimenta diariamente. Todo o aluno admitido na</p><p>Escola Espiritual poderá verificar empiricamente como axioma divino que</p><p>a ideia universal da Gnosis é e tem de ser o fundamento de tudo o que vem</p><p>à manifestação fora da contranatureza, no setenário cósmico. O homem</p><p>original, portanto, proveio também desta ideia divina.</p><p>Uma ideia, como energia criadora, permanece ligada a sua manifestação.</p><p>Esta é uma lei primordial. Assim, a ideia de Deus sempre está ativa em</p><p>todas as suas manifestações. Contudo, tão logo a manifestação, a criatura,</p><p>deixe de agir de acordo com essa ideia, surgirá um conflito, uma ruptura, a</p><p>ameaça de uma queda. Inicialmente, a ideia torna-se latente na criatura e</p><p>submerge na inatividade. Posteriormente, à medida que a criatura segue o</p><p>caminho ímpio da contranatureza, e sua divisão* aumenta cada vez mais, a</p><p>ideia divina, a princípio ainda latente, enfraquece-se pouco a pouco e, por</p><p>fim, desaparece inteiramente do sistema da criatura.</p><p>Desse modo, o fato de estar-se inteiramente perdido pode ser confirmado</p><p>segundo as leis da natureza, tornando-se ao mesmo tempo compreensível o</p><p>motivo por que todos os que o sabem exultam de alegria sempre que a</p><p>ideia divina latente é revivificada em uma criatura e assume novamente o</p><p>comando de sua vida. Apenas a esse homem pode-se dizer: “eis que o</p><p>reino de Deus está dentro de vós”.[35]</p><p>Possivelmente, isso exige uma explicação. O reino de Deus, na acepção</p><p>aqui dada, é o átomo-centelha-do-espírito já mencionado. Quem possui</p><p>esse átomo-centelha-do-espírito, quem ainda o possui, tem o reino de</p><p>Deus em si. Isso quer dizer que a ideia de Deus concernente ao Reino</p><p>Imutável se encontra em estado latente dentro do indivíduo. E o objetivo</p><p>único da Fraternidade Universal é despertar esse átomo divino primordial</p><p>de seu estado latente. Quando esse processo de salvação se realiza com</p><p>sucesso em algum aluno, grande força original é nele liberada, e ele pode</p><p>trilhar indefectivelmente a senda para o Reino Imutável.</p><p>Já deveis ter ouvido falar tantas vezes desse processo de salvação que, em</p><p>teoria, já o sabeis de memória. O perigo disso está justamente em que esse</p><p>assunto pareça estar esgotado para vós, em que ele perca a força por</p><p>achardes que já o dominais suficientemente. Se prestardes a devida</p><p>atenção, porém, a tudo o que transmitimos até agora, percebereis que</p><p>nossas exposições possuem apenas um enfoque superficial e, assim,</p><p>ficareis prevenidos contra qualquer enfraquecimento de vossa orientação</p><p>interior.</p><p>Dissemos que as ideias de Deus residem no estrato terreno dos arquétipos,</p><p>e isto não somente com relação à sua criação mas também à sua criatura.</p><p>Uma ideia é uma forma-pensamento. Ela possui uma estrutura de linhas de</p><p>força, sendo, portanto, uma realidade vivente.</p><p>Considerando as ideias de Deus, pode-se com razão referir-se a elas como</p><p>sendo “arquétipos”. Com força divina, o grande objetivo torna-se realidade</p><p>concreta à imagem dos arquétipos.</p><p>Não existe, por conseguinte, uma forma humana genérica no estrato</p><p>terreno dos arquétipos, porém, um arquétipo especial para e de cada ser</p><p>humano.</p><p>Precisamos, entretanto, compreender perfeitamente que o exposto acima</p><p>não se refere ao homem dialético, senão, e exclusivamente, ao verdadeiro</p><p>homem original. Desse modo, o homem original, o homem real, não</p><p>pertence a determinada espécie, povo ou raça. Qualquer entidade das</p><p>hostes gloriosas pertencentes ao setenário cósmico é uma realidade</p><p>autônoma e autocriadora. Essa entidade é modelada à imagem de um</p><p>arquétipo ligado exclusivamente a ela.</p><p>Todavia, não se deve pensar que o arquétipo seja primariamente condutor,</p><p>e uma entidade, uma vez preenchida por esta ideia, seja sua escrava. O</p><p>arquétipo é um modelo divino que a alma tem de esforçar-se em alcançar.</p><p>Uma imagem-pensamento é viva e vibrante, mas ninguém pode dizer que</p><p>imagem-pensamento e alma, imagem-pensamento e consciência, sejam a</p><p>mesma coisa. Desse modo, o arquétipo do verdadeiro homem é um modelo</p><p>vivo e vibrante, um plano de Deus vivo e vibrante concernente a si mesmo.</p><p>Este homem é, pois, convidado a manifestar-se em liberdade segundo esse</p><p>modelo.</p><p>A experiência deve ter-vos ensinado que, ao entrardes em atividade</p><p>impulsionados por uma forma-pensamento, o plano desta atividade</p><p>também se desenvolve à medida que é realizado. O mesmo acontece com</p><p>os arquétipos. Eles são planejados para que o verdadeiro homem os utilize.</p><p>Quando isso acontece em conformidade</p><p>com sua natureza e seu ser, vemos</p><p>que os arquétipos, plenos de majestade, continuam a desenvolver-se,</p><p>desabrocham em entidades magistrais e estimulam as forças naturais a</p><p>enormes realizações.</p><p>Averiguamos, portanto, que existem arquétipo e homem. O primeiro é uma</p><p>revelação gnóstica, e o homem se manifesta à imagem desse arquétipo.</p><p>Veremos agora como se realiza essa manifestação humana. Quando Deus</p><p>cria, “pensa”, um arquétipo, ele é vivo e vibrante, como dissemos acima. É</p><p>uma combinação alquímica capaz de efetuar uma concentração de força e</p><p>matéria no local focalizado pela forma-pensamento. Dessa concentração</p><p>devém o microcosmo: o homem. Há, pois, uma unidade inquebrantável</p><p>entre Deus, arquétipo e homem. Com efeito, o homem original foi criado à</p><p>imagem de Deus, isto é, à imagem do arquétipo e totalmente de acordo</p><p>com a forma-pensamento de Deus.</p><p>O maravilhoso princípio que denominamos de átomo-centelha-do-espírito</p><p>foi, inicialmente, o foco central do arquétipo em torno do qual se formou o</p><p>microcosmo. Poderíamos, portanto, com razão, falar de átomo do</p><p>arquétipo. Quando a luz do sol é absorvida por um sistema qualquer, há</p><p>sempre um órgão que possibilita isso. Da mesma maneira como o baço</p><p>absorve a luz do sol material, da qual o terceiro ego natural vive e pela</p><p>qual mantém sua posição de domínio, também o maravilhoso átomo do</p><p>ventrículo direito do coração é o foco, o ponto de contato, do arquétipo.</p><p>***</p><p>Após essa explicação, talvez possamos formar um quadro mais realista de</p><p>nossa realidade existencial, em que admitimos que estamos — que ainda</p><p>estamos — de posse de um átomo-centelha-do-espírito, ou átomo do</p><p>arquétipo.</p><p>Assim como o arquétipo se desenvolve e manifesta em plena majestade</p><p>quando o homem segue a senda da glória imperecível, fica claro que o</p><p>arquétipo também entrará em latência sempre que o homem decair na</p><p>manifestação adâmica.</p><p>E isso acontece conosco, seres humanos deste mundo! A trinalidade Deus-</p><p>arquétipo-homem tornou-se uma realidade esfacelada no que tange a nós,</p><p>visto não vivermos da força de irradiação de nosso arquétipo, porém “da</p><p>vontade do homem”, “da vontade da carne”, como diz o prólogo do</p><p>Evangelho de João.</p><p>Isso quer dizer que nosso microcosmo está sendo mantido em nossa prisão</p><p>pelo processo dialético do nascimento e da morte, pelo giro da roda.</p><p>Consequentemente, a irradiação de luz e de força do arquétipo</p><p>desapareceu, e o átomo do arquétipo em nosso peito se escureceu, o fogo</p><p>eterno extinguiu-se em nós. Grande abismo abre-se entre Deus e o homem.</p><p>Para manifestar-se, o homem tornou-se dependente de um processo</p><p>antinatural de conservação, que nos é, não obstante, muito natural e</p><p>necessário no momento. Como consequência de sua degeneração</p><p>fundamental, o homem foi entregue pela contranatureza ao campo</p><p>eletromagnético de forças naturais que lhe são hostis.</p><p>Se a Fraternidade Universal deseja ajudar o homem decaído, que, com</p><p>efeito, já foi um filho de Deus, o que deve acontecer então? É preciso</p><p>tentar restaurar a antiga trindade: Deus–arquétipo–homem. Isto não pode</p><p>ser conseguido apenas pela reanimação do arquétipo. Se isso acontecesse,</p><p>grande força emanaria do arquétipo, o átomo do arquétipo seria despertado</p><p>com violência, e o efeito disso mataria a pessoa num segundo.</p><p>A unidade esfacelada não pode também ser restabelecida pela reanimação</p><p>forçada do átomo do arquétipo no coração. Tal processo daria lugar às</p><p>mesmas consequências dramáticas.</p><p>Para a Fraternidade não resta senão a alternativa de assumir,</p><p>temporariamente, a função do arquétipo e, também, a do átomo do</p><p>arquétipo, em favor do filho de Deus desamparado e decaído.</p><p>Literalmente, a Fraternidade oferece-se ao homem como intermediária,</p><p>como mediadora. Ela coloca o homem em um campo de força sempre que</p><p>ele cai vencido em seu desespero dialético. Inicialmente, esse campo de</p><p>força é inteiramente uno conosco e radia grande suavidade e intenso amor,</p><p>ele deseja “enxugar-nos as lágrimas dos olhos”. Quando entramos num</p><p>período relativamente calmo, o campo de força entra em movimento,</p><p>trazendo-nos inquietação nova e diferente. Percorremos uma milha com a</p><p>Fraternidade, e eis que ela nos precede agora outra milha. Compreendemos</p><p>já ter começado o processo de desligamento, nosso microcosmo tem de ser</p><p>retirado do ossuário da petrificação.</p><p>O caminho que a Escola e seus alunos seguem se caracteriza, portanto, por</p><p>um ataque contínuo, um avanço de estrato em estrato, que oferece sempre</p><p>perspectivas e realidades diferentes. Ao trilhardes o caminho da Escola</p><p>soarão para vós as seguintes palavras: “[…] convém-vos que eu vá […] eu</p><p>vos hei de enviar […] o Consolador, o Espírito Santo. Ele testificará de</p><p>mim”.[36]</p><p>Quem é o Consolador — esse Espírito Santo? E o que é anunciado com sua</p><p>vinda?</p><p>É o momento glorioso em que o átomo do arquétipo recomeça, em certa</p><p>medida, a trabalhar independentemente e ressuscita em seu estrato terreno,</p><p>após longo preparo pelo mediador, de modo que Deus toca seu filho outra</p><p>vez de maneira fundamental. O que Deus quer é despertado pelo Filho e</p><p>crescerá no Espírito Santo. Esse crescimento representa completa</p><p>transfiguração, pois nada pode permanecer do homem dialético. Um</p><p>homem inteiramente novo tem de nascer!</p><p>Já explicamos o que acontece no aluno quando o átomo do arquétipo entra</p><p>em atividade novamente. Por meio do novo hormônio do timo e da</p><p>pequena circulação sanguínea, o aluno é compelido a uma atividade de</p><p>pensamento inteiramente nova. Por intermédio dela, ele cria a imagem do</p><p>homem imortal após muitos erros e muitas peças que o antigo Adão lhe</p><p>pregou.</p><p>Talvez possamos compreender agora que espécie de imagem é essa. É a</p><p>projeção do arquétipo, que se torna sempre mais pura, como base para o</p><p>advento do novo homem. A imagem do homem imortal está, mediante o</p><p>átomo do arquétipo, em ligação direta com o arquétipo propriamente dito</p><p>e, assim, também com a Gnosis.</p><p>Desse modo o plano do Grande Arquiteto se aproxima do aluno e nele é</p><p>realizado. É óbvio que, então, forças grandiosas serão liberadas para o</p><p>candidato. O campo eletromagnético divino, por tanto tempo seu inimigo,</p><p>pois o aluno provinha da contranatureza, transformar-se-á para ele em bela</p><p>harmonia. Ambos, esse campo e o da Fraternidade, confluirão</p><p>reciprocamente em perfeita unidade. Deus e homem reencontraram-se, e a</p><p>criatura prossegue de força em força e de glória em glória.</p><p>Compreendereis que essa glorificação não se refere apenas ao candidato</p><p>propriamente dito, mas também ao estrato terreno dos arquétipos, uma vez</p><p>que um dos arquétipos foi libertado e reanimado nesse estrato. À medida</p><p>que o estrato terrestre vai sendo glorificado, as forças naturais também se</p><p>farão sentir em maiores proporções. Todavia, os contrastes na</p><p>contranatureza aumentarão na mesma medida. Assim, graças a Deus, será</p><p>abreviado o dia do grande fim.</p><p>***</p><p>[35] Cf. Lc 17:21.</p><p>[36] Cf. Jo 16:7; Jo 15:26.</p><p>I-9 A alquimia divina e nós</p><p>É bem possível que em nossas considerações preliminares sobre o advento</p><p>do novo homem tenhamos traçado diretrizes ainda insuficientemente</p><p>concretas para muitos. Afinal, considerações sobre estratos terrenos,</p><p>arquétipos, forças naturais e atividades magnéticas não se situam, de</p><p>imediato, no âmbito do supranatural. Esperamos, entretanto, que o teor</p><p>deste capítulo vos ligue mais intimamente do que antes, de acordo com</p><p>vossos mais íntimos sentimentos, com os valores e realidades que a</p><p>Fraternidade deseja transmitir à vossa consciência. O estado de ser de</p><p>nossa onda de vida humana dialética será abordado, agora, de maneira</p><p>diferente, na esperança de que os fatos, mais do que nunca, venham tocar-</p><p>vos e incentivar-vos à reação necessária.</p><p>Uma fórmula alquímica divina é o fundamento de nosso maravilhoso</p><p>planeta. Dele meramente conhecemos uma parte muito pequena, que</p><p>tornamos desarmoniosa. Essa fórmula, aplicada continuamente, foi</p><p>estabelecida pelo Espírito divino com relação a uma revelação na</p><p>substância primordial, por meio dela e com ela. A substância primordial</p><p>ocupa o grandioso e infinito espaço intercósmico, o oceano eterno da</p><p>divina plenitude de vida.</p><p>É a materia magica universal. Por seu intermédio</p><p>essa manifestação torna-se possível. Todos os elementos, todas as</p><p>substâncias e forças concebíveis e inconcebíveis estão inorganicamente</p><p>presentes nessa materia magica, e, nesse oceano universal de águas vivas,</p><p>manifesta-se o que bem foi indicado como “o Grande Alento”. É o Espírito</p><p>incognoscível que movimenta, maneja e impele à manifestação esse fluxo</p><p>de águas.</p><p>Quando o Grande Alento toca as águas da matéria primordial, surge</p><p>primeiro o que se denomina a “alma original”, que é a fórmula, o plano</p><p>alquímico da manifestação. A alma, portanto, é um princípio de</p><p>manifestação na matéria primordial. Essa definição, entretanto, não basta</p><p>para esclarecer a natureza da alma ao nosso entendimento. Definimos,</p><p>portanto, o princípio da alma como um fogo inflamado pelo Espírito na</p><p>matéria primordial, na materia magica.</p><p>Todos sabemos que a alma é um fogo, por isso falamos de fogo da alma, de</p><p>fogo serpentino, de princípio ígneo da alma. Investigando mais de perto</p><p>esse princípio ígneo da alma, descobrimos que, em nosso campo de</p><p>existência, o fogo fluido da alma é um elixir de matéria muito sutil, um</p><p>gás, o tão conhecido hidrogênio. O hidrogênio é encontrado em infinitas</p><p>variações que, não obstante, possuem os mesmos princípios fundamentais.</p><p>Aprendemos no colégio que o hidrogênio está presente em todas as</p><p>substâncias compostas, queima na presença do oxigênio, produz o maior</p><p>calor de combustão dos elementos que conhecemos e, finalmente, é</p><p>altamente explosivo.</p><p>Meditando sobre isso, compreenderemos perfeitamente em que fase crítica</p><p>e de intensa magia negra caiu a humanidade, fase que a humanidade da</p><p>Atlântida atingiu também, um pouco antes de seu fim. Afinal, como se</p><p>sabe, os cientistas, os magos de nossos dias, estão fabricando a bomba de</p><p>hidrogênio.[37] A bomba de hidrogênio corporifica o princípio anímico da</p><p>deterioração, da explosão, da autoaniquilação. Quem isso começa ataca os</p><p>fundamentos do espaço da substância primordial, mais ainda do que pela</p><p>bomba atômica, e pode levar o universo a um colapso total. Se alguém</p><p>ainda duvida de que a humanidade ingressou no período de seus últimos</p><p>dias, poderá, agora, converter sua dúvida em certeza. Já dissemos que o</p><p>hidrogênio pode ser encontrado em variações infinitas, de acordo com o</p><p>grau de vibração em que ele se manifesta. Isso explica a variedade quase</p><p>infinita de revelações e manifestações no universo. Além do mais,</p><p>devemos compreender que o princípio ígneo da alma pode modificar sua</p><p>natureza e, em consequência, sua vibração. Nesse caso, o efeito original da</p><p>vibração da alma dará lugar a um resultado inteiramente diferente.</p><p>Quando a alma original, a primogênita, se mantém em perfeita harmonia</p><p>com o Grande Alento, com seu divino criador, a revelação manifesta-se de</p><p>imediato no que a Doutrina Universal dá o nome de “Manas”. Em outras</p><p>palavras, o ser humano original, a manifestação original do homem.</p><p>Todavia, fica bem claro que nossa alma já não é uma alma original. Nosso</p><p>fogo anímico é um princípio de hidrogênio desta natureza terrena. Se</p><p>nossa alma fosse original, no pleno sentido da palavra, um princípio de</p><p>fogo original inflamado na materia magica pelo Grande Alento, nossa</p><p>manifestação seria a comprovação divina desse fato.</p><p>Nossa alma, entretanto, é um fragmento da alma original, um princípio</p><p>anímico decaído. Esse princípio anímico é uma fórmula de hidrogênio</p><p>perfeitamente sintonizada com esta natureza e originária desta.</p><p>É por isso que somos chamados “nascidos da matéria”, e nossa</p><p>manifestação é mortal. Está claro que, se desejarmos ser libertados deste</p><p>campo de existência e renascer como novos homens, homens primordiais,</p><p>esse princípio anímico nascido da matéria deverá ser aniquilado, e uma</p><p>alma original deverá, em compensação, tornar a nascer do Grande Alento.</p><p>Por isso, Jesus Cristo dirige nossa atenção para a transfiguração, o</p><p>renascimento da alma, e é por isso que os renascidos segundo o antigo</p><p>princípio ígneo divino são denominados os “nascidos duas vezes”. Quem</p><p>não for capaz de celebrar esse nascimento não verá o reino de Deus. “Se</p><p>alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de</p><p>Deus.”[38]</p><p>Jesus, em sua conversa com Nicodemos, faz alusão à verdadeira essência</p><p>de toda a transfiguração. Todo o aluno da Escola da Rosacruz Áurea, todo</p><p>o candidato ao caminho da transfiguração deve renascer inicialmente</p><p>segundo o fogo da alma. As irradiações de sua alma têm de voltar a</p><p>resplandecer e vibrar segundo a antiga fórmula divina do Grande Alento; a</p><p>concentração de substância primordial de seu microcosmo deve ser posta</p><p>em movimento, com poder, pelo Espírito. Essa tempestade do Espírito,</p><p>essa festa de Pentecostes do fogo divino deve varrer o antigo princípio de</p><p>hidrogênio, de modo que o antigo campo de manifestação possa irradiar</p><p>outra vez com esplendor inefável.</p><p>Quem não ansiar por isso não alcançará o reino de Deus. Quem não aspirar</p><p>a morrer segundo o eu não deverá ingressar em nossa Escola. Todo o</p><p>mortal, segundo esta ordem de natureza, é uma bomba de hidrogênio viva</p><p>que se propaga explodindo, retumbante, em um inferno de horrores, até</p><p>que o todo, como coletividade, arda qual fornalha ígnea e consuma o</p><p>universo.</p><p>Entretanto, consideremos o assunto ainda mais sóbria e objetivamente, de</p><p>modo que possamos reconhecer a verdade do testemunho da Doutrina</p><p>Universal como um fato assustador que já não podemos negar.</p><p>Quando o fogo da alma é inflamado na matéria primordial, uma</p><p>concentração de hidrogênio surge em consequência de certa fórmula. Logo</p><p>que esse hidrogênio é liberado na matéria primordial, um segundo</p><p>elemento, o oxigênio, é simultaneamente despertado de sua latência.</p><p>Sabemos que o hidrogênio queima na presença do oxigênio e se converte</p><p>em fogo. Deste modo, quando a concentração de hidrogênio entra em</p><p>contato com o oxigênio, logo se inicia um processo de combustão. Assim</p><p>também um processo de combustão se desenvolve em nosso corpo,</p><p>mediante a respiração, devido ao contato entre o oxigênio da atmosfera e a</p><p>concentração de hidrogênio da alma.</p><p>Talvez agora direis: “Será que esse processo de combustão não conduz a</p><p>uma explosão de hidrogênio? Não provocará esse fato tremenda</p><p>destruição? Não haverá a esse respeito alguma fronteira natural que</p><p>encerre esse processo dentro de certos limites, de acordo com um plano</p><p>determinado?” Esses limites existem, sem dúvida. Os limites naturais do</p><p>processo de combustão decorrente do contato entre oxigênio e hidrogênio</p><p>são determinados por um terceiro elemento, a saber, o nitrogênio.</p><p>Em nossos tempos de estudante, talvez tenhamos aprendido que o</p><p>nitrogênio é um gás inerte, mas semelhante definição não exprime</p><p>suficientemente sua atuação. O nitrogênio encerra duas forças: uma</p><p>retardadora e outra de inércia. Ambas se originam da fórmula que</p><p>fundamenta a manifestação. O papel da força de inércia é permitir que o</p><p>plano de manifestação se realize sem interrupção; o da força retardadora é</p><p>permitir o controle do desenvolvimento do plano e impedir que o processo</p><p>de combustão se torne explosivo.</p><p>Em suma, um processo desenvolve-se com base em uma combustão, em</p><p>um fogo, mediante o contato entre os elementos hidrogênio e oxigênio,</p><p>enquanto um terceiro, o nitrogênio, serve para dar continuidade ao</p><p>processo, segundo o plano. O conjunto desse processo provoca uma</p><p>revelação, uma manifestação, em que a causa primeira, o próprio plano,</p><p>torna-se evidente. Essa manifestação efetua-se com o auxílio de um quarto</p><p>elemento, que conhecemos com o nome de carbono.</p><p>Graças ao carbono, as coisas são moldadas em formas, em compostos. O</p><p>carbono é uma força cristalizante. É a base de todas as substâncias</p><p>orgânicas e o elemento mediante o qual todas as formas imagináveis e</p><p>inimagináveis podem ser produzidas. Assim, existem:</p><p>1. um elemento ígneo fundamental — hidrogênio;</p><p>2. um elemento comburente fundamental — oxigênio;</p><p>3. um elemento manifestante fundamental, isto é, um elemento moldador</p><p>— carbono.</p><p>O plano fundamental desses três elementos cooperantes, sua natureza, sua</p><p>qualidade</p><p>e sua origem, quer divina ou não, evidenciam-se através de duas</p><p>forças de um quarto elemento, do elemento controlador — nitrogênio. Os</p><p>fatores de retardamento e de inércia do nitrogênio determinam, assim, o</p><p>resultado.</p><p>A alquimia divina realiza-se por meio desses quatro elementos</p><p>fundamentais. Esses quatro elementos dão origem a todo o cosmo e a todo</p><p>o microcosmo.</p><p>Uma vez que toda a alma original vive graças ao Grande Alento, segundo</p><p>um plano divino, não nos surpreenderá o fato de que cada arquétipo desse</p><p>plano, como fórmula viva preservada para cada entidade, tenha sua</p><p>morada na esfera terrestre dos arquétipos. Isso porque pertencemos a</p><p>sistemas que vivem por meio do sistema planetário composto, que</p><p>denominamos setenário cósmico.</p><p>Nosso planeta-mãe sétuplo preserva todos esses tesouros divinos em seu</p><p>seio, de onde teremos de desenterrá-los outra vez. Não é sem razão,</p><p>portanto, que nos contos lendários repletos de parábolas sobre os mais</p><p>sublimes e profundos mistérios, o candidato, como Dante em sua Divina</p><p>Comédia, seja obrigado a descer aos diferentes estratos terrestres a fim de</p><p>ser conduzido à luz universal por Beatriz, a Divina.</p><p>Após tudo quanto tentamos explicar, já não vos admirareis quando</p><p>dissermos que o coração da terra se compõe de uma concentração de</p><p>hidrogênio cuja radiação, procedente de um dos polos, difunde-se em</p><p>nossa atmosfera, tal qual o antigo fogo original do Espírito; que há,</p><p>portanto, “um testemunho nas nuvens do céu”, uma radiação vivente de</p><p>Cristo, a qual, por meio da respiração, pode ser absorvida de nossa</p><p>atmosfera, e que, assim, o campo de radiação da Fraternidade não é mero</p><p>símbolo, mas realidade vivente e antítese completa de nosso estado</p><p>dialético comum.</p><p>A essa altura todo o aluno já deverá saber por que entramos no período dos</p><p>últimos dias e por que o chamado “o tempo chegou!” tem de soar tanto</p><p>como uma advertência como, ao mesmo tempo, um grito de júbilo, pois a</p><p>simples reflexão e os próprios fatos nos provarão isso.</p><p>Quatro quintos de nossa atmosfera de vida dialética se compõem de</p><p>nitrogênio. Seria esse nitrogênio o elemento controlador divino em seu</p><p>estado original?</p><p>De modo algum! Ele é o elemento controlador dialético, liberado graças</p><p>ao processo ímpio de manifestação. Essa enorme força controladora nos</p><p>leva e compele para a morte e a deterioração. Com uma inércia satânica e</p><p>uma atividade retardante, como um filme em câmara lenta, essa força</p><p>poderosa arrasta-nos em um contínuo girar da roda.</p><p>Nesse estado de cativeiro, consumimos o nitrogênio da dialética na forma</p><p>de albumina e de muitos outros produtos animais e vegetais, e falamos de</p><p>alimentos puros e de ar puro. Contudo, assim como vivemos deste campo</p><p>fatal e nele respiramos, dele também nos alimentamos para, em um</p><p>processo de morte contínua, por fim sufocar-nos em nitrogênio.</p><p>“O que há num nome?”,[39] indagou um dos dramaturgos clássicos. Agora,</p><p>sabemos o que esse nome, nitrogênio,[40] tem a dizer-nos e também como</p><p>é absoluta a urgência de, no campo elementar original dos hierofantes de</p><p>Cristo, viver dos quatro alimentos santos, respirá-los e deles alimentar-se.</p><p>Todos nós somos convidados para essa milagrosa alimentação.</p><p>***</p><p>[37] A primeira bomba de hidrogênio foi detonada em 1952, um ano antes</p><p>da primeira edição deste livro (N.T.)</p><p>[38] Cf. Jo 3:5.</p><p>[39] What’s in a name? Cf. Shakespeare, W. Romeu e Julieta (N.T.)</p><p>[40] Em holandês a palavra é stikstof, que significa elemento sufocante</p><p>(N.T.)</p><p>I-10 Conhece-te a ti mesmo!</p><p>Assim, averiguamos que um fogo ímpio foi inflamado e é mantido em</p><p>nosso campo de existência. É a flamante tocha ígnea da alma que trazemos</p><p>em nós. Esse fogo é continuamente alimentado pelo fogo ímpio central</p><p>que arde em certo núcleo* pérfido de nossa região de vida. Na Doutrina</p><p>Universal, desde a mais remota Antiguidade, esse fogo central de</p><p>impiedade é denominado Lúcifer.* É um centro de hidrogênio que não</p><p>vibra em harmonia com um arquétipo divino e, portanto, jamais pode</p><p>originar vida divina real. Ele somente desencadeia desgraça, morte e</p><p>destruição.</p><p>O hidrogênio é substância anímica. Por isso, uma concentração de</p><p>hidrogênio na materia magica é sempre individualizada. Ela é plena de</p><p>consciência, de inata consciência natural. Isso torna claro para nós por que</p><p>Lúcifer é sempre tido como uma entidade poderosa em oposição a Deus.</p><p>Contudo, a consciência de Lúcifer, segundo sua essência mais profunda, é</p><p>irreal, falsa, porque Lúcifer não é uma entidade, mas um fenômeno</p><p>natural, ativo em impiedade neste mundo, pois a ideia que vivificou essa</p><p>concentração de hidrogênio não é divina, isto é, está em desarmonia com o</p><p>plano de Deus. Apenas existe consciência, apenas se é uma entidade,</p><p>quando o foco da alma estiver ligado ao Espírito absoluto. Sem essa</p><p>ligação com o Espírito, existe meramente um foco, um fogo flamejante</p><p>irracional, uma ilusão perigosa.</p><p>Os elementos do fogo de nossa alma, inflamados em Lúcifer, são tão</p><p>irreais quanto o próprio fogo ímpio central. É claro que o fogo central</p><p>luciferino também será extinto quando todos os elementos do fogo da</p><p>alma, ardendo em Lúcifer, compreenderem sua irrealidade, sua ilusão</p><p>fundamental, e se recusarem a continuar existindo no fogo de impiedade.</p><p>Deve ser difícil compreender, pior ainda admitir que, em realidade, não</p><p>viveis, mas existis apenas como fenômeno natural. A totalidade de vossa</p><p>existência é o resultado das diversas possibilidades existentes na materia</p><p>magica.</p><p>A tocha de vossa alma arde mediante a reunião de certo número de</p><p>espíritos ígneos naturais, denominados “salamandras”.</p><p>A ação conjunta, ou confluência, de certo número de salamandras — esses</p><p>princípios serpentinos ígneos do elemento hidrogênio, isto é, do elemento</p><p>ígneo fundamental — dá lugar ao fenômeno que conheceis como</p><p>consciência, a sensação de “eu sou”.</p><p>Como alma dialética, fundamentalmente, não tendes objetivo. Vossa</p><p>existência assemelha-se ao giro de uma roda. Viveis para morrer e morreis</p><p>para viver. Tudo aqui na terra nasce e fenece. Nada é permanente, nada é</p><p>essencial.</p><p>Tudo isso mostra que vós próprios e vosso mundo são o mero resultado de</p><p>uma atividade ígnea motora sem objetivo, de uma reação em cadeia. Toda</p><p>a existência está baseada numa fórmula alquímica ímpia:</p><p>1. a tocha de hidrogênio da alma queima em oxigênio;</p><p>2. os dois fatores do elemento nitrogênio dirigem o processo;</p><p>3. o resultado manifesta-se em carbono e por seu intermédio, e o todo</p><p>emana de um foco: Lúcifer.</p><p>Caso não queirais ver ou aceitar esse estado dialético fundamental, se vos</p><p>opuserdes a essas conclusões, que podereis fazer então? Podeis fazer o que</p><p>foi feito por muitas pessoas antes de vós: seguir o caminho da magia</p><p>natural, do ocultismo natural. Para onde levará esse caminho? Para o</p><p>núcleo do campo de Lúcifer! Podemos prová-lo.</p><p>Comecemos com uma pergunta. É possível sair do campo de existência</p><p>dialético? Pode um homem desta natureza, um princípio ígneo da alma</p><p>inflamado pelo núcleo luciferino e nele ardendo, livrar-se desse campo</p><p>ígneo?</p><p>Ele não pode fazê-lo, pois estaria inteiramente fora do alcance de suas</p><p>faculdades naturais. Ele somente pode existir no campo de seu</p><p>nascimento, no campo da base natural de seu ser. Ele apenas pode</p><p>permanecer onde está e continuar a ser o que é. Ele pode vagar e tatear os</p><p>limites de seu círculo de existência.</p><p>Ele também pode tentar irromper no núcleo de seu campo de existência.</p><p>Isso é o que faz o ocultista natural! Penetra os alicerces, o fundamento-</p><p>chave de sua existência e quer dominá-la, controlá-la. Consequentemente,</p><p>não deseja ser servidor, vítima, porém senhor. Esse caminho pode, sem</p><p>dúvida, ser trilhado, mas o que essa pessoa faz na realidade?</p><p>Pela sua atividade e respectivos resultados, ela reforça o núcleo luciferino</p><p>do campo ímpio de existência. Faz que o fogo arda mais forte do que</p><p>nunca ou o atiça de novo se está em perigo de extinguir-se.</p><p>Em outras palavras, corporal e literalmente, ela ingressou no inferno,</p><p>unificou-se com o núcleo do fogo ímpio.</p><p>Do mesmo modo que um órgão apresenta novo caráter devido à mudança</p><p>de certo</p><p>número de células e à mudança de estrutura celular, assim</p><p>também o ocultista da natureza luciferina mergulha nessa natureza, já não</p><p>podendo libertar-se dela. Ele tornou-se uno com ela.</p><p>Este é o estado descrito em todos os contos, mitos e lendas da Sagrada</p><p>Escritura, quando se referem ao inferno e ao fogo do inferno. Somente</p><p>entra no fogo infernal de Lúcifer quem nele se atira.</p><p>Quem se atira neste fogo? Quem por instinto de conservação se liga com</p><p>ele de maneira consciente e fundamental. Talvez agora se torne patente,</p><p>com toda a sua dramaticidade, a inominável fatalidade que paira sobre a</p><p>força composta que é conhecida pelo nome de “hierarquia* dialética”.</p><p>Essa hierarquia é a força composta de todos os que têm de manter o núcleo</p><p>luciferino de nosso campo de existência, dos que são obrigados a assim</p><p>proceder por necessidade de automanutenção. Todavia, observemos esse</p><p>elemento dramático de sua verdadeira perspectiva, visto não tratar-se aqui</p><p>de vida real, mas apenas de um fenômeno natural apartado da Gnosis!</p><p>Portanto, não condenemos o ocultista natural, pois, de acordo com seu</p><p>desejo de existir, não fugiu ele para o coração de sua fonte de existência</p><p>por caminhos muito naturais? Ao mesmo tempo descobrimos que toda a</p><p>religiosidade desta natureza, fundamentada nos bem conhecidos sistemas</p><p>religiosos naturais, na realidade tem como base o núcleo do campo de</p><p>hidrogênio luciferino. O fato de alguém ser místico, ocultista, materialista</p><p>ou um ser biológico primitivo é determinado pelo número de salamandras</p><p>ou princípios ígneos no fogo da alma. Todas essas formas estão ligadas</p><p>umas às outras como elos de uma corrente, e o estado de ser de todas elas</p><p>é um estado mantido pelo fogo infernal. Algumas dessas pessoas já se</p><p>ligaram definitivamente com o núcleo desse fogo, outras não. Ainda não!</p><p>E vós pertenceis a essa última categoria.</p><p>Tudo isso, entretanto, não precisa encher-vos de receio, de medo do fogo</p><p>infernal. Na realidade, todos os movimentos dialéticos naturais, após</p><p>longo circuito, retornam a seu núcleo, ou seja, ao fogo luciferino. O</p><p>ocultista natural faz isso rápida e radicalmente. Os outros trilham um</p><p>caminho que corre de forma mais espiralada. Uma vez que tenham</p><p>atingido o centro e se unificado com ele, novas centelhas de existência</p><p>brotam desse núcleo ígneo. Estas, a princípio, são novamente acolhidas em</p><p>um processo de manifestação do fenômeno humano-dialético, que dura</p><p>éons, e retornam depois à fonte primordial. O algo novamente se converte</p><p>em nada. A pseudoconsciência, formada durante tanto tempo de ligações à</p><p>roda, é novamente dissolvida.</p><p>Assim se originam o conhecido giro da roda e o circuito luciferino.</p><p>Agora a Escola Espiritual dirige-se a vós, que estais situados em</p><p>determinado ponto desse duplo caminho, quer como místico, ocultista,</p><p>materialista ou qualquer outra coisa, e vos diz: “Tendes agora uma</p><p>consciência, mas sois absolutamente vazios de vida, porque apenas existe</p><p>vida no Espírito e pelo Espírito”. Essa consciência passa rapidamente por</p><p>uma série de estados de ser, até chegar ao núcleo de vosso campo de</p><p>existência e ser dissolvida. Essa imersão, essa unificação com o núcleo</p><p>luciferino de nosso campo de existência, é chamada inferno, a entrada no</p><p>fogo do inferno. Em suma, estamos fazendo uma tentativa para explicar</p><p>uma série de fenômenos naturais em que vós mesmos estais envolvidos e</p><p>vos perguntamos: “Isso tem de continuar assim? Não quereis mudá-lo?”</p><p>Ora, é possível que essas explicações e essas perguntas calem em vós de</p><p>modo especial, de tal modo que elas vos toquem, pois por meio dessas</p><p>perguntas e da força existente por trás delas é dirigido um apelo ao átomo-</p><p>centelha-do-espírito no santuário do coração. Quem possui o átomo-</p><p>centelha-do-espírito não pode permanecer indiferente a esse apelo.</p><p>O átomo-centelha-do-espírito é algo maravilhoso. No capítulo anterior</p><p>abordamos esse mistério quando falamos a respeito do átomo de</p><p>hidrogênio, pois o átomo ígneo de hidrogênio é o início do processo de</p><p>gênese da personalidade. O átomo de hidrogênio, inflamado pelo Espírito</p><p>de Deus, deu vida à personalidade original. Entretanto, essa personalidade</p><p>original desapareceu, e apenas resta o antigo princípio de hidrogênio, que</p><p>está presente em estado latente, oculto no santuário do coração. Esse</p><p>antigo princípio de hidrogênio, esse átomo-centelha-do-espírito, de modo</p><p>algum toma parte no processo de manutenção da pseudorrealidade da</p><p>presente dialética.</p><p>Pode surgir aqui alguma dificuldade em compreender o que foi dito. Sois</p><p>capazes de imaginar, possivelmente, que o antigo princípio de vida seguiu</p><p>uma linha de conduta degenerativa, uma linha de declínio. E agora</p><p>parecerá lógico supor que, em dado momento, essa linha mostrará uma</p><p>mudança, uma nova ascensão, de modo que um processo de evolução se</p><p>inicie. Devemos asseverar-vos, entretanto, que semelhante ideia não</p><p>corresponde de forma alguma com a verdade. Assim como um motor</p><p>deixa de funcionar logo que o combustível acabe, também o princípio de</p><p>vida original interrompe seu trabalho tão logo se rompam os laços com o</p><p>Espírito mantenedor. Tudo o que antes era possível, pelo Espírito,</p><p>desaparecerá irrevogavelmente.</p><p>Surge assim a pergunta óbvia: “Haverá, então, dois princípios de vida, dois</p><p>princípios de hidrogênio, dois princípios de fogo serpentino? Um original,</p><p>em estado latente, uma vez que não existe força disponível que o alimente,</p><p>e um segundo princípio que, no momento, está intensamente ativo?”</p><p>Efetivamente, esse é o caso! Esse fato constitui um dos inabaláveis</p><p>fundamentos da filosofia transfigurística. Todavia, é bom que penetremos</p><p>mais profundamente o assunto a fim de que possais conhecer toda a</p><p>verdade.</p><p>A Doutrina Universal sempre se referiu a esses dois princípios. Segundo</p><p>essa doutrina, sabemos que “Cristo defronta com Lúcifer”. Cristo é o</p><p>mandatário divino, Lúcifer, o servidor revestido de grandioso poder e, em</p><p>razão de sua glória, é denominado “a Estrela da Manhã”, “o Filho da</p><p>Aurora”, o Apóstata Brilhante, o Poderoso Rebelde, o Portador de Luz.</p><p>Dele se diz ser o portador do mais alto título fora do céu, pois no céu ele</p><p>não pode estar. Fora do céu, porém, ele é tudo. Nas lendas sagradas, é</p><p>Miguel, a invencível energia celestial, que entra no campo de batalha</p><p>contra ele.</p><p>Que devemos pensar de tudo isso? Quando o Espírito incognoscível irradia</p><p>na substância primordial, na materia magica, e quando o fogo é nela</p><p>inflamado, e os elementos dão início a suas reações em cadeia, segue-se</p><p>aí, ao mesmo tempo, uma atividade reflexiva, isto é, uma atividade de</p><p>sombra. O trabalho do Senhor na materia magica é refletido qual uma</p><p>figura ao espelho.</p><p>Deveis ter percebido que essa projeção possui certa força, que dela emana</p><p>uma atividade mágica. Essa atividade não é insignificante, pois, conquanto</p><p>nada represente existencialmente, realiza algo definido. Não obstante ser</p><p>uma ilusão, mesmo assim forma um foco, e esse foco coopera com o</p><p>próprio ser a serviço do grande objetivo. Eis a razão de esse foco estar</p><p>realmente revestido de “poder”.</p><p>Quando, pois, o Espírito penetra a substância primordial — a fim de</p><p>iniciar e realizar um plano divino, o qual, em sua totalidade, é indicado</p><p>com o nome de Cristo, isto é, o Ungido, Aquele que está associado ao</p><p>plano divino — produz-se, simultaneamente, na materia magica, o reflexo</p><p>direto desse fato, Lúcifer. Assim, além do sol divino inflamado na</p><p>substância primordial, surge também a Estrela da Manhã. Lúcifer, a</p><p>Estrela da Manhã, é consequentemente uma projeção direta de uma</p><p>realidade superior, meramente uma projeção, não a própria realidade! Essa</p><p>é a razão por que os mitos sagrados dizem: Ele, Lúcifer, traz o mais</p><p>elevado título fora do céu, mas ele não pode estar no céu.</p><p>Desse modo, no que tange a toda a manifestação na materia magica,</p><p>averiguamos que existem dois fogos flamejantes, um concêntrico e outro</p><p>excêntrico, um fogo divino e outro que resulta de um processo natural.</p><p>Ora, quando o processo divino sofre uma estagnação na substância</p><p>primordial, o mesmo não acontece com a atividade do processo natural.</p><p>necessidade de perseverança</p><p>Pecado</p><p>II-5 Piedade — I</p><p>A piedade do ser humano dialético</p><p>A atividade do remédio supremo</p><p>A mudança corporal do aluno</p><p>Os quatro alimentos santos</p><p>O segundo fogo serpentino</p><p>Pingalá e Idá; Ananias e Safira</p><p>A nova coluna da consciência</p><p>O timo</p><p>Um novo sistema nervoso</p><p>A cidade com as doze portas</p><p>II-6 Piedade — II</p><p>Atos dos Apóstolos 5:1–11</p><p>A comunhão com as radiações de Cristo</p><p>Uma nova consciência</p><p>O assassínio da nova radiação magnética</p><p>Os moços</p><p>A necessidade absoluta da morte do eu</p><p>II-7 Piedade — III</p><p>Uma nova figura corpórea</p><p>O “suicídio” dos cátaros</p><p>Dois núcleos de consciência</p><p>O sepulcro vazio</p><p>O Círculo Apostólico</p><p>II-8 Amor fraternal</p><p>Deus manifestado na carne</p><p>O amor do homem dialético</p><p>Humanismo</p><p>Cativo na Gnosis</p><p>No mundo, porém já não do mundo</p><p>Pescador de homens</p><p>O segredo do trabalho da Escola Espiritual</p><p>Primeira Epístola aos Coríntios, cap. 13</p><p>II-9 O amor — I</p><p>Os três templos</p><p>A pesca de homens</p><p>As três leis sagradas do apostolado</p><p>II-10 O amor — II</p><p>A futura nova vida</p><p>O futuro novo homem</p><p>O anseio de salvação libertador</p><p>A entrada para o novo reino</p><p>A construção do novo templo</p><p>A nova personalidade glorificada</p><p>Parte III · Os dons e os poderes do novo homem</p><p>III-1 O renascimento aural</p><p>A quem falamos</p><p>A construção da arca</p><p>A oficina do construtor</p><p>O erro dos movimentos baseados no dom de línguas</p><p>O amor que cobre pecados</p><p>A revolução microcósmica</p><p>III-2 Consequências do renascimento aural</p><p>Consequências da revolução microcósmica</p><p>Perdoa-nos as nossas dívidas</p><p>O primeiro dia da recriação: novos dons e dádivas</p><p>O que a cura não é</p><p>III-3 O dom de curar</p><p>Três ministérios, cinco tarefas e nove dons como características da nova gênese</p><p>humana</p><p>Os perigos do interesse negativo</p><p>O que é cura</p><p>O auxílio extraordinário para a salvação</p><p>“Buscai primeiro o reino de Deus…”</p><p>Santificação, uma via-crúcis para a sanificação</p><p>III-4 As tarefas: cinco correntes para a cura</p><p>A Fraternidade mundial sétupla</p><p>O estado das duas naturezas</p><p>O dom de curar</p><p>A revelação dos filhos de Deus</p><p>O auxílio curativo das cinco tarefas</p><p>O tanque de Siloé</p><p>O despertar da rosa</p><p>Um novo elo na corrente áurea</p><p>III-5 Os dons — I</p><p>A limitação do dom de curar</p><p>O dom da transmissão de fé</p><p>O dom da sabedoria e a faculdade pictórica</p><p>O dom da análise intelectual e o dom da transmissão de conhecimento e conceito</p><p>O dom da nova vontade</p><p>O dom de curar</p><p>III-6 Os dons — II</p><p>A mudança de tipo</p><p>O início da cura</p><p>A ignição</p><p>O dom de discernir espíritos</p><p>III-7 A morte foi tragada na vitória</p><p>A mensagem do fim</p><p>Nenhuma libertação mediante evolução</p><p>As duas naturezas</p><p>A última trombeta</p><p>O Vácuo de Shamballa</p><p>Onde está, ó morte, o teu aguilhão?</p><p>Breve a noite terá passado</p><p>III-8 O novo campo de vida</p><p>A veste sem costura</p><p>A Casa Sancti Spiritus para a nova colheita</p><p>João e Jesus</p><p>A colaboração com o novo edifício de Deus</p><p>O derramamento de sangue da velha natureza</p><p>O derramamento de sangue da nova natureza</p><p>III-9 O dom da profecia</p><p>O verdadeiro servo da palavra</p><p>O verdadeiro profeta</p><p>Os dons do profeta</p><p>O objetivo e a tarefa do profeta</p><p>A construção sobre a pedra angular: Cristo</p><p>III-10 O dom de línguas</p><p>A perturbação dos polos magnéticos do campo dialético</p><p>A manifestação dos filhos de Deus</p><p>O transfigurismo e este mundo</p><p>O curso dos fatos é retardado</p><p>Línguas</p><p>Línguas de fogo</p><p>Novamente: o ser aural</p><p>A gênese das novas línguas</p><p>III-11 O dom da interpretação de línguas</p><p>Novas línguas de fogo</p><p>A ilusão e o perigo dos movimentos baseados nos dons de línguas</p><p>Não se deve consultar os mortos</p><p>Sensitividade</p><p>A obtenção dos dons de línguas</p><p>O crescimento da nova consciência</p><p>O dom da interpretação de línguas</p><p>Biografia do autor</p><p>Glossário</p><p>Cólofon</p><p>Livros da Pentagrama Publicações</p><p>Quarta-capa</p><p>Prefácio</p><p>A primeira edição de O novo homem foi publicada em 1953, quando a</p><p>Europa Ocidental ainda se reerguia dos escombros da Segunda Guerra</p><p>Mundial. Nessa atmosfera sombria, um alento de esperança insuflava</p><p>idealistas de diversos matizes a defender a possibilidade de instaurar-se</p><p>uma nova ordem mundial que agraciasse a humanidade com paz perene.</p><p>Contudo, os últimos sessenta anos testemunharam justamente o contrário e</p><p>demoliram, de uma vez por todas, a ilusão de construir-se um paraíso aqui</p><p>na terra. As disputas entre povos e nações apenas recrudesceram nesse</p><p>período, e a humanidade arrojou-se, de novo, em busca de uma saída dessa</p><p>situação que ela própria criara.</p><p>A Fraternidade da Rosacruz Áurea surgiu, nessa época, a fim de revelar a</p><p>existência de um caminho luminoso para fora desse impasse e auxiliar o</p><p>homem a trilhá-lo. Jan van Rijckenborgh já havia delineado e explicado</p><p>essa senda de libertação interior em seu livro O mistério iniciático cristão</p><p>— Dei Gloria Intacta, em 1946. Todavia, sete anos depois, ele sentiu a</p><p>necessidade de aprofundar e desvendar, por completo, o mistério do</p><p>advento iminente de um homem totalmente novo.</p><p>Esse fato tornou-se realidade em nossos dias graças a uma nova fase de</p><p>desenvolvimento cósmico do mundo, que oferece ao homem a</p><p>oportunidade de colaborar na gênese de um ser de consciência superior,</p><p>guiado por uma alma imortal. Entretanto, para esse nascimento milagroso</p><p>poder realizar-se, há a necessidade de estabelecer-se um processo de</p><p>transformação total do ser humano, de modo que ele possa ceder parte de</p><p>seu espaço vital a outro ser que vive de energias divinas, desconhecidas</p><p>pela ciência contemporânea.</p><p>Este livro descreve com detalhes todo esse processo ao qual o homem</p><p>deve submeter-se para alcançar essa transformação radical, mediante uma</p><p>purificação metódica e uma renovação estrutural consoante leis cósmicas</p><p>da natureza divina.</p><p>O estilo por vezes austero do texto galvaniza as palavras do autor contra a</p><p>corrosão do tempo e deixa transparecer também, de forma cristalina, o</p><p>esplendor da verdade que ilumina esse novo tipo humano, idealizado por</p><p>filósofos e artistas desde a Antiguidade. Ele é apresentado nestas páginas</p><p>para que o buscador dos tempos atuais possa reconhecê-lo e acolhê-lo</p><p>incondicionalmente em sua vida.</p><p>Pentagrama Publicações</p><p>Parte I · Autoconhecimento</p><p>como condição prévia para a</p><p>nova gênese humana</p><p>I-1 O advento do novo homem</p><p>É possível que muitos de nossos leitores tenham conhecimento de</p><p>especulações ocultistas ou etnológicas sobre o advento de uma nova raça</p><p>na terra, sobre sua natureza e suas características. De fato, novas raças</p><p>humanas surgiram e desapareceram repetidas vezes no curso dos milênios,</p><p>e futuras manifestações dialéticas*[1] com certeza não serão exceções a</p><p>essa regra.</p><p>Em nosso planeta há certas regiões que podem ser denominadas cadinhos</p><p>de povos, e é desses cadinhos que novas raças surgem após muitas</p><p>depurações.</p><p>Nas revoluções cósmicas, quando continentes inteiros desaparecem e</p><p>muitas outras catástrofes põem termo à vida de grande número de pessoas,</p><p>há sempre criaturas que escapam. Elas são, de antemão, propositadamente</p><p>resguardadas, isto é, são levadas para regiões mais seguras. Desses</p><p>“últimos remanescentes” da humanidade dialética desenvolvem-se novas</p><p>raças que oferecem nova oportunidade de encarnação aos que pereceram</p><p>durante uma revolução cósmica.</p><p>Possivelmente lestes passagens referentes ao processo de repovoamento de</p><p>nosso globo depois de uma limpeza cósmica. As lendas e os mitos que</p><p>narram esse fato são incontáveis. Pensemos, por exemplo, na história de</p><p>Noé, que, tendo escapado ao dilúvio, encontra terra firme no monte</p><p>Ararate e, com sua família, torna-se a base de outro povoamento mundial.</p><p>Nos mitos de quase todos os povos encontramos essa história de uma</p><p>forma ou outra.</p><p>Assim, ao longo dos anos, séculos e éons,* a roda do tempo gira, e, com</p><p>toda a razão, o sábio Pregador pode dizer: “Há alguma coisa de que se</p><p>possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes</p><p>de nós”.[2]</p><p>O mesmo é válido para o vaivém das raças humanas. Em essência, elas</p><p>não são “novas”, mas antigas raças, ou misturas destas, que retornam. São</p><p>sempre as mesmas coisas, os mesmos fatos e os mesmos seres humanos,</p><p>que nas contínuas revoluções da dialética passam em revista,</p><p>ininterruptamente, os acontecimentos atuais.</p><p>Pelo contrário, uma vez que esse duplo processo tenha tomado seu curso, e</p><p>o processo nuclear tenha estagnado, a lei da natureza dobrará suas</p><p>investidas qual força cega, com todas as consequências.</p><p>Quando um pensamento começa a brotar no cérebro, sua imagem é</p><p>imediatamente projetada no campo de manifestação e mantém os olhos</p><p>fixados sobre vós. Fizestes surgir uma estrela em vosso microcosmo.</p><p>Mesmo quando abandonais esse pensamento, ainda assim a imagem-</p><p>pensamento continuará a irradiar e a executar seu trabalho. Assim, podeis</p><p>imaginar que houve uma época de que os antigos poetas sagrados</p><p>testemunhavam:</p><p>[…] quando as estrelas da manhã juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de</p><p>Deus rejubilavam?[41]</p><p>Podeis também compreender quando o antigo profeta diz:</p><p>Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! […] levado serás ao inferno![42]</p><p>E agora entendereis o autor do Apocalipse, quando profetiza:</p><p>E ao que vencer […] dar-lhe-ei a estrela da manhã.[43]</p><p>Todos os que, sinceramente, desejam ser alunos da Escola Espiritual da</p><p>Rosacruz Áurea têm uma tarefa de Pentecostes a realizar. Mediante uma</p><p>vida endurística, em arrependimento,* humildade e autoesquecimento,</p><p>devem ofertar seu átomo-centelha-do-espírito, o átomo original de</p><p>hidrogênio, ao Espírito Universal, na única oração brotada da atitude de</p><p>vida renovada: “Espírito Santo, desce sobre nós!”</p><p>Então Cristo, o Ungido, o portador divino original da tocha, fará morada</p><p>em vosso coração, isto é, o átomo original em vós reentrará em contato</p><p>com seu arquétipo. Ele começará a atuar e a irradiar, conforme já</p><p>descrevemos. E, oh maravilha! Fora de nós, em nosso campo de</p><p>manifestação, a imagem do homem imortal surgirá diante de nós! A</p><p>estrela da manhã terá de novo ressuscitado, o antigo Lúcifer, o Glorioso, e,</p><p>em ligação com este foco, o templo de Deus, o edifício da transfiguração,</p><p>será concluído. Quando a imagem do homem imortal se ergue</p><p>corporalmente no firmamento* do microcosmo, as palavras do capítulo 22</p><p>do Apocalipse se cumprem literalmente:[44]</p><p>Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou</p><p>a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. E o Espírito e a noiva</p><p>dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, receba</p><p>de graça a água da vida.</p><p>Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. E quem ouvir, diga: “Certamente</p><p>cedo venho. Amém. […] A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com</p><p>todos vós”.[45]</p><p>***</p><p>[41] Cf. Jó 38:7.</p><p>[42] Cf. Is 14:12,15.</p><p>[43] Cf. Ap 2:26,28.</p><p>[44] Cf. Ap 22:16–17.</p><p>[45] Cf. Ap 22:20–21.</p><p>I-11 A rosa da manifestação</p><p>sétupla de Deus</p><p>Sem dúvida, já tereis visto alguma vez, na literatura da Rosa-Cruz</p><p>moderna ou em um de seus templos, a imagem da rosa estilizada. Essa</p><p>rosa é formada de sete círculos interligados, com um centro comum. Ela é</p><p>o símbolo do setenário cósmico, do planeta terra divino e verdadeiro.</p><p>Contemplando essa rosa sétupla ligada à cruz, certamente compreendeis o</p><p>significado desse símbolo.</p><p>O transfigurista é o homem que escolhe essa Rosa-Cruz como seu</p><p>objetivo. Ele é o homem que rompe a prisão eletromagnética da natureza</p><p>dialética pelo caminho da cruz, a fim de tornar possível sua readmissão na</p><p>pátria perdida, o Reino Imutável.</p><p>Então concluís que nem todos os que se denominam rosa-cruzes</p><p>expressam a mesma ideia, nem todos os que afirmam seguir a Rosa-Cruz</p><p>trilham o mesmo caminho. Existem símbolos rosa-cruzes místicos,</p><p>ocultistas, eclesiásticos e transfigurísticos. Aí reside, naturalmente, grande</p><p>perigo para o homem buscador, pois nem todos os rótulos correspondem</p><p>ao conteúdo legítimo. Grande precaução com o simbolismo é, portanto, da</p><p>mais elevada importância para os que ainda estão buscando seu caminho.</p><p>O símbolo da rosa do setenário cósmico está, entre outras coisas, também</p><p>esculpido na pedra fundamental do templo internacional de Renova, do</p><p>Lectorium Rosicrucianum, em Lage Vuursche, Bilthoven, Holanda. Essa</p><p>pedra expressa, assim, a vocação da Escola Espiritual moderna. Sobre essa</p><p>pedra angular, encontra-se também a cruz, que é o caminho mediante o</p><p>qual a meta deve ser alcançada. Em seguida, encontramos a indicação dos</p><p>quatro alimentos santos, as quatro forças elementares originais que</p><p>constituem o único viático na jornada rumo à meta da rosa.</p><p>Alguém poderá perguntar: “Esse símbolo de tão gloriosa realidade não</p><p>poderá, em muitos aspectos, revelar-se uma ilusão? Pode-se imaginar que</p><p>uma ideia magnífica possa elevar as pessoas do curso deprimente em que</p><p>segue a rotina de seus hábitos; que, assim como um lampejo de alegria é</p><p>capaz de restituir um pouco de coragem ao homem, também a ideia da</p><p>jornada à Jerusalém original pode contribuir para encarar a dura realidade</p><p>com um sorriso nos olhos. Portanto, é bom continuar falando acerca de</p><p>uma nova vida. Isso ajuda sempre um pouco. Todavia, a realização… ah!”</p><p>Há, talvez, pessoas com esse estado de alma que ingressaram na Escola</p><p>Espiritual exclusivamente com o propósito de reconfortar-se com a doçura</p><p>de uma ideia. Portanto, explicaremos o quanto o símbolo do setenário</p><p>cósmico, o símbolo da Rosa-Cruz e os quatro alimentos santos constituem</p><p>as características de uma realidade tão intimamente ligada a nós que um</p><p>dos grandes pôde afirmar: “O reino de Deus está dentro de vós!”[46]</p><p>Explanamos o modo como a humanidade decaída está sendo mantida</p><p>escravizada em seu campo de existência, isto é, no campo eletromagnético</p><p>das forças naturais opositoras ao homem. Na esfera terrena dos arquétipos</p><p>e na esfera das forças naturais, sempre se desenvolve poderosa resistência</p><p>contra qualquer vida não divina, e visto que essas esferas terrenas</p><p>correspondem completamente a nosso campo de existência, nós,</p><p>envolvidos pela queda, estamos confinados em uma prisão</p><p>eletromagnética. Atividades vulcânicas e outras atividades da natureza</p><p>propiciam-nos uma atmosfera completamente compatível com nosso</p><p>estado de ser. Os que pesquisam de que maneira a natureza divina se</p><p>protege compreenderão a veracidade das palavras de Jacob Boehme de que</p><p>Deus fez desse campo de existência um todo isolado em que toda a</p><p>humanidade decaída é obrigada a nascer, florescer e fenecer, em contínua</p><p>rotação, até despontar o dia da autolibertação.</p><p>Toda a entidade que se desenvolve no setenário cósmico está estreitamente</p><p>ligada à fórmula fundamental de vida deste planeta. Quem de alguma</p><p>forma se opõe a essa lei de vida fundamental produz uma vibração que</p><p>suscita resistência imediata por parte das forças naturais fundamentais. De</p><p>modo automático, por assim dizer, essas forças naturais fundamentais</p><p>emitem uma corrente eletromagnética que envolve e prende a entidade</p><p>rebelde a fim de que ela já não possa ter iniciativa nem viole a lei. Assim,</p><p>ela é mantida em um “todo isolado” para ficar protegida de si mesma.</p><p>Nesse novo campo eletromagnético, quatro forças elementares são postas</p><p>em manifestação para servir de viático à entidade em seu estado de</p><p>isolamento: hidrogênio, para a irradiação da alma; oxigênio, para o</p><p>processo de combustão; nitrogênio, para regular e manter o processo de</p><p>combustão; e carbono, para expressar a ideia de vida que prevalece no</p><p>campo mencionado. Essas quatro forças dialéticas, contudo, já quase não</p><p>possuem as características dos quatro alimentos santos originais. Elas</p><p>turbilhonam, por exemplo, procedentes de inúmeras crateras vulcânicas,</p><p>que são dirigidas pelas forças naturais. Esses quatro alimentos santos</p><p>foram adaptados, por transformação, para o uso do ser humano. A estação</p><p>transformadora localiza-se no estrato terrestre das forças naturais, e o</p><p>campo eletromagnético mantém encerrados o ser humano e a atmosfera</p><p>assim formada para ele.</p><p>As puras forças elementares originais também estão presentes na terra. O</p><p>centro dessas forças está localizado no coração do setenário cósmico e</p><p>coincide aproximadamente com o centro do que denominamos terra. Essas</p><p>forças fluem dos sete polos norte para alimentar todas as criaturas divinas</p><p>e são conservadas intactas, como atmosfera original, pelo campo</p><p>eletromagnético dos sete estratos</p><p>de forças naturais, que também se</p><p>desenvolve segundo seu ser original. Os quatro elementos originais e os</p><p>quatro elementos dialéticos têm, portanto, a mesma origem: são vibrações</p><p>e emanações da substância primordial.</p><p>Suponhamos, agora, que o incidental campo eletromagnético dialético</p><p>subitamente desaparecesse. Nesse exato momento, a atmosfera dialética</p><p>deixaria de existir e se dispersaria no espaço, e nós todos nos</p><p>encontraríamos no mar infinito da atmosfera original. Não teríamos</p><p>capacidade para aí manter-nos e logo morreríamos por falta de ar. Afogar-</p><p>nos-íamos no mar de águas vivas. É bom demorar-nos nesse ponto um</p><p>pouco mais, pois daí se conclui que nossa prisão não é apenas uma colônia</p><p>penal, mas, ao mesmo tempo, um local de graça em que esforços estão</p><p>sendo feitos para sermos auxiliados a recuperar a filiação divina.</p><p>A verdade das palavras de Jacob Boehme é, de novo, confirmada: “Deus</p><p>atacou este mundo no coração, a fim de tornar possível um retorno”.</p><p>Talvez já se tenha tornado claro para vossa consciência que há dois</p><p>campos atmosféricos. Não um aqui e outro ali, mas presentes simultânea e</p><p>existencialmente, assim como também há dois campos eletromagnéticos</p><p>existencialmente presentes.</p><p>Uma condição caracteriza o campo de queda e graça, o campo de</p><p>tolerância e de assistência, a outra condição, o absoluto e a divindade.</p><p>Ambas as condições estão presentes no mesmo instante, no mesmo espaço,</p><p>aqui e agora. Não existe lugar que possa ser apontado onde o mar da divina</p><p>plenitude de vida[47] não esteja presente. O reino de Deus e sua atmosfera</p><p>de vida estão mais próximos do que mãos e pés; sim, eles estão dentro de</p><p>vós.</p><p>E os grandes, que testemunham dessa divina plenitude de vida, nos dizem:</p><p>“E eis que eu estou convosco […] até à consumação dos séculos!”[48] “No</p><p>meio de vós, está alguém que não conheceis.”[49] “De graça lhe darei da</p><p>fonte da água da vida.”[50] “Se quereis beber dessa água da vida e viver e</p><p>existir na outra atmosfera, tereis de abandonar vosso próprio mundo</p><p>incidental e acabar com vosso mundo atual.” “Vai, vende tudo o que tens e</p><p>segue-me!”[51]</p><p>Entretanto, a fim de abandonar a prisão de vosso próprio mundo</p><p>incidental, deveis transformar-vos em mestre da pedra; tereis de lançar a</p><p>pedra fundamental de um novo templo. Para chegar a ser mestre, porém,</p><p>tereis primeiro de ser aprendiz, aprendiz de construtor de templos!</p><p>Escolhidos para isso pela experiência, tereis aprendido a conhecer</p><p>perfeitamente a natureza de vossa prisão dialética e tereis descoberto que</p><p>esse mundo é, ao mesmo tempo, um local de graça, porque a Gnosis não</p><p>deseja vosso declínio, ela anseia socorrer-vos. Por conseguinte, existe a</p><p>Fraternidade Universal, servindo de ponte sobre o abismo entre as duas</p><p>atmosferas de vida. Ela vos traz um pouco da água viva original, em</p><p>diferentes formas, adaptadas a vosso estado de ser. Não podeis nem tendes</p><p>de transpor tudo de um salto. Há irmãos e irmãs dispostos a ajudar-vos em</p><p>cada passo que vos propuserdes a dar e que colocam vosso pé sobre as</p><p>pedras da ponte que conduz de vosso atual estado de ser ao outro. Por que</p><p>deveríeis ficar amedrontados e assustados? Ninguém vos forçaria a galgar</p><p>um degrau se ainda não estivésseis capacitados a fazê-lo. Irmão algum vos</p><p>coagiria. Ficai firmes sobre a pedra em que estais no momento e, quando</p><p>tiverdes acumulado forças para o próximo passo, sereis auxiliados.</p><p>Portanto, é dito: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e</p><p>sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.[52] “Buscai e achareis, batei e abrir-</p><p>se-vos-á!”[53]</p><p>Há apenas uma condição para a senda: é exigido que sejais aprendiz de</p><p>construtor de templos. Então, sem dúvida alguma, tornar-vos-eis mestre da</p><p>pedra. O que significa ser aprendiz de construtor de templos? Significa</p><p>estar em condição de lançar a primeira pedra da nova construção do</p><p>templo e de preparar essa primeira pedra de maneira correta.</p><p>Podemos ensinar-vos como fazê-lo? Pois bem, tomai um bloco de granito,</p><p>isto é, colocai-vos ante a realidade dura como o basalto de vossa</p><p>existência dialética sem objetivo; colocai-vos ante esta realidade com o</p><p>cinzel afiado de vossa atitude reta e de vossa determinação inabalável.</p><p>Com todas as vossas forças, entalhai nela a rosa estilizada do setenário</p><p>cósmico. Essa rosa estilizada será, então, como uma janela em vossa</p><p>prisão. Através dela podereis olhar o exterior. Através dela Fausto, de</p><p>Goethe, olhou. Através dela, Dante contemplou o Paraíso.</p><p>Através dessa rosa, o aprendiz de construtor de templos vê claramente.</p><p>Através dessa janela, o aprendiz corta, cinzela e entalha a cruz. Ele abre</p><p>seu caminho, sua senda para a libertação. Por este sinal vencerá, tal qual</p><p>Christian Rosenkreuz.[54] Então ele coloca sua pedra ante a Gnosis e,</p><p>enquanto prossegue no caminho endurístico de autoesvaziamento,</p><p>conduzindo seu velho mundo a um fim, ele evoca, com o fio de suas</p><p>armas, os quatro alimentos santos:</p><p>1. Ignis — o hidrogênio original;</p><p>2. Flamma — o oxigênio da realidade divina;</p><p>3. Materia — a dupla força da realização;</p><p>4. Mater — o carbono modelador original.</p><p>Ele deposita, então, sua pedra no nicho da realização, no salão superior dos</p><p>arquitetos. O que supondes que acontecerá em seguida?</p><p>Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de</p><p>repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde</p><p>estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como que de fogo,</p><p>e pousou uma sobre cada um deles.[55]</p><p>A nova atmosfera, o antigo fogo espiritual, apodera-se do peregrino e</p><p>sobre ele se coloca, agora que, conforme ilustra uma antiga gravura,[56] ele</p><p>transpassa com a cabeça e com o bordão a esfera da ilusão dialética e</p><p>contempla a realidade da rosa estilizada. Já não a vê como símbolo, porém</p><p>como posse interior, uma realidade que se lhe abre. Seu sistema converte-</p><p>se em um campo radioativo da Fraternidade. Ele entra no campo</p><p>eletromagnético original. Mediante a colocação dessa primeira pedra, as</p><p>chamas do fogo espiritual são inflamadas, e o aprendiz de construtor de</p><p>templos torna-se mestre da pedra.</p><p>Possa a rosa da manifestação sétupla de Deus em breve emanar de vós</p><p>como sétuplo fogo flamejante!</p><p>Que possais iniciar vossa construção templária nesse luminoso fogo!</p><p>***</p><p>[46] Cf. Lc 17:21.</p><p>[47] O pleroma, na terminologia gnóstica de Valentino (N.E.).</p><p>[48] Cf. Mt 28:20.</p><p>[49] Cf. Jo 1:26.</p><p>[50] Cf. Ap 21:6.</p><p>[51] Cf. Mt 19:21.</p><p>[52] Cf. Mt 11:28.</p><p>[53] Cf. Mt 7:7.</p><p>[54] Rijckenborgh, J. van. As núpcias alquímicas de Christian Rosenkreuz.</p><p>São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1993. t. 1.</p><p>[55] Cf. At 2:1–3.</p><p>[56] A gravura de Flammarion, de autor anônimo, apareceu pela primeira</p><p>vez no livro de 1888: L’atmosphère: météorologie populaire, de Camille</p><p>Flammarion (N.T.).</p><p>I-12 A inevitabilidade do</p><p>caminho da cruz</p><p>Novamente colocamos perante vossa consciência a imagem da rosa</p><p>estilizada como símbolo do setenário cósmico, do verdadeiro e divino</p><p>planeta terra.</p><p>Com isso não deveis pensar nos sete planetas de nosso sistema solar nem</p><p>nas várias esferas de nosso campo de vida, mas deveis ver apenas uma</p><p>indicação da sagrada terra divina, conforme ela era anteriormente e é até</p><p>este momento. Referimo-nos a um sistema que pode ser mais bem</p><p>definido como um sistema de sete esferas, umas girando dentro das outras,</p><p>e possuindo um centro comum.</p><p>É compreensível que os antigos tenham escolhido uma flor, uma rosa pura,</p><p>um lírio ou um lótus, para dar uma bela imagem dessa eterna e divina</p><p>realidade. Às vezes vemos uma flor ou então uma grinalda de sete flores</p><p>corporificando sempre a mesma ideia: a divina terra sétupla, devindo e</p><p>existindo eternamente da causa primeva do universo.</p><p>Assim como é a verdadeira terra, também deve ser o verdadeiro homem.</p><p>Por isso, a flor sagrada indica tanto o macrocosmo* como o microcosmo.</p><p>Para o microcosmo decaído alçar-se novamente ao estado original, o ser</p><p>humano deve lutar e vivenciar dois processos, trilhar dois caminhos. Um</p><p>caminho de despedida, de aniquilamento, de morte endurística total,</p><p>representado por uma</p><p>haste horizontal, e um caminho de ascensão, de</p><p>renovação, de renascimento, de transfiguração, representado por uma haste</p><p>vertical. Assim, a flor, a rosa, terá de formar uma unidade irrevogável com</p><p>a cruz. O pé da haste vertical da cruz está implantado nas escuras</p><p>profundezas da terra para demonstrar o fato glorioso de que a senda da</p><p>transfiguração realmente pode ser iniciada aqui, nas escuras cavernas da</p><p>dialética.</p><p>A haste horizontal da cruz, o caminho do aniquilamento da natureza, não</p><p>tem ligação direta com o fundamento natural da dialética, uma vez que</p><p>essa despedida é totalmente contrária à natureza, sendo encarada como</p><p>loucura. Entretanto, o que é perfeita loucura, de acordo com os padrões de</p><p>raciocínio natural comum, vem a ser sabedoria divina quando trilhamos o</p><p>caminho da endura.*</p><p>Nossas mãos são, sobretudo, órgãos diretos de ação. Quando o candidato</p><p>aos mistérios de Cristo segue o caminho da endura, sua ação dialética</p><p>natural é progressivamente interrompida, suas mãos são pregadas na cruz.</p><p>Então seus pés já não podem continuar a trilhar os caminhos habituais.</p><p>Eles desejam seguir a nova senda, a senda vertical de ascensão, de</p><p>elevação. Assim, segundo a velha natureza, seus pés são também pregados</p><p>na cruz.</p><p>E no coração da cruz, que o candidato erigiu em si mesmo, uma flor</p><p>desabrochará, a flor maravilhosa, “a joia preciosa no lótus”, isto é, o</p><p>átomo-centelha-do-espírito, um dos menores átomos, inimaginavelmente</p><p>pequeno, tal qual o embrião da planta completa, do inteiro devir, está</p><p>presente inimaginavelmente pequeno em sua semente.</p><p>E o candidato rejubila-se: “Ó joia preciosa no lótus!”, “Ó rosa que floresce</p><p>na cruz!”; Eli, Eli, lamá sabachtháni! (Ó Elohim, como me glorificastes!).</p><p>E, afinal, soa o grito de libertação: Consummatum est (Está consumado).</p><p>[57]</p><p>É necessário que digamos isso tudo uma vez mais para dirigir a atenção,</p><p>mais nitidamente do que nunca, à meta única da Escola Espiritual. Para</p><p>auxiliar vosso poder de imaginação, podemos concordar em que faleis de</p><p>uma rosa, de um lírio ou de um lótus, ou de qualquer flor de que gosteis,</p><p>se vos fixardes neste único propósito: o retorno à terra divina, o Reino</p><p>Imutável, mediante o duplo caminho de demolição e elevação. Nós já</p><p>tentamos explicar que nosso campo de vida dialético não constitui uma</p><p>unidade absoluta, mas apenas uma parte isolada do setenário cósmico.</p><p>Partindo desse campo de isolamento, desse local de quarentena</p><p>macrocósmica, o homem que quer retornar a seu lar original tem de</p><p>palmilhar os dois caminhos indicados pela cruz. Então ele se tornará um</p><p>liberto, um redimido, e, como prova disso, a rosa florescerá.</p><p>Após tudo o que foi tratado e estudado, presumimos ter ficado claro que</p><p>existem dois campos de vida: o campo de vida do aprisionamento e o</p><p>campo de vida original.</p><p>Ambos possuem um campo eletromagnético e uma atmosfera. Sabemos</p><p>que as condições eletromagnéticas e atmosféricas são determinadas pela</p><p>atividade das forças naturais. Estas, por sua vez, são determinadas pelo</p><p>tipo de vida que se expressa no respectivo campo de vida. Todos nós</p><p>experimentamos a atração eletromagnética do campo de isolamento</p><p>dialético em que estamos. Pela ação da força de gravidade desse campo</p><p>somos mantidos prisioneiros aqui.</p><p>A atividade das forças naturais e a ação da gravidade desse campo</p><p>constituem os muros de nossa prisão terrena. Nessa prisão existe uma</p><p>atmosfera que, segundo a natureza, está em perfeito equilíbrio com nosso</p><p>estado de ser. Ao mesmo tempo, isto é uma graça, porque, se a atmosfera</p><p>apropriada para nós desaparecesse, evidenciar-se-ia que nos faltam</p><p>condições orgânicas para adaptar-nos a outro estado atmosférico e,</p><p>portanto, que estaríamos incapacitados de viver nele. Admitindo que</p><p>compreendemos tudo isso, colocamos algumas perguntas importantes:</p><p>Somos, agora, atraídos também pelo outro campo, o campo</p><p>eletromagnético original? Respiramos, talvez, parcialmente nessa</p><p>atmosfera divina que pertence a esse campo? Temos alguma experiência</p><p>da ação da força de gravidade da Gnosis e seu prana original, assim como</p><p>conhecemos, por experiência, a força de ação da gravidade pertencente a</p><p>nosso campo de isolamento, cuja atmosfera inalamos a cada inspiração?</p><p>A resposta resoluta a essas perguntas tem de ser: absolutamente não! De</p><p>modo algum! Isso está totalmente fora de cogitação! Talvez vos sintais</p><p>chocados com essa resposta, mas a Fraternidade deseja confrontar-vos</p><p>enfaticamente com essa resposta para livrar-vos de todas as eventuais</p><p>mistificações.</p><p>Aparentemente essa resposta está em contradição com os fatos, pois</p><p>podereis observar que todos os grandes enviados da Gnosis nos trouxeram</p><p>todas as forças salvadoras do Reino Imutável como remédio universal. E,</p><p>folheando a literatura mundial, podereis citar muitas afirmações contra</p><p>nosso ponto de vista.</p><p>Aconselhamo-vos, contudo, a que vos aprofundeis mais no problema, com</p><p>grande objetividade, e empreendais uma limpeza completa no torvelinho</p><p>de vossas concepções.</p><p>Muitos, um número incontável de pessoas em nosso campo de existência,</p><p>sustentam que pertencem a Cristo, com ele caminham, veem-no e</p><p>possuem-no. Com efeito, falam a seu respeito diariamente, de modo sério,</p><p>mas falham notoriamente ao ter de mostrar-nos a prova mais óbvia e</p><p>direta do fato, isto é, a prova de que lhes “foram abertos os olhos”[58]</p><p>completamente, conforme diz a Sagrada Escritura. Tão logo um homem</p><p>estabeleça contato com o campo eletromagnético e com a atmosfera do</p><p>setenário cósmico, uma mudança de natureza fundamental e estrutural</p><p>ocorrerá imediatamente, e ele tornar-se-á incapaz de manter-se no campo</p><p>de isolamento.</p><p>Se a humanidade como um todo e os alunos no Átrio da Rosa-Cruz</p><p>devessem, em dado momento, ser afetados pela ação da gravidade do</p><p>Reino Imutável, eles não estariam em condição de corresponder a essa</p><p>ação, de reagir a ela, e esse contato seria nada menos que catastrófico.</p><p>Não somos então alvo de um trabalho gnóstico? Sim, sem dúvida alguma,</p><p>porém deveis encarar esse trabalho não como uma atração, mas sim como</p><p>um chamado.</p><p>A Fraternidade Universal, em seu trabalho pela humanidade decaída,</p><p>nunca se aproxima de nós com o potencial eletromagnético do setenário</p><p>cósmico. Em primeiro lugar, porque essa influência seria</p><p>fundamentalmente perigosa para todo o estado de ser dialético. Assim, a</p><p>finalidade não seria atingida, pois as criaturas em questão de modo algum</p><p>teriam a condição orgânica adequada para elevar-se a outro estado de ser.</p><p>Em segundo lugar, uma influência magnética dirigida a alguém</p><p>fundamentalmente incapaz de a ela corresponder será sempre um fator de</p><p>coação, de preponderância e, portanto, provocará uma ação que não está</p><p>em harmonia com o estado interior.</p><p>A Fraternidade nada exige de vós que não possais. Ela não quer exercer</p><p>nenhuma coação sobre vós, forçar-vos, e por isso ela vos “chama”. Ela</p><p>chama-vos para a automaçonaria, e ela deve e pode auxiliar-vos somente à</p><p>medida que iniciardes o autoaniquilamento. Se andardes uma milha com a</p><p>Fraternidade, ela vos dará luz e força para a próxima milha. Lembrai-vos,</p><p>entretanto, de que, pelo bem da própria salvação, ninguém pode dispensar</p><p>a própria ação.</p><p>O trabalho de chamado da Fraternidade Universal relaciona-se com uma</p><p>admirável irradiação em nosso campo de existência. É uma irradiação em</p><p>que, e o repetimos enfaticamente, qualquer elemento magnético e qualquer</p><p>fator coercitivo estão ausentes, embora ela não deixe em paz nenhuma</p><p>entidade com a centelha-do-espírito, pois o átomo-centelha-do-espírito</p><p>tem polaridade com essa irradiação. Portanto, essa ação causa agitação</p><p>contínua, permanente sensação de saber-se chamado, de ser acordado.</p><p>Assim como um aparelho de rádio é sintonizado em determinado</p><p>comprimento de onda e reproduz o que está sendo irradiado, também o</p><p>átomo-centelha-do-espírito, em virtude de sua natureza, está</p><p>continuamente sintonizado com as vibrações cósmicas da Fraternidade e</p><p>as reproduz dentro de seu próprio sistema. Estas vibrações estão presentes</p><p>em toda a natureza de nosso campo de isolamento, falando uma linguagem</p><p>especial a todos</p><p>os que a elas sejam receptíveis. Em todos os tempos,</p><p>irmãos e irmãs são enviados à humanidade com a missão de traduzir essa</p><p>linguagem, de torná-la compreensível e explicar o sentido da luz que</p><p>chama e, ao mesmo tempo, reforçar assim os efeitos desses raios</p><p>cósmicos.</p><p>Desse modo, podeis imaginar que milhões de pessoas neste mundo são</p><p>“chamados”, no amplo sentido da palavra. A maioria dos alunos da Escola</p><p>Espiritual experimenta, conscientemente, esse chamado. Ser chamado,</p><p>saber-se chamado, experimentar esta sensação em cada fibra do próprio</p><p>ser, acarreta, sem dúvida, além de tudo o mais, intensa alegria e grandiosa</p><p>certeza, sobretudo a certeza de possuir um átomo-centelha-do-espírito.</p><p>Entretanto, há ao mesmo tempo grande perigo em tudo isso, o perigo de</p><p>cair em falso misticismo e da enorme ilusão daí resultante.</p><p>Suponhamos saber que fomos chamados. Experimentar o chamado, por</p><p>mais jubilante que ele possa ser, não é, em si, a salvação. Isso indica</p><p>apenas uma condição orgânica típica da personalidade. Possuís o átomo-</p><p>centelha-do-espírito, esse princípio exclusivo de hidrogênio no santuário</p><p>do coração. Portanto, sois obrigados a reagir aos raios cósmicos em</p><p>questão. Inúmeras são as pessoas que, ao longo de muitas encarnações,</p><p>lutam contra isso, negando seu verdadeiro estado e agarrando-se à</p><p>natureza dialética. Não obstante, existem também muitas pessoas que,</p><p>como reação àquilo que as toca, se perdem em falso misticismo. Como se</p><p>explica isso?</p><p>Suponhamos que tenhais experimentado o chamado de Deus e sobre isso</p><p>faleis, canteis, escrevais poemas e deis outras demonstrações do fato.</p><p>Todavia, quanto ao resto, permaneceis exatamente a mesma pessoa que</p><p>sempre fostes. Dizeis continuamente: “O Senhor me chamou”, mas, se</p><p>observarmos bem, continuais firmes no mesmo lugar. Isto é falso</p><p>misticismo!</p><p>Quando um aluno fala verbosamente sobre sua vocação ou tagarela sobre a</p><p>Fraternidade com sereno sorriso, quando ele fala sobre o que sente no</p><p>coração, sobre a compreensão que recebeu, mas, ao mesmo tempo, não</p><p>mostra a menor mudança em sua atitude de vida, isto é falso misticismo!</p><p>Assim como um gato ronronante pode, de repente, estender as garras em</p><p>autodefesa e enterrar maldosamente as unhas na carne da vítima, mais de</p><p>um se levantará, imbuído de falso misticismo, e cheio de desaprovação</p><p>explodirá com indignação e protestará quando lhe for dito que o chamado</p><p>pressupõe trilhar a senda. A Gnosis exige todo o vosso ser, a renúncia a</p><p>vosso apego a esta natureza. Como resposta a seu chamado, ela exige a</p><p>oblação de vosso eu e as provas concretas disso. O falso misticismo</p><p>consiste no grande erro de considerar-se a vocação como a meta final do</p><p>processo, enquanto que a vocação é apenas um começo orgânico, uma</p><p>espécie de predisposição orgânica para os raios cósmicos em questão.</p><p>Quem foi chamado e se recusa a palmilhar o caminho torna-se,</p><p>irrevogavelmente, vítima das incontáveis correntes negativas existentes,</p><p>cuja finalidade é acorrentar a humanidade à roda de maneira permanente.</p><p>Todas as religiões naturais apresentam essa característica e alimentam o</p><p>instinto do eu. Podeis compreender, por isso, as palavras de Jesus, o</p><p>Senhor, quando ele diz: “Muitos são chamados, mas poucos</p><p>escolhidos!”[59]</p><p>Apenas quando alguém que foi chamado trilha a senda de modo</p><p>consequente, com base em seu estado fundamental, e quando o chamado</p><p>luminoso de que falamos se converte em lâmpada para os pés, chega o</p><p>momento do primeiro toque pelo campo eletromagnético do setenário</p><p>cósmico. Somente então se origina uma atração, um ser capturado, um ser</p><p>escolhido, isto é, o irrompimento em novo processo metabólico. Também</p><p>nesse caso não se pode falar em coação, ou ainda em qualquer perigo, ou</p><p>em nascimento prematuro na nova vida, porém se cumpre o que está na</p><p>parábola: “e [o pai], correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou”.[60]</p><p>O filho pródigo voltou ao lar. Para isso ele percorreu os dois caminhos da</p><p>Rosa-Cruz: o caminho da demolição e o da elevação. A joia preciosa no</p><p>lótus irradia, plena de brilho, uma nova manhã. O candidato nasceu na</p><p>nova vida. A essa ressurreição são chamadas todas as entidades com</p><p>centelha-do-espírito.</p><p>Agora, algumas palavras sobre o capítulo 17 do Apocalipse. Aí se fala da</p><p>revolução cósmica, da comoção a ela ligada e da vitória do Cordeiro. No</p><p>versículo 14 está escrito que os participantes da vitória são os fiéis, os</p><p>chamados e os eleitos. Fiéis são os que, embora chamados, ainda não estão</p><p>plenamente conscientes disso e, não obstante, reagem espontaneamente,</p><p>aproximando-se da Escola Espiritual, impelidos por seu ser interno.</p><p>Chamados são os que se tornam conscientes de seu estado de ser e,</p><p>despertando, decidem retornar. Eleitos são os que palmilham o caminho da</p><p>cruz e, como renascidos, despertam na nova manhã.</p><p>Em qualquer dos três degraus que estejais no momento, se vossos motivos</p><p>são puros, se vossa atitude está em harmonia com as exigências e vossa</p><p>reação sintonizada com a grande lei, permanecereis ao lado da liberdade,</p><p>em meio à separação progressiva neste mundo. Essa liberdade, que é mais</p><p>elevada do que toda a razão, é o que rogamos para vós.</p><p>***</p><p>[57] Cf. Mt 27:46 e Jo 19:30.</p><p>[58] Cf. Jo 9:10 e Mt 9:30.</p><p>[59] Cf. Mt 20:16 e Mt 22:14.</p><p>[60] Cf. Lc 15:20.</p><p>I-13 A ascensão para a</p><p>liberdade</p><p>No capítulo precedente, dirigimos a atenção para a natureza do campo de</p><p>radiação da Fraternidade Universal tal como ele se manifesta em nossa</p><p>sombria ordem dialética de espaço e tempo. Vimos que esse campo de</p><p>radiação não está ativo em toda a sua potência eletromagnética, porque</p><p>isso, além de ser inútil e muito perigoso, suscitaria imensas catástrofes.</p><p>Ser atraído por um campo de vida a que não se pode corresponder</p><p>fundamental e estruturalmente, campo em que um microcosmo danificado</p><p>não poderia respirar, significaria o verdadeiro fim de toda a existência. O</p><p>campo de radiação da Fraternidade Universal caracteriza-se, portanto,</p><p>exclusivamente pela faculdade chamativa, assim como nós a</p><p>denominamos. Pretende-se apenas que sua influência seja notada e</p><p>experimentada pelos que são suscetíveis a esse chamado intercósmico.</p><p>Essa ligação elementar constitui a condição para todo o trabalho realizado</p><p>pela Fraternidade Universal, e ela é totalmente garantida pela presença do</p><p>átomo-centelha-do-espírito.</p><p>O átomo-centelha-do-espírito, situado no ápice do santuário do coração,</p><p>está perfeitamente sintonizado, devido a sua natureza e estrutura, com o</p><p>campo de radiação divino, pois seu núcleo atômico contém hidrogênio da</p><p>mesma natureza. Por isso, existe uma união baseada em leis naturais,</p><p>desde o início, entre microcosmo decaído e o Logos. Desse modo, o</p><p>microcosmo decaído permanece um filho de Deus, e a palavra mística,</p><p>afirmando que Deus conhece todos os seus filhos pelo nome, assume</p><p>profundo sentido científico. O vocábulo conhecer deveria ser</p><p>compreendido aqui como influenciar em permanente ligação, portanto,</p><p>reconhecer.</p><p>A entidade portadora do átomo-centelha-do-espírito, de início,</p><p>experimenta essa ligação mediante todas essas experiências dolorosas,</p><p>misteriosas e peculiares neste vale de lágrimas terrestre — experiências de</p><p>natureza corporal, moral, ética e material. Ela é continuamente inquietada</p><p>e não pode encontrar repouso em razão de sua dupla natureza, estando</p><p>permanentemente empenhada na busca, na investigação e na</p><p>experimentação. Este é um estado que pode durar muitas, muitas</p><p>encarnações, e o fato de estarmos perambulando neste campo de vida</p><p>dialético, nesse estado, vem provar que todos nós, visto do aspecto tempo</p><p>e espaço, temos atrás de nós um período de possivelmente milhões de</p><p>anos.</p><p>A dificuldade com que a entidade portadora de átomo-centelha-do-espírito</p><p>tem de defrontar-se durante esse imenso período, é o mistério de sua dupla</p><p>natureza, das complicações daí decorrentes e da confusão que em grau</p><p>desmedido é gerada nela.</p><p>Quando conversamos uns com os outros, trabalhamos juntos, pensamos,</p><p>queremos, sentimos e agimos, executamos todas essas funções por meio</p><p>da consciência-eu comum. Esta consciência-eu, ou consciência dialética,</p><p>não tem nenhuma relação com o átomo-centelha-do-espírito. No entanto,</p><p>não deveis encarar desdenhosamente essa consciência-eu, em</p><p>autoacusação, auto-humilhação, pois ainda precisais desse eu terreno. Ela</p><p>é um foco de vida extremamente necessário à existência de vosso atual</p><p>microcosmo. Se fôsseis capazes de acabar com a consciência-eu neste</p><p>momento, a nova natureza em vós ainda não estaria em condição de</p><p>assumir a direção de vossa existência microcósmica!</p><p>A consciência dialética possui também um foco atômico localizado no</p><p>santuário da cabeça. Assim como o fogo luciferino era originalmente a</p><p>projeção do fogo de Cristo no campo criador da substância primordial, o</p><p>átomo em questão, no santuário da cabeça, era também originalmente um</p><p>átomo refletor do átomo-centelha-do-espírito no coração. O átomo na</p><p>cabeça abrasava-se na luz do átomo no coração. Já transcorreram éons,</p><p>todavia, desde que o átomo luciferino no santuário da cabeça interrompeu</p><p>a obediência ao átomo de Cristo (átomo-centelha-do-espírito), assumindo</p><p>a direção de todo o sistema, desorganizando-o estruturalmente em todo o</p><p>sentido e submetendo-se à cultura durante milhares de anos a fio. O</p><p>quadro de nossa realidade talvez apareça agora claramente ante os olhos e</p><p>compreendereis também por que a transfiguração é necessária.</p><p>Em virtude de sua natureza, o átomo de Cristo exerce influência</p><p>inquietante sobre a consciência-eu e a despoja de sua segurança; o átomo</p><p>luciferino perdeu, porém, a faculdade de refletir a luz espiritual —</p><p>mediante a qual a alma, o eu, foi capaz de viver das obras de Deus, porque</p><p>o sistema foi corrompido irremediavelmente, tanto segundo a alma como</p><p>segundo sua estrutura. É necessária, portanto, uma nova alma, um novo</p><p>princípio luciferino, um novo fator refletor, e somente quando este for</p><p>obtido, todo o microcosmo poderá ser transfigurado conforme seu ser</p><p>original.</p><p>Compreendereis que isso é um processo. Esse renascimento, esse evento</p><p>tremendamente radical, não pode realizar-se em duas semanas. Entretanto,</p><p>o que importa é que o processo seja iniciado, que um início seja dado ao</p><p>caminho de santificação, isto é, de cura, de restabelecimento, de tornar-se</p><p>são, de nova gênese primordial em sentido divino. A Escola não cessa de</p><p>explicar, de esclarecer o como e o porquê desse poderoso processo, de</p><p>provar sua necessidade, de colocar todos os fatores à luz justa, de apontar</p><p>as causas de vossa inquietação.</p><p>Por que vindes a esta Escola? Por que assistis a nossos serviços</p><p>templários? Por que, como alunos, aceitais os sacrifícios exigidos por um</p><p>trabalho como o nosso? Porque possuís o átomo-centelha-do-espírito!</p><p>Vossa inquietação de séculos, vossa longa busca sem fim vos trouxe aqui;</p><p>o átomo de Cristo em vós agora radia numa personalidade incapaz de</p><p>reagir ao chamado em sentido libertador, e esse fogo persegue-vos.</p><p>Vindo em vossa direção da outra margem do Jordão, isto é, da corrente de</p><p>vossa pequena circulação sanguínea, vedes as radiações do átomo de</p><p>Cristo. Falareis agora como João o fez: “Depois de mim vem aquele que é</p><p>mais poderoso do que eu, de quem não sou digno de, abaixando-me,</p><p>desatar as correias das sandálias”?[61] Vós agora também vos extinguireis</p><p>na endura, como João, de modo a permitir que o poder luminoso</p><p>renovador de vida, emanante do átomo de Cristo, realize sua</p><p>transformação em vosso sistema decaído, em vosso pequeno mundo de</p><p>trevas? Permitireis que, mediante o processo[62] que descrevemos, a</p><p>imagem do homem imortal possa ser formada, para um dia, segundo a via-</p><p>crúcis do átomo de Cristo, ele poder ressurgir imortalmente em vosso ser?</p><p>Compreendeis agora que o batismo de Jesus no Jordão também é um</p><p>acontecimento que deverá ocorrer, corporalmente, em vós mesmos?</p><p>O inquieto homem-eu, o eterno buscador da luz na escuridão, clama de tal</p><p>maneira que sua voz ecoa pela terra qual grito de dor: “Preparai o caminho</p><p>do Senhor, endireitai as suas veredas!”[63] Ele busca a retidão e, qual João</p><p>em sua veste de penitência, permanece no deserto deste mundo.</p><p>Pode ser que vós ainda sejais uma vítima da ilusão fundamental de que,</p><p>como ser natural, sois capazes de participar da justiça divina, da realidade</p><p>divina; mas também pode ser, e isto é o que se espera de alunos da Rosa-</p><p>Cruz, que digais, como o fez o profeta em seu manto de pelos de camelo:</p><p>“Não eu, mas o Outro!”. Conheceis esse Outro, pois ele vos inquieta dia e</p><p>noite, ano após ano, vida após vida. Fostes chamados pelo átomo de Cristo</p><p>em vós. E agora, em vossa crise de vida, vedes o outro vindo a vosso</p><p>encontro. As radiações do átomo de Cristo em vosso coração ardem no</p><p>sangue por meio do timo. O sangue é impelido para cima, através de vosso</p><p>Jordão da vida, enche o santuário da cabeça e espalha-se por todo o ser.</p><p>Deveis observar agora, porém, se vossas reações são idênticas às que</p><p>tivestes em todos os casos precedentes ou se estais reagindo, pela primeira</p><p>vez, de maneira absolutamente nova.</p><p>Vossa velha reação é aquela em que percebeis e experimentais o fogo</p><p>sanguíneo da inquietação e da aflição, em que o recebeis e assimilais com</p><p>o máximo de vossa habilidade, e, quanto ao mais, permaneceis os mesmos.</p><p>Podeis adestrar-vos muito bem nessa prática. Em consequência, podeis ser</p><p>considerados corajosos e respeitáveis, mas vossa natureza permanece a</p><p>mesma de antigamente. De lábios cerrados suportais tudo, ou vos enganais</p><p>e aos outros com um sorriso bem estudado, dizendo, de acordo com a</p><p>psicologia barata e satânica de nossos dias: “Oh! Tudo está bem!” De</p><p>modo algum, porém, está bem, e isso é extremamente dramático.</p><p>Vossa reação somente é nova e boa quando já não rejeitais a outra força</p><p>sanguínea que flui através de vosso Jordão da vida nem a pondes de lado à</p><p>moda antiga, mas a aceitais com os mais profundos princípios de vossa</p><p>consciência-eu, em perfeita prontidão, em paz absoluta e alegria interior.</p><p>O mensageiro do átomo de Cristo, que se aproxima no sangue, é então</p><p>batizado pelo vosso eu mais intrínseco, o qual é definitivamente ligado ao</p><p>átomo de Cristo. Esse é o grande milagre do batismo no Jordão, no início</p><p>do Evangelho. É a fase final do primeiro processo de santificação, o</p><p>primeiro reflexo voluntário do átomo de Cristo no átomo luciferino da</p><p>cabeça. É o momento em que Lúcifer se precipita de sua fortaleza celeste.</p><p>A nova estrela da manhã ainda não surgiu, mas sua luz brilhante já se</p><p>anuncia. A endura principiou!</p><p>A Escola Espiritual aspira a fazer deste começo uma realidade em vós.</p><p>Quando esse começo glorioso do processo de santificação se manifesta, o</p><p>aluno em questão torna-se um homem predisposto à liberdade, um eleito.</p><p>Ao falar nos capítulos precedentes a respeito dessas coisas, dirigimos a</p><p>atenção para o Apocalipse, capítulo 17, onde é indicado o começo da</p><p>vitória do Cordeiro em três fases. “O fiel, o chamado e o eleito tomam</p><p>parte nessa vitória”, diz o Apocalipse, isto é, três grupos de entidades</p><p>portadoras de átomo-centelha-do-espírito podem ser conduzidos à</p><p>liberdade em uma revolução cósmica. A fim de compreender isso, deveis</p><p>comparar essa afirmativa com a essência do Evangelho.</p><p>No começo do primeiro processo evangélico de santificação nasce João.</p><p>Logo após, ele torna-se profeta e, finalmente, torna-se batista. Então ele</p><p>desaparece, e Jesus surge.</p><p>O Apocalipse denomina a primeira fase a de “fiel”, a segunda a de</p><p>“chamado”, e a terceira a de “eleito”.</p><p>Quando, movidos por verdadeira necessidade interior, aproximai-vos da</p><p>Escola Espirital com a absoluta convicção de que deveis abandonar esta</p><p>natureza a fim de, como microcosmo, penetrar a outra natureza, quando</p><p>possuís essa convicção com base no inextinguível fogo da experiência,</p><p>estais na primeira fase. Então, nascestes como João. O Evangelho escreveu</p><p>suas primeiras letras em vós. O átomo luciferino do ser-eu dará suas</p><p>primeiras provas endurísticas. É lógico que o microcosmo receba, desse</p><p>momento em diante, um lugar inteiramente diferente dentro do campo de</p><p>força da Fraternidade Universal. Ele participa da bênção de fé, do</p><p>antegozo da liberdade. Isso é o nascimento!</p><p>Nessa base, o candidato pode adentrar a</p><p>segunda fase, a da profecia. Ele</p><p>demonstra com sua vida: “É necessário que ele cresça e eu diminua”.[64]</p><p>Ele já não é o humanista que repete essas palavras enquanto está voltado</p><p>para um reino terrestre, porém exclama: “Endireitai […] uma vereda para</p><p>nosso Deus”.[65] Ele é o que clama no deserto. Ele foi chamado e faz com</p><p>que seu ser-eu, seu fogo luciferino, que ele sabe ser indigno, submeta-se</p><p>cada vez mais ao átomo de Cristo. Assim, o antegozo da liberdade</p><p>converte-se em certeza. Esse homem torna-se inabalável. Ele diz: “não</p><p>julgo que o haja alcançado; mas […] prossigo para o alvo”.[66]</p><p>E no dia seguinte João vê Jesus vindo do outro lado do Jordão. O candidato</p><p>torna-se o Batista, o definitivamente ligado. Ele tornou-se o Batista no</p><p>templo de seu mais profundo ser e pode falar como Simeão: “Agora,</p><p>Senhor, despedes em paz o teu servo, […] pois já os meus olhos viram a</p><p>tua salvação”.[67]</p><p>Do mesmo modo como em nossos templos galgamos o lugar de serviço</p><p>mediante três degraus e a ele estamos ligados já no primeiro degrau, assim</p><p>também a ascensão evangélica para a liberdade se caracteriza por três</p><p>fases. O nascimento de João já efetua a ligação com a liberdade. A fim de</p><p>liberar essa fé salvadora no coração, não se faz mister esforço sobre-</p><p>humano, porquanto ali está “a joia preciosa no lótus”, o átomo de Cristo.</p><p>Esse átomo, situado no ápice do santuário do coração, devido a sua</p><p>natureza e estrutura, está em perfeita sintonia com o campo de radiação</p><p>divino. A joia é iluminada pela Gnosis dia e noite, e nós temos apenas de</p><p>caminhar nessa luz.</p><p>Não faz sentido e constitui prova de tensão nervosa ou de íntima má</p><p>vontade, quando, ainda no início do caminho, insistimos em falar sobre o</p><p>fim, ainda inteiramente oculto a nós por um nevoeiro. Procurai alcançar a</p><p>glória e a luz do início atingível! Chegará então o dia em que todo o vosso</p><p>microcosmo caminhará na luz, tal qual a joia preciosa no lótus está na luz.</p><p>Interrompei as contínuas tagarelices e as ponderações teóricas e, como</p><p>verdadeiro maçom, tomai vossas ferramentas e assentai a primeira pedra!</p><p>***</p><p>[61] Cf. Mc 1:7.</p><p>[62] Ver cap I-3 e cap. I-4.</p><p>[63] Cf. Mt 3:3.</p><p>[64] Cf. Jo 3:30.</p><p>[65] Cf. Is 40:3.</p><p>[66] Cf. Fp 3:13.</p><p>[67] Cf. Lc 2:29–30.</p><p>I-14 O evangelho vivo da</p><p>liberdade</p><p>Como já observamos, existem milhões de entidades portadoras do átomo-</p><p>centelha-do-espírito. Uma linha de separação corre por entre essas fileiras</p><p>de seres tocados pela luz cósmica. Abaixo dessa linha de separação estão</p><p>os incontáveis grupos de buscadores que — embora possuam um átomo-</p><p>centelha-do-espírito e, por isso, não encontrem tranquilidade interior —</p><p>ainda se apegam inteiramente aos valores dialéticos devido à ignorância, à</p><p>falta de suficiente entendimento, ao desencaminhamento intencional e a</p><p>sua própria orientação para coisas terrenas.</p><p>Acima da linha de separação estão as entidades portadoras do átomo-</p><p>centelha-do-espírito que, por necessidade anímica, compreensão e decisão</p><p>própria, reagem à luz chamadora da Fraternidade Universal. Essas</p><p>entidades portadoras do átomo-centelha-do-espírito que estão acima da</p><p>linha de separação podem ser divididas em três grupos, em três estados de</p><p>ser. A Sagrada Escritura os designa como: os fiéis, os chamados e os</p><p>eleitos, ou diferencia seus estados da seguinte forma:</p><p>1. O nascimento de João: a primeira ligação com a luz libertadora, o</p><p>antegozo da liberdade;</p><p>2. A fase profética de João: a entrada a serviço da liberdade;</p><p>3. A fase batista de João: a unidade elementar com a liberdade.</p><p>Quem sabe liberar no coração a fé salvadora nos mistérios universais</p><p>galga dessa maneira o primeiro degrau da libertação em Cristo e, com</p><p>isso, junta-se aos que se encontram acima da linha de separação. Essa fé</p><p>libertadora nada tem a ver com submissão à autoridade intelectual, ser</p><p>arrastado por emoções místicas ou com o instinto de autoconservação do</p><p>eu. Não, este primeiro estágio elementar de libertação se evidenciará</p><p>microcósmica, anatômica e corporalmente. Por isso, afirma-se que a</p><p>verdade, a realidade, nos libertará.</p><p>Podemos sugerir a nós mesmos muitas coisas, podemos também iludir</p><p>outros por muito tempo, mas somente fatos serão úteis para o aluno e lhe</p><p>proporcionarão certeza interior. Trata-se aqui de um novo estado</p><p>anatômico, que inicialmente se demonstra nos santuários do coração e da</p><p>cabeça e, transportado pelo sangue, difunde-se por todo o estado de ser.</p><p>Pela vibração mais elevada do átomo de Cristo, uma nova força sanguínea</p><p>é liberada mediante o timo — um novo hormônio!</p><p>Esta nova força sanguínea corre primeiro através do Jordão, ou pequena</p><p>circulação sanguínea, alcança o santuário da cabeça e seus centros. Ela</p><p>transforma o novo estado de certeza de fé em realidade quando o átomo</p><p>luciferino, ou refletor, no santuário da cabeça, começa a demonstrar</p><p>alguma capacidade ou inclinação à projeção. Isto é, quando começa a</p><p>reagir positivamente aos impulsos do átomo de Cristo. Se esta capacidade</p><p>está presente, no mesmo momento, Jesus é batizado no Jordão. Ou seja, a</p><p>nova força sanguínea, o novo hormônio do átomo de Cristo, pode fazer</p><p>valer sua influência em todo o sistema controlado pelo eu dialético. Jesus</p><p>inicia então sua peregrinação no pequeno mundo do aluno.</p><p>Esses processos tornam-se possíveis quando o eu dialético recua</p><p>psicológica e fisicamente diante do eu de Cristo: o aluno submerge em</p><p>Jesus, o Senhor. João é preso e decapitado. O tríplice processo de</p><p>libertação apoia-se sobre essa base corpórea. Quem sobe ao primeiro</p><p>degrau deste caminho fornecerá provas disso com sua inteira atitude de</p><p>vida e com todas as suas ações, sem forçar nada e de maneira</p><p>completamente natural.</p><p>Todo esse caminho nos é descrito exatamente no Evangelho. A despeito de</p><p>todas as mutilações a que lamentavelmente foi submetida a Sagrada</p><p>Escritura, a verdade ainda se irradia através de todos os véus</p><p>deliberadamente tecidos. Apenas podeis ler essa verdade, contudo, quando</p><p>o Evangelho for escrito em vosso coração. Daí em diante, não</p><p>desperdiçareis nenhuma palavra com fanfarronices místicas e ocultistas,</p><p>as quais olhareis, no máximo, apenas com um sorriso, pois quem pode ler</p><p>a verdade da única maneira possível é vosso companheiro nos mistérios</p><p>cristãos. Vossa atitude de vida e a de vosso companheiro estão, assim,</p><p>dirigidas para as mesmas coisas, e qualquer mal-entendido é impossível</p><p>— há, então, unidade, liberdade e amor. Quem é diferente e age</p><p>diferentemente, quer em sentido intelectual, quer místico, dá testemunho,</p><p>mediante tal comportamento, de que não conseguiu ainda encontrar Jesus,</p><p>o Senhor, em seu Jordão da vida. Esse encontro não pode ser forçado.</p><p>Sede, portanto, silenciosos, não desperdiceis palavras, irradiai amor e</p><p>“sede prudentes como as serpentes”![68] A grande Fraternidade dos</p><p>homens não precisa ser fundada, pois ela já existe em todos os que se</p><p>encontram acima da linha de separação. Estareis claramente cônscios</p><p>disso tão logo o Evangelho seja escrito em vosso próprio coração.</p><p>Quando um aluno se aproxima da Escola Espiritual por verdadeira</p><p>necessidade interior — com convicção absoluta de que precisa abandonar</p><p>esta natureza a fim de, como microcosmo, ingressar na outra natureza e</p><p>chega a essa compreensão baseado no inextinguível fogo da experiência,</p><p>como buscador e escravo abaixo da linha de separação — ele nasce como</p><p>João. Esta é a primeira página do Evangelho. Após algum tempo o átomo</p><p>de Cristo, mediante o timo, começa a produzir nova força sanguínea.</p><p>Jesus, o Senhor, o Salvador, nasceu. Esta é a segunda página do</p><p>Evangelho.</p><p>João cresce, e Jesus cresce. A ideia vivente do caminho endurístico</p><p>amadurece em João, e ele dá prova disso. O espelho sujo, embaciado, do</p><p>átomo refletor no santuário da cabeça se torna cada vez mais límpido, sua</p><p>superfície é limpa, e Jesus, recém-nascido, cresce em força e graça. Esta é</p><p>a terceira página do Evangelho.</p><p>E — como poderia ser diferente? — no momento exato João vê Jesus</p><p>atravessando o Jordão. A nova força sanguínea pode fazer-se valer no</p><p>santuário da cabeça em sentido libertador. João batiza Jesus e afasta-se. O</p><p>eu</p><p>da natureza entrega-se prisioneiro ao ser da natureza de Cristo. A quarta</p><p>página do Evangelho é escrita no sangue.</p><p>João foi aprisionado, mas não se deixa comover por misticismo nem faz</p><p>especulações intelectuais. Ele é o observador objetivo que se liberta de</p><p>toda a ficção. Por isso, quando a nova força sanguínea brame em todas as</p><p>fibras de seu ser, e Jesus já iniciou sua peregrinação e chamou seus</p><p>discípulos, João envia um mensageiro a Jesus com a importante pergunta:</p><p>“És tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?”[69]</p><p>Percebeis que, ao colocar-se esse problema no próprio ser, um controle</p><p>contínuo é exercido sobre uma presunção eventual, sobre a garra da esfera</p><p>refletora? Assim, o aluno lê a quinta página do Evangelho em seu próprio</p><p>sistema.</p><p>Jesus começa a chamar seus doze discípulos e a dar-lhes os primeiros</p><p>ensinamentos. Quem são esses doze discípulos? São os doze pares de</p><p>nervos cranianos que se ramificam, qual ramos de árvore, do santuário da</p><p>cabeça, controlam e governam todo o sistema. Quando existir um novo</p><p>estado de consciência, esta nova consciência, a nova alma, terá também de</p><p>conhecer, guiar e impelir todo o ser. Os doze pares de nervos cranianos</p><p>devem, por isso, ser submetidos inteiramente ao controle da nova força</p><p>sanguínea. Eles devem estar totalmente sintonizados com ela a fim de</p><p>tornarem-se verdadeiros servidores, discípulos do Senhor.</p><p>Assim, as páginas do livro sagrado da vida são viradas após o rompimento</p><p>dos selos. Todas essas páginas testemunham do caminho da cruz, do</p><p>declínio do velho ser-eu em Jesus, o Senhor, e todo esse processo é</p><p>registrado nas tábuas do coração. Vemos, claramente, que essa via-crúcis</p><p>evangélica não é nenhum sofrimento intenso nem drama horripilante com</p><p>esgotamento físico e faces emaciadas e carregadas de dor, mas um</p><p>caminho de alegria, uma mensagem jubilosa que grava indelevelmente sua</p><p>linguagem sagrada no ser do aluno. É um caminho que conduz à</p><p>ressurreição.</p><p>Enquanto a tenda terrestre é destruída processualmente, uma nova casa de</p><p>Deus nos céus, não feita por mãos, cresce, a saber, a imagem do homem</p><p>imortal. Quando essa imagem foi concebida, nasceu, cresceu e se tornou</p><p>adulta, é dito aos candidatos: “[…] convém-vos que eu vá […] eu vos hei</p><p>de enviar […] o Consolador, o Espírito Santo. Ele testificará de mim”.[70]</p><p>E Jesus afasta-se; a nova força harmoniosa suspende seu trabalho após</p><p>haver completado sua tarefa. Então é escrita a última e mais formidável</p><p>página do Santo Evangelho, como com toques de trombetas e com</p><p>violência de tempestade, pois o imortal, o imperecível, o recém-nascido</p><p>penetra o ser preparado por Jesus e preenche toda a casa. O fogo de</p><p>Pentecostes irrompeu. O verdadeiro Círculo Apostólico formou-se.</p><p>E vede, o Apocalipse, o Livro das Revelações, é agora desvendado. O</p><p>Círculo Apostólico vai por todo o mundo com suas boas-novas e escreve</p><p>suas cartas às sete comunidades de possuidores de átomo-centelha-do-</p><p>espírito, explicando o processo, chamando, auxiliando e salvando. Assim,</p><p>afinal, é formada uma multidão incontável, vestida de túnicas brancas,</p><p>puras, adquiridas do sangue da terra. A áurea linguagem do Evangelho,</p><p>insculpida nos corações, termina com um pedido em favor dos que</p><p>pertencem à grande Fraternidade dos homens, mas que ainda não</p><p>chegaram: “A graça do Senhor Jesus seja com todos!”[71]</p><p>Isso significa, irmãos e irmãs, que estais no início da revelação cristã de</p><p>salvação:</p><p>Possa a força sanguínea do átomo de Cristo em vós em breve libertar-vos!</p><p>Possa o Evangelho ser escrito em vosso coração, do princípio ao fim, até a</p><p>última letra!</p><p>Essa é a bênção apostólica do Círculo Apostólico, os habitantes do</p><p>Terceiro Templo. Essa bênção difere de todas as outras por sua força. Ela</p><p>não é apenas um desejo devoto, pois esse pedido conseguirá comover até</p><p>um coração quase empedernido e insensível, desde que nele ainda exista</p><p>uma centelhazinha de vida. Quem é despertado por esse grito do coração</p><p>das últimas palavras do Evangelho tem de começar já com as primeiras</p><p>palavras, pois somente a verdade, a realidade, poderá libertá-lo. Talvez</p><p>saibais agora o que vem a ser a leitura e o estudo do Evangelho, e</p><p>compreendereis, então, o que significa a pregação do Evangelho.</p><p>Talvez possais agora irromper numa decisão verdadeira, a de deixar para</p><p>trás, definitivamente, todo o dano que o misticismo natural e o ocultismo</p><p>vos causaram. Isso permanece na cabeça e no coração qual imenso lastro.</p><p>Deveis purificar vosso templo de tudo isso. Eis uma página do Evangelho</p><p>que não deveis esquecer. Lembrai-vos de que o caminho que conduz à</p><p>libertação é o caminho da automaçonaria!</p><p>Segundo a natureza, talvez suponhais que, eventualmente, sereis objeto de</p><p>um esforço especial e pessoal de hierofantes e, em dado momento,</p><p>amplamente providos de mestres e adeptos. Contudo, isso está totalmente</p><p>fora de cogitação!</p><p>Existe uma radiação de Cristo fundamental, universal e cósmica. Ontem e</p><p>hoje, bilhões de anos atrás e agora, essa radiação era e é exatamente a</p><p>mesma. Ela não muda. Essa graça universal é e permanece eternamente</p><p>imutável em si mesma. Ela é a mesma radiação que desassossega as</p><p>entidades portadoras do átomo-centelha-do-espírito situadas abaixo da</p><p>linha de separação, pondo-as em desespero no mundo, e conduz o aluno-</p><p>candidato ao reino imperecível. É a mesma força que faz o buscador</p><p>pecador cair em seu descaminho e leva o Círculo Apostólico a pretensos</p><p>milagres.</p><p>Nessa radiação universal, o inteiro trabalho deve e pode ser realizado. Ao</p><p>que pede mais, exige mais e apaixonadamente anseia por salvação, a ele</p><p>são ditas as palavras: “A minha graça te basta!”[72]</p><p>Deveis acima de tudo relembrar essa página do Evangelho, porque, se</p><p>esquecerdes essa lei primordial de libertação, vosso destino será igual ao</p><p>de incontáveis indivíduos que não a conheceram ou já a esqueceram.</p><p>Então a esfera refletora virá a vosso encontro. Hordas de mestres e adeptos</p><p>chegarão, e todos terão aquilo que desejam. E, então, também é escrita em</p><p>vosso coração uma linguagem, mas esta é a linguagem do sofrimento. É a</p><p>grande farsa, a horrível paródia do Evangelho da liberdade. Uma via</p><p>dolorosa tal qual é apresentada pela hierarquia terrena será vossa</p><p>revelação de salvação. Todos podem candidatar-se a essa hierarquia com</p><p>suas múltiplas subdivisões, libertar-se da roda às expensas de outrem e</p><p>subir às mais excelsas regiões da esfera refletora, o núcleo do campo de</p><p>Lúcifer. É um estado de ser que tem de ser continuamente defendido. Para</p><p>alçar-se a esse devakan* tem-se de trilhar caminhos que coincidam</p><p>perfeitamente com o caminho do imenso sofrimento da cultura e da</p><p>divisão de personalidade.</p><p>No passado, existiram muitos que compreenderam e ensinaram que esse</p><p>devakan é, de fato, o ápice da ilusão, e que o candidato, por fim, terá</p><p>também de renunciar, voluntariamente, a esse assim denominado céu</p><p>eterno. A Escola Espiritual mostra, entretanto, um caminho sem par, um</p><p>caminho prático, um caminho de alegria e felicidade, o caminho universal.</p><p>É o caminho em que, por meio da automaçonaria, por meio do</p><p>autoaniquilamento, chegaremos a alçar-nos diretamente ao campo de</p><p>radiação universal supracósmico.</p><p>Contentai-vos com essa graça inabalável! Segui o caminho dos mistérios</p><p>universais de Cristo e proclamai estas alegres novas, escrevendo o</p><p>Evangelho libertador em vosso coração!</p><p>***</p><p>[68] Cf. Mt 10:16.</p><p>[69] Cf. Mt 11:3.</p><p>[70] Cf. Jo 16:7,26; Jo 15:26.</p><p>[71] Cf. Ap 22:21.</p><p>[72] Cf. 2 Co 12:9.</p><p>I-15 O conhecimento da</p><p>natureza da morte</p><p>Deveis estar lembrados de que já falamos a respeito da origem dos sólidos,</p><p>líquidos e gases da esfera química do mundo material, e explicamos que</p><p>todos eles provieram de éteres existentes em determinados estados na</p><p>esfera refletora.</p><p>Esses estados etéricos fundamentais são determinados pelo campo</p><p>magnético de nossa ordem natural, ao passo que a natureza deste campo</p><p>magnético é, por sua vez, o resultado das forças naturais de um dos</p><p>estratos terrestres, as quais reagem exatamente ao caráter e ao</p><p>comportamento do homem. Tem-se de ver claramente que o próprio</p><p>homem criou</p><p>este campo de vida desolado e ele próprio conserva as</p><p>paredes de sua prisão, pois fora da esfera material e de sua esfera</p><p>refletora, as condições etéricas são totalmente outras, visto que os éteres</p><p>intercósmicos se originaram direta e harmoniosamente da substância-raiz</p><p>primordial.</p><p>Todavia, é sempre bom levar em conta a possibilidade de que muitos</p><p>alunos ainda não possuem essa clara compreensão. É bem possível que</p><p>verifiqueis os fenômenos dialéticos e concordeis com o que a Escola</p><p>Espiritual diz sobre eles, ainda que vos falte a compreensão de suas</p><p>causas. A falta desse conhecimento é um perigo, um fator funesto e</p><p>retardante em vosso desenvolvimento como alunos. Se deveras existisse a</p><p>compreensão das causas concernentes à existência deste nosso campo</p><p>dialético, muitos na Escola Espiritual reagiriam com espontaneidade e de</p><p>modo totalmente diverso.</p><p>Os alunos no Átrio ainda reagem demasiado no plano horizontal. Esse fato</p><p>sempre indica ausência de compreensão clara. Nessas reações se luta,</p><p>apesar de toda a luta significar desperdício de energia, e é-se inativo</p><p>quando as ações são absolutamente necessárias. Assim, muitas pessoas</p><p>preenchem seus dias com futilidades e estão febrilmente ocupadas com o</p><p>supérfluo, não obstante possuírem disposição para trilhar a senda, como</p><p>consequência do sofrimento, das provações da dialética e da nostalgia do</p><p>lar despertada pelo átomo-centelha-do-espírito.</p><p>Nesse estado, portanto, há apenas uma saída: conhecer primeiro as causas</p><p>do estado de queda da humanidade.</p><p>Estamos convictos de que muitos pensam conhecer uma coisa ou outra</p><p>acerca da queda. Podeis, talvez, citar pilhas de livros ou dispensá-los, visto</p><p>que os bem exercitados ventrículos de vosso hemisfério cerebral direito</p><p>estão repletos de conhecimento. Em primeiro lugar, vêm a Bíblia e os</p><p>representantes de outras tradições sagradas. Ouvimos novamente de Adão</p><p>e Eva, do Paraíso e da serpente; de “no suor do rosto comerás o teu</p><p>pão”[73] e de “em meio de dores darás à luz filhos”;[74] da torre de Babel e</p><p>da confusão de línguas; do dilúvio e da embriaguez de Noé. A seguir vêm</p><p>os intermináveis comentários ocultistas e místicos: “Assim está escrito”, e</p><p>“esta é a interpretação”. “Naquele tempo começou e assim prossegue.</p><p>Estamos agora metidos nesta confusão e somos mesmo tal como somos.”</p><p>Dói-nos o pescoço de tanto olharmos para trás, para o passado primordial.</p><p>Temos opiniões diferentes, pois o campo da história superficial está cheio</p><p>de especulações, e também o está o campo da memória da natureza, pois</p><p>não há duas pessoas que, sendo capazes de ler nessa memória, nela leiam a</p><p>mesma coisa. Em consequência de mal-entendidos, novos livros são</p><p>escritos, e seguimos novas autoridades, até que estas, escarnecidas e</p><p>rejeitadas, sejam por fim substituídas por outras.</p><p>Admitamos ter estudado toda a literatura mundial sobre as causas da</p><p>queda e que, a esse respeito, reuníssemos formidável cabedal de</p><p>conhecimento imediato. Seríamos então conhecedores? Seríamos então</p><p>unânimes nesse conhecimento?</p><p>Certamente que não! O autor deste livro pode falar por experiência própria</p><p>a esse respeito. Desde o instante em que uma criança aprende a ler, até</p><p>determinado momento psicológico, devoramos bibliotecas inteiras, para</p><p>desespero de todos os educadores. Reagimos a uma imensurável fome</p><p>intelectual, mas nos afogamos na fadiga inútil de milhares de línguas.</p><p>Quantos soçobraram nessa tempestade, nesse impulso intelectual tão</p><p>imenso?</p><p>Somente os que mergulham nessa violenta tempestade e dão ouvidos a</p><p>esse impulso porque desejam ser “pescadores de homens” são salvos desse</p><p>mar acadêmico pela rede da Fraternidade Universal e atirados na terra da</p><p>realidade concreta, isto é, da realidade do “agora” e do “aqui”.</p><p>Vós podeis, sim, tendes de determinar as causas de nossa queda com base</p><p>na realidade do agora e do aqui. Não tendes de procurar essas causas em</p><p>ancestrais desconhecidos, deveis encontrá-las em vós próprios!</p><p>Muitos se debatem, cheios de mortal agonia, no mar acadêmico[75] de seu</p><p>impulso buscador intelectual e místico. Nesse mar, a Fraternidade lança</p><p>sua rede, rede não tecida com palavras, mas que consiste em um método</p><p>para o autoconhecimento fundamental. Quem realmente se conhece a si</p><p>mesmo possui uma compreensão clara. Consequentemente, abre todo o seu</p><p>sistema às forças auxiliadoras, as quais transfiguram o sistema. Nesse</p><p>processo de salvação, vós mesmos vos tornais um dos cordéis da rede de</p><p>pescar e, junto com outros náufragos, pescadores de homens. Por isso,</p><p>encimando a entrada dos antigos templos de mistérios, estavam as</p><p>palavras: “Homem, conhece-te a ti mesmo!” Quem se conhecia a si</p><p>mesmo podia adentrar o portal do templo, irromper no santuário e</p><p>santificar-se, isto é, tornar-se são.</p><p>Quem está em perigo de afogar-se no mar acadêmico, nele caiu por causa</p><p>do imenso impulso do átomo-centelha-do-espírito e dos milhares de</p><p>problemas da existência. Todos eles estão ocupados em pescar nesse mar a</p><p>Pedra Filosofal. Jesus, o Senhor, diz-lhes: “Vinde após mim, e eu vos farei</p><p>pescadores de homens!”[76] Seguir a Cristo significa, principalmente,</p><p>compreender, de modo claro, que o próprio homem criou seu desolado</p><p>campo de existência e conserva as paredes de sua prisão. Quem sobe a esse</p><p>primeiro degrau vê diante de si, sem dúvida, o segundo.</p><p>Nosso microcosmo é comparável a uma pilha atômica que é alimentada</p><p>por:</p><p>1. éter refletor — em parte na forma de hidrogênio;</p><p>2. éter luminoso — em parte na forma de oxigênio;</p><p>3. éter de vida — em parte na forma de nitrogênio;</p><p>4. éter químico — em parte na forma de carbono.</p><p>Esses são os quatro alimentos da pilha atômica humana. Por que</p><p>recebemos esses alimentos? Por que, em consequência disso, ocorre</p><p>combustão na pilha? Para que os processos de vida sejam possíveis.</p><p>Processos de vida são processos de produção. Os quatro éteres, nas</p><p>condições em que os recebemos para serem utilizados em nosso sistema,</p><p>são a origem das diversas substâncias e forças produzidas em nossa pilha</p><p>de vida.</p><p>Tomemos, como exemplo, o processo respiratório. A substância que</p><p>inalamos é totalmente diversa daquela que exalamos. Entre outras coisas,</p><p>exalamos gás carbônico, que é um óxido de carbono, um produto de</p><p>combustão, uma transformação do éter químico.</p><p>É possível que conheçais várias propriedades do gás carbônico. A</p><p>atmosfera o contém, sem dúvida, porque ele é produzido durante o</p><p>processo respiratório de homens e animais e também durante a combustão</p><p>ou decomposição de substâncias orgânicas. Se não houvesse uma correção,</p><p>nossa atmosfera certamente conteria mais e mais gás carbônico, o que</p><p>poderia ser fatal, visto que uma chama se extingue imediatamente quando</p><p>entra em contato com ele. Todo o processo de combustão se tornaria</p><p>impossível na presença desse excesso de gás carbônico na atmosfera, e</p><p>toda a vida poderia ser literalmente sufocada.</p><p>Como auxílio contra esse perigo, aparece o reino vegetal. As folhas das</p><p>plantas absorvem gás carbônico e exalam oxigênio. O reino vegetal evita</p><p>assim que, em dado momento, nos sufoquemos com o produto de nossa</p><p>própria pilha de vida. Investigadores averiguaram até que ponto a</p><p>atmosfera pode ser saturada com gás carbônico sem causar a morte de um</p><p>ser humano. Segundo eles, um ser humano normal pode resistir à</p><p>concentração de 5% de gás carbônico num ambiente. Observemos, porém,</p><p>que este gás está sempre presente na atmosfera, embora numa</p><p>percentagem bem menor!</p><p>Agora pensai em vosso lar, em vossa sala de estar, em vosso pequeno</p><p>jardim! Grande parte de vossa vida decorre em vosso lar. Nele respirais e</p><p>assim produzis gás carbônico. Todas as plantas em vossa casa, em vosso</p><p>quarto e em vosso jardim, respiram à vontade o gás carbônico que</p><p>produzis.</p><p>Para vós bem como para as plantas isso é uma bênção, pois se não</p><p>houvesse gás carbônico, não haveria plantas, e, não havendo plantas,</p><p>sufocaríeis! O reino vegetal e sua proteção são, portanto, necessidade vital</p><p>para todos os seres humanos dialéticos. Quanto mais decomposição e mais</p><p>consumo houver, tanto maior a quantidade de gás carbônico. Quanto mais</p><p>gás carbônico,</p><p>tanto mais plantas, e quanto mais plantas, maior segurança</p><p>de vida para todos nós.</p><p>Portanto, as plantas devolvem oxigênio em troca do gás carbônico que</p><p>recebem de vós. Contudo, não é oxigênio puro, mas um derivado dele.</p><p>Pode-se dizer que ele se assemelha ao éter luminoso, mas é um tanto</p><p>escuro, e sua vibração, muito mais lenta. Esse oxigênio inferior das</p><p>plantas mistura-se outra vez com o oxigênio da atmosfera. Novamente o</p><p>inalamos e produzimos novo gás carbônico quando exalamos…</p><p>Talvez vejais agora diante de vós essa corrente de vida e concluais que</p><p>viveis da misericórdia do reino vegetal! Talvez descubrais também que</p><p>tudo isso, considerado corretamente, é um processo assustador, muito</p><p>duvidoso e mesmo degenerativo. Antes que o explanemos, porém,</p><p>desejamos falar-vos acerca de algo mais. O gás carbônico é um subproduto</p><p>do éter químico, mas os outros três éteres também são transformados em</p><p>nossa pilha de vida. Assim como o gás carbônico é mortífero para nós,</p><p>também o são os outros derivados em igual ou mesmo em maior medida.</p><p>O subproduto do carbono torna o reino vegetal necessário à nossa</p><p>sobrevivência. Pois bem, os subprodutos do éter de vida, nitrogênio, do</p><p>éter luminoso, oxigênio, e do éter refletor, hidrogênio, tornam necessários,</p><p>além do reino vegetal, o reino animal, o reino dos insetos e micróbios e o</p><p>reino dos elementais, mais uma vez, por nossa causa, pois esses reinos</p><p>assimilam todas as coisas pelas quais logo pereceríamos! Eles existem,</p><p>eles vivem, literalmente, de nossas radiações mortais e devolvem-nos o</p><p>produto decomposto dessas radiações.</p><p>É pois de admirar-se que esses reinos — que vivem e provêm dos vapores</p><p>letais de nossa existência baseada no instinto de autoconservação e</p><p>afastada de Deus — persigam-se, destruam-se, devorem-se, mutilem-se e</p><p>infectem-se? Como é possível ver beleza nisso? Como é possível esperar</p><p>algo disso? Vedes claramente diante de vós esse horror, normal segundo as</p><p>leis da natureza? Quem pode realmente viver neste inferno, caçadores de</p><p>saúde?</p><p>Está agora claro para vós que viveis em estado de queda? Que, com vosso</p><p>presente estado humano, ainda cooperais continuamente na queda? Que a</p><p>humanidade está a ponto de precipitar-se, com pressa furiosa, em um</p><p>horror atômico destituído de toda a razão? Pode ser provado com precisão,</p><p>de modo científico, que a cada segundo participamos duma catástrofe</p><p>cósmica e com ela cooperamos; que nós, nesta ordem de existência,</p><p>exalamos permanentemente o alento da morte, enquanto o homem original</p><p>recebia outrora o alento de vida da Gnosis. Mesmo uma criança pode</p><p>compreender que os reinos naturais, necessários para proteger-nos de</p><p>nosso próprio alento da morte, falham nessa tarefa.</p><p>O homem está usando cada vez mais alimentos sintéticos. Regiões cada</p><p>vez maiores são desflorestadas e cultivadas, o perigo microbiano e os</p><p>insetos venenosos são combatidos em escala crescente, as enfermidades</p><p>são combatidas, os cadáveres são queimados, e os animais são substituídos</p><p>por máquinas. Sim, o que mais não faz o homem em sua existência</p><p>autoconservadora? Ele combate perigos, mas com isso desencadeia outros.</p><p>É esforço vão. As forças difusoras da morte, produzidas pelas pilhas de</p><p>vida humanas e que já não podem ser completamente absorvidas pelos</p><p>reinos protetores da natureza, tornam-se cada vez mais numerosas e</p><p>abrangentes. O alento da morte ganha cada vez mais terreno, e a</p><p>consequência não pode ser outra senão uma explosão atômica, a qual</p><p>designamos como “revolução cósmica”.</p><p>Sabeis que todas as enfermidades que flagelam a humanidade são causadas</p><p>por um dos reinos subumanos da natureza, por reinos, portanto,</p><p>necessários à transformação de alguns produtos de nossa pilha de vida,</p><p>produtos perigosos para nós? Pensai em um mosquito, com seu ferrão</p><p>venenoso, causador de muitas enfermidades. O inseto vive de produtos</p><p>atômicos de nossa pilha de vida. Ele nos ataca e pica em cega reação,</p><p>porque toda a criatura se dirige, para sua manutenção, em</p><p>autoconservação, a seu criador e sustentador.</p><p>Qual é a consequência? Os mosquitos são exterminados, e isto é</p><p>compreensível. Outros insetos, que os substituem em sua tarefa, são</p><p>igualmente atacados em sua existência. Micróbios e diferentes espécies de</p><p>vírus que atormentam nosso corpo, estão, pela mesma razão, sendo</p><p>combatidos. Fazemos isto e precisamos fazê-lo porque não podemos fazer</p><p>outra coisa! Quando, porém, alcançarmos êxito no extermínio desses</p><p>germes causadores de enfermidades, seremos inteiramente vitimados pelo</p><p>veneno principal produzido por nós mesmos. Graças às funções biológicas</p><p>dos reinos subumanos, experimentamos esse veneno até agora na forma de</p><p>doenças, uma reação retardada, portanto, bem enfraquecida.</p><p>Podeis imaginar tragédia maior? Combater enfermidades, buscar saúde e</p><p>por este meio inalar, em grandes doses, os próprios vapores da morte!</p><p>Quem vê e vivencia claramente tudo isto, quem, do íntimo, possui esse</p><p>conhecimento da natureza concernente ao estado humano, possui</p><p>autoconhecimento. Essa pessoa já não permite que seus livros falem e</p><p>cessa as furiosas tentativas de conservar a cabeça fora das águas do mar</p><p>acadêmico. Existe nela apenas uma resolução e apenas um anseio: a</p><p>resolução de acabar com seu estado atômico doentio, e o anseio do coração</p><p>de salvação mediante o alento da vida.</p><p>Assim como o cervo brama pelas correntes das águas,</p><p>assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!</p><p>A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.</p><p>Quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?[77]</p><p>***</p><p>[73] Cf. Gn 3:19.</p><p>[74] Cf. Gn 3:16.</p><p>[75] Cf. Rijckenborgh, J. van. Christianopolis. São Paulo: Lectorium</p><p>Rosicrucianum, 1985.</p><p>[76] Cf. Mc 1:17.</p><p>[77] Cf. Sl 42:1–2.</p><p>I-16 A ilusão da dialética</p><p>No capítulo anterior, procuramos dar-vos um novo conhecimento da</p><p>natureza, objetivando conduzir-vos ao autoconhecimento, que é a porta</p><p>para os mistérios do homem divino. Descobrimos a nua realidade da</p><p>essência da dialética.</p><p>Vimos que a pilha de vida do homem dialético produz diversas irradiações</p><p>e energias muito letais. Elas de imediato arruinariam sua existência e</p><p>fariam sua cadeia de vida totalmente impossível não fora a existência de</p><p>alguns reinos naturais em nossa ordem mundial. Estes vivem às custas</p><p>dessas mesmas energias e, portanto, absorvem em parte as irradiações</p><p>letais da humanidade. A existência do homem dialético torna necessários</p><p>os vários reinos naturais subumanos. Esses reinos devem sua origem e sua</p><p>manifestação a nossos miasmas mortais, a nossa realidade de</p><p>manifestação. É evidente daí que eles são inteiramente unos conosco e</p><p>também provas das causas de nosso destino, de nosso carma. Portanto,</p><p>embora tencionados como preservadores de nossa vida, ao mesmo tempo</p><p>constituem nossa ameaça, nossos inimigos e, de acordo com a causa</p><p>primária de sua existência, também estão em conflito uns com os outros.</p><p>O homem dialético produz imensa e multiforme energia nefasta.</p><p>Conquanto essa energia seja temporária e parcialmente contida pela</p><p>presença dos reinos naturais em questão, ela o alcançará durante sua vida,</p><p>de diferentes modos, pela ação da lei de causalidade. Assim, o verdadeiro</p><p>buscador da senda de libertação percebe em que terrível ordem mundial</p><p>ele vive e que, já meramente em virtude das funções de seu ser, é cúmplice</p><p>da tragédia geral do mundo. Ele está convencido de pertencer, com seu</p><p>inteiro microcosmo, a uma ordem mundial não divina e dela participar.</p><p>Todo o seu coração, portanto, tem sede de Deus, de uma realidade divina</p><p>pela qual ele sabe ser chamado. Com isso, o aluno torna-se cada vez mais</p><p>consciente de sua realidade dialética ímpia.</p><p>Quem ainda não possui essa consciência perceptiva de si e do mundo</p><p>prosseguirá em seu esforço de realizar seus desejos na linha horizontal.</p><p>Ele continuará a aspirar aos prazeres terrenos e a perseguir as “coisas boas</p><p>da vida”, como são denominadas. Exultará com as pretensas posses e</p><p>sentirá profunda dor quando elas desaparecerem qual miragem. Essa</p><p>perseguição e esse desapontamento virão e desaparecerão muitas vezes,</p><p>mantendo o homem extremamente ocupado por muitos</p><p>anos, talvez por</p><p>muitas vidas, até que, em virtude dessas contínuas experiências dolorosas,</p><p>a realidade do verdadeiro conhecimento da natureza finalmente desponte</p><p>em sua consciência.</p><p>Então o buscador e escravo já não cita, mas vivencia a verdade das</p><p>palavras do Pregador: “tudo é vaidade e aflição de espírito”.[78] Tudo aqui</p><p>é vã esperança, ilusão e perfeito logro. Ademais, tudo é sofrimento</p><p>imenso, tragédia indescritível. Desse modo, ele suspende todos os seus</p><p>esforços na linha horizontal em favor do pensar, do sentir, do querer e do</p><p>agir, e eleva os olhos para os montes, de onde lhe virá o socorro.[79]</p><p>Enquanto ainda buscais a realização de vida nesta natureza, enquanto</p><p>perseguis esperanças burguesas, sociais, políticas ou humanísticas nesta</p><p>ordem de natureza, não tendes ainda esse ponto de vista. Não se pode</p><p>forçar-vos a aceitá-lo nem podeis elevar-vos a ele mediante uma decisão.</p><p>Deveis crescer e amadurecer para ele pela experiência. Tendes de possuir o</p><p>conhecimento empírico absoluto de que vossa pilha de vida produz e</p><p>espalha morte em todas as suas atividades. Essa morte é absorvida pelo</p><p>que denominamos “reinos de vida”, que em essência, contudo, nada têm</p><p>em comum com a vida e expelem vossos produtos letais sob numerosas</p><p>outras formas. Assim, vossas energias letais provocam e vomitam</p><p>infortúnios qual reação em cadeia. Dessa maneira vossa existência, no</p><p>sentido mais verdadeiro, é produtora de dor, morte e tormento.</p><p>Quando possuirdes esse conhecimento, essa compreensão, já não</p><p>coparticipareis desse redemoinho de tormento; primeiro, porque provastes</p><p>a realidade dialética até o âmago e, segundo, porque já não vos tornareis</p><p>vítima de nenhuma ilusão, qualquer que seja.</p><p>Estes são os dois pilares sobre os quais o discipulado tem de assentar-se,</p><p>pois eles capacitam o homem a orientar-se completamente para o alvo</p><p>único da realidade divina. Apenas então ele pode verdadeiramente buscar e</p><p>bater à porta dos mistérios divinos. A ele é dito: “buscai e achareis, batei e</p><p>abrir-se-vos-á!”.[80] Unicamente aí ele poderá emitir o verdadeiro brado</p><p>por salvação.</p><p>Nossos pedidos de socorro geralmente são consequência de apuros</p><p>secundários, causados por nossas concessões à ilusão e pela ausência de</p><p>verdadeiro conhecimento da natureza. Muitas vezes, mal um apuro acaba</p><p>de deixar-nos, já estamos procurando com afã criar motivos para nova</p><p>dificuldade.</p><p>Todavia, o pedido de socorro, sempre atendido pela Fraternidade, é a</p><p>consequência de um estado de alma em que, de acordo com as palavras de</p><p>Buda, subsiste claramente a ideia de que se esta terra fosse tudo o que os</p><p>poetas dela sonharam, toda a maldade fosse varrida, todos os sofrimentos</p><p>acabassem, todas as alegrias se tornassem mais íntimas, todas as belezas</p><p>tornadas sublimes, e tudo aqui chegasse ao apogeu da perfeição, a alma</p><p>estaria, não obstante, cansada de tudo isso e, despojada de todos os</p><p>desejos, se afastaria dessas coisas. Esta terra dialética tornou-se então uma</p><p>prisão para ela, e, por mais magnificamente adornada que esteja, a alma</p><p>suspira pela atmosfera livre e infinita além das muralhas que a rodeiam. O</p><p>assim chamado mundo celeste da esfera refletora também lhe é tão pouco</p><p>atrativo quanto a esfera material. A alma está igualmente cansada dele.</p><p>Essas alegrias celestiais também perderam totalmente seu poder de</p><p>sedução.</p><p>Para uma criatura nesse estado, os deleites mentais e emocionais já não</p><p>produzem a mínima satisfação. Com efeito, eles vêm e vão, transitórios</p><p>que são, tal qual a percepção dos sentidos. São limitados, passageiros,</p><p>insatisfatórios. A alma está fatigada de todas essas mudanças, e é devido a</p><p>essa fadiga que ela clama por libertação.</p><p>Muitos buscadores já terão conhecido um dia esse estado de ser, essa ideia</p><p>da inutilidade de tudo, mas, na maioria dos casos, não terá passado de um</p><p>lampejo de consciência, após o que as coisas exteriores terão voltado a</p><p>exercer seu completo domínio, e a cegueira da ilusão, com suas alegrias</p><p>sedutoras, uma vez mais terá embalado a alma em um estado de</p><p>contentamento.</p><p>Compreendereis que a ilusão se apresenta muitas vezes como alegria,</p><p>beleza e magnificência. A ilusão deste mundo também nos apresenta</p><p>muitas perspectivas que, em certo sentido, são altamente respeitáveis e</p><p>nobres. Essas perspectivas nos são sugeridas por forças que se empenham</p><p>ao máximo em transformar este mundo em uma ordem aceitável para a</p><p>Gnosis e em harmonia com ela. Também essas sugestões podem ser, em</p><p>certo sentido, denominadas nobres e respeitáveis. Assim, podem decorrer</p><p>anos e vidas repletos dessas nobres obras. Nossos dias podem ser</p><p>preenchidos com numerosos e extremados esforços altruísticos. Estamos</p><p>sobrecarregados de ocupações humanas em todos os sentidos. Queremos</p><p>melhorar e tornar saudável a humanidade. Perseguimos numerosos ideais</p><p>práticos e regozijamo-nos com os marcos alcançados.</p><p>A marca de todo esse devotamento altruístico, de todos esses esforços, de</p><p>toda essa luta, é impressa em toda a nossa personalidade. Nossos olhos</p><p>falam das distâncias que fitamos, de tudo o que acreditamos como certo no</p><p>futuro…, mas ilusão é doença mental, loucura!</p><p>Se prestarmos atenção, veremos, por trás dos espelhos dos olhos, essa</p><p>loucura arder qual fogo. Esse fogo da ilusão arde intensamente neste</p><p>mundo. A arte, a ciência e a religião natural disso testemunham. Esse fogo</p><p>arde no ocultismo natural e no humanismo. Esse charco de fogo, esse</p><p>incêndio ígneo não é atiçado por perversidade consciente e propositada.</p><p>Essas labaredas vermelhas sobem até o céu, porém, como um esforço</p><p>potente e contínuo de tornar esta ordem mundial aceitável e de fazer com</p><p>que todas as forças divinas trabalhem para este plano.</p><p>A maior fraternidade ocultista natural de todos os tempos trabalha na</p><p>execução desse plano, conquanto sem o menor sucesso. Ela trilhou todos</p><p>os caminhos para a consecução de seu objetivo. Embora sua intenção, de</p><p>certo ponto de vista, fosse nobre e altruísta, ela começou no passado</p><p>remoto a aplicar a coação a fim de realizar, custasse o que custasse, seu</p><p>ideal. Coação, porém, exige força, e para impor a força, necessitam-se de</p><p>recursos violentos. Descobris o drama dessa fraternidade, consequência</p><p>absoluta da loucura?</p><p>Ela precipitou-se num abismo de imensa profundidade. No propósito de</p><p>eliminar tudo o que se lhe viesse opor, instituiu suas próprias leis, julgou e</p><p>emitiu sentenças. Para a execução duma sentença são necessários os</p><p>meios. Desse modo, os meios foram criados.</p><p>Assim vieram as prisões, as câmaras de torturas, homicídios e</p><p>carnificinas. Havia e há agora um aprisionamento quase geral de toda a</p><p>humanidade. Somos prisioneiros desta natureza não somente em razão de</p><p>nosso estado natural, mas também como resultado da magia da aludida</p><p>fraternidade.</p><p>Em cada bairro de nossas cidades, em cada vilarejo e em cada povoado de</p><p>vasta parte do mundo, há edifícios onde a magia para a prisão permanente</p><p>é exercida, de modo que incontáveis milhões de seres humanos estão</p><p>amarrados segundo corpo e alma, e outros milhões são fortemente tolhidos</p><p>em sua liberdade de movimento.</p><p>Com o auxílio de métodos muito antigos, oriundos da velha Atlântida,</p><p>preparações perniciosas de éteres são irradiadas na atmosfera hora após</p><p>hora. Numerosas subcorrentes de magia negra são, portanto, um fenômeno</p><p>colateral inextricável do nobre objetivo original, nascido da ilusão</p><p>fundamental da dialética. Assim como a mencionada fraternidade mantém</p><p>a esfera material em suas garras, do mesmo modo seu poder está</p><p>firmemente assentado na esfera refletora. Aí também ela impera, com suas</p><p>companheiras, por meio da magia.</p><p>Após esta explanação, talvez possais imaginar o que significa a</p><p>excomunhão de um ser humano por esses ocultistas naturais. Ele é</p><p>atingido por uma irradiação pessoalmente dirigida e oposta a sua vibração</p><p>de vida, tanto aqui como na esfera refletora. Podeis imaginar o que isso</p><p>significa para alguém que nada conheça da vida libertadora. Quando esse</p><p>ser humano morre, é imediatamente acossado no Além por violenta força</p><p>inquietadora, de maneira que, geralmente, ele logo é forçado, na maioria</p><p>Se agora falamos sobre o advento do novo homem, que fique claro de</p><p>imediato que não temos a intenção de dar informações acerca de alguma</p><p>raça humana dialética futura, pois, conforme foi dito, cada nova raça que</p><p>alcançou a manifestação dialética já existiu nos séculos precedentes, de</p><p>forma que é grande ilusão classificá-la como “nova”. Ainda que o fora,</p><p>semelhante manifestação racial não teria nenhum interesse para os alunos</p><p>da jovem Escola* Espiritual. Nós lutamos por libertar-nos do incessante</p><p>girar no tempo, aspiramos à vida original do reino de Deus, o qual não é</p><p>deste mundo.</p><p>Portanto, nossas explicações sobre o advento do novo homem devem ser</p><p>entendidas em sentido novo, pois de nenhum modo nos referimos a</p><p>alguma ciência ocultista ou etnológica. Pelo contrário, dirigimos a atenção</p><p>para o fato de a Sagrada Escritura, pura e absoluta, também encerrar</p><p>afirmações referentes a uma nova raça humana, embora em sentido muito</p><p>particular. Esta nova raça é conhecida por diferentes denominações. Às</p><p>vezes é mencionada a vinda do povo de Deus na terra; outras vezes, lemos</p><p>sobre a Una Sancta* uma fraternidade santa e ainda muitos outros nomes.</p><p>Certamente conheceis isso, todavia é necessário que também</p><p>compreendais tudo isso segundo o sentido correto a fim de poder evitar</p><p>todos os erros possíveis.</p><p>Existe uma fraternidade santa, a Fraternidade* Universal, a Fraternidade</p><p>do reino original, porém as indicações da Sagrada Escritura mencionadas</p><p>acima em geral não se referem a essa Fraternidade. Não, nossa atenção</p><p>aqui é dirigida para a formação de uma fraternidade totalmente nova, de</p><p>uma una sancta totalmente nova.</p><p>Quando, para alcançar melhor compreensão, consideramos os problemas</p><p>ligados a isso segundo seus aspectos temporais e espaciais, vemos, de um</p><p>lado, o mundo dialético e a humanidade e, de outro, o reino de Deus e seus</p><p>habitantes. Vasto abismo separa esses dois mundos, abismo intransponível</p><p>consoante tempo e espaço. Homens e raças de carne e sangue da natureza</p><p>dialética comum não podem transpô-lo. Por isso, na ordem mundial</p><p>dialética toda a vida gira qual roda em torno do eixo, num retorno</p><p>incessante, numa repetição sem fim.</p><p>Sabemos que essa Fraternidade do outro reino aspira a salvar a</p><p>humanidade decaída e prisioneira. Com esse propósito, ela empreende um</p><p>trabalho cujos aspectos são considerados e examinados ininterruptamente</p><p>na Escola Espiritual. Muitos seres humanos neste mundo reagem com</p><p>seriedade e devotamento aos impulsos da Fraternidade Universal. Não</p><p>sabemos seu número exato, mas sem dúvida essas pessoas existem. Não</p><p>sabemos a que povos ou nações pertencem nem em que países vivem. Com</p><p>probabilidade beirando a certeza, porém, podemos supor existirem pessoas</p><p>que reagem a esses impulsos em quase todos os países. Inúmeras delas</p><p>evidenciam qualidades e convicções similares às encontradas em nossa</p><p>Escola.</p><p>Todos esses seres humanos, com sua diversidade de povos e de países,</p><p>formarão, em todas as regiões e em todos esses países, em dado momento</p><p>da história mundial, uma comunidade, uma raça muito especial e</p><p>exclusiva. Ela não se caracterizará por habitar determinada região da terra,</p><p>e sim pelo fato de que se livrará da fatalidade do giro dialético da roda e</p><p>realizará o milagre de atravessar o abismo intransponível em direção à</p><p>pátria perdida. É a essa nova comunidade, ora em formação, que a Sagrada</p><p>Escritura se refere.</p><p>Agora, que o momento para a formação dessa raça despontou em nossa</p><p>época, é nosso dever dirigir a atenção para esse fato, investigar como se</p><p>realizará tudo isso e examinar os diferentes aspectos desse maravilhoso</p><p>processo. Tencionamos, em primeiro lugar, abordar do ângulo místico-</p><p>filosófico essa manifestação admirável e extraordinária, esse</p><p>desenvolvimento de um tipo humano totalmente novo e não dialético neste</p><p>mundo dialético. Posteriormente, verificaremos de que maneira tudo isso</p><p>pode ser realizado e, finalmente, que consequências podemos esperar em</p><p>razão disso.</p><p>Na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, Paulo fala sobre essa nova raça</p><p>de libertos quando diz:</p><p>Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que</p><p>não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que</p><p>Jesus morreu e ressuscitou, assim também, aos que em Jesus dormem, Deus os</p><p>tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que</p><p>ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o</p><p>Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da</p><p>trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os</p><p>que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar</p><p>o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.[3]</p><p>Essa linguagem místico-transfigurística, pregada como letra morta ao</p><p>longo dos séculos pelas práticas religiosas naturais e abusada por inúmeras</p><p>pessoas como se fora propriedade particular, contém o esquema completo</p><p>da gênese da nova Eclésia.*</p><p>Em primeiro lugar, ela mostra que Paulo também não considera os</p><p>domínios de vida da e na esfera* refletora como domínio celeste, o que</p><p>está inteiramente de acordo com a doutrina transfigurística.</p><p>Para os que entraram em ligação real com a Hierarquia* de Cristo, tanto a</p><p>esfera refletora como a esfera* material da dialética são apenas regiões de</p><p>permanência temporária. Todos os que foram aceitos no processo da nova</p><p>gênese no pleno sentido transfigurístico, mesmo que no início se trate</p><p>apenas de um estágio elementar, deverão abandonar qualquer forma de</p><p>tristeza ou qualquer sentimento de solidão. Esse comportamento,</p><p>considerado inteiramente normal para o homem desta natureza, é profunda</p><p>ilusão para os que estão libertos na luz de Cristo.</p><p>Naturalmente, todo o processo tem um início. Se perceberdes com clareza</p><p>de que maneira radical o processo de santificação que temos em mente</p><p>intervém, corporalmente, no inteiro microcosmo* do ser humano e dele se</p><p>apodera, e quão profundamente esse processo é consolidado em cada fibra</p><p>do ser, compreendereis com absoluta clareza que seu início já significa</p><p>liberdade. A consciência de isolamento, essa experiência cabal de solidão,</p><p>é bastante normal segundo a natureza comum, porém, à luz da renovação,</p><p>é inteiramente anormal!</p><p>Quem sabe isso compreende, ao mesmo tempo, que já não terá</p><p>importância em que lado do véu da morte um ser humano esteja quando a</p><p>ligação com a absoluta liberdade foi obtida. Sem essa ligação, quem</p><p>abandona a esfera material terá de reencarnar, mas quem a possui já nada</p><p>tem a temer. A roda* da dialética já não o arrastará de volta nem</p><p>influência alguma da esfera refletora poderá doravante enganá-lo.</p><p>Apesar de até agora não se ter falado muito sobre isso, é indispensável</p><p>saberdes que a Escola Espiritual, favorecida com múltiplos dons da graça,</p><p>também atua por trás do véu da morte, e ali, igualmente, vela por seus</p><p>alunos. Inúmeras dificuldades aqui conhecidas lá são completamente</p><p>suprimidas em virtude de serem totalmente diversas as circunstâncias em</p><p>que a Escola trabalha no Além. Ali os alunos podem, em completa e</p><p>imperturbável tranquilidade, prosseguir no processo iniciado na esfera</p><p>material. Por conseguinte, certo é que nos reencontraremos após</p><p>deixarmos a esfera material.</p><p>É necessário que tomeis conhecimento desses fatos e não mostreis o</p><p>menor traço de tristeza pela morte de um amigo ou de uma amiga, tal</p><p>como outras pessoas que dessas coisas nada compreendem. Pelo contrário,</p><p>deveria haver entre nós grande alegria ao ver um de nossos condiscípulos</p><p>sérios atravessar o limiar da morte mais cedo do que nós. Eles são</p><p>denominados os “adormecidos segundo a natureza”. Um adormecido</p><p>segundo a natureza não é alguém que simplesmente deixou o corpo</p><p>material, mas alguém que já se libertou de qualquer laço ou qualquer</p><p>influência da natureza dialética. Esse ser humano, ao deixar a esfera</p><p>material, é transferido para uma região que, em essência e vibração, está</p><p>fora da esfera refletora. Esse é o sentido da expressão “em Jesus dormem”.</p><p>Lembremos</p><p>dos casos, a uma encarnação que lhe é completamente determinada de</p><p>fora.</p><p>Confrontamo-vos com essa realidade, que a nenhum de nós deixa</p><p>impassível, com a intenção de mostrar-vos aonde toda a ilusão</p><p>invariavelmente nos conduz. Primeiro se é Judas, o Nobre, o Grande</p><p>Idealista, o homem que deseja ser pescador e salvador de homens. Então</p><p>Judas torna-se um discípulo chamado e, como tal, assume a administração</p><p>de valores extraordinariamente grandes.</p><p>Quando o caminho de Cristo se desvia desta natureza, e a voz proclama:</p><p>“O meu reino não é deste mundo!”,[81] Judas, se não tem conhecimento da</p><p>natureza nem consegue compreender a ilusão, e, por conseguinte, não quer</p><p>nem deseja trilhar o caminho, será primeiro um estrategista e procurará</p><p>um acordo. Por fim, acabará em traição e assassinato.</p><p>Entretanto, essa perversidade, nascida da bondade deste mundo, essa lei</p><p>irresistível da dialética, transmutando tudo que é bom em mau, não</p><p>consegue agarrar nem um filho da Gnosis! O resultado de todo o esforço</p><p>mundano, de toda a dialética organizada, será, no mesmo instante,</p><p>autodestruição — qual o fim de Judas — já que, no Oriente, o vermelho da</p><p>manhã da ressurreição tinge o horizonte. Portanto, se desejais colocar o pé</p><p>no caminho, o vazio e a inutilidade de todas as aparências e de todos os</p><p>esforços dialéticos têm de converter-se, permanentemente, em ideia</p><p>consciente de vossa alma. Então compreendereis que mesmo os esforços</p><p>mais altruístas e mais nobres, iniciados e mantidos na ilusão, terminarão,</p><p>cedo ou tarde, irrevogavelmente, em crime contra a luz universal.</p><p>Sem esse discernimento, sem haver atingido esse estado preparatório de</p><p>libertação, ninguém colocará o pé no caminho ou transporá a primeira</p><p>porta dos mistérios. Todavia, quando tiverdes irrompido nesse estado de</p><p>consciência, estareis ante a porta da senda. Somente então renunciareis à</p><p>poeirenta e larga estrada dos giros da roda para galgar a montanha do</p><p>templo, firmemente decididos a escapar da escravidão da vida na esfera</p><p>material e na esfera refletora e a conquistar a liberdade do cume da</p><p>montanha da realização.</p><p>Colocar o pé no caminho não significa ainda atingir a grande meta, mas</p><p>trilhar um caminho que para lá conduz. Um caminho em que todas as</p><p>coisas desta natureza, caso tenham penetrado o microcosmo ou crescido</p><p>com ele, e todas as que, fundamentalmente, nele estão corrompidas, têm</p><p>de ser radicalmente abandonadas. Desse modo, passo a passo, todas as</p><p>condições são criadas para transfigurar todo o ser numa nova luz e numa</p><p>nova força.</p><p>Presentemente, há alunos que deram os primeiros passos hesitantes no</p><p>caminho. Eles podem banhar-se na graça da aurora nascente. Sentimo-nos</p><p>na obrigação, em seu benefício, de proclamar séria advertência, com a</p><p>maior ênfase, em razão dos grandes perigos no caminho de transmutação*</p><p>e de transfiguração, sendo um dentre eles da mais notável espécie. Se</p><p>cairdes vítima desse perigo, começareis a duvidar do poder absoluto, da</p><p>realidade do caminho, e a seguir negareis o caminho transfigurístico.</p><p>Finalmente, sereis de modo irrevogável arrastados a atos diretamente</p><p>opostos à Escola Espiritual, e depois tentareis destruí-la.</p><p>Essa assinatura tríplice da traição — dúvida, negação e ameaça — é tão</p><p>extraordinariamente clássica que podeis encontrá-la em qualquer parte da</p><p>história do mundo e até no momento atual. Pensai, por exemplo, em</p><p>Agostinho, outrora discípulo dos maniqueus, que mais tarde se tornou um</p><p>dos fundadores da supramencionada fraternidade.</p><p>Todas as fraternidades dialéticas na esfera material, assim como as da</p><p>esfera refletora, com todos os seus hierofantes, adeptos e candidatos,</p><p>devem sua origem e existência a esse grande perigo inicial do único</p><p>caminho verdadeiro.</p><p>Todas as fraternidades dialéticas têm sido fundadas por candidatos</p><p>fracassados de escolas transfigurísticas e preenchem suas fileiras com os</p><p>que, pela mesma razão, passam também por essa mesma experiência nos</p><p>dias atuais. Assim, dúvida, negação e ameaça não chegam à Escola</p><p>somente de fora, mas têm origem em seu próprio Átrio!</p><p>Primeiro vem a dúvida, que é ainda um estágio negativo. Depois se</p><p>desenvolve uma atividade que se torna cada vez mais veemente: a</p><p>negação, de início experimentada no próprio coração, é transmitida a</p><p>outros. A princípio secretamente e depois, premida por crescente impulso</p><p>interior, é declarada de maneira cada vez mais aberta. A seguir essa</p><p>negação toma forma, é organizada, torna-se um plano. Como não poderia</p><p>deixar de ser, o plano é descoberto, assim como os primeiros vagos sinais</p><p>já haviam sido reconhecidos. Quando, na Escola Espiritual, todos estão à</p><p>mesa para alimentar-se do pão celeste, o pedaço é propiciado muito</p><p>conscientemente aos portadores da assinatura de Judas, e as palavras</p><p>mantrâmicas ressoam: “O que fazes, faze-o depressa!”[82]</p><p>Por conseguinte, Judas sai para a noite do próprio eu, de modo a</p><p>prosseguir do estado de negação para o de ameaça, que apenas pode ter um</p><p>fim, um fim fatídico.</p><p>Que perigo é esse, por que muitos foram e serão vitimados? É o perigo das</p><p>duas figuras, das duas existências no microcosmo.</p><p>***</p><p>[78] Cf. Ec 2:17.</p><p>[79] Cf. Sl 121:1.</p><p>[80] Cf. Lc 11:9.</p><p>[81] Cf. Jo 18:36.</p><p>[82] Cf. Jo 13:27.</p><p>I-17 As duas formas no</p><p>microcosmo</p><p>Um fantasma tríplice ameaça o aluno no início do caminho: o fantasma</p><p>das duas personalidades, ou duas existências, no microcosmo. Todo o</p><p>aluno que deseja seguir o caminho de transfiguração encontrará esse</p><p>fantasma de forma tríplice.</p><p>Em primeiro lugar, ele semeará no aluno a dúvida, entre outras coisas,</p><p>sobre a natureza do renascimento, como este é proclamado e tornado</p><p>possível pela Doutrina Universal, dúvida que é suscitada de modo bem</p><p>natural.</p><p>Em segundo lugar, se a dúvida encontrar terreno favorável no aluno, a</p><p>negação se apoderará dele.</p><p>Em terceiro lugar, ele partirá para a ameaça. Ele ameaçará todo o servidor</p><p>da Doutrina Universal e toda a atividade autêntica da Escola Espiritual</p><p>fidedigna, sim, terá de ameaçar, por medo e oposição, por necessidade e</p><p>ira, pois ele quer sufocar a própria voz interior do átomo-centelha-do-</p><p>espírito.</p><p>A luz da Gnosis, que brilha em todo o coração, é obstáculo para tais</p><p>alunos. Eles se lhe oporão, tentarão extingui-la. Compreendereis, sem</p><p>dúvida, que isso é impossível. Por esse motivo, dissemo-vos que essa</p><p>atividade tríplice apenas pode ter um fim: suicídio, a morte espiritual do</p><p>aluno desencaminhado e de seus partidários, exaltação e aceleração de seu</p><p>declínio dialético.</p><p>Nesse drama, representado em todos os períodos da história mundial, o</p><p>elemento trágico é tão forte, angustiante e, infelizmente, impossível de</p><p>evitar para tantos, que julgamos necessário falar do assunto em forma de</p><p>orientação e advertência.</p><p>Os ensinamentos e explanações relativos às duas existências no</p><p>microcosmo sempre pertenceram à parte mais secreta do trabalho da</p><p>Fraternidade. Sempre foram transmitidos oralmente aos que deles</p><p>necessitavam para encontrar seu caminho. Entretanto, no “período dos</p><p>últimos dias”, em que a humanidade acaba de ingressar, muito do que</p><p>estava oculto até o momento tem de ser revelado, precisamente pelas</p><p>seguintes razões: uma revolução cósmica faz que as possibilidades de ter-</p><p>se êxito na senda se tornem muito maiores e mais frequentes do que antes.</p><p>Em consequência disso, o número de candidatos crescerá, e com isso o</p><p>trabalho da Escola Espiritual se tornará mais abrangente. Enquanto antes</p><p>se tratava de um único candidato, breve milhares terão de ser ajudados.</p><p>Por causa dessa situação, advertências necessárias aos alunos são</p><p>transmitidas do púlpito nos templos e mediante nova literatura a todos os</p><p>que estejam capacitados a compreendê-las. A forma em que as</p><p>advertências são ministradas evitará abusos e reações desvirtuadas.</p><p>Os alunos devem saber que há três grandes obstáculos antes de encontrar-</p><p>se a verdadeira senda: o primeiro é nosso ser-eu e todas as ilusões da</p><p>esfera material; o segundo provém da esfera refletora e de todas as forças</p><p>e entidades aí ativas; o terceiro, até o momento quase não mencionado,</p><p>provém inteiramente do próprio microcosmo,</p><p>sobretudo, de sua parte</p><p>menos conhecida, o ser aural. Este terceiro obstáculo exerce completa</p><p>influência quando o aluno ameaça escapar dos dois primeiros.</p><p>Já vos apresentamos o ser aural antes. Ele é um campo organizado de</p><p>modo sétuplo em que todas as energias e todos os órgãos do firmamento</p><p>microcósmico estão presentes. Além da forma esférica facilmente</p><p>imaginável, este ser aural também tem a forma de uma personalidade,</p><p>personalidade de estatura muito maior do que a terrena, que conhecemos e</p><p>somos nós. Não será difícil compreender que a personalidade aural é um</p><p>ser de luz. Como essa personalidade traz em si os órgãos da lípica,* pode-</p><p>se falar com razão, em certo sentido, de um ser celestial, uma forma</p><p>brilhante, radiante e poderosa, de pelo menos dois metros de altura, repleta</p><p>de esplendor multidimensional.</p><p>Portanto, tem-se de dizer que todo o microcosmo conhece duas</p><p>personalidades: uma forma terrena e uma forma aural. É preciso</p><p>compreender bem, contudo, que essa forma aural celestial, quase ciclópica</p><p>e dotada de grandes faculdades, certamente não deve ser confundida com a</p><p>figura original que tem de renascer no microcosmo e será capaz de</p><p>retornar ao reino humano original, o Reino Imutável.</p><p>Por conseguinte, desejamos enfatizar que, do mesmo modo que a figura</p><p>terrestre do microcosmo, a figura celestial também tem de ser renovada</p><p>pela transfiguração.</p><p>Particularmente na literatura ocultista natural, a personalidade aural é</p><p>frequentemente indicada como sendo o eu superior, o verdadeiro homem,</p><p>o deus-em-nós, e o aluno é incitado a efetuar união perfeita com esse eu</p><p>superior. Pessoas sensitivas, que possuem qualidades mediúnicas, de</p><p>tempos em tempos apanham impressões do eu superior ou são</p><p>confrontadas vez por outra com ele. No estado de exaltação místico-</p><p>religiosa, o eu inferior é quase sempre eclipsado pelo eu superior. O</p><p>homem ignorante encara semelhantes eclipses como experiências de graça</p><p>divina especial, mas, na realidade, ele nada vê senão o próprio protótipo</p><p>aural.</p><p>A conhecida Teresa Neumann, a estigmatizada, íntima da virgem celestial</p><p>e praticamente adorada como milagre da Igreja, não é vítima de ilusão ou</p><p>fraude da esfera refletora, mas efetuou uma ligação negativa ocultista com</p><p>o próprio ser aural. Este é que é sua “virgem celestial”! Experiências com</p><p>aparições de Jesus e coisas semelhantes, mediante exaltações místicas,</p><p>todas têm exatamente idêntico fundamento.</p><p>Quando examinardes vossas próprias experiências com base nessa</p><p>informação, provavelmente chegareis à conclusão de que em alguma</p><p>ocasião também tereis experimentado o toque desse ser aural e visto ou</p><p>sentido algo semelhante.</p><p>Talvez perguntareis: “De onde o ser aural retira seu esplendor e sua</p><p>magnificência? Por que ele é tão poderoso? Qual é sua natureza, sua meta,</p><p>sua essência? Este ser é bom ou ruim?”</p><p>Para obter resposta satisfatória a essas perguntas, tendes de considerar</p><p>tudo o que a Doutrina Universal transmitiu até agora sobre o ser aural.</p><p>O ser aural é, entre outras coisas, um firmamento de centros sensoriais,</p><p>centros de força e focos. Todos esses princípios, tomados em conjunto,</p><p>formam uma unidade, um fogo flamejante, um conjunto de forças ingentes</p><p>em que certo fogo foi inflamado.</p><p>Uma das manifestações dessa unidade flamejante é uma aparição brilhante</p><p>ígnea, em que reconhecemos a imagem gigantesca de uma forma humana,</p><p>grotesca, mágica, estranhamente imponente.</p><p>Outra manifestação desse fogo grandioso é o pequeno mundo que devém</p><p>nesse firmamento, o microplaneta, o homem terrestre, o eu inferior. Desse</p><p>fogo aural flamejante viemos a ser e por ele somos mantidos. A forma</p><p>aural, por conseguinte, encontra seu reflexo em nossa forma terrestre,</p><p>todavia ela é alimentada e mantida pela atividade de nossa existência.</p><p>Portanto, quando volvemos os olhos em exaltada adoração para o</p><p>firmamento microcósmico, para nosso próprio céu microcósmico, é</p><p>evidente que é nosso próprio deus ígneo, de quem deviemos e existimos,</p><p>que envia uma resposta. É também óbvio que o deus ígneo aural barre</p><p>nosso caminho quando queremos trilhar a senda dos verdadeiros mistérios</p><p>divinos com o eu, com nosso próprio pequeno mundo não transfigurado.</p><p>Ora, o egocentrismo e a automanutenção do eu comum resultam da</p><p>dependência mútua entre este e o deus aural, o que implica em colocar o</p><p>próprio sistema da lípica em uma posição central, numa base recíproca.</p><p>Desse modo, há efetivamente um deus-em-nós: o ser* da lípica. Ele é</p><p>nosso criador. Isto é, de nosso ser ímpio, mortal, e nós somos sua criatura.</p><p>Este criador jamais pode livrar-se de sua criatura, pois devido a sua mútua</p><p>dependência, a destruição da criatura significaria a destruição do criador.</p><p>Em outras palavras, embora tenha forma, o ser ígneo de nosso próprio</p><p>firmamento, em muitos aspectos, é impessoal. Ele é mau quando somos</p><p>maus, e bom quando somos bons. E ele será demolido à medida que nós</p><p>mesmos nos demolirmos na endura.</p><p>Quem afirma estar na senda, enquanto esse ser da lípica ainda está vivo</p><p>com toda a sua força, está dizendo uma mentira.</p><p>O ser ígneo da aura é o Lúcifer dos mistérios, nome esse que elucida o que</p><p>acabamos de relatar.</p><p>Em consequência dos processos microcósmicos causados pelo estado de</p><p>queda, arde na lípica um princípio não divino de hidrogênio em oxigênio.</p><p>Nesse processo o nível de vibração é determinado pelo nitrogênio, que é o</p><p>fator de retardamento possibilitador da manifestação do microplaneta no</p><p>carbono terrestre inferior.</p><p>O microplaneta perece periodicamente, o que acarreta o nascimento de</p><p>novo microplaneta na desordem do pequeno campo de manifestação.</p><p>Entretanto, o ser ígneo permanece! Ele absorve todos os resultados das</p><p>sempre alternantes existências microplanetárias, e sua forma e suas</p><p>estruturas orgânicas dão testemunho disso e trazem os sinais de inúmeros</p><p>anos. Esses sinais do céu microcósmico mudam continuamente, pois a</p><p>atividade do fator de retardamento extingue fogos e inflama outros.</p><p>Os antigos focos do período pré-luciferino estão adormecidos há éons,</p><p>pois não podem arder no fogo ímpio. Os resultados desse estado são</p><p>manifestados repetidamente no pequeno planeta.</p><p>Assim, o inteiro sistema, qual relâmpago vermelho-escuro, arroja-se pelo</p><p>espaço, como que perdido no universo. O homem, visto como pequeno</p><p>planeta, é acompanhado e guiado por seu Lúcifer individual, seu próprio</p><p>Satanás, seu próprio deus natural.</p><p>Compreendei agora contudo, leitor, que esse deus da natureza é, em</p><p>essência, vosso subordinado, vosso servo, vosso amigo mais querido,</p><p>vossa imitação da aparição de Jesus, vossa virgem celestial, vosso mestre,</p><p>pois ele vos serve de acordo com vossos desejos, recebeis o que ordenais.</p><p>Se invocardes o fogo, ardereis! O que semeardes colhereis. Tudo o que</p><p>fostes e sois vos é concedido por vosso ser da lípica, por vosso eu superior,</p><p>por essa projeção degenerada de vosso verdadeiro eu, por esse deus natural</p><p>em vós.</p><p>O ser da lípica, que jamais foi destinado a ser a causa da existência de</p><p>vosso sistema de vida, cria e mantém este sistema. Muitos têm feito desse</p><p>ser da lípica um tirano, um ígneo e diabólico monstro, um deus natural que</p><p>castiga os pecados por inúmeras gerações.</p><p>Os seres humanos têm toda a razão em temer essa herança aural. Surge,</p><p>então, medo, imenso medo. E dele surgem a religiosidade e o ocultismo</p><p>naturais, pois os seres humanos têm bastante motivo para reconciliar-se</p><p>com seu próprio, assim denominado, eu superior, com esse deus ígneo,</p><p>esse portador e irradiador do carma.</p><p>Derramais lágrimas, sujeitai-vos a vosso deus e sonhais no coração com a</p><p>busca da senda. Emanais, então, certa mansidão e doçura. Em tal estado,</p><p>cultivais um grau razoável de boa vontade, por cujo intermédio, conforme</p><p>a lei natural, a corrente de fogo flamejante é controlada. A mansidão</p><p>cultivada retarda o afluxo da desgraça, o deus natural socorreu-vos.</p><p>Todo o ocultismo é um método para criar certo equilíbrio entre o eu</p><p>superior e o eu inferior, para controlar o eu superior impessoal pelo eu</p><p>inferior. Em toda a ilusão, acredita-se que já nada pode acontecer. O cego</p><p>fala:</p><p>“Estou ao leme e posso conduzi-lo conscientemente”. No entanto,</p><p>quando o eu inferior e o eu superior estão unidos desse jeito, todo o ser,</p><p>como sistema microcósmico, está irremediavelmente perdido.</p><p>Tudo isso poderia causar medo, mais medo do que nunca. Se tiverdes</p><p>compreendido, porém, o que estamos tentando dizer, todo o medo vos</p><p>abandonará, pois o ser aural não pretende matar-vos! Sua atividade</p><p>somente causará vossa destruição se a provocardes com uma vida</p><p>egocêntrica ininterrupta. Se vos enforcardes com uma corda, será a corda a</p><p>causa de vossa morte? Ou fostes vós próprios que cometestes suicídio?</p><p>Quando, um dia, as luzes celestiais tiverem sido realmente extintas em</p><p>vosso sistema* da lípica, será possível restaurar o antigo firmamento</p><p>glorioso por uma mudança fundamental de vida? Para isso, do mesmo</p><p>modo que existe um átomo-centelha-do-espírito no coração, existe um</p><p>princípio-centelha-do-espírito no firmamento, qual latente e extinto sol!</p><p>Quando um ser humano trilha o caminho, conforme vem sendo indicado</p><p>há tanto tempo pela escola de mistérios transfigurísticos, ele não invoca o</p><p>eu superior nem apela ao firmamento da lípica. Ele já não estuda esse</p><p>firmamento, amigos astrólogos, porém, traspassa esse céu que arde em</p><p>impiedade e eleva os olhos para os montes, de onde lhe vem o socorro.</p><p>E esse socorro chega. Graças ao fato de que uma das luzes que se</p><p>extinguiu na lípica foi inflamada para nova glória, o átomo-centelha-do-</p><p>espírito no coração pode ser tocado. Após isso, o processo tantas vezes</p><p>descrito por nós se realiza. Por meio da glândula timo, a irradiação da</p><p>centelha-do-espírito atinge o sangue e, por este Jordão da vida, alcança o</p><p>núcleo do princípio luciferino no eu inferior, o núcleo da consciência no</p><p>santuário da cabeça. Se esses dois princípios se aceitam reciprocamente,</p><p>Jesus é batizado no Jordão. João, o eu natural purificado, retrocede, e Jesus</p><p>inicia sua peregrinação de três anos. O que significa essa peregrinação?</p><p>Ela representa o toque processual por meio de uma força sagrada em um</p><p>microplaneta corrompido.</p><p>Na mitologia da Sagrada Escritura, no início dessa marcha, Jesus é</p><p>representado como ingressando no deserto. Não é nosso ego terreno um</p><p>verdadeiro deserto, onde tudo o que é verdade apenas encontra aridez e</p><p>desolação? Entretanto, todo esse deserto tem de ser forçosamente vencido</p><p>pela irradiação-Jesus durante “quarenta dias e quarenta noites”, uma</p><p>imagem da plenitude absoluta dessa batalha, da taça que tem de ser</p><p>esvaziada até a última gota.</p><p>Talvez compreendais o que acontecerá então. A força da nova vida ataca</p><p>nosso microplaneta. Em consequência, a ação mútua entre o microplaneta</p><p>e o fogo da lípica natural é imediatamente perturbada. O equilíbrio entre o</p><p>deus natural e o homem dialético é perturbado. Quando esse homem</p><p>dialético é agora impelido a sua morte endurística, será inevitável,</p><p>igualmente, a morte da lípica natural, o fim de Lúcifer, o fim de Satanás, o</p><p>fim do deus natural em nós.</p><p>Entendereis, portanto, o que acontece no início do caminho que vai do</p><p>deserto à vida verdadeira: o ser da lípica, com toda a sua grandiosidade,</p><p>com toda a sua carga cármica, com todos os seus poderes de éons, ataca o</p><p>candidato. E agora ouvi o que se sucede:</p><p>“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito Universal ao deserto. E, tendo</p><p>jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. E, chegando-se</p><p>a ele, Satanás disse-lhe: Se és um novo homem, manda que estas pedras se</p><p>tornem em pães. Em virtude da nova força de que participas, não és capaz</p><p>de transformar, cultivar, esta natureza e fazer pão destas pedras?”</p><p>O eu superior desta natureza esforça-se por deter o candidato em seu</p><p>êxodo desta ordem natural, tentando-o a tornar aceitável a natureza</p><p>luciferina.</p><p>Mas Jesus responde: “O homem não viverá desta natureza, porém da força</p><p>e da essência do Verbo, do Absoluto”.</p><p>Jesus rejeita resolutamente a figura da lípica, que nada mais faz do que</p><p>completar sua missão natural.</p><p>“Então Satanás o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do</p><p>templo, e disse-lhe: Prova agora que és um novo homem! Lança-te daqui</p><p>abaixo como prova de que sobrepujaste a força da gravidade! Comprova</p><p>tua filiação no Círculo Apostólico!”</p><p>No entanto, a prova do que é original não pode nem deve ser dada ao</p><p>terreno. Demonstrasse o candidato sua força, isto não teria nenhuma</p><p>influência sobre o homem terreno. Ele não compreenderia o estado de ser</p><p>do candidato, e este, na tentativa de convencer, forneceria a prova de que</p><p>ainda não confia na própria força que uma vez mais lhe foi confiada.</p><p>Assim, ele poria à prova a força da Gnosis. Seria mero controle dialético</p><p>conforme com o princípio “em primeiro lugar a segurança”. O candidato</p><p>reserva como resposta a essa tentativa de sedução: “Não tentarás o Senhor</p><p>teu Deus”.</p><p>“Então Satanás o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos os</p><p>reinos e a glória da natureza dialética e disse-lhe: Tudo isto te darei, se,</p><p>prostrado, me adorares”. O ser da lípica, sabendo agora que toda a sua</p><p>existência está em absoluto perigo, aparece-lhe em toda a sua</p><p>magnificência e com todo o seu poder e oferece o que de mais excelente</p><p>pode ser alcançado na dialética. Agora o candidato dá testemunho de sua</p><p>firme resolução, de sua completa despedida, mesmo das mais sublimes</p><p>ilusões, e diz: “Vai-te, Satanás — somente à Gnosis hei de servir!”</p><p>Em suma, o ser da lípica, à entrada do verdadeiro caminho, dirige um</p><p>apelo aos três egos naturais do candidato: primeiro, ao seu antigo</p><p>egocentrismo; segundo, à sua antiga moralidade; terceiro, à sua antiga</p><p>idealidade.</p><p>Se a nova radiação da Gnosis no sangue do aluno der provas de ser</p><p>bastante forte, Satanás recuará, isto é, todas as luzes da lípica luciferina</p><p>serão extintas. A forma do antigo eu superior se desvanece. E as antigas</p><p>luzes do homem primordial, há muito extintas, inflamam-se na aurora de</p><p>um novo dia, e, quais anjos, confortam e cuidam do novo microcosmo</p><p>nascente. Por isto está escrito: “Então o diabo o deixou; e eis que</p><p>chegaram os anjos e o serviram”.</p><p>***</p><p>I-18 É necessário que ele cresça</p><p>e eu diminua</p><p>Vimos que há duas existências no microcosmo: um eu inferior na parte</p><p>mortal do microcosmo, a consciência terrestre comum, e uma parte</p><p>imortal, o denominado eu superior, a consciência do ser aural. Ambos os</p><p>aspectos no microcosmo dispõem de sua personalidade, mas são</p><p>interdependentes e estão ligados inseparavelmente um ao outro.</p><p>O eu superior, a personalidade aural, carrega o carma, o resultado das</p><p>manifestações de cada eu inferior. Todos compreenderão que, com o</p><p>tempo, esse eu superior se torna, por isso, fator tão decisivo e orientador</p><p>para todo o sistema que se pode certamente falar de dominação. Ele abarca</p><p>quase todas as vias de acesso ao microcosmo; desse modo, pode controlar</p><p>completamente o eu inferior e transmutar todas as forças e radiações</p><p>entrantes de acordo com seu próprio estado de ser. Assim, segundo sua</p><p>essência, o eu superior é nosso deus natural, no mais verdadeiro sentido da</p><p>palavra. Ele exerce sobre nós poder absoluto.</p><p>A fim de permitir que compreendais algo dessa força, aludimos ao mapa</p><p>astral, por exemplo, a nossos amigos astrólogos. O quadro do instante de</p><p>nascimento, calculado e desenhado por eles, é regido inteiramente pelo eu</p><p>superior. Esse quadro é, de fato, uma projeção direta do eu superior,</p><p>representada em diagrama. Compreendei bem que, exatamente como</p><p>vosso corpo e seu duplo etérico nasceram no corpo de vossa mãe, o resto</p><p>de vossa personalidade — isto é, o ego tríplice, a faculdade mental e o</p><p>corpo de desejos — nasceu do corpo de vosso eu superior.</p><p>Quando uma futura mãe nota, pela primeira vez, sinais de vida da criança</p><p>que leva no ventre, isso significa que um ser aural esvaziado estabeleceu</p><p>ligação com ela, a fim de preencher suas deficiências. Isto é, um ser aural</p><p>cuja personalidade mortal dele se desligou em virtude da morte. Ele</p><p>irradia uma força de hidrogênio no canal do fogo serpentino, que é, por</p><p>sinal, praticamente a primeira coisa a manifestar-se no embrião. Esse raio</p><p>de consciência liga-se com o</p><p>embrião, e, desse momento em diante,</p><p>exatamente como a criança cresce fisicamente no ventre da mãe até a</p><p>maturidade para o nascimento, a fórmula da consciência, a qualidade e a</p><p>vibração dos processos de combustão etéricos serão cuidadosamente</p><p>sintonizados com o ser aural que adotou a criança. Após o nascimento da</p><p>criança, ela vai apartando-se vagarosa e progressivamente do ser aural</p><p>materno e incorporando-se ao sistema do outro ser aural que adotou a nova</p><p>forma humana material.</p><p>Claro está que o ser aural adotivo deve ter afinidade com o ser aural</p><p>materno. Não sendo este o caso, surgem as mal-afamadas anomalias</p><p>temporárias da futura mãe.</p><p>Às vezes o nascituro é completamente inaceitável para um ser aural</p><p>estranho. Por exemplo, a estrutura orgânica talvez seja tão fraca e ruim</p><p>que nenhum ser aural pode usar tal produto para seus propósitos. Em tais</p><p>casos, a criança nasce morta ou imperfeita em um ou outro aspecto, ou se</p><p>prende firmemente ao ser aural materno. No último caso, o recém-nascido</p><p>não apenas é filho, mas simultaneamente, em certo sentido, irmão ou irmã.</p><p>É também possível que essa criança, inaceitável para um ser aural</p><p>estranho, seja aceita pelo ser aural paterno.</p><p>Em tais circunstâncias, forte ligação se estabelece com o pai ou a mãe.</p><p>Seja com mãe e filho, ou pai e filho, a força vital decai consideravelmente</p><p>em virtude de o ser aural ter então de trabalhar para dois. Biologicamente,</p><p>isso às vezes é suportável, mas quando o ser aural tem muita cultura e,</p><p>consequentemente, consome enorme cota de hidrogênio e oxigênio, isto é,</p><p>éter refletor e éter luminoso, o eu inferior naturalmente sofre a</p><p>necessidade cultural correspondente, e então as forças etéricas</p><p>imprescindíveis são de coleta difícil. O campo magnético fica</p><p>sobrecarregado.</p><p>Nos casos em que a maternidade ou a paternidade é ardentemente</p><p>desejada, semelhante duplicação, essa união de dois planetas em um único</p><p>microcosmo, muitas vezes se realiza. Se uma das partes desejar seguir,</p><p>mais tarde, o caminho de libertação, quase sempre é necessário esperar até</p><p>que morra o pai ou a mãe, a morte de um dos dois planetas, antes que a</p><p>liberdade de ação possa ser obtida. Logo que a morte de um dos pais se</p><p>torne um fato, a outra parte transforma-se muito rápido em um tipo bem</p><p>diferente. O semblante e os hábitos modificam-se, e qualquer</p><p>comportamento anormal desaparece.</p><p>A informação acima é dada para que se compreenda claramente que, em</p><p>nossa ligação ímpia com o ser da lípica, não se pode falar de vida</p><p>verdadeira no sentido original da palavra. Tudo o que venha a passar-se</p><p>em nós, à nossa volta e conosco, é apenas um processo biológico. Estamos</p><p>submetidos a um processo natural e somos seu produto fatal.</p><p>Vede, à luz desse esclarecimento, os fenômenos denominados</p><p>“sobrevivência”[83] e “reencarnação”. Podeis afirmar já ter conhecido</p><p>alguma existência anterior? Não o podeis, porque, quando morreis</p><p>segundo o ser natural, todo o sistema da personalidade desaparece com o</p><p>passar do tempo. Somente o princípio de hidrogênio, que vos deu vida,</p><p>regressa ao eu superior. Assim como o ser de um cão se desvanece dentro</p><p>de poucos dias após a morte, assim ocorre comigo e convosco em um</p><p>maior lapso de tempo quando permanecemos nesta natureza.</p><p>Pode-se afirmar que o eu superior tenha conhecido uma existência</p><p>anterior? Não, pois ele tem somente uma existência! Essa existência</p><p>começou na aurora da impiedade e prosseguiu até o momento presente,</p><p>embora com inúmeras reformulações e transformações.</p><p>O eu superior é uma força cega e impetuosa, a personificação de uma</p><p>estrutura de forças que escapou ao controle, procurando o cumprimento de</p><p>sua fórmula básica e esforçando-se por isso, cujo resultado — o planeta no</p><p>microcosmo, a manifestação humana — sempre é, todavia, destruído.</p><p>Portanto, quando a Sagrada Escritura diz “és pó e ao pó retornarás”,[84]</p><p>essa é a expressão da verdade. E quando, por exemplo, a filosofia</p><p>hegeliana destrói a ilusão da tagarelice metafísica, ela está certa e, nesse</p><p>sentido, encontra a doutrina transfigurística a seu lado. Reduzimos a</p><p>pedaços, por isso, toda a vossa ilusão, pois apenas após rasgados seus</p><p>véus, somente após cuidadosa limpeza da casa, pode alguém investigar o</p><p>sentido da verdadeira vida. Se desejais pertencer à raça da futura nova</p><p>humanidade, tereis de renunciar a todas as especulações em todas as</p><p>esferas de vida.</p><p>Admitimos que negais a divindade da esfera material dialética e da esfera</p><p>refletora dialética; entretanto, deveis prosseguir em vossa negação e</p><p>aplicá-la, igualmente, à esfera material em vosso microcosmo, com seu eu</p><p>terreno, e à esfera refletora em vosso microcosmo, com seu eu superior.</p><p>Somente então sereis coerentes, e vosso discernimento interior, vosso</p><p>conhecimento, estará justificado racional e moralmente. Se rejeitais este</p><p>macrocosmo porque ele é o universo da morte, deveis também rejeitar este</p><p>cosmo, porque ele é o campo de vida que surgiu do macrocosmo da morte.</p><p>E, se rejeitais esse cosmo, tereis de avançar em vosso raciocínio e repudiar</p><p>também vossa atual condição microcósmica. Apenas então sereis</p><p>coerentes em vossa filosofia.</p><p>O representante da inteira natureza da morte em nosso sistema é o eu</p><p>superior, a personalidade aural. Ele é “o Satanás” do início; esta palavra</p><p>significa “opositor”, “inimigo”. Todavia, atentai bem que, em virtude de</p><p>nossa natureza terrena comum, o eu superior não é nenhum opositor, pois,</p><p>como acabamos de ver, ele é simultaneamente nosso pai e mãe, nosso</p><p>mantenedor! Segundo a natureza, temos o mesmo sangue que o eu superior</p><p>e dele vivemos. Como alunos da Escola Espiritual ainda desejamos</p><p>ocasionalmente viver desse sangue. Traçamos então horóscopos</p><p>progressivos, examinamos os aspectos e tentamos assim orientar-nos pelas</p><p>sugestões do eu superior. Quando já não podemos compreender a voz</p><p>interior por falta de sensitividade, a ciência astrológica, com seu método,</p><p>vem em nosso auxílio. Ciência magnífica para o eu superior quando</p><p>ensinada ao eu inferior!</p><p>Se somos um pouco sensitivos, a voz do eu superior pode ressoar dentro de</p><p>nós e podemos ver algo dele. Imaginamos então ter visto Jesus, ou a</p><p>Virgem Maria, ou um belo mestre, ou, pensando na linguagem da Escola</p><p>Espiritual, imaginamos que em nós há alguma coisa do novo ser. Não há,</p><p>porventura, muitas religiões e sistemas ocultistas que almejam alcançar a</p><p>unidade com o eu superior? Oh, não! O eu superior ainda não é nosso</p><p>opositor, pois achamos maravilhoso ainda agarrar uma particulazinha de</p><p>ilusão. Não nos atrevemos a ser encontrados nus! A imaginação não é</p><p>nosso sustentáculo? Quem ousa repudiar essa autoilusão?</p><p>Para o homem que o faça, o eu superior converte-se em Satanás, em um</p><p>opositor. Somente quando o eu superior se torna em um adversário, pode-</p><p>se dizer: “Para trás de mim, Satanás!”[85]</p><p>Frequentemente a ilusão é consequência da ignorância. Muitos supõem</p><p>que outra personalidade deve surgir no microcosmo, que outra microterra</p><p>deve nascer no microcéu. Tal suposição é absolutamente falsa! O vidente</p><p>de Patmos enxergou novo céu e nova terra, e o primeiro céu e a primeira</p><p>terra passaram.[86] Compreendeis essas palavras?</p><p>Para falarmos de nova terra, é mister primeiro haver novo céu! Isso</p><p>significa a aniquilação completa do microcosmo no sentido mais profundo</p><p>e completo — e o advento de outro totalmente diferente. Isso significa o</p><p>fim de todo este nosso sistema. Vós quereis transfigurar-vos, vós desejais</p><p>ingressar em novo estado de ser. Impossível! Vós tendes de perecer, deveis</p><p>ser inteiramente dissolvidos. Nada mais deve ser encontrado, tanto de vós</p><p>como de vosso eu superior: a sepultura deve ser esvaziada. Tudo do antigo</p><p>céu e da antiga terra tem de passar, de ser removido. Pela primeira vez,</p><p>nos tempos atuais, essas palavras de aniquilação voltaram a ser</p><p>pronunciadas. Pela primeira vez, a Escola Espiritual explica a palavra de</p><p>aniquilação total dos antigos irmãos maniqueus. A palavra da verdade está</p><p>na extinção de todo o nosso estado natural, na dissolução em nada.</p><p>Um grande servidor de Cristo disse uma vez, no século XIX, que não</p><p>acreditava</p><p>na sobrevivência. Quem o ouviu se espantou de que ele pudesse</p><p>afirmar semelhante coisa. Contudo, vós o compreendeis. Ele acreditava na</p><p>aniquilação do velho céu e da velha terra! Isso ele acreditava, professava,</p><p>manifestava e assim se despediu. Isso, com efeito, era a endura</p><p>verdadeira. Não apenas a extinção do eu segundo o eu inferior, mas</p><p>também a aniquilação do eu superior. Essas coisas são difíceis de</p><p>compreender. A magnitude desse caminho é surpreendente. Permiti-nos</p><p>apresentar os seguintes fatos com toda a sobriedade. É bem provável que</p><p>algum dia já tenhais afirmado a vós mesmos: “Para trás de mim, Satanás!”</p><p>Quem diz isso? Na natureza comum, Satanás diz isso a si mesmo, em sua</p><p>luta* contra o mal e suas consequências. Nessa luta, o adversário, o eu</p><p>superior, encontra resistência em si mesmo, como consequência da relação</p><p>mútua entre o bem e o mal. E sua exclamação prova que ele ainda está</p><p>muito ocupado em manter-se. Provavelmente observareis agora, com certo</p><p>desespero: “Já que nada há em mim e em torno de mim para ser</p><p>transfigurado e, segundo vossas palavras, trata-se apenas de completa</p><p>extinção de toda a minha realidade existencial, não é o maior absurdo tudo</p><p>o que é ensinado sobre o transfigurismo? Não é sonho a doutrina</p><p>concernente ao átomo-centelha-do-espírito? Não deveríamos relegar ao</p><p>reino das fábulas a afirmação da existência de um sol latente no ser</p><p>aural?”</p><p>Seria esplêndido se essas perguntas proviessem de vosso ardente</p><p>desespero. Respondemos a vossa pergunta, fazendo outra: quem é Jesus,</p><p>que terá de nascer em vós? E quem é Cristo, que deverá voltar nas nuvens</p><p>de vosso céu microcósmico? É Jesus uma alteração de vosso ser-eu, e</p><p>Cristo, uma transformação do eu superior? Não, mil vezes não! Jesus</p><p>Cristo é o Outro, totalmente diferente, é o novo microcosmo, a nova terra-</p><p>céu.</p><p>“E que tenho eu com ele?”, voltareis a atacar-nos com vosso fogo</p><p>inquisitivo. E respondemos: já ouvistes falar da lei sagrada, lei que vige</p><p>em todos os reinos: onde a luz um dia surgiu, aí voltará? Outrora existia</p><p>um microcosmo divino, mas grande impiedade tomou seu lugar,</p><p>impiedade organizada durante éons, tornando-se no que é hoje o homem e</p><p>seu eu superior.</p><p>Contudo, esse sistema de impiedade não poderia subtrair-se a algumas das</p><p>características do passado. No ser aural há um sol latente divino, e no ser</p><p>terreno há um princípio atômico divino, situado no coração, qual latente e</p><p>oculto segredo do passado remoto. Quando a totalidade do sistema quiser</p><p>reduzir-se, quiser aniquilar-se completamente, rompendo, dilacerando e</p><p>afastando toda a ilusão, a luz, a luz original, reaparecerá em seu antigo</p><p>lugar.</p><p>Novo céu e nova terra serão criados. O sol latente no ser aural será</p><p>inflamado, e seu espelho, sua lua, o átomo-centelha-do-espírito, dará</p><p>início a sua trajetória. É nesta base que o novo homem surgirá. Se,</p><p>fundamentados nessa nova gênese, puderdes exclamar do imo da alma,</p><p>expressando-o enfaticamente por perfeita vida de ações: “É necessário que</p><p>ele,” o outro, “cresça e eu diminua”;[87] se puderdes dizer isto com alegria</p><p>e júbilo que ultrapassem toda a compreensão, a salvação dos mistérios</p><p>assomará sobre vós, e a luz do Jordão virá a vós.</p><p>Nesse momento, o grande presságio de que fala o Apocalipse, capítulo 12,</p><p>assomará sobre vós:</p><p>E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés</p><p>e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça.[88]</p><p>E então o processo continua, durante mil e duzentos e sessenta dias,</p><p>símbolo da realização do processo, e, ao final, pode ser dito: “E vi um</p><p>novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra</p><p>passaram, e o mar [das velhas forças etéricas] já não existe”.[89]</p><p>Podeis percorrer esse caminho conosco? Possivelmente já não sabereis tão</p><p>bem como um homem se transfigura, pois nenhum de nós, mortais</p><p>terrenos, se transfigura, porém compreendereis melhor que e por que o</p><p>microcosmo ímpio tem de ser liquidado e o demonstrareis com ações.</p><p>Dessa hora em diante, paz imensa descerá sobre vós, a paz do fim! Toda a</p><p>perseguição e toda a busca pertencerão ao passado, e a cada alento</p><p>professareis: “É necessário que ele cresça e eu diminua”. Ele, que é o</p><p>menor, será o maior, pois onde a luz um dia surgiu, aí voltará, logo que a</p><p>impiedade se haja dissolvido.</p><p>***</p><p>Acabamos de chegar ao fim de nossas considerações preliminares sobre o</p><p>advento do novo homem. Exploramos filosoficamente, de todos os</p><p>ângulos, a “nova raça” mencionada na Sagrada Escritura. Agora, devemos</p><p>passar a refletir sobre os processos de gênese em si e as possibilidades e</p><p>qualidades desse tipo humano exclusivo, que já se faz valer aqui e ali e</p><p>breve aparecerá em quantidade avassaladora.</p><p>O grupo dos que compartilham esse novo processo de gênese e já deram os</p><p>primeiros passos nesse caminho rumo à casa paterna denominamos o</p><p>Círculo Apostólico e a Fraternidade Apostólica. Por Fraternidade</p><p>Apostólica entendemos a reunião de todos os renovados que se libertam</p><p>em todo o globo terrestre, e por Círculo Apostólico, os que, entre eles, já</p><p>despertaram no campo de força da Escola Espiritual da Rosacruz Áurea.</p><p>O Círculo Apostólico veio à luz em uma sexta-feira, 15 de junho de 1951.</p><p>Ele inaugurou desse modo o Terceiro Templo, mediante o qual o grande</p><p>campo de trabalho da Escola Espiritual atingiu seu alvo pré-estabelecido</p><p>após 36 anos de trabalho. O trabalho começou a 17 de dezembro de 1915, e</p><p>na sexta-feira, 15 de junho de 1951, a incumbência estava realizada.</p><p>Com o Primeiro Templo indicamos a Escola da Rosacruz Áurea, que é</p><p>mister encarar como o grande Átrio em que todos os buscadores são</p><p>recebidos e têm a oportunidade de examinar o objetivo e a atividade da</p><p>Escola e experimentar sua força atuante. Com o Segundo Templo</p><p>indicamos a Escola de Consciência Superior, em que são admitidos alunos</p><p>que já se preparam para o advento do novo estado de vida. O Terceiro</p><p>Templo é o local de trabalho do Círculo Apostólico, onde adentram os que</p><p>já compartilham esse novo estado de vida.</p><p>Assim, nossas considerações a respeito do advento do novo homem obtêm</p><p>significado altamente atual, pois o resultado das atividades dos três</p><p>templos, a realização do novo homem, se demonstrará aqui. Deve ficar</p><p>claro para o leitor que o caminho foi aberto para um trabalho que, em</p><p>futuro próximo, será gravado com letras indeléveis na história da</p><p>humanidade. Um dia, a Fraternidade dos três templos já não será</p><p>encontrada no campo dialético. Terá sido arrebatada às nuvens do céu,</p><p>caminhando ao encontro do Senhor!</p><p>***</p><p>[83] No sentido de existência após a morte (N.T.).</p><p>[84] Cf. Gn 3:19.</p><p>[85] Cf. Mt 16:23.</p><p>[86] Cf. Ap 21:1.</p><p>[87] Cf. Jo 3:30.</p><p>[88] Cf. Ap 12:1.</p><p>[89] Cf. Ap 21:1.</p><p>Parte II · A senda sétupla da</p><p>nova gênese humana</p><p>II-1 Fé, virtude, conhecimento</p><p>Quem quer trilhar a senda de renovação tem de estar bem informado sobre</p><p>suas condições prévias a fim de poder, se as cumprir, alcançar sua meta.</p><p>Há sete condições para a senda. Vós as achais esboçadas na Sagrada</p><p>Escritura no início da Segunda Epístola de Pedro, onde lemos:</p><p>Ponde nisso toda a diligência</p><p>e acrescentai à vossa fé a virtude;</p><p>à virtude o conhecimento;</p><p>ao conhecimento o autodomínio;</p><p>ao autodomínio a perseverança;</p><p>à perseverança a piedade;</p><p>à piedade o amor fraternal;</p><p>ao amor fraternal o amor.</p><p>Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas;</p><p>não vos deixarão ociosos nem estéreis</p><p>no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.</p><p>Muitos, no curso dos séculos, leram estas palavras e estudaram essa tarefa</p><p>sem chegar a um resultado positivo sequer. Eles começaram a perguntar o</p><p>que é “virtude”, discutiram isso uns com os outros, consultaram literatura</p><p>e estudaram diversas normas místicas de vida. Após essa preparação</p><p>puderam compor algumas regras de vida, em parte de natureza puramente</p><p>biológica, em parte de caráter ético, moral. Dispuseram mandamentos e</p><p>determinaram o que era e o que não era permitido fazer. Esboçaram</p><p>teoricamente o padrão “homem virtuoso”, e cada qual tentou, por si</p><p>mesmo, realizar na prática esse quadro teórico.</p><p>Em seguida se viram ante a tarefa</p><p>de, com base na virtude adquirida,</p><p>chegar ao conhecimento. Pensavam que reunir conhecimento fosse</p><p>compreensão intelectual, treinamento da capacidade cerebral, e que se</p><p>podia fazer isso melhor e mais rápido se se fosse virtuoso e aplicado.</p><p>Vivendo o mais simplesmente possível, praticando a virtude em solidão,</p><p>dedicavam-se ao estudo, a uma compreensão intelectual a mais abrangente</p><p>possível. Alcançava-se muito, muitíssimo. Sabia-se tudo o que há para</p><p>saber e abranger neste mundo. Tornava-se muito erudito.</p><p>Compreendereis que assim, exercendo a virtude e reunindo conhecimento,</p><p>tinha-se extremo autodomínio. Ressoava algures um riso alegre, que com</p><p>sua vibração estimulante pode atuar de modo tão contagiante em outros, a</p><p>face do candidato permanecia impassível, qual máscara. Ele permanecia,</p><p>muito senhor de si, concentrado em sua tarefa concernente à virtude, ao</p><p>conhecimento e ao autodomínio.</p><p>Um raio de sol adentrava a cela de estudo, o gorjeio de um pássaro entrava</p><p>pela janela. Quem, de tempos a tempos, não dirigiria o olhar para a</p><p>amplidão dos campos? Certamente não o candidato. Ele não queria ser</p><p>distraído. Com férrea perseverança, com persistência quase</p><p>incompreensível, continuava o processo que havia iniciado. A face</p><p>empalidecia, e as feições afilavam-se. Nenhuma diferença era feita entre o</p><p>dia e a noite. Pausas para o descanso e o cuidado corporal eram</p><p>negligenciadas.</p><p>Será que a piedade viria agora? Não, o candidato tinha de ser piedoso! A</p><p>todas as tensões ainda era acrescentado algo: a piedade tinha de ser</p><p>exercitada. O que era, o que abrangia a piedade? Consultava-se</p><p>reciprocamente, refletia-se em conjunto e estabelecia-se um programa,</p><p>uma ordem do dia. Com base na virtude, no conhecimento, no</p><p>autodomínio e na perseverança, tinha-se de proferir orações, murmurar</p><p>ladainhas e fazer reflexões piedosas.</p><p>Além disso, as orações não deveriam ter fim. Desse modo, originaram-se</p><p>os cultos ininterruptos nas capelas dos mosteiros, onde se ajoelhava por</p><p>horas a fio em lápides ou se exercitava a piedade no frio das noites de</p><p>inverno.</p><p>Assim, cada candidato a monge tornava-se um iogue cristão, pois não</p><p>havia nenhuma diferença prática entre todas as penitências desse gênero</p><p>de adeptos e as daqueles sob o sol tórrido da Índia. Momentos de exaustão</p><p>não podiam deixar de sobrevir. Momentos em que, sob pressão tão</p><p>violenta, os pensamentos divagavam, quase não podiam ser evitados. Isso</p><p>dava origem a grande dissabor e a autoflagelação. Flagelava-se a si</p><p>próprio com vergastas, renunciava-se ao menor conforto que ainda restara</p><p>e passava-se a jejuar, pois a qualidade alcançada tinha de ser mantida. Não</p><p>se devia desanimar, sobretudo porque ainda havia uma tarefa a ser</p><p>cumprida. O candidato também tinha de exercitar na prática o amor</p><p>fraternal. O que isso poderia ser senão o manifestar-se em uma ou outra</p><p>forma de atividade humana? Preparar refeições e distribuí-las, arranjar</p><p>vestimentas e assistir doentes, ser amigável com todos e, com um sorriso</p><p>muito elevado e pleno de amabilidade, trilhar os caminhos do Senhor.</p><p>Também para isso ainda era arrumado tempo. Como isso era possível,</p><p>ninguém compreendia, mas era arrumado. Certo é apenas que o candidato</p><p>que trilhava esse caminho estava mais morto do que vivo, vivia quase que</p><p>fora do corpo e em um estado sanguíneo totalmente mediúnico.</p><p>E agora viria a glória das glórias: mediante o amor fraternal, o amor!</p><p>Aqui, porém, os candidatos perdiam o contato com o chão. Eles</p><p>compreendiam que não se tratava aqui de amor humano e achavam que</p><p>devia ser uma questão de renúncia mística, de amor a Cristo; a Jesus, no</p><p>caso de uma candidata, e de amor a Maria, no caso de um monge, porém,</p><p>um amor a ambos também acontecia.</p><p>Ouvi-os falar sobre seu doce Jesus e sobre a brilhante majestade da virgem</p><p>celestial! E um dia, em uma noite, acontecia: os protótipos de sua</p><p>adoração apareciam na forma de fantasmas, os quais deslizavam através</p><p>das janelas das igrejas. Figuras desprendiam-se dos vitrais coloridos e</p><p>deles se aproximavam, faziam gestos de bênção e pronunciavam palavras</p><p>inefáveis.</p><p>Possivelmente já lestes como esses piedosos lutavam até o fim por trilhar</p><p>o caminho que lhes fora indicado pelo Pai da Igreja, Pedro. Milhões</p><p>supõem que esse peregrino podia então ingressar no reino do Senhor.</p><p>Quanta ilusão! A verdade, a realidade, é que esses iogues cristãos haviam</p><p>forjado, mediante seu método, uma ligação tão grande com a esfera</p><p>refletora que quase se poderia falar de ligação eterna. Seu resultado era o</p><p>da mediunidade místico-ocultista: a ilusão de uma bem-aventurança</p><p>dialética.</p><p>Esse método ímpio que descrevemos pode ainda também ser exercitado de</p><p>outras maneiras. Pode-se com isso aspirar, com pequenas diferenças, ao</p><p>mesmo objetivo, e isso também se fez. No entanto, tudo isso conduz</p><p>irrevogavelmente ao mesmo resultado: um agarramento mais intenso à</p><p>roda. Diversas escolas místicas fizeram toda a sorte de experiência nesse</p><p>âmbito, e nós julgamos como certo que também na Escola Espiritual da</p><p>Rosacruz moderna há alunos que trilham esse caminho ímpio porque não</p><p>querem ouvir suficientemente as indicações, os conselhos e as exortações</p><p>que lhes são transmitidos. Também há entre nós os que se aferram a</p><p>determinada ética, abrangem intelectualmente, com avidez, a filosofia e</p><p>demonstram completo autodomínio e perseverança. Eles são, no sentido</p><p>mencionado, piedosos e praticam diletantemente, de diversas formas, o</p><p>amor fraternal e a elevação. Todavia, isso de nada lhes adiantará. Sua</p><p>liberdade em breve será uma ilusão; sua ligação, uma carga de chumbo, e</p><p>sua piedade, uma ascensão ao país das sombras. E isso tudo porque não se</p><p>deram ao menor esforço real para forjar a chave da senda sétupla.</p><p>Essa chave assenta-se na fé. “Ponde nisso toda a diligência e acrescentai à</p><p>vossa fé a virtude.”</p><p>Tendes de possuir fé. Em nossos tempos modernos isso é um conceito</p><p>gasto e morto. Com isso se entende, entre outras coisas, a aceitação ou o</p><p>reconhecimento de determinada doutrina. Quando essa aceitação se refere</p><p>aos difíceis dogmas calvinistas, é-se um fiel ortodoxo e, quando é o caso</p><p>contrário, tolerante e muito liberal. Desse modo, em tonalidades diversas,</p><p>é-se fiel ou, eventualmente, infiel.</p><p>Todavia, a Sagrada Escritura de todos os séculos enfatiza que fé não é o</p><p>reconhecimento ou a aceitação de uma doutrina ou de uma igreja, de uma</p><p>escola ou de um deus, senão se refere a uma posse de que se tem de</p><p>realmente estar consciente. Essa posse tem de ser experimentada no</p><p>santuário do coração, ela “tem de fazer morada” no coração, ou com outras</p><p>palavras, o átomo primordial, o átomo-centelha-do-espírito, tem de ser</p><p>vivificado. Não se pode de nenhum modo falar de fé antes que esse átomo</p><p>esteja desperto. Tudo então é apenas falatório dialético, imitação, religião</p><p>natural. Por conta disso devemos notar que essas sete condições prévias,</p><p>de que Pedro fala, adquirem, com base na verdadeira fé, tonalidade muito</p><p>diferente e, ao mesmo tempo, sentido altamente científico.</p><p>Se o átomo primordial é impelido à comoção e o candidato, em</p><p>autorrendição, a ele se confia, isto significa vivificação do sangue. Então</p><p>ingressa, em todo o nosso ser, algo que brilha em todas as células de nossa</p><p>existência, e espontaneamente existirá um impulso interior do sangue para</p><p>a virtude. Isto não significa estudar normas morais de vida e segui-las à</p><p>risca. Aí já não se perguntará: “O que me é permitido, o que posso e o que</p><p>tenho de fazer?”, porém nossa consciência sanguínea dirige-se</p><p>espontaneamente ao caminho, que é iluminado como por um sol, a luz do</p><p>átomo primordial. Virtude é aqui uma auto-orientação segundo a luz, um</p><p>seguir do imo as diretrizes da luz. Se um aluno ainda não pode liberar essa</p><p>luz, ele ainda não serve para a senda. Então surgem mal-entendidos e erros</p><p>grosseiros, e ninguém pode evitá-los.</p><p>Quem todavia experimenta no sangue a salvação do átomo primordial, e</p><p>desse modo se dirige à senda, também chega ao conhecimento. Bem</p><p>provavelmente compreendereis o que se quer dizer com isso.</p><p>Nossos centros cerebrais possuem a faculdade de abranger</p><p>racional e</p><p>moralmente aquilo a que os órgãos dos sentidos se dirigem e fixar no</p><p>cérebro uma impressão disso. Se a consciência do homem é totalmente</p><p>desta natureza dialética e nela está focalizada por completo, e os órgãos</p><p>dos sentidos estão em harmonia com isso, ser-lhe-á impossível reunir no</p><p>cérebro conhecimentos diferentes dos que concernem à esfera material e à</p><p>esfera refletora. Quando ledes um livro da Rosa-Cruz, assistis a um</p><p>serviço, ou ainda, suponhamos, quando houverdes memorizado toda a</p><p>doutrina da Escola Espiritual de A a Z, não penseis que possuís o</p><p>conhecimento da Gnosis enquanto o átomo primordial não vibrar no</p><p>coração, portanto, enquanto não fordes inflamados pelo Espírito de Deus e</p><p>obtiverdes “fé”.</p><p>Que utilidade tem então nossa literatura? Nossa literatura objetiva orientar</p><p>vossa busca, ajudar-vos a obter fé, conduzir-vos a ações autolibertadoras,</p><p>mediante as quais o átomo primordial pode ser inflamado. Sem essas</p><p>ações, todo o vosso conhecimento de nossa filosofia será conhecimento</p><p>superficial, e todo o vosso esforço com base nele será ocultismo místico, e</p><p>o resultado é aferro à roda.</p><p>Assim, a bênção transforma-se em maldição. Quando houverdes</p><p>descoberto o lado negativo de vosso esforço, é evidente que imputareis</p><p>vosso fracasso à filosofia e à Escola Espiritual, e não a vós mesmos.</p><p>Aborrecidos, retirareis a literatura em questão de vossa estante e a</p><p>vendereis a um sebo ou, irritados e cheios de sarcasmo e cólera, devolver-</p><p>nos-eis vossos livros, acompanhados de uma cartinha mordaz, o que</p><p>também já aconteceu. Uma terceira possibilidade é surgir em vós uma</p><p>inclinação a adulterar o conteúdo da literatura e adequá-la a vosso próprio</p><p>uso.</p><p>Provavelmente há em vossa estante diversas obras das escrituras sagradas</p><p>de todas as épocas. Podeis estar certos de que todas essas publicações</p><p>foram adulteradas, uma vez que, no passado, alguns senhores, que se</p><p>julgavam autoridade em Metafísica, achavam ter de fazer modificações</p><p>nelas, já que o conteúdo não correspondia com suas próprias experiências.</p><p>Se colocardes no chão uma folha de papel limpa, descobrireis que vosso</p><p>gato ou vosso cão se sentará sobre ela com as patas sujas de terra do</p><p>jardim.</p><p>A natureza sempre senta-se sobre a pureza e a imaculabilidade. Da pureza</p><p>sempre irradia algo que atrai a natureza, porém, quando esta toca aquela,</p><p>conspurca-a. E isto sempre acontece com a brutalidade e com a ignorância</p><p>da insciência. Não podemos, portanto, zangar-nos, isto somente causa dor.</p><p>Já averiguastes que abuso monstruoso e terrível se faz neste mundo de</p><p>nossa já irremediavelmente mutilada Bíblia?</p><p>Quando o átomo-centelha-do-espírito no coração inicia seu santo trabalho</p><p>mediante vossa autorrendição, e vos dirigis a essa luz, somente então se</p><p>poderá falar de conhecimento em vós no sentido da Sagrada Escritura.</p><p>Sabeis que o átomo-centelha-do-espírito libera um novo hormônio e</p><p>influencia assim vosso sangue. Em consequência disto, novo archote é</p><p>inflamado no santuário da cabeça, o archote da pineal. A luz deste archote</p><p>liga o candidato à Gnosis Universal, ao Tao,* ao conhecimento que é como</p><p>uma plenitude viva, como uma realidade viva, vibrante.</p><p>É o conhecimento que é simultaneamente Gnosis, Espírito, Deus, Luz.</p><p>Conhecimento que tudo abrange e é onipresente, e de que foi dito:[90]</p><p>Senhor, tu me sondas e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de</p><p>longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, e</p><p>conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis</p><p>que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua</p><p>mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não posso atingi-lo.</p><p>***</p><p>[90] Cf. Sl 139.</p><p>II-2 Autodomínio – I</p><p>Ponde nisso toda a diligência</p><p>e acrescentai à vossa fé a virtude;</p><p>à virtude o conhecimento;</p><p>ao conhecimento o autodomínio;</p><p>ao autodomínio a perseverança;</p><p>à perseverança a piedade;</p><p>à piedade o amor fraternal;</p><p>ao amor fraternal o amor.</p><p>Essas são as condições para a senda sétupla. Quem quiser subir esses sete</p><p>degraus precisa primeiro possuir a chave para isso. Essa chave consiste na</p><p>fé, e descobrimos que a fé, no sentido da Sagrada Escritura, não é a</p><p>aceitação ou o reconhecimento de uma doutrina ou de uma igreja, de uma</p><p>escola ou de um deus, senão a posse e a experiência conscientes do átomo</p><p>primordial no santuário do coração. Quando o átomo primordial é</p><p>compelido à atividade, e o candidato a ele se confia em autorrendição, isto</p><p>significa, como dissemos, uma nova vivificação do sangue. Essa</p><p>vivificação do sangue constitui o primeiro degrau da senda sétupla e é</p><p>denominada, na Epístola de Pedro, virtude.</p><p>Virtude aqui significa seguir espontaneamente as diretrizes da Gnosis com</p><p>base na nova posse sanguínea. Quem não possui essa base sanguínea, ainda</p><p>não está apto para a senda e, com isso, dá a prova de que, em caso</p><p>favorável, ainda está ocupado em forjar a chave da senda, a fé.</p><p>Quem possui a virtude obtém o conhecimento, pois o archote da pineal no</p><p>santuário da cabeça é então inflamado, e em consequência disso o</p><p>candidato entra em ligação direta com a luz universal da Gnosis, com o</p><p>grande Livro da Vida, como o denominavam os rosa-cruzes* clássicos. O</p><p>segundo degrau é galgado, e agora começa a evidenciar-se também o</p><p>autodomínio, a aptidão para o terceiro degrau.</p><p>É necessário iniciar-vos, com certa abrangência, na essência desse terceiro</p><p>degrau, uma vez que diversos mal-entendidos concernentes ao conceito</p><p>“autodomínio” têm de ser tirados do caminho. O homem dialético, seja ele</p><p>primitivo ou culto, conhece diferentes formas de autodomínio. Esse</p><p>autodomínio é certa tática de vida, a atitude segundo formas de cultura já</p><p>adotadas, o “não perder as estribeiras”.</p><p>Com base nessa atitude de vida, calar-se-á, embora o sangue incite a falar.</p><p>Dominar-se-á a cólera e mostrar-se-á serenidade mesmo quando</p><p>interiormente reina uma tempestade. Impor-se-á uma atitude que está em</p><p>completa contradição com os pensamentos e simular-se-á amabilidade,</p><p>atenção, correção, solicitude e amor humano em casos onde um golpe</p><p>mortal estaria muito mais em concordância com a índole.</p><p>Quantas vezes não se mostra enorme interesse, somente porque se sente</p><p>obrigado a isso por motivos profissionais ou por determinada situação.</p><p>Essa atitude de vida é tão inverídica, tão falsa, tão incorreta, que</p><p>unicamente por ela diversas formas de mal neste mundo são conservadas e</p><p>estimuladas. Nessa atitude de vida se é instruído e educado, ela é um fator</p><p>infrangível em todos os métodos de vida. Ela também está presente no</p><p>Átrio da Rosa-Cruz, quase ninguém está livre dela.</p><p>Esse autodomínio é autoproteção, porque, se nós mostrássemos o próprio</p><p>eu com sua verdadeira qualidade, sem entraves, o que aconteceria conosco</p><p>e com outrem! Irromperia um caos, um banho de sangue, um horror</p><p>infernal, além da mais ousada fantasia, um estado que somente se pode</p><p>observar nas regiões fronteiriças do Além. Não temos autodomínio,</p><p>portanto, apenas para exaltar uma ilusão de cultura, também o temos por</p><p>medo, o medo do instinto natural de terceiros. É claro que se pode forçar a</p><p>humanidade inteira a um férreo autodomínio, a erigir e a manter certa</p><p>norma de cultura. Nem por isso ela deixa de ser uma cultura que se baseia</p><p>em mentira, ilusão e medo, motivo por que a humanidade vive sobre um</p><p>vulcão.</p><p>Sabemos que esse vulcão entra em erupção periodicamente, porque as</p><p>correntes do autodomínio sempre mostram pontos extremamente fracos. O</p><p>autodomínio é solapado pelo impulso do eu e pela automanutenção.</p><p>Interesses humanos entram em conflito uns com os outros de modos</p><p>múltiplos. Por trás da máscara do autodomínio, e portanto com extrema</p><p>amabilidade e cultura macia como o veludo, murmúrios religiosos e uso</p><p>múltiplo de nomes santos, considerar-se-á então o melhor método servir</p><p>aos próprios interesses e realizá-los. Isso significa que o autodomínio do</p><p>homem, por trás da máscara, ataca o autodomínio de outro homem.</p><p>Inopinadamente, o desenfreado instinto natural irrompe, qual erupção de</p><p>lava ardente, com todos os seus</p><p>horríveis aspectos, ou, formulado de outro</p><p>modo, os poderes e as forças do instinto natural reprimido, acumulados</p><p>nas regiões fronteiriças do inferno, precipitam-se contra o mundo e a</p><p>humanidade.</p><p>De tempos a tempos essas erupções acontecem. Pode-se comprovar isso</p><p>com certeza absoluta. É uma lei de nossa natureza da morte que o</p><p>autodomínio dialético faça os instintos naturais reprimidos crescer como</p><p>que de minuto a minuto nas regiões fronteiriças. Tal como o calor do fogo</p><p>aumenta a pressão numa caldeira, assim cresce no inferno a carga avernal.</p><p>Mesmo uma criança pode prever qual a consequência disso. Por isso, a</p><p>Sagrada Escritura afirma, de maneira científica inatacável, que a</p><p>humanidade ouvirá falar de guerras e rumores de guerra, que as dores da</p><p>humanidade virão e irão qual giro de roda.</p><p>Nossa cultura, nosso autodomínio, nossa amabilidade e nossa atitude</p><p>humana causam o aumento das tensões do inferno. Esta é a abominável</p><p>verdade perante a qual a humanidade é colocada. Este é o profundo abismo</p><p>sem fundo perante o qual estamos.</p><p>É isso a conclusão de um lunático? Ou se pode falar aqui de uma</p><p>afirmação comprovável? Vós mesmos tendes de julgá-lo!</p><p>O que chamamos neste mundo cultura, autodomínio, amabilidade,</p><p>comportamento humano, atitude religiosa de vida, está em total</p><p>contradição com nossa disposição natural e com nosso instinto essencial.</p><p>Segundo a natureza, todo o homem é um animal e se comportará</p><p>desenfreadamente, portanto em estado natural puro, como um animal. Ele</p><p>não se compraz nisso, pois sofre dor imensurável, proveniente não de seu</p><p>comportamento, porém do âmago da alma.</p><p>Quando reprimimos nossa disposição natural, nossos impulsos naturais,</p><p>nossas razões fundamentais de ser, com alguma cultura que se encontra</p><p>em oposição a eles, criamos em torno de nós e sob os pés um campo de</p><p>tensão, um vulcão. Uma vez que esse campo de tensão tem seus limites,</p><p>pode-se averiguar que uma explosão ocorrerá tão logo o equilíbrio entre a</p><p>tensão e a segurança do campo de tensão seja perturbado.</p><p>Esse campo de tensão e suas explosões não são de natureza puramente</p><p>pessoal. Todos os instintos naturais que reprimimos mediante nossa</p><p>cultura, nossa ilusão e nossas mentiras de vida, criam um campo de tensão</p><p>coletivo, que se estende em torno do mundo, nos mantém aprisionados de</p><p>todos os lados, aumenta sempre mais em ameaça e de tempos a tempos</p><p>rebentará. Assim a humanidade criou, mediante sua ilusão, seu medo de</p><p>vida, os estratos mais inferiores da esfera refletora. Estes são as regiões</p><p>fronteiriças, as regiões de impulsos naturais reprimidos. No início de um</p><p>dia de manifestação essas regiões estão vazias de forças humanas</p><p>reprimidas. Elas formam então apenas um campo de tensão para os éteres</p><p>naturais. Contudo, logo que o homem comece a viver fora de sua</p><p>realidade, ele reprimirá em si forças que se acumulam nas chamadas</p><p>regiões fronteiriças. Ele as povoa com fantasmas e demônios. Como ele</p><p>mesmo os criou, eles se lhe declaram, eles são produtos dele. Quando a</p><p>morte sobrevém, e as correntes do autodomínio são partidas, esse homem</p><p>cai vitimado desses demônios, começa a viver com os restos de sua</p><p>personalidade no meio desses fantasmas e torna-se um espírito ligado à</p><p>terra.</p><p>O Além é a região fronteiriça para todos os homens primitivos. Sua</p><p>religião é a oferenda aos demônios e o medo dos demônios, os quais foram</p><p>criados pela humanidade inteira. Já há muito tempo, muitos homens</p><p>compreenderam esse horror e procuraram escapar a seu cerco.</p><p>Eles fizeram isso como descreveremos a seguir. Eles sabiam que instintos</p><p>naturais reprimidos vivificam demônios. Evocavam por isso, com base no</p><p>medo e na necessidade anímica da humanidade, desejos elevados,</p><p>pensamentos elevados. Teceram, visto dialeticamente, a rede de uma</p><p>ordem celeste, de um devakan. Produziram muitas doutrinas sobre</p><p>elevação, beleza e graça. Estabeleceram normas sobre o amor humano e</p><p>sobre grandes sacrifícios e ligaram todas essas sugestões ao sangue da</p><p>humanidade mediante a utilização de métodos eugenéticos.</p><p>Desse modo vivificaram outra esfera refletora, as assim chamadas regiões</p><p>superiores da esfera refletora, e povoaram-nas com os deuses reflexos de</p><p>sua imaginação.</p><p>Campos de éteres e campos de forças, outrora de pureza natural, tornaram-</p><p>se então em campos de vida. Após a morte, as pessoas que desse modo</p><p>estavam preparadas até o sangue transpunham primeiro as regiões</p><p>fronteiriças. Todavia, se seu sangue tivesse maior polaridade com outra</p><p>espiral de fantasmas, para lá mudavam finalmente com o resto da</p><p>personalidade, já que semelhante atrai semelhante.</p><p>Assim, a esfera refletora transformou-se no complicado campo de</p><p>fantasmas e mortos, de sombras e fantasias, o campo de intensa ilusão e</p><p>enormes paixões.</p><p>Com tudo isso o homem dialético permaneceu, porém, por éons a fio, o</p><p>condenado, o atormentado. Tal como as regiões fronteiriças mostram a</p><p>fúria dos instintos naturais, o resto da esfera refletora é o campo de tensão</p><p>da ilusão, o qual causa os incontáveis desenganos e as amargas quedas na</p><p>realidade mediante sua descarga periódica. Isso tudo aumenta o</p><p>sofrimento da humanidade. Não se vai para o inferno, está-se nele, e</p><p>continua-se a ser arrastado no frenesi do giro da roda.</p><p>Pode ser que ao aluno da Escola Espiritual, de quem irradia uma vida</p><p>aspirante ao que é elevado, essa conclusão se afigure uma injustiça.</p><p>Poderia mesmo ser que ao examinardes vossa atitude de vida, vossos</p><p>interesses e mais profundos desejos, já nada encontrásseis de instinto</p><p>natural, de bestialidade reprimida, de automanutenção grosseira ou de algo</p><p>congênere.</p><p>Todavia, após averiguação inteiramente impessoal, tereis de chegar à</p><p>conclusão inegável de que — enquanto ainda se é desta natureza, e a</p><p>natureza divina ainda não vos libertou — existe uma ação recíproca entre</p><p>nós e nosso campo natural, e atuamos de uma ou outra forma para a</p><p>conservação deste campo natural. Tanta coisa do passado habita nosso</p><p>microcosmo, e naquilo que se chama subconsciente está oculto tanto desta</p><p>natureza que nós não podemos deixar de reconhecer: enquanto ainda sou</p><p>desta natureza e nela estou, sou cúmplice e coadjuvante em sua</p><p>conservação.</p><p>Pensai nesse contexto nas palavras que Jesus, o Senhor, dirigiu uma vez a</p><p>seus alunos mais íntimos, concernentes ao julgamento deles da pecadora</p><p>arrependida: “Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe</p><p>atirar uma pedra”.[91] Muitos alunos distanciam-se da vida grosseira e</p><p>inferior, e grande número deles alcançou a fronteira do que é atingível na</p><p>dialética, enquanto outros estão caminhando rápido para isso. Não</p><p>obstante, eles ainda são moradores da fronteira, efésios, e ainda se</p><p>encontram, segundo o mais profundo ser, no interior desta natureza, até</p><p>que chegue o momento em que possam transpô-la. Compreendei agora,</p><p>portanto, vossa imensa responsabilidade com todos os vossos</p><p>semelhantes! Não vos defrontais pessoalmente com esses problemas nem</p><p>tendes de perguntar-vos: “Como os resolvo por mim mesmo?”, porém</p><p>tudo o que reprimis mediante educação, cultura ou outra maneira, a</p><p>totalidade dos impulsos naturais repelidos, junta-se ao mal demoníaco das</p><p>regiões fronteiriças e ameaça, por conseguinte, vosso próximo, do mesmo</p><p>modo que os fantasmas de vossos semelhantes fazem conosco. Temos por</p><p>isso de estar profundamente compenetrados de nossa culpa recíproca.</p><p>Os seres humanos constrangem-se reciprocamente com força diabólica</p><p>enquanto falam uns aos outros de altruísmo e cultura. Nossa atitude de</p><p>vida é talvez pura e, segundo nossa concepção, muitíssimo elevada, porém</p><p>vos dizemos: ela é, enquanto estivermos nesta natureza, tão terrivelmente</p><p>venenosa que não se pode imaginá-lo. É então exagero quando a Sagrada</p><p>Escritura diz que somos mau cheiro para as narinas de Deus? Pode-se</p><p>denominar falsa a declaração do Evangelho: “por fora […] formosos, mas</p><p>por dentro cheios de ossos e de toda a imundície”?[92]</p><p>Não é totalmente correto quando a Doutrina Universal indica o homem</p><p>dialético como a mais perigosa das criaturas? Por isso o autodomínio, tal</p><p>como o mundo o concebe, é semelhante</p><p>à tentativa de tapar com um dedo</p><p>um buraco em um dique em meio à violência de um furacão.</p><p>Vedes agora expostas diante de vós as causas do sofrimento? Percebeis</p><p>agora que não resolveis os problemas da humanidade com sorrisos, com</p><p>apertos de mão e com amabilidades, enquanto simulais ser aluno da Escola</p><p>Espiritual? Descobris que se tem de trabalhar a fim de salvar os homens</p><p>deste mar da vida, que se tornou outra vez tão sujo, tão corrompido e tão</p><p>horrivelmente perigoso que cada inspiração se assemelha a uma morte?</p><p>Precisam-se aqui homens e mulheres que queiram trilhar a senda* da</p><p>sangha a senda de santificação, a senda única de cura — não por causa de</p><p>exaltações místicas, senão por causa do sofrimento de seus semelhantes!</p><p>Há apenas um meio de amenizar o sofrimento da humanidade, a saber, que</p><p>trilheis essa senda de cura. Ela modifica vossa natureza, tornando-a</p><p>novamente natural, de modo que possais viver e ser, sem nenhuma</p><p>violência interior, segundo vossa natureza e essência. Ela livra-vos de</p><p>imediato, de maneira totalmente natural, de todos os demônios, todos os</p><p>fantasmas e todas as sombras da esfera refletora.</p><p>Já não sereis então veneno mortal para vossos semelhantes e, com isso,</p><p>suprimireis algo de seu sofrimento. Contribuireis assim para o</p><p>esvaziamento e para a limpeza de todos os estados da esfera refletora.</p><p>***</p><p>[91] Cf. Jo 8:7.</p><p>[92] Cf. Mt 23:27.</p><p>II-3 Autodomínio – II</p><p>Vimos em nossas considerações precedentes que o autodomínio, tal qual o</p><p>mundo o pratica e utiliza, de modo algum pode ser uma fase libertadora na</p><p>senda sétupla. Ele contribui para a repressão dos instintos naturais do</p><p>próprio ser, em consequência do qual desenvolvemos um campo de tensão</p><p>individual ou coletivo, que de tempos a tempos tem de descarregar-se.</p><p>Assim criamos continuamente para nós próprios e para outrem as causas</p><p>do sofrimento e evocamos a situação que Johann Valentin Andreæ nos</p><p>descreve tão magistralmente no livro As núpcias químicas de Christian</p><p>Rosenkreuz. A multidão na torre, que quer escapar ao sofrimento, chuta,</p><p>golpeia, se estorva e aperta que se pode considerar um milagre quando</p><p>alguém logra êxito em seus esforços.</p><p>Há apenas um meio de escapar ao sofrimento da humanidade e, com isso,</p><p>amenizá-lo, a saber, trilhar a senda da sangha, a senda da santificação, a</p><p>senda do remédio universal. Já descrevemos algumas fases dessa senda.</p><p>Primeiro temos de possuir a chave da senda, chave que é denominada fé na</p><p>Sagrada Escritura. A fé abrange a posse, a experiência, do átomo</p><p>primordial no santuário do coração e a reação positiva a ele. Quem dispõe</p><p>dessa chave galga o primeiro degrau da senda e obtém a virtude, isto é, ele</p><p>constrói para si uma base sanguínea nova, outra estrutura sanguínea. O</p><p>aluno então torna-se apto para a senda, isto é, ele recebe, do imo, a aptidão</p><p>para ela.</p><p>Sobre essa base sanguínea, o aluno galga o segundo degrau, ele obtém</p><p>conhecimento. A vibração do átomo primordial e as funções hormonais</p><p>modificadas daí resultantes realizam um processo maravilhoso no</p><p>santuário da cabeça. O archote da pineal é inflamado, em consequência do</p><p>que o aluno entra em ligação de primeira mão com a luz universal da</p><p>Gnosis. Temos de compreender bem o que tudo isso significa.</p><p>Como sabeis, há quatro estados etéricos diferentes, e cada um destes éteres</p><p>se distingue em três vibrações, em três aspectos. Isso quer dizer que</p><p>recebemos quatro vezes três ou doze influências etéricas diferentes. Além</p><p>disso todas as influências etéricas nunca sobrevêm ao mundo e à</p><p>humanidade individualmente, senão sempre em grupo.</p><p>Há um grupo de quatro éteres que atuam exclusivamente com e mediante o</p><p>santuário da cabeça, e que indicamos como éteres mentais.</p><p>Em segundo lugar há um grupo de quatro éteres da mesma natureza que os</p><p>éteres mentais, porém de vibração diferente e portanto de outro grau de</p><p>atuação, que colaboram exclusivamente com o santuário do coração e são</p><p>denominados éteres astrais ou elétricos.</p><p>Em terceiro lugar conhecemos um grupo de quatro éteres, que colaboram</p><p>exclusivamente com o santuário da pelve, os chamados éteres sanguíneos.</p><p>A opinião geralmente defendida na literatura ocultista de que apenas o éter</p><p>refletor provoca a atividade do pensamento é totalmente errônea. Um</p><p>grupo completo de quatro éteres impele à atividade do pensamento e às</p><p>outras funções do santuário da cabeça, assim como, igualmente, os quatro</p><p>éteres em conjunto constroem e mantêm o sangue.</p><p>Vemos assim que quatro éteres atuam em nosso reino dialético natural, ao</p><p>total, doze aspectos, estados ou vibrações. Essas doze energias ou</p><p>alimentos, dimanantes dos quatro e atuando em três grupos, são indicadas</p><p>em toda a filosofia universal. O inteiro universo visível é formado dessas</p><p>doze energias e por seu intermédio, e uma série infindável de deduções</p><p>simbólicas na Linguagem Universal foi consequência disto.</p><p>Em sua unidade, elas são Deus manifestando-se na natureza.</p><p>Em sua trinalidade, elas são a Trindade. Em sua quaternidade elas são os</p><p>quatro alimentos santos, ou os quatro senhores do destino.</p><p>Em sua coletividade, achamo-las indicadas como os doze patriarcas, os</p><p>doze apóstolos, os doze Dhyânis, as doze hierarquias.</p><p>Imaginai um homem que é inteiramente desta natureza. É claro que nesse</p><p>homem todos os três santuários têm de funcionar em perfeito equilíbrio</p><p>uns com os outros e funcionarão de modo que os processos de assimilação</p><p>etérica e seus efeitos apresentem ligação absoluta. Primeiro, pode</p><p>averiguar-se, no que concerne a esse homem, uma base de vida,</p><p>determinado nível, em que a vida se desenvolve. Essa base de vida é a base</p><p>sanguínea em que todo o carma acumulado do ser aural se manifesta. A</p><p>soma de nosso subconsciente, de nosso passado dialético, a qual foi</p><p>acolhida em inúmeros estados de existência pelos pontos magnéticos do</p><p>ser aural, faz-se valer no sangue e pelo sangue. Em concordância com isso,</p><p>os éteres naturais, que são acolhidos pelo sistema do baço, afinam-se com</p><p>a natureza deste homem. Desse modo os impulsos primários, as atividades</p><p>motoras vitais, são assegurados.</p><p>Por isso dizemos que esse eu sanguíneo, com sede no sistema fígado-baço</p><p>e atuando por seu intermédio, é o ego natural, predominante. Se o homem</p><p>de nosso exemplo ainda é uma criança, o eu sanguíneo desempenha um</p><p>papel dominante nos primeiros anos de sua vida. Os outros dois egos</p><p>naturais ainda não despertaram. Após alguns anos, todavia, o segundo ego</p><p>natural desperta. A atividade do santuário do coração começa a</p><p>desenvolver-se, a vida de sentimentos da criança toma forma.</p><p>Anatomicamente, isso significa que o esterno — palavra latina que</p><p>significa “irradiante” — inicia sua função. O esterno é um órgão</p><p>maravilhoso. Ele possui doze pares de vias de entrada e saída, ligados</p><p>diretamente com o fogo serpentino, e dois pontos magnéticos, um órgão</p><p>atrativo e um órgão irradiante.</p><p>Esse maravilhoso sistema também desempenha grandioso papel na</p><p>atividade do átomo primordial, todavia deixemos isso no momento fora de</p><p>nossas considerações.[93]</p><p>Quando a vida de sentimentos da criança se torna um fator perceptível,</p><p>bem pessoal, o esterno passa claramente à assimilação etérica mediante</p><p>seu órgão atrativo. A vida de desejos, a vida de sentimentos, a vida de</p><p>sensações, começa a fazer-se valer. Em consequência disso o esterno</p><p>irradia um desejo, uma radiação buscadora, cobiçante. Com sua faculdade</p><p>atrativa ele agora acolhe energias que satisfarão o desejo. Essas energias</p><p>acolhidas são éteres de radiações e vibrações mais sutis do que as dos</p><p>éteres sanguíneos. Todavia, atentai bem que esses éteres astrais,</p><p>coadjuvantes com o santuário do coração, embora de vibrações mais sutis,</p><p>não são de uma classe mais elevada do que a dos éteres sanguíneos. Eles</p><p>são apenas um grupo diferente, por causa de funções totalmente novas que</p><p>têm de ser necessariamente vivificadas na criança em crescimento. Um</p><p>desejo pessoal dirigido individualmente tem de ser respondido. Quando</p><p>um poderoso impulso material emana do ser aural, ele será primeiro</p><p>gravado no sangue da criança. Quando o santuário do coração se manifesta</p><p>—</p><p>mediante o crescimento, e portanto mediante vigorosa formação dos</p><p>ossos — a inclinação, a natureza do desejo primário do coração, se</p><p>evidenciará no sintoma do instinto de posse. Desse modo se demonstra a</p><p>conexão absoluta que existe entre os éteres sanguíneos e os éteres astrais.</p><p>Todavia a gênese do homem em crescimento ainda não está completa.</p><p>Falta ainda um fator. As condições de vida estão criadas; o desejo vital,</p><p>ativo. Agora todas as atividades do santuário da cabeça ainda têm de</p><p>nascer.</p><p>Esse nascimento realiza-se em uma terceira fase de crescimento. O</p><p>homem é provido de uma faculdade para poder utilizar inteligentemente</p><p>suas energias vitais, tanto quanto possível, independente de terceiros, e</p><p>alcançar suas intenções. Pensamento, vontade, memória, imaginação e</p><p>outros aspectos do santuário da cabeça manifestam-se com o auxílio de</p><p>uma terceira categoria dos quatro éteres, os éteres mentais. Estes também</p><p>são éteres naturais, porém novamente de vibração distinta.</p><p>Após atingir a fase adulta, o homem pode, no pleno sentido da palavra,</p><p>comer dos doze pães. Os Doze Éons da natureza falam nele e por ele. O ser</p><p>aural o guia completamente por esses doze apóstolos. Assim, o homem</p><p>desta natureza é guiado por esse deus da natureza.</p><p>Dirijamo-nos agora outra vez aos processos da sangha, aos processos da</p><p>senda de cura.</p><p>O átomo primordial irradia por trás do esterno, e o aluno desperta essa</p><p>estrela de Belém. Se o aluno dirige sua atenção para o princípio ígneo</p><p>interior e a ele se oferece em autorrendição, é claro que um novo anseio</p><p>surgirá até os ossos, um anseio com aspectos muito notáveis. É um anseio</p><p>que não nasce do sangue, do eu sanguíneo ou de outra atividade natural,</p><p>mas que se origina de outra natureza, uma natureza pré-humana.</p><p>Em concordância com esse anseio de outra natureza, é emitido por meio</p><p>do esterno um impulso vigoroso. Essa oração, que não consiste em</p><p>murmúrio de palavras, senão provém do suspiro dos ossos,</p><p>necessariamente é respondida. A estrela paira imóvel sobre Belém, a casa</p><p>do pão da natureza divina, e o candidato é alimentado. Ele torna-se apto</p><p>para a senda.</p><p>Todavia, esse processo significa um distúrbio ingente no processo</p><p>duodécuplo natural. Ele significa “guerra no imo”, a espada em nossa</p><p>alma. O santuário do coração preenche pois duas funções: a assimilação</p><p>etérica astral desta natureza e a da natureza divina. Desenvolve-se com</p><p>isso um distúrbio no coração. A fortaleza das doze energias naturais, a</p><p>fortaleza da aliança duodécupla do Velho Testamento, é atacada no centro,</p><p>no coração. A irradiação ígnea da Gnosis acomete, por um lado, o sangue</p><p>e, por outro, ataca as funções do santuário da cabeça. Portanto, quando</p><p>nosso desejo, nossa irradiação do esterno, transforma-se</p><p>fundamentalmente, nossa faculdade do pensamento terá de acompanhá-lo.</p><p>Podeis imaginar um desejo sequer a que o pensamento não se dirija?</p><p>Quando então, compelidos pelo átomo primordial, seguirmos a voz do</p><p>coração, far-se-á luz como a da aurora no santuário da cabeça. O novo sol</p><p>tinge as nuvens da manhã. Um segundo golpe de espada divide a alma: à</p><p>virtude segue o conhecimento. Uma segunda luta força seu caminho, pois,</p><p>junto com os éteres mentais da natureza, adentram o sistema os éteres da</p><p>nova natureza.</p><p>Conheceis a luta das duas naturezas? Os alunos que se enobreceram para</p><p>esses processos têm, graças a seu estado de ser, duas considerações do</p><p>coração e duas ponderações do intelecto: a voz interior da Gnosis e a voz</p><p>da natureza comum.</p><p>“[…] e acrescentai à vossa fé a virtude” — o novo toque do coração; “à</p><p>virtude o conhecimento” — a nova atividade da pineal; e, em</p><p>consequência disso, a imensa luta interna, a graça e a inevitável cisão. Que</p><p>deveis fazer, pois? Galgai agora o terceiro degrau! “[…] ao conhecimento</p><p>o autodomínio”! Uma nova força veio a vós existencialmente. Pois bem,</p><p>segui essa força! Segui a pista que ela vos indica! Não se trata aqui do já</p><p>mencionado autodomínio dialético, que consiste em refrear as doze forças</p><p>naturais com todas as suas sinistras consequências e efeitos ligadores à</p><p>natureza, porém seguir de maneira consequente a voz da luz que foi</p><p>inflamada em vossa existência pelo Espírito de Deus. Podeis fazer isso</p><p>sem nenhum esforço, precisais apenas abandonar a voz e a pressão da</p><p>natureza em vós e dirigir-vos totalmente a esse outro, ao novo em vós:</p><p>isso é autodomínio! Observareis então que a velha natureza cala e definha</p><p>cada vez mais.</p><p>Autodomínio, tal qual a santa lei sétupla o considera, é uma auto-</p><p>orientação com base na verdadeira virtude e no verdadeiro conhecimento:</p><p>é seguir a nova voz interior. Esse autodomínio constitui o terceiro degrau</p><p>da senda.</p><p>Agora pode surgir a pergunta: “Como podemos saber se nosso</p><p>autodomínio provém do toque da nova natureza? Não seria o caso de, pela</p><p>enésima vez, sermos vítimas da costumeira autorrepressão com todas as</p><p>suas consequências explosivas?”</p><p>A resposta tornar-se-á clara no quarto degrau: “[…] ao autodomínio a</p><p>perseverança”!</p><p>Quem persevera até o fim, quem pode perseverar até o fim, será “bem-</p><p>aventurado”, segundo as palavras do Apocalipse.</p><p>***</p><p>[93] Ver cap. I-2 e cap. I-3.</p><p>II-4 Perseverança</p><p>Tratamos pois minuciosamente de três degraus da senda sétupla. Primeiro</p><p>o aluno entra em ligação pessoal com a Gnosis, com base em sua</p><p>autorrendição ao átomo primordial no santuário do coração, e assim</p><p>recebe a aptidão, a força correta, para poder trilhar a senda. A Sagrada</p><p>Escritura denomina isto “obter a virtude mediante a fé”. Logo que essa</p><p>força da Gnosis se torna ativa, portanto, no sistema do aluno, ela compele</p><p>em seguida o santuário da cabeça à mudança. Assim como as irradiações</p><p>santificadoras da Gnosis são recebidas primeiro pelo esterno, esses toques</p><p>também habilitam o santuário da cabeça para uma ligação de primeira</p><p>mão com o campo de irradiação universal.</p><p>Se esta segunda ligação está ativa, o candidato pode, tal qual a Sagrada</p><p>Escritura o denomina, “progredir da virtude para o conhecimento”. Os dois</p><p>santuários, o da cabeça e o do coração, abriram-se então literalmente para</p><p>a atividade do Espírito Santo.</p><p>Uma nova luz irradia do santuário da cabeça e brilha qual lâmpada para os</p><p>pés. O caminho correto torna-se com isso visível interiormente, e o</p><p>candidato deste segundo degrau tem também a força interior para trilhar</p><p>realmente esse caminho que se lhe torna visível. Não obstante, ele tem de</p><p>estar consciente de que sua inteira realidade de ser provém da natureza da</p><p>morte e de que ele ainda está totalmente em terra dialética inimiga.</p><p>Embora as radiações da Gnosis adentrem agora, de primeira mão, o</p><p>esterno e a pineal, as radiações da natureza comum também tocam coração</p><p>e cabeça e fazem valer seus direitos, suas influências.</p><p>Por isso surge agora uma grande dificuldade: duas forças declaram-se no</p><p>aluno, duas vozes ressoam, duas naturezas falam, as quais se defrontam</p><p>irreconciliavelmente. Por conseguinte, este homem se acha diante da</p><p>tarefa de decidir em inúmeros aspectos, em um conflito contínuo de</p><p>escolha, que voz, que influência, ele deve seguir. É claro que se ele deseja</p><p>totalmente a nova vida, ele terá de conduzir as influências da natureza</p><p>comum ao biologicamente necessário, ao lógico e ao responsável, e</p><p>determinar-lhes as fronteiras conscienciosamente. Quanto ao mais, ele</p><p>seguirá a voz e a força interiores com toda a sua atenção, com toda a sua</p><p>alegria e com todo o seu entusiasmo. Essa ordenação da vida,</p><p>completamente compreensível e necessária, a Sagrada Escritura chama</p><p>“progredir do conhecimento para o autodomínio”. Este é o terceiro degrau</p><p>da senda, após o qual se seguirá o quarto degrau: em autodomínio dar</p><p>provas da perseverança.</p><p>Eliminemos primeiro alguns mal-entendidos do caminho a fim de adquirir</p><p>uma compreensão correta. De tempos a tempos todo o homem dialético dá</p><p>demonstrações de perseverança. Sempre existe um alvo que o homem</p><p>persegue com perseverança. Mostra-se perseverança sobretudo quando se</p><p>trata de objetos materiais ou ainda também fama e honra. Todas essas</p><p>manifestações de perseverança provêm de um egocentrismo duro como</p><p>bem, todavia, o adormecido segundo a natureza ainda não é</p><p>um ressurreto! A ressurreição apenas se realiza ao término do processo em</p><p>que o adormecido se encontra.</p><p>Devemos aqui atentar que o estado de “adormecido segundo a natureza”</p><p>pode ser alcançado também enquanto ainda vivemos na esfera material. É</p><p>o estado de total demolição* do eu.</p><p>A vantagem do “estado de adormecido” sobre o de demolição do eu na</p><p>esfera material é evidente. Os que “em Jesus dormem” já estão livres do</p><p>corpo material com seu respectivo duplo etérico e podem continuar,</p><p>tranquilamente, a construir sobre a base dos princípios renovadores já</p><p>recebidos. O aluno no estado de demolição do eu, no entanto, vivendo</p><p>ainda na esfera material, deve observar, a todo o momento, a presença e as</p><p>solicitações de um organismo material pertencente à natureza da morte.</p><p>Por isso, no processo de renovação, os adormecidos precedem, como</p><p>explica Paulo, os alunos que permanecem na esfera material, uma vez que</p><p>estão aptos a completar o processo mais rápido.</p><p>***</p><p>Nossa intenção foi, nas considerações anteriores, conscientizar-vos de que</p><p>do seio da humanidade comum está surgindo, dentre todos os povos e</p><p>países do mundo, novo povo que caminha para a libertação, o povo de</p><p>Deus, uma multidão que ninguém pode contar. Esse povo, que se manifesta</p><p>na esfera material e dela parte, já nada tem a temer da morte. Pelo</p><p>contrário, a morte é vantagem para ele. Esse povo é preparado para uma</p><p>viagem muito especial, indicada por Paulo como “encontrar o Senhor nos</p><p>ares”.</p><p>Essa viagem, “encontrar o Senhor nos ares”, é uma expressão universal</p><p>que alude a um segundo processo subsequente, que se relaciona com a</p><p>mudança do novo ser-alma em ser-espírito. Essa é a viagem para o Reino</p><p>Imutável.</p><p>Sabeis que também a humanidade, vista como um todo, está submetida ao</p><p>giro da roda. Esse giro começa em um novo dia de manifestação dialética</p><p>e termina com uma revolução cósmica, repetindo-se sem cessar. Ao</p><p>aproximar-se o fim de um dia cósmico, as situações e as condições</p><p>vibratórias tornam-se tais que já ninguém pode ser salvo e libertado antes</p><p>que um novo dia de manifestação se inicie. Quando o último ser humano</p><p>apto para essa possibilidade houver ingressado no processo de libertação,</p><p>ressoará “o som da última trombeta”.[4] Isto é, todos os libertos serão</p><p>retirados do campo de vida dialético, com suas duas esferas, e o glorioso</p><p>retorno começará.</p><p>Então a nova Fraternidade, a nova Una Sancta, está formada: ela vai</p><p>“encontrar o Senhor nos ares”. Ela é a comunidade dos que foram</p><p>comprados[5] desta terra. Seus membros foram, primeiro, inflamados pelo</p><p>Espírito de Deus quando ainda eram buscadores sinceros; segundo,</p><p>adormeceram em Jesus; e, finalmente, foram acolhidos pelo Espírito Santo</p><p>Universal no processo de renascimento dos filhos de Deus.</p><p>***</p><p>[1] Palavras seguidas por um asterisco no texto aparecem no Glossário.</p><p>[2] Cf. Ec 1:10.</p><p>[3] Cf. 1 Te 4:13–17.</p><p>[4] Cf. 1 Co 15:52.</p><p>[5] Cf. Ap 14:3.</p><p>I-2 Cristo, a fonte universal de</p><p>luz e de força</p><p>Nova raça humana está nascendo neste mundo! Novo povo surge, o povo</p><p>prometido, o povo do Senhor, o povo de Deus!</p><p>Ao lerdes a literatura mundial, encontrareis inúmeras referências ao</p><p>advento dessa gloriosa multidão, a qual ninguém pode contar. Todavia, em</p><p>razão de vosso estado dialético, assimilais ao mesmo tempo com essa</p><p>profecia, inevitavelmente, com todos os órgãos sensoriais, a ilusão de que</p><p>esse advento do povo de Deus se relaciona com a reunificação da velha</p><p>raça semítica nas margens do antigo oceano.[6] Também se dirige a</p><p>atenção para o Anglo-Israelismo, procurando-se despertar com isso a</p><p>ilusão de ser a raça anglo-saxônica o povo do Senhor.</p><p>Quando os antigos poetas cantam: “Ele congregará seu povo de todas as</p><p>nações da terra”,[7] não deveis acreditar que esses cânticos se refiram a</p><p>acontecimentos ocultistas ou etnológicos, e sim deveis compreendê-los em</p><p>sentido inteiramente novo. Essas velhas profecias anunciam a</p><p>manifestação extraordinária e admirável de um novo tipo humano não</p><p>dialético, de um grupo humano que — não apenas misticamente, mas</p><p>também estrutural, biológica, portanto, corporalmente — está neste</p><p>mundo, mas não é deste mundo. A fase profética alusiva a esse</p><p>acontecimento chegou a seu término, pois ingressamos no período de</p><p>realização em maior ou menor escala. Por isso, a Escola Espiritual já não</p><p>fala em sentido anunciativo. Ela tem de explicar-vos agora o andamento</p><p>dessas coisas a fim de que, com isso, possais considerar todos os fatores</p><p>ligados a elas e consolidá-las em vossa vida. É assim que deveis</p><p>compreender o “entrar na terra prometida”.[8] Isso não significa que devais</p><p>mudar de residência, mas sim que deveis preparar-vos para integrar esse</p><p>novo grupo humano!</p><p>Assim sendo, compreendereis que há muito a considerar, ponderar e</p><p>examinar cuidadosamente. Antes de mais nada, trataremos de um velho</p><p>tema, abundantemente debatido em nosso meio, declarando que Cristo não</p><p>é um hierofante de estatura majestosa que habita algum lugar fora do</p><p>mundo material, porém, em primeiro lugar, um ser impessoal, ilimitado,</p><p>que se manifesta como luz, como força, como poderoso campo de</p><p>radiação. Esse campo de radiação de Cristo, que surgiu entre nós e</p><p>inquieta continuamente esta sombria ordem mundial, exerce poderosa</p><p>influência — em verdade, toda uma série de influências.</p><p>Sem dúvida, para o homem moderno, não é coisa fora do comum que</p><p>radiações invisíveis aos olhos materiais possam exercer grande influência,</p><p>visto que a humanidade atual conhece suas múltiplas aplicações em vários</p><p>campos. Na medicina, na tecnologia militar e em muitos laboratórios,</p><p>fazem-se experiências com radiações invisíveis.</p><p>Existem radiações com efeito demolidor, e outras que podem ser indicadas</p><p>como atrativas. Denomina-se o primeiro grupo ultravioleta, e o segundo,</p><p>infravermelho. Pode-se compreender que as irradiações e influências do</p><p>campo de irradiação de Cristo são tanto atrativas como demolidoras, pois</p><p>esse campo, uma vez que constitui uma totalidade, encerra em si um</p><p>espectro completo, podendo ser indicado também como sol, como corpo</p><p>solar invisível. As explicações seguintes darão uma imagem da atividade</p><p>dessas influências e forças distintas do campo de radiação de Cristo, que</p><p>atuam em harmoniosa colaboração.</p><p>A luz atrativa, ou infravermelha, do sol divino vos atinge em dado</p><p>momento. Ora, quando o santuário do coração é de natureza especial,</p><p>indicada em nossa filosofia como a natureza das entidades com átomo-</p><p>centelha-do-espírito* — já que existe um átomo-centelha-do-espírito no</p><p>ventrículo direito do coração — reagireis a essa luz atrativa, sim, “sereis</p><p>obrigados” a reagir. A consciência comum não toma conhecimento desse</p><p>fato, o “eu” se defenderá espontaneamente contra isso e até motivará toda</p><p>a sorte de manifestações caricaturais. Contudo, ele será arrastado, com</p><p>todo o seu ser, em uma corrente de reações.</p><p>Pelo fato de ter sido tocado pela torrente de luz infravermelha do sol</p><p>divino, o ser humano, em sua totalidade, fica sujeito a uma série de</p><p>experiências. Milhões de seres humanos neste mundo conhecem</p><p>pessoalmente as experiências intensas, inquietantes e inexplicáveis</p><p>resultantes desse toque.</p><p>O fato de ser o homem atraído, literalmente, por essa torrente de luz, torna</p><p>bem compreensível que a linguagem mística fale de “chamado”. O</p><p>impulso infravermelho, essa luz atrativa é, sem dúvida, um chamado.</p><p>Deveis, porém, discernir bem o fato de existir um infravermelho terreno,</p><p>natural, e um infravermelho do sol divino! Quando Deus vos chama, ele</p><p>toca-vos com essa luz. Uma vez que é impossível separar essa luz atrativa</p><p>da luz demolidora, o ultravioleta divino, é claro que, ao mesmo tempo em</p><p>que ocorre o chamado, surge também uma demolição, isto é, toda aquela</p><p>série de inquietações e experiências.</p><p>Quando de um chamado não surge essa incessante comoção interna,</p><p>podemos estar certos de que não foi o infravermelho divino que nos</p><p>atingiu, mas sim um chamado de influência meramente dialética, em</p><p>harmonia com o ser-eu natural e, portanto, de modo algum apto a tocar</p><p>pedra. Pensai em questões de prestígio em vossa vida, em que decidis,</p><p>durante conflitos com terceiros, perseverar em uma posição já tomada</p><p>anteriormente. Perseverança é então teimosia, obstinação.</p><p>Considerai a palavra “obstinado”.[94] Ela provém de um conhecimento</p><p>primordial e indica determinado estado da medula, da medula oblonga,</p><p>localizada na nuca. Por meio da medula, os impulsos da consciência são</p><p>transmitidos a todo o sistema. Obstinação é então manter-se aferrado a</p><p>uma decisão já tomada, enfrentando todos, é forçar a medula, como em</p><p>uma crispação do ser inteiro, a fazer valer sua influência em uma direção.</p><p>A palavra “perseverança”[95] tem, segundo o antigo idioma holandês, dois</p><p>significados: um conhecimento em que a ideia “duro”,[96] pétreo,</p><p>inflexível, “obstinado”, está em posição central, e um significado que</p><p>deriva da ideia “coração”,[97] do santuário do coração. Considerando-se a</p><p>distinção das duas ideias, é preciso falar de “perseverança” e de</p><p>“integridade de coração”.[98] Devemos advertir-vos quanto a isso porque o</p><p>quarto degrau vos coloca diante da “integridade de coração”. Quando</p><p>falamos, segundo a Escola Espiritual, de “integridade de coração”,</p><p>referimo-nos a uma qualidade do candidato que principiou no santuário do</p><p>coração, progrediu consoante o santuário da cabeça e assim se demonstra</p><p>tanto no coração como na cabeça. Desejamos traduzir a palavra</p><p>“perseverança” como “persistência”. A Escola Espiritual deve tornar-vos</p><p>compreensível agora de que maneira um aluno no caminho pode persistir</p><p>em sua tarefa iniciada na Gnosis. Relembrai primeiro, conosco, todo o</p><p>caminho já mencionado até aqui, com o que ainda voltamos ao exposto no</p><p>capítulo anterior.</p><p>Há três grupos de quatro éteres:</p><p>1. os éteres sanguíneos, que cooperam com o sistema fígado-baço e</p><p>proveem as funções puramente biológicas de nossa personalidade;</p><p>2. os éteres astrais, que cooperam com o santuário do coração e proveem</p><p>toda a nossa vida de emoções e o registro completo de nossos</p><p>sentimentos e desejos;</p><p>3. os éteres mentais, que cooperam com o santuário da cabeça e nos</p><p>capacitam, com base em nossa vida de emoções, para a compreensão,</p><p>para a decisão e para a atividade volitiva e, consequentemente, para a</p><p>ação. Trata-se, em primeiro lugar, da natureza e da qualidade do</p><p>instrumentário de emoções. Por isso é dito que Deus sonda os corações.</p><p>A pureza do coração determina tudo, pois a cabeça entra em atividade</p><p>totalmente de acordo com a qualidade de nossas emoções. Como</p><p>consequência dessa ação, chegamos, corporal e por conseguinte</p><p>biologicamente, a determinado estado sanguíneo, pelo qual o estado do</p><p>coração é influenciado outra vez. Pode-se dizer por isso que a irradiação</p><p>do esterno, a qual provém do coração, é a chave para a inteira conduta de</p><p>vida.</p><p>O esterno, como sabeis, não é apenas um órgão irradiante, mas também</p><p>simultaneamente um aparelho receptor. Toda a irradiação que é recebida</p><p>por esse aparelho receptor é refletida sem demora no centro da cabeça e aí</p><p>age. Imaginai agora que estais, pela primeira vez, no templo da Rosa-Cruz.</p><p>Porque, por um motivo ou outro, estais buscando. Com outras palavras:</p><p>mediante essa busca irradiante de vosso esterno sois mais ou menos</p><p>receptíveis à atividade irradiante da Escola Espiritual.</p><p>Sois atingidos no coração, de maneira irrevogável, por uma influência que</p><p>emana nesse instante da Escola Espiritual. Essa influência atua em todos</p><p>nós de modo diverso porque a faculdade do esterno é diferente, como</p><p>consequência de nosso estado sanguíneo pessoal. Todos nós, porém, sem</p><p>exceção, sofremos uma influência nesse momento. De imediato, após a</p><p>recepção dessa influência pelo esterno, ela é projetada no santuário da</p><p>cabeça e atua na faculdade de compreensão. Esta, pelo motivo há pouco</p><p>citado, é igualmente individual. Suponhamos que nesse momento</p><p>compreendais algo errado, que em consequência do que foi projetado</p><p>chegueis mentalmente a uma conclusão sem pé nem cabeça. Não obstante,</p><p>resta o fato de que reagis! Que uma influência atingiu o coração e</p><p>irrompeu no santuário da cabeça!</p><p>Podeis comparar isso a um choque. Na terapia moderna um homem com a</p><p>consciência obscurecida pode ser submetido a um “choque” e, com isso,</p><p>chegar ao aclaramento da consciência. Assim a Escola Espiritual</p><p>igualmente vos submete a um choque, se bem que de outra maneira.</p><p>Imaginai agora que o que recebeis corresponde de maneira cabal ao que</p><p>buscastes e desejastes! Então ocorre, em poucas palavras, o mesmo que a</p><p>senda sétupla tenciona: mediante o que recebeis no coração por meio do</p><p>esterno obtendes a virtude. O que é recebido é projetado na cabeça, e</p><p>recebeis com isso uma compreensão, ou dito de outro modo: obtendes o</p><p>conhecimento. Sentis e compreendeis, por conseguinte, num momento,</p><p>consoante vosso sentimento e vossa compreensão, que vos tornareis</p><p>entusiásticos e dinâmicos e decidireis imediatamente, em autodomínio,</p><p>continuar a trilhar o caminho. Já saístes de muitos serviços templários</p><p>com essa disposição, nesse estado de ser. Com a consciência aclarada pelo</p><p>choque recebido, e carregados de força, ides de cabeça erguida ao trabalho.</p><p>Vivenciastes em um átimo, por assim dizer, os três degraus da senda.</p><p>Por curto período tudo vai bem, às vezes apenas por uma hora, e então</p><p>fracassais no quarto degrau, pois… não existe perseverança suficiente! E,</p><p>de repente, os três degraus vivenciados como que num átimo parecem</p><p>haver desaparecido totalmente. Foi uma quimera, um sonho, uma ilusão?</p><p>Carregados de força pela Escola Espiritual, tratamos de dizer uns aos</p><p>outros: “Agora o faremos!” — “Agora o realizaremos!” — “Agora se</p><p>cumprirá!”. Todavia, antes de chegarmos a casa, tudo isso já passou. Após</p><p>o choque, segue-se novo obscurecimento da consciência. Há apenas uma</p><p>hora experimentamos, por meio do toque cheio de graça da Escola</p><p>Espiritual, um antegozo da senda, porém nada mais que isso. E a causa?</p><p>A causa reside no fato de não haver perseverança suficiente. Nosso</p><p>coração ainda não foi dado por inteiro à Gnosis. Nosso desejo ainda não é</p><p>bastante puro e ainda está completamente misturado com intenções</p><p>dialéticas. Nosso coração ainda está sujo, impuro. Uma bagatela, às vezes</p><p>em fração de segundo, já é suficiente para interromper o afluxo da luz</p><p>universal. Quando não há, portanto, perseverança, também não pode haver</p><p>persistência, firmeza, no quarto degrau. Nosso primeiro desejo e nosso</p><p>primeiro anseio têm de ser portanto possuir pureza suficiente de coração a</p><p>fim de que um mínimo de atividade da luz gnóstica esteja presente e</p><p>permaneça em nosso sistema. Nosso estado de ser deve ser tal que essa</p><p>flama já não possa extinguir-se. Por isso, nosso santuário do coração deve</p><p>ser esfacelado consoante a velha natureza. A flama do santo fogo será</p><p>então acesa permanentemente no coração com todas as suas consequências</p><p>libertadoras. De um choque sempre repetido, com a recaída que se segue,</p><p>não obtendes nada. Tendes de ser curados!</p><p>Propomos, pois, que vos coloqueis, com a aparelhagem luminosa do</p><p>coração, à luz do sol universal e vos ligueis com a luz desse sol. Enquanto</p><p>não existir essa ligação, estais fora da luz, um estado que na Sagrada</p><p>Escritura é denominado “pecado”. Esta palavra, “pecado”, não indica um</p><p>estado de maldade, tal qual a teologia natural afirma sem nenhum</p><p>fundamento, senão um estado puramente natural. Por isso diz o poeta</p><p>salmista na Sagrada Escritura:</p><p>Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal […] Eis que em</p><p>iniquidade fui formado, e em pecado [fora da Luz Universal] me concebeu minha mãe</p><p>[nesta natureza].[99] Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um</p><p>espírito reto.[100]</p><p>Que conduta de vida é necessária para manter ardendo em nós a flama do</p><p>fogo curador? Que sacrifício devemos fazer? O mesmo poeta responde:</p><p>O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito</p><p>não desprezarás, ó Deus.[101]</p><p>Tendes de entender que não podeis, sem mais nem menos, decidir-vos a</p><p>acender a flama do fogo curador no santuário do coração e a trilhar a</p><p>senda. Bem podeis decidir</p><p>isso, porém não persistireis, não haverá</p><p>perseverança. O que se manifesta então é uma caricatura, um sucedâneo, o</p><p>barril de pólvora das forças naturais reprimidas. Não, o archote do fogo</p><p>tem de ser conquistado. O grau necessário de pureza do coração somente é</p><p>possível após uma derrota completa da natureza. Temos de ser</p><p>despedaçados segundo nosso eu conservador. Ninguém que não haja</p><p>primeiro sido atingido aqui pela ilusão do sofrimento alcançará vitória.</p><p>Quando então a última labareda do desejo terreno do eu houver</p><p>desaparecido, e apenas estiver presente um olhar para os montes da</p><p>salvação, a oferenda, com a purificação do coração, será aceita.</p><p>Quem não quiser isso, permaneça longe da Escola Espiritual! O Evangelho</p><p>de Jesus Cristo é unicamente para os fortes. Sobre estes fortes é erigido o</p><p>templo da devoção.</p><p>***</p><p>[94] Hardnekkig, em holandês. Literalmente é: o que tem a nuca dura</p><p>(N.T.).</p><p>[95] Volharding, em holandês (N.T).</p><p>[96] Hard, em holandês (N.T).</p><p>[97] Hart, em holandês (N.T).</p><p>[98] Volharting ou Volhartigheid, em holandês (N.T).</p><p>[99] Cf. Sl 51:4–5.</p><p>[100] Cf. Sl 51:10.</p><p>[101] Cf. Sl 51:17.</p><p>II-5 Piedade – I</p><p>Estudamos, pois, quatro degraus da senda sétupla. Passaremos agora a</p><p>esclarecer perante vossa consciência o quinto degrau de vários ângulos:</p><p>“[…] à perseverança a piedade”.</p><p>Recordemos mais um vez:</p><p>1. “Ponde nisso toda a vossa diligência e acrescentai à vossa fé a virtude”;</p><p>— a força de luz da Gnosis, mediante a atividade do átomo primordial,</p><p>penetra a nossa personalidade através do esterno;</p><p>2. “à virtude o conhecimento”; — a força de luz, com o auxílio do</p><p>hormônio do timo e do sangue, é projetada no santuário da cabeça com</p><p>todas as consequências;</p><p>3. “ao conhecimento o autodomínio” — o candidato reagirá às sugestões</p><p>da luz interior e se despedirá de maneira inteligente da atividade da</p><p>natureza que também se manifesta em seu sistema;</p><p>4. “ao autodomínio a perseverança” — progredindo no autodomínio, o</p><p>candidato viverá de modo que a flama da luz de Cristo, a qual foi acesa</p><p>no santuário do coração com todas as drásticas consequências, já não</p><p>possa extinguir-se e permaneça sempre ardendo.</p><p>Em seguida a isso, guiado e compelido por esse candelabro ardente, o</p><p>candidato galgará o quinto degrau: “[…] à perseverança a piedade”. Em</p><p>sua personalidade algo ocorrerá, algo se modificará. Não se trata apenas de</p><p>uma mudança da conduta de vida, de uma auto-orientação espontânea no</p><p>caminho, por causa da luz interior, porém os fundamentos para uma</p><p>realidade de ser por completo nova são estabelecidos de baixo para cima,</p><p>estrutural e corporalmente.</p><p>Somos extremamente gratos e nos sentimos muito felizes por nos ser</p><p>permitido dar um esclarecimento razoável sobre esse assunto, pois isso é</p><p>mais uma vez a prova antecipada de que o dia dos dias se aproxima.</p><p>Novamente se aproxima um dia de Pentecostes, uma festa sagrada de</p><p>Pentecostes, e as sete escolas têm de esforçar-se para mais uma vez tornar</p><p>verdade as palavras históricas e ao mesmo tempo proféticas do capítulo 2</p><p>de Atos dos Apóstolos:[102] “E em Jerusalém estavam habitando judeus,</p><p>varões piedosos de todas as nações que estão debaixo do céu.”</p><p>Também em nossos dias essa multidão de piedosos tem de ser reunida.</p><p>Será a multidão de que falamos quando nos referimos ao advento do novo</p><p>homem. E já agora, no futuro imediato — hoje, amanhã e depois de</p><p>amanhã — podeis, como alunos da Escola Espiritual, adentrar o estado da</p><p>nova gênese humana, porém unicamente com base no quinto degrau; ou</p><p>seja, quando o candelabro da luz universal, graças a sua flamejante</p><p>realidade, já não puder ser removido de seu lugar. Esse candelabro gera em</p><p>nós a piedade.</p><p>Desprendei-vos e libertai-vos de toda a superficialidade existente, com</p><p>relação a isso, nas massas religiosas, e consolidada no sangue de inúmeros</p><p>pela ignorância grosseira dos guias espirituais. Diz-se: “Piedade é</p><p>religiosidade. Uma vida piedosa e, portanto, religiosa significa ser e viver</p><p>segundo os mandamentos da Igreja e, com isso, demonstrar de fato uma</p><p>vida de ações de moralidade elevada e completamente consequente”.</p><p>Ninguém poderá reclamar contra isso, porém essa atitude de vida nada tem</p><p>a ver com piedade segundo o sentido original da intenção gnóstica. No</p><p>entanto, por séculos a fio, nunca se conseguiu ocultar da humanidade o</p><p>conhecimento da verdadeira piedade. A ciência original da piedade</p><p>primordial foi transmitida de modo tão perfeito e completo a todas as</p><p>raças e povos que é de admirar-se quando pessoas de categoria superior</p><p>desconhecem isso completamente. Achamos que a ciência da piedade tem</p><p>muito que dizer ao ser humano, sobretudo ao de nosso século moderno.</p><p>Nós, que ouvimos e lemos sobre as descobertas dos fisiólogos, biólogos e</p><p>médicos, conhecemos o poder do infinitesimal num sistema como nosso</p><p>corpo. Sabemos o que um hormônio, um núcleo de vitamina, a milésima</p><p>parte de miligrama de um remédio, podem causar e realizar em nosso</p><p>corpo. Sabemos como se pode influenciar e modificar o processo de</p><p>crescimento humano com o hormônio da tireoide e o hormônio da</p><p>hipófise. Sabemos quanto esses hormônios estão ligados a nossa energia</p><p>criadora corporal, a nossa moralidade e quanto eles influenciam toda a</p><p>nossa vida de ações.</p><p>Refleti bem! Quando um homem é atingido por tão poderosa radiação de</p><p>luz, como é a da Gnosis, e essa luz cai qual raio e toca corporalmente o</p><p>coração, a cabeça e o sangue, pensais então que esse medicamento de cura,</p><p>esse remédio, nada mais causaria no corpo do que uma religiosidade</p><p>burguesa, uma devoção reconhecida oficialmente?</p><p>A força do Espírito Santo é santificadora, curadora, isto é, um remédio não</p><p>somente em sentido abstrato, filosófico, místico, porém, ao mesmo tempo,</p><p>corporal, anatômico e biológico. Isso é magnífico e esplêndido, e ao</p><p>mesmo tempo drástico e perigoso!</p><p>Se o trabalho da Escola Espiritual consistisse apenas em reflexões sobre o</p><p>Reino Imutável — que não possuímos nem vemos e com que não temos a</p><p>menor ligação — se nos perdêssemos em inúmeras considerações</p><p>filosóficas e, como homens puramente naturais, afirmássemos: “Isso é</p><p>assim!”, que diferença haveria entre a Escola Espiritual e qualquer outra</p><p>orientação religiosa natural?</p><p>Se o aluno da Escola Espiritual que deseja trilhar o caminho fosse ou</p><p>permanecesse igual aos que estão fora da Escola Espiritual, poderíamos</p><p>perguntar com razão: Para que todo esse esforço? Para que todo esse</p><p>palavreado? Quem reflete seriamente sobre o caminho e se decide de fato</p><p>a trilhá-lo, modifica-se, a partir dessa hora, corporal, biológica e</p><p>anatomicamente. Tendes de compreender a lógica disto: estamos</p><p>encerrados aqui, nesta cabana adâmica, com todas as consequências daí</p><p>resultantes. Pois bem, se a senda da cura, o processo do remédio universal,</p><p>for realidade e verdade, ele tem de começar corporalmente aqui, tem de</p><p>ser estabelecido aqui!</p><p>Todavia, se alguém é apenas ouvinte da palavra, um observador, então ele</p><p>permanece um falador, alguém que talvez saiba, mas que não faz. Palavra</p><p>e ação, nele, não estão em harmonia uma com a outra. Isso é</p><p>compreensível, pois nele existe apenas uma orientação do estado natural</p><p>para o estado espiritual. Quem permanece nesta natureza é, no melhor dos</p><p>casos, apenas um ouvinte, e todo o seu procedimento é e permanece desta</p><p>natureza, muito egocêntrico e conforme com o mundo. No entanto, quem</p><p>irrompe, partindo do estado natural, no estado espiritual, modifica-se no</p><p>mesmo instante, e, como dito, não somente em sentido moral, ético e</p><p>religioso, porém sua mudança é, ao mesmo tempo, corporal.</p><p>Essa mudança corporal é que é a piedade! Ela manifesta-se no quinto</p><p>degrau da senda sétupla.</p><p>Por isso essas palavras são dirigidas a todos os que estão decididos a subir</p><p>a senda sétupla, especialmente aos irmãos e às irmãs que se preparam para</p><p>o quinto degrau. O advento do novo homem se dará em futuro próximo, o</p><p>dia do novo Pentecostes se aproxima. Quando a flama da nova luz sobre o</p><p>quarto degrau se tornou em um candelabro a arder ininterruptamente,</p><p>pode-se falar de uma força ígnea proveniente dos ossos que aflui via</p><p>santuário</p><p>do coração e prossegue rumo à cabeça.</p><p>Em que consiste essa força ígnea? Essa força ígnea da Gnosis relaciona-se</p><p>com uma substância etérica quádrupla de natureza completamente diversa</p><p>da que conhecemos na dialética. Por conseguinte, o candidato é ligado aos</p><p>quatro alimentos santos.</p><p>Esse candidato, que pode festejar essa ligação, é um ente natural, um</p><p>homem de carne e sangue que está e vive nesta natureza. Ele também</p><p>precisa, portanto, dos quatro éteres naturais comuns. Se a corrente etérica</p><p>comum da natureza fosse subitamente interrompida pela ligação com os</p><p>quatro alimentos santos, isso acarretaria a morte imediata. Portanto, esse</p><p>homem, embora temporariamente, vive duas vidas — uma vida que</p><p>sempre diminui, e outra que cresce sempre, continuamente.</p><p>Sabeis que no sistema* do fogo serpentino está presente, como sede da</p><p>consciência, uma constante de hidrogênio. É a constante de hidrogênio da</p><p>natureza comum. É impossível transferir-se o éter de hidrogênio dos</p><p>quatro alimentos santos para a coluna do fogo serpentino comum, onde se</p><p>encontra o fogo serpentino da natureza comum. Isso causaria uma</p><p>fermentação, um envenenamento, uma explosão.</p><p>Tal desgraça sempre ocorre quando um homem, com sua consciência</p><p>dialética, com seu eu dialético e, consequentemente, com seu fogo</p><p>serpentino dialético, aspira a apoderar-se dos valores e das forças da</p><p>Gnosis sagrada. Então surge, por curto tempo, tempo que no melhor dos</p><p>casos pode durar um par de anos, uma intensa luz flamante, uma atividade</p><p>febril que cessará de maneira abrupta, portanto inopinada e dramática,</p><p>semelhante à vida de um cometa. Não se pode pôr vinho novo em odres</p><p>velhos. Por isso é formado um segundo fogo serpentino no corpo do</p><p>candidato, que, enquanto for necessário, ainda tem de viver segundo a</p><p>natureza.</p><p>Achamos a possibilidade para isso no simpático.* Por isso o nervo</p><p>simpático é indicado na sabedoria antiga[103] como a futura segunda</p><p>medula espinal.</p><p>Esse nervo simpático consiste em dois cordões nervosos, um disposto à</p><p>direita, e o outro, à esquerda da coluna vertebral. Ele parte de um ponto,</p><p>situado acima da medula oblonga, para onde concorrem os dois cordões do</p><p>simpático e a esfera de influência imediata da pineal.</p><p>Os dois cordões do simpático formam, de fato, dois campos separados.</p><p>Um campo, situado à direita da medula espinal, é criador; o outro, situado</p><p>à esquerda da medula espinal, é manifestador. O primeiro é impulsionador,</p><p>masculino; o segundo, reagente, feminino.</p><p>Por isso, os antigos Árias denominavam o campo masculino do simpático</p><p>de “Pingalá”, e o campo feminino de “Idá”. Em Atos dos Apóstolos, o</p><p>campo masculino é indicado como Ananias, e o campo feminino, Safira,</p><p>nomes que significam, literalmente, “o campo da graça divina” e “o</p><p>campo da beleza maravilhosa”.</p><p>A força de irradiação do campo manifestador do simpático, o campo</p><p>feminino, abrange todas as cores do espectro, tal qual acontece em todos</p><p>os tipos de safiras. No ser humano comum da massa sua cor de irradiação</p><p>é vermelha, no candidato do quinto degrau ela é de um maravilhoso</p><p>violeta, tal qual nas ametistas.</p><p>No candidato do quinto degrau, os dois cordões do simpático fundem-se</p><p>em um lento processo de mudança. O elemento criador e o elemento</p><p>manifestador unem-se. O elemento masculino e o elemento feminino</p><p>tornam-se assim em uma unidade e, por fim, em uma trinalidade, quando o</p><p>antigo fogo serpentino do sistema espinal comum é extinto de maneira</p><p>completamente não forçada e natural no caminho da endura, e o fogo da</p><p>renovação pode adentrar esse sistema.</p><p>Desenvolve-se, pois, no candidato do quinto degrau o seguinte: quando,</p><p>pela comoção do átomo primordial, as radiações do fogo gnóstico</p><p>penetram o santuário do coração, o hormônio do timo providencia, em</p><p>primeira instância, a projeção desse fogo no santuário da cabeça. Esse</p><p>hormônio é apenas um recurso temporário, como também é na infância.</p><p>Em nossa meninice, a glândula timo é um depósito de forças para um</p><p>crescimento posterior autônomo. Esse depósito foi preenchido pelos pais</p><p>da criança.</p><p>No aluno acontece, de fato, o mesmo, porém agora o depósito é preenchido</p><p>pelas vibrações do átomo primordial para um possível novo crescimento</p><p>espiritual. Quando, pois, a luz divina é inflamada no santuário da cabeça,</p><p>essa força aflui pelo cordão direito do simpático até o plexo sacro, situado</p><p>na parte inferior da coluna vertebral.</p><p>O plexo sacro, no que concerne ao fogo serpentino comum, está quase</p><p>totalmente isolado. Por conseguinte, a torrente da graça da Gnosis</p><p>preenche todo o ser e desce, ao longo da torre dos mistérios, até a câmara</p><p>terrena do plexo sacro.</p><p>Nele Pingalá é confrontada com Idá. Aí, o campo impulsionador é ligado</p><p>ao campo manifestador, reagente. E agora a torrente tem de subir</p><p>novamente via esse campo reagente, portanto, ao longo do cordão</p><p>esquerdo do simpático, para o ponto de encontro no santuário da cabeça.</p><p>Então a jornada na torre dos mistérios está cumprida, e o novo processo é</p><p>colocado em andamento. A força gnóstica impulsionadora corre para</p><p>baixo; o simpático reage e impulsiona para cima sua resposta, sua</p><p>oferenda, seu filho da graça.</p><p>Os antigos poetas diziam que essa torrente ascendente é uma corrente de</p><p>louvor e gratidão, uma alegria jubilante, uma corrente de renovação. Por</p><p>isso não é surpresa alguma os antigos sábios denominarem o simpático de</p><p>“lira de Deus”, o instrumento musical tangido pela Gnosis.</p><p>Se puderdes imaginar a atividade dessa circulação da manifestação</p><p>gnóstica no duplo simpático e compreender por que os iniciados originais</p><p>chamavam o plexo sacro de plexo santificador, de onde subia a força de</p><p>Idá, então prevereis razoavelmente a consequência disso: o simpático,</p><p>tocado assim pela força gnóstica, transformar-se-á em um novo sistema</p><p>nervoso, uma mudança literal do corpo acontece. O novo éter de</p><p>hidrogênio manifesta-se por intermédio do novo sistema nervoso, do novo</p><p>sistema de linhas de força. Um novo grupo de hormônios, que reagem</p><p>unicamente ao novo fluido nervoso, é liberado no sangue. Um novo fluido</p><p>sanguíneo etérico faz-se valer e desse modo, ó maravilha, uma</p><p>personalidade inteiramente nova é erguida na velha personalidade da</p><p>natureza, porém fora dela! E essa nova personalidade é a personalidade do</p><p>novo homem. Quem iniciou a construção desse novo templo, ainda que</p><p>tenha deitado uma única pedra, é pleno de graça, é pleno de ventura. Ele é</p><p>um irmão ou irmã do quinto degrau.</p><p>Porém atentai e vigiai: “Aquele que julga estar em pé, tome cuidado para</p><p>não cair!”[104] Por isso, é necessário informar-vos minuciosamente sobre o</p><p>significado do relato dramático de Ananias e Safira, que é exposto em</p><p>Atos dos Apóstolos.</p><p>Mediante o maravilhoso campo do simpático torna-se possível construir a</p><p>cidade com as doze portas da libertação. Possa vossa cidade de</p><p>Christianopolis em breve deitar o fundamento de suas doze portas! Possa a</p><p>duodécima porta, com sua refulgência de ametista, logo luzir em vós!</p><p>***</p><p>[102] Cf. At 2:5.</p><p>[103] Blavatsky, H.P. The Secret Doctrine. 1. ed. London: The Theosophical</p><p>Publishing Society, 1897. v. 3, p. 547.</p><p>[104] Cf. 1 Co 10:12.</p><p>II-6 Piedade – II</p><p>Quando o candidato alcança a piedade na senda sétupla, algo muda em seu</p><p>corpo. Os fundamentos para uma realidade de ser totalmente nova são</p><p>deitados sem que essa mudança prejudique demasiado as funções comuns</p><p>da personalidade dialética. O candidato passa a viver duas vidas. Uma vida</p><p>que diminui continuamente, e outra que progride, cresce sempre. Um</p><p>segundo fogo serpentino é formado, e para isso se utiliza o nervo</p><p>simpático.</p><p>Como foi explicado, o nervo simpático consiste em dois cordões, um deles</p><p>situado à esquerda da coluna vertebral, e o outro, à direita. Eles partem de</p><p>um ponto, acima da medula oblonga, em que os dois cordões do simpático</p><p>e o círculo de fogo da pineal concorrem. Além disso eles estão em ligação</p><p>com a câmara do rei, atrás do osso frontal.</p><p>Os dois canais dessa maravilhosa segunda medula espinal formam dois</p><p>campos isolados. Um campo é impulsionador, masculino, criador; o outro</p><p>campo é reagente, feminino, gerador.</p><p>Na Doutrina Universal o campo</p><p>masculino é denominado Pingalá, e o feminino, Idá, enquanto em Atos dos</p><p>Apóstolos eles são indicados como Ananias e Safira, que podem ser</p><p>traduzidos como: “uma graça divina que se manifesta em maravilhosa</p><p>beleza”.</p><p>Por fim, tratamos do processo em que unicamente o coração, portanto o</p><p>átomo-centelha-do-espírito, recebe a nova torrente magnética, que sobe</p><p>via circulação sanguínea ao santuário da cabeça, com o auxílio do</p><p>hormônio do timo, para então descer pelo cordão direito do simpático. No</p><p>plexo sacro, a torrente liga-se ao cordão esquerdo, o qual a impulsiona</p><p>novamente para cima, para o ponto de partida no santuário da cabeça.</p><p>Essa nova circulação magnética é o segundo fogo serpentino, e a nova vida</p><p>se manifestará processualmente, guiada por essa consciência, em todos os</p><p>que a tenham. É evidente, todavia, que para todos os participantes desse</p><p>novo processo magnético surge grande nova responsabilidade, outra</p><p>exigência de vida elevada. É sobre isso que agora desejamos falar e o</p><p>faremos após a introdução da história de Ananias e Safira, que podeis</p><p>encontrar em Atos dos Apóstolos:[105]</p><p>E certo homem, de nome Ananias, com sua mulher, Safira, vendeu uma propriedade,</p><p>mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-</p><p>o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: “Ananias, por que encheu Satanás teu</p><p>coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço do campo?</p><p>Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como,</p><p>pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus”.</p><p>Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os</p><p>ouvintes. Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram.</p><p>Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que ocorrera.</p><p>Então, Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: “Dize-me, vendestes por tanto aquela</p><p>terra?” Ela respondeu: “Sim, por tanto”. Tornou-lhe Pedro: “Por que entrastes em acordo</p><p>para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido,</p><p>e eles também te levarão”. No mesmo instante, caiu ela aos pés de Pedro e expirou.</p><p>Entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a, sepultaram-na junto do marido. E</p><p>sobreveio grande temor a toda a igreja.</p><p>Alguém sensato, ao ouvir essa narrativa da primeira comunidade de</p><p>cristãos, observará: “É, os senhores daquele tempo não pensavam em</p><p>meias medidas!” Se levarmos isso ao pé da letra, trata-se aqui, de fato, de</p><p>um duplo homicídio em que as autoridades civis não intervieram,</p><p>consequência certamente dos costumes bárbaros daqueles dias.</p><p>Suponhamos que vendais um terreno por certa quantia e digais a vossos</p><p>familiares: “Guardemos vinte por cento para nós mesmos para comprar</p><p>isso e aquilo e o restante depositemos no caixa do Lectorium</p><p>Rosicrucianum”. Presumimos que a comissão de finanças, após o</p><p>recebimento dessa quantia, de modo algum cometerá um homicídio duplo,</p><p>mesmo que soubesse não haverdes esvaziado completamente vossa</p><p>carteira!</p><p>É de propósito que colocamos isso desse modo para mostrar o completo</p><p>absurdo dessa narrativa se a tomarmos em sentido literal, pois mesmo no</p><p>conto de fadas mais banal há mais lógica. Já se tentou explicá-la</p><p>indicando-a como a lei comunista da comunhão de bens, à qual os</p><p>membros da primeira comunidade de cristãos tinham de submeter-se sob</p><p>pena de morte.</p><p>Todavia, os que dizem isso ainda estão com a consciência totalmente</p><p>baseada no Velho Testamento. Eles não ponderam que o verdadeiro</p><p>cristianismo é completamente não violento, que a verdadeira comunhão de</p><p>bens não pode basear-se em uma lei escrita e que nessa comunidade a pena</p><p>de morte está totalmente fora de cogitação. Por isso, esse relato, quando o</p><p>examinamos segundo a natureza, está tão longe da verdade, que se tem de</p><p>escolher entre o descrédito de Atos dos Apóstolos ou uma avaliação bem</p><p>diferente. Optamos pela última alternativa na Escola Espiritual da</p><p>Rosacruz Áurea.</p><p>Já dissemos que nesse relato se alude ao duplo simpático, o qual se torna</p><p>em um segundo fogo serpentino, em uma segunda consciência, para o</p><p>candidato da Escola Espiritual enobrecido para isso. Quando a piedade se</p><p>manifesta no aluno, quando a nova circulação magnética se faz valer, ele</p><p>tem de comportar-se completamente segundo uma nova lei divina interna.</p><p>Ele adentra literalmente, corporalmente, um novo mundo, uma nova</p><p>comunidade, a qual se pode com certeza denominar a primeira</p><p>comunidade de cristãos. É a primeira comunhão consciente com as</p><p>radiações de Cristo, de natureza completamente nova. Quem deseja ser</p><p>acolhido nessa comunidade terá de portar-se segundo sua ordem. Essa</p><p>ordem de maneira alguma está regulada por leis, prescrições e inúmeros</p><p>artigos. Por trás dessa ordem não há patíbulos, revólveres ou prisões,</p><p>polícia ou cortes de justiça. Nessa ordem não há nenhum apóstolo</p><p>assentado em um trono elevado nem moços que se ocupam de retirar do</p><p>salão seres humanos que morreram de medo, porém é uma ordem que atua</p><p>de maneira autorreguladora.</p><p>Precisamos de ar para encher os pulmões, para viver. Esta é uma das</p><p>necessidades vitais espontâneas. Na ordem de natureza em que vivemos,</p><p>recebemos esse ar, ele existe para todos. Se adentrássemos um vácuo, onde</p><p>não há ar, sufocaríamos, por isso não o fazemos. Todavia, se o fizermos,</p><p>sabemos quais serão as consequências. Pois assim também é com a</p><p>primeira comunidade de cristãos. Não há nenhuma segunda ou terceira</p><p>comunidade de cristãos… ou breve talvez uma quarta. Há uma eclésia da</p><p>Gnosis, uma comunidade da vida universal. Uma comunidade com uma</p><p>ordem espiritual e científica evidente, que tem sua origem no número de</p><p>linhas de força magnéticas nela atuantes. Quem deseja participar dessa</p><p>comunidade tem para isso de trilhar um caminho.</p><p>Já indicamos esse caminho. É o caminho que foi aberto no coração pelo</p><p>átomo primordial e conduz a uma nova circulação magnética no duplo</p><p>simpático. Essa relação com o fogo da Gnosis, mediante o simpático,</p><p>significa uma nova consciência. Essa consciência manifesta um novo</p><p>querer, um novo desejar, um plano de ação e uma orientação de vida</p><p>totalmente outros, uma obediência completamente inflamada na Gnosis.</p><p>Em suma, um estado de vida inteiramente novo, o qual está sintonizado</p><p>com a base científica de outra realidade mundial.</p><p>Suponhamos pois que algo desse novo nasça em nós. A Escola Espiritual</p><p>procura continuamente alçar e guiar seus alunos, coletiva e</p><p>individualmente, rumo a essa Christianopolis. Desse modo, de tempos a</p><p>tempos, uma flama de elevada vibração magnética cai, qual raio, no</p><p>simpático de muitos deles. Porém ela logo desaparece! Antes que Safira</p><p>possa reagir, Ananias, a irradiação impulsionadora, já foi levado para fora,</p><p>morto, pelos moços.</p><p>Quem são esses moços? Eles são os coveiros mais trágicos que se possa</p><p>imaginar. São os círculos plexais, que sempre têm de purificar o sistema</p><p>nervoso de influências espúrias, removendo ao mesmo tempo as elevadas</p><p>forças que já não podem manter-se devido às influências espúrias. Desse</p><p>modo, Ananias e Safira não foram sepultados no aluno apenas uma vez,</p><p>senão talvez já milhares de vezes!</p><p>Desse modo, já inúmeras vezes atraiçoastes, enganastes e vendestes o</p><p>grande e santo trabalho da Fraternidade e o campo de sua serenidade, pois</p><p>enquanto a Fraternidade se esforçava por vós e vos ensinava a ser</p><p>independentes, escarráveis o veneno do velho fogo serpentino da medula</p><p>espinal central no novo fogo serpentino. O simpático não pode suportar tal</p><p>injeção. Por isso, a semente da renovação já várias vezes foi</p><p>completamente arrebatada de vós.</p><p>Compreendeis que perigo representa vosso egocentrismo pétreo, vossa</p><p>teimosia e vossa obstinação no próprio sistema? Compreendeis que talvez</p><p>diariamente mateis em vós uma possibilidade de renascimento?</p><p>Compreendeis o que a Fraternidade suporta de vós diariamente e com</p><p>paciência ilimitada quando faz descer na torre do simpático, com ternura</p><p>incompreensível, a graça divina, a fim de que vos alceis a nova</p><p>beleza, e</p><p>vós mesmos aniquilais com um golpe do eu esse jovem princípio?</p><p>Compreendeis o que se tem de suportar no trabalho prático da</p><p>Fraternidade Servidora na terra quando se é obrigado a ver como</p><p>danificais o trabalho com vossa presunção e ilusão? Que longanimidade há</p><p>em sempre dar-vos nova oportunidade para dardes novo golpe no trabalho!</p><p>Não podeis compreender isso, porquanto é amor que ultrapassa todo o</p><p>entendimento.</p><p>Todavia, esse amor é extremamente perigoso, pois quem, após paciência</p><p>sem fim, não quer ouvir e prossegue em seu instinto do ego não será</p><p>punido em consequência de uma prescrição ou de artigo tal da lei, porém</p><p>será entregue completamente aos próprios impulsos do eu.</p><p>Após haver sido protegido continuamente da própria estupidez pelo campo</p><p>de força da Fraternidade, o aluno será colocado ante o que ele mesmo</p><p>desencadeou, até que o próprio eu, curvado ou arrasado, tenha aprendido a</p><p>submeter-se, a resistir ao Satanás do ser aural e a consagrar-se em</p><p>completa obediência ao “não ser”. Compreendeis agora que a</p><p>automortificação é uma das primeiras condições prévias da senda?</p><p>Quem não sepultar o eu da natureza não adquirirá o novo eu. Tem-se de</p><p>ressuscitar do túmulo da natureza para a nova vida.</p><p>Quem diz servir à Fraternidade e, todavia, leva uma vida desenfreada</p><p>segundo o eu da natureza, quem altera a seu bel-prazer a Doutrina</p><p>Universal por teimosia e presunção, à custa da Escola de Mistérios e por</p><p>responsabilidade de terceiros, é rechaçado sob responsabilidade própria,</p><p>com todas as consequências. Essa pessoa ainda não perdeu nada, pois o</p><p>que em grande graça nascera no simpático nunca se tornará posse sua,</p><p>porquanto desde esse momento ela já o matara.</p><p>Contudo, quando esse ser humano, com a clara ideia de sua filiação</p><p>perdida, houver aprendido finalmente a pôr o machado ao instinto do eu, e</p><p>levantar-se de seu isolamento para aproximar-se da Fraternidade do modo</p><p>correto, o Pai lhe irá ao encontro, o abraçará e lhe prestará mais honra do</p><p>que ao filho que permanecera em casa, pois quem vence a si mesmo é</p><p>mais forte do que quem conquista uma cidade.</p><p>***</p><p>[105] Cf. At 5:1–11.</p><p>II-7 Piedade – III</p><p>Ponde nisso toda a diligência</p><p>e acrescentai à vossa fé a virtude;</p><p>à virtude o conhecimento;</p><p>ao conhecimento o autodomínio;</p><p>ao autodomínio a perseverança;</p><p>à perseverança a piedade;</p><p>à piedade o amor fraternal;</p><p>ao amor fraternal o amor.</p><p>Até este ponto tratamos, com pormenores, da senda sétupla e vimos, por</p><p>último, que a piedade se relaciona com uma nova e maravilhosa circulação</p><p>magnética da força do Espírito Santo no nervo simpático, o qual é</p><p>designado na Doutrina Universal como a segunda medula espinal, ou o</p><p>segundo fogo serpentino. Esse segundo fogo serpentino é a base de toda a</p><p>nova gênese humana. Sobre essa base, é formada uma nova figura</p><p>corpórea, uma nova personalidade, cujos aspectos e qualidades serão</p><p>tratados minuciosamente quando o tempo para isso estiver maduro.</p><p>Trata-se aqui de ensinamentos relacionados com o Círculo Apostólico,</p><p>com o Terceiro Templo. Quem pode adentrar esse Terceiro Templo em</p><p>virtude de sua piedade recebe o auxílio necessário para poder aprender:</p><p>1. como o novo corpo deve ser alimentado;</p><p>2. como o novo corpo se desenvolve;</p><p>3. como movimentar-se nele;</p><p>4. como o novo corpo deve ser utilizado;</p><p>5. como despedir-se processualmente do velho corpo da natureza.</p><p>Essa informação, evidentemente concisa, talvez esclareça um dos maiores</p><p>problemas — ainda hoje velado para o público dialético — concernente</p><p>aos antigos santos cátaros, a saber, seu suposto suicídio. Os relatos</p><p>descrevem como na Cruzada contra os Albigenses,* durante a Idade</p><p>Média, os prisioneiros da Inquisição, ao serem submetidos às mais</p><p>refinadas torturas e não verem nenhuma salvação, eram forçados a deixar</p><p>o corpo, com um sorriso feliz na face. Mediante o suicídio, escapavam à</p><p>violência de seus algozes. Seus corpos exânimes, em completa paz, eram</p><p>encontrados sem nenhum ferimento externo nem sinal de veneno.</p><p>O que devemos pensar disso? Sabeis o que é o suicídio. Põe-se fim à</p><p>própria vida, força-se a morte corporal. Após isso, o resto da</p><p>personalidade dirige-se para a esfera refletora e, em certas regiões do</p><p>Além, tem de sofrer um período extremamente miserável e doloroso até</p><p>chegar o momento em que a morte teria ocorrido normalmente. Segue-se</p><p>então de imediato a reencarnação, e o fio da vida, o qual foi rompido de</p><p>maneira forçada, tem de ser reatado em circunstâncias mais difíceis.</p><p>Compreendereis que nem um único albigense cometeu tal ato, que, além</p><p>das demais consequências do suicídio, poria a perder completamente uma</p><p>possibilidade existente de real libertação da roda. Não, os santos cátaros</p><p>possuíam o novo corpo, a nova personalidade! Eles participavam do</p><p>Círculo Apostólico daqueles dias e desde então pertencem à Fraternidade</p><p>Apostólica Universal. Por isso, podemos fazer, de suas antigas</p><p>experiências, uma imagem clara que está em total conformidade com as</p><p>leis do processo transfigurístico. Tendes pois de entender que o candidato</p><p>com o fogo serpentino gnóstico no simpático constrói uma nova</p><p>personalidade, a qual está completamente equipada de materiais de</p><p>construção da Gnosis e absolutamente livre desta natureza. É uma</p><p>personalidade que se desenvolve em um campo de vida magnético</p><p>totalmente outro, enquanto ocupa, não obstante, o mesmo espaço que a</p><p>personalidade dialética.</p><p>Portanto, em certo momento, além da personalidade aural, há ainda duas</p><p>personalidades no microcosmo do candidato, a personalidade da velha</p><p>natureza e a personalidade da nova natureza. Por isso, há também, nesse</p><p>estado, dois núcleos de consciência, dois seres-eus.</p><p>Nunca cometais o erro de pensar que vosso eu comum é transferido para o</p><p>novo corpo, que vós próprios, como núcleo de consciência dialético,</p><p>participareis da nova vida! Vossa consciência, como homem dialético,</p><p>pertence aos fenômenos desta natureza. Ela desaparecerá, ela um dia</p><p>cessará de existir se trilhardes a senda. É necessário que o Outro cresça, e</p><p>vós tendes de diminuir.</p><p>Quando a Fraternidade se dirige a vós, ela o faz à vossa totalidade</p><p>microcósmica. Ela fala a vós e ao Outro, que, caso ainda não o possuais na</p><p>forma de uma personalidade, existe contudo potencialmente em vós, em</p><p>vosso microcosmo, oculto como “semente”.</p><p>Podeis imaginar que é de suma importância para os servos da Fraternidade</p><p>Servidora em nosso campo de existência, embora já possuam o novo</p><p>homem, manter a velha personalidade dialética tanto tempo quanto</p><p>possível, pois com essa personalidade dialética se pode estabelecer contato</p><p>com seres humanos dialéticos. Discretamente, de maneira normal e</p><p>natural, pode-se pescar seres humanos do mar da vida da decadência. Eles</p><p>manterão portanto, nesse sentido, sua personalidade dialética até os</p><p>limites extremos do que é alcançável na prática. Somente quando seu</p><p>tempo chega, abandonam, sem chamar atenção alguma, sua velha forma da</p><p>natureza.</p><p>Eles morrem, todavia compreendereis que essa morte é totalmente</p><p>diferente da morte de qualquer outro ser humano. Essa morte não é, então,</p><p>o fruto do pecado, não é nenhuma divisão de personalidade, mediante a</p><p>qual o resto da personalidade se dirige para o Além, porém com essa</p><p>morte o sepulcro é encontrado completamente vazio: nele há apenas a</p><p>veste da velha natureza. Nem mesmo um corpo que foi abandonado, pois</p><p>esse corpo era para o aluno, já há muitos anos, apenas uma camuflagem,</p><p>uma veste, um véu ocultando outra realidade.</p><p>Em um morto comum, o resto da personalidade ainda está presente após a</p><p>morte do corpo. No iniciado transfigurista, contudo, esse resto da</p><p>personalidade já há muito desaparecera, já há muito “morrera em Jesus, o</p><p>Senhor”, como o denominavam os rosa-cruzes clássicos. O que restava era</p><p>apenas a camuflagem, a aparência exterior da velha forma corpórea, a qual</p><p>era ainda utilizada, tanto tempo quando possível, a serviço da humanidade.</p><p>Quando essa velha veste, pois, em certo momento é abandonada, percebe-</p><p>se que já nada existe da velha existência, quer aqui, quer no Além.</p><p>Por isso também se diz que o sepulcro</p><p>de Jesus foi encontrado</p><p>completamente vazio. Não se via nada mais do que alguns lençóis</p><p>enrolados, isto é, a veste exterior da velha forma corpórea. Quando Maria</p><p>quer ver o Senhor, ela tem de olhar para trás. Esse “olhar para trás” é uma</p><p>antiga expressão gnóstica para o contemplar do espaço magnético</p><p>primordial, agora outra vez novo para nós. Lá ela vê aquele que sempre</p><p>havia conhecido interiormente, aquele de quem todavia ainda não pode</p><p>aproximar-se, pois ela ainda existe no velho estado de natureza comum.</p><p>Por isso, ressoa para ela: “Não me toques!” Aqui se alude à mesma lei que</p><p>ocasiona a morte de Ananias e Safira. Não se pode aproximar do</p><p>“totalmente outro” com o que é dialético sem causar-se uma catástrofe.</p><p>Caso reflitais, à luz do que foi dito acima, sobre os antigos albigenses,</p><p>então compreendereis.</p><p>Um grupo de prisioneiros foi emparedado vivo numa caverna. Um muro</p><p>de um metro de espessura erguia-se entre eles e o mundo exterior. A</p><p>intenção é clara: morte lenta por fome. Nem uma possibilidade sequer de</p><p>liberdade. Pensais que tenham ficado ali dias e talvez semanas, na</p><p>escuridão, em meio à imundície e aos insetos, para morrer</p><p>lastimavelmente? Não, eles, que já há muito tinham transformado o</p><p>sistema nervoso simpático em cerebrospinal, sabiam: “Agora chegou</p><p>nossa hora. Nossa tarefa terminou”, e com uma leve pressão da vontade</p><p>sobre o nervo vago, fugiam da veste, da camuflagem, e iam ao encontro da</p><p>eterna liberdade, deixando atrás o sepulcro vazio.</p><p>Outro grupo de cátaros, agrilhoados, foi precipitado do alto do monte da</p><p>cruz, em Foix. Pensais que esperaram o resultado de sua queda? Que</p><p>morreram esmagados, sangrando por causa das feridas abertas, com os</p><p>membros quebrados e em meio a dores infernais? Não, antes de chegarem</p><p>ao chão, já haviam escapado de sua veste, de sua camuflagem, evolando-se</p><p>rumo à claridade da nova vida!</p><p>O mesmo aconteceu com os que foram para a fogueira e com os que foram</p><p>atirados às masmorras. Uma vez que já não eram deste mundo, e a mão</p><p>profana da violência dialética se estendera sobre eles, adentravam sua</p><p>própria pátria. Esta também é a verdade sobre a morte de Jesus, esta é a</p><p>verdade do pretenso suicídio dos cátaros.</p><p>Os que não sabem nem conseguem ver colocam desesperados as mãos</p><p>sobre a face e dizem: “Oh, que terrível, que sofrimento imensurável!” No</p><p>entanto, os que sabem cantam um hino, um hino de borbulhante alegria,</p><p>pois os que morrem em vida a morte voluntária da natureza na endura já</p><p>não podem ser prejudicados pela segunda morte, a morte do corpo, que era</p><p>uma camuflagem. Compreendei bem isso tudo. Para uma informação mais</p><p>precisa, prestai atenção mais uma vez ao Sermão da Montanha. Nele é dito</p><p>aos alunos da Fraternidade Apostólica que possuem “o Outro”:[106]</p><p>Ouvistes que foi dito: “Olho por olho, e dente por dente”. Eu, porém, vos digo que não</p><p>resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e</p><p>ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa.</p><p>O que as hordas romanas tencionavam com a Cruzada contra os</p><p>Albigenses era a destruição da capa, a aniquilação da aparência externa</p><p>dos santos cátaros, pois elas partiam da mistificação de que sob essa capa</p><p>pulsava o coração vivente da Gnosis.</p><p>Todavia, com um riso que ressoava pelas montanhas, os cátaros deixavam</p><p>a capa dialética a seus inimigos — após terem cumprido sua tarefa por</p><p>tanto tempo quanto possível, indo para isso até os extremos — e se</p><p>evolavam às serenas alturas da sagrada tranquilidade.</p><p>Eles alçaram-se dos locais plenos de lágrimas, eles adentraram um novo</p><p>alvorecer. Eles já eram antes irmãos e irmãs da aurora, eles possuíam o</p><p>corpo para tanto, porém permaneceram até quando possível nos campos da</p><p>noite a fim de auxiliar os buscadores em sua escuridão. No entanto,</p><p>pensais que eles lutariam por isso?</p><p>Eles adentraram a nova vida porque sabiam que sempre haverá auxiliares,</p><p>irmãos e irmãs. A corrente da Fraternidade Servidora na terra jamais será</p><p>quebrada.</p><p>Há um entre eles a quem se queira tomar a túnica? Prazerosamente ele</p><p>também deixará a seus agressores a capa.</p><p>Todavia, ele não os desafiará, pois conhece seu dever. Espontânea e</p><p>naturalmente, porém, anseia pelo momento da despedida. Quando esta</p><p>chega, seu lugar é ocupado sem demora por um sucessor. Achais talvez</p><p>esse ponto de vista falso? Prestai atenção pois à Segunda Epístola aos</p><p>Coríntios, onde Paulo diz:[107]</p><p>Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de</p><p>Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também</p><p>gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu […] Porque</p><p>também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque</p><p>queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.</p><p>Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do</p><p>Espírito.</p><p>Assim nos dirigimos a todos os que estão no quinto degrau e aos que</p><p>anseiam por esse estado de maçom. Mais perto do que nunca, os santos</p><p>valores da nova vida são trazidos a vós. Palavra por palavra, são-vos</p><p>soletrados os valores do consolamentum, que no quinto degrau se tornam</p><p>realidade como piedade no simpático. Por isso, também podeis acolher as</p><p>palavras da Epístola aos Efésios, como se fossem pronunciadas para vós:</p><p>[108]</p><p>Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da</p><p>família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele</p><p>mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce</p><p>para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para</p><p>morada de Deus no Espírito.</p><p>Um edifício imperecível, livre de toda a natureza dialética, pode ser</p><p>erigido sobre a base de uma nova circulação magnética. Para esse ofício de</p><p>construtor todos vós sois chamados. Quem puder mostrar suas ferramentas</p><p>para isso receberá no Círculo Apostólico a oportunidade para a construção</p><p>do novo templo, santo no Senhor, bem ajustado, uma nova morada. Quem</p><p>adentra esse céu está seguro, é intangível a qualquer violência. Quem vive</p><p>nesse céu sorrirá pela primeira vez em sua existência microcósmica</p><p>decaída. Sorriso libertador, jubilante de alegria.</p><p>***</p><p>[106] Cf. Mt 5:38–40.</p><p>[107] Cf. 2 Co 5:1–2,4–5.</p><p>[108] Cf. Ef 2:19–22.</p><p>II-8 Amor fraternal</p><p>No sexto degrau da senda sétupla, o amor fraternal segue à piedade, e</p><p>examinaremos agora o que em realidade acontece nesse sexto degrau.</p><p>Vimos que a piedade se refere a uma nova circulação magnética de força</p><p>gnóstica santa no nervo simpático, o qual é indicado na Doutrina Universal</p><p>como a segunda medula espinal, ou segundo fogo serpentino. Se esse</p><p>processo se inicia e não é perturbado por ações egocêntricas da natureza</p><p>comum, a consequência, entre outras coisas, é que o inteiro ser do</p><p>candidato será iluminado por uma luz supranatural. Ela é uma força de luz</p><p>cujos elementos não provêm de nenhum campo dialético, porém é de</p><p>qualidade totalmente outra, a qual não se origina desta natureza.</p><p>Essa nova força de luz sobe pelo cordão esquerdo do simpático. Devido a</p><p>suas características, ela é denominada, na Doutrina Universal,</p><p>maravilhosa, bela, encantadora e gloriosa. Quando ela se manifesta, isto é</p><p>uma prova de que o fluido gnóstico que o toca se tornou uma propriedade,</p><p>uma posse pessoal do aluno. Enquanto o fluido da Gnosis desce pelo</p><p>cordão direito do simpático, não se pode falar de uma posse pessoal. Isso</p><p>apenas acontece quando o fluido consegue passar pelo plexo sacro, sendo</p><p>aí, por assim dizer, transposto, e sobe ao longo do cordão esquerdo do</p><p>simpático.</p><p>Todavia, essa corrente ascendente é de natureza totalmente distinta da</p><p>corrente descendente, de vibração muito mais fraca e de faculdade não tão</p><p>dinâmica.</p><p>No início, o que se manifesta nessa marcha ascendente é apenas um</p><p>princípio, um fraco prenúncio, o início de uma aurora, uma faculdade que</p><p>pode desenvolver-se em uma força muito poderosa. O que se manifesta</p><p>desse modo é denominado pela Sagrada Escritura de amor</p><p>fraternal.</p><p>Portanto, é claro que esse amor tem de passar por um processo de</p><p>desenvolvimento.</p><p>O amor é chamado a maior e mais poderosa força em todo o universo.</p><p>Deus é identificado com ele. “Deus é amor”,[109] diz a Sagrada Escritura.</p><p>O que se manifesta nessa nova circulação magnética é também</p><p>literalmente, portanto, “Deus manifestado na carne”.[110] A Gnosis mesma</p><p>brilha e trabalha no sistema microcósmico decaído; o amor mesmo tornará</p><p>tudo novo.</p><p>Não é necessário argumentar que o que chamamos amor na dialética nada</p><p>tem a ver com esse amor nem mesmo pode ser comparado a ele. O amor</p><p>em nossa natureza é uma qualidade de nosso potencial natural de bondade.</p><p>Essa qualidade pode realizar muito e ter sua própria beleza; todavia,</p><p>comparada com a nova faculdade do sexto degrau, é menos do que nada.</p><p>O amor na natureza como qualidade da bondade tem, primeiro, seus</p><p>limites; segundo, não é incondicional; terceiro, exclui outros e, portanto, é</p><p>egocêntrico; quarto, surge sempre com diversas máculas, como por</p><p>exemplo, estupidez, egoísmo, indiferença e ódio.</p><p>Como faculdade desta natureza, ele tem de contar, porém, com a lei dos</p><p>opostos. Por isso ele é responsável pelo maior sofrimento que a</p><p>humanidade decaída já vivenciou.</p><p>Se um dos mais belos aspectos da faculdade humana da bondade pode</p><p>converter-se em seu oposto e projetar sombras tão perigosas, então é certo</p><p>que aqui, ou justamente aqui, reside a maior fonte de dor.</p><p>Essas coisas são muito dramáticas. Por séculos a fio se soube disso.</p><p>Quantas figuras imortais da literatura mundial testemunharam disso! O</p><p>que de mais belo o ser humano pode possuir sobre a terra, o único</p><p>raiozinho de calor que os homens podem alcançar na frialdade do mundo,</p><p>pode transmutar-se na maior perversidade, na maior atrocidade, no maior</p><p>demonismo. Mesmo no auge de suas possibilidades, esse amor não é</p><p>perfeito e exclui outros.</p><p>Atacamos aqui o ponto mais fraco da dialética! Por isso, não é de admirar-</p><p>se que em todos os tempos se tenha procurado, partindo do lado</p><p>conservador da natureza, disfarçar esse ponto extremamente fraco de</p><p>diversas maneiras. Neste dia de manifestação em que o livro da natureza</p><p>vira agora uma de suas páginas, é evidente que se tente parodiar o único</p><p>amor, o amor manifestado na carne, por meio do humanismo. Quem se</p><p>oporia a uma realização de humanidade? Quem não teria respeito por</p><p>esforço e vida humanistas? Quem de nós não tem respeito pelos</p><p>representantes humanistas da humanidade, que sacrificam a vida a serviço</p><p>de outrem? De fato, o humanismo prático, levado a efeito até as mais</p><p>extremas consequências, é a única coisa existente no plano horizontal da</p><p>vida comum que se pode fazer em prol da deplorável humanidade.</p><p>Compreendeis entretanto ao mesmo tempo a horrível ilusão, o contínuo</p><p>girar da roda, que surgem disso?</p><p>Terrível enfermidade aflige a humanidade, enfermidade que faz inúmeros</p><p>sofrer as mais medonhas dores. Milhares e dezenas de milhares estão</p><p>ocupados em minorar essas dores. Grandes somas são angariadas. Grande</p><p>onda humanista se movimenta. Grande bondade arde em milhões de</p><p>pessoas. A causa fundamental, a essência de toda a doença, nossa</p><p>existência dialética permanece completamente intata. Pior ainda, segundo</p><p>as leis fundamentais da dialética, a maldade coletiva da humanidade e os</p><p>sofrimentos a ela ligados são estimulados e fortalecidos na mesma</p><p>proporção em que a luta humanista comum contra a enfermidade se</p><p>desenvolve. O terrível estado doentio da humanidade piora com isso ainda</p><p>mais! Dez anos, porém, de uma atitude de vida modificada total e</p><p>fundamentalmente fariam a aflição sumir como uma rajada de vento! Não</p><p>obstante, humanidade é bondade. Ela libera elementos de fraternidade.</p><p>Quem aspira a essa fraternidade tem de realizar esse trabalho. Todavia, é</p><p>bom que ele saiba que essa fraternidade de homens de modo algum liberta,</p><p>senão, ao contrário, atua mantendo a natureza e, por isso, gerando dor.</p><p>***</p><p>Tomando novamente o fio de nossa explicação, averiguamos que a força</p><p>do amor fraternal, a qual se manifesta no aluno no sexto degrau da senda</p><p>sétupla, não é nenhuma força, nenhuma qualidade que se origine desta</p><p>natureza e, portanto, tampouco jaz potencialmente submersa na</p><p>humanidade dialética. Aquilo que se declara na nova circulação magnética</p><p>é “Deus manifestado na carne”. Essa força de irradiação parte do</p><p>simpático, propaga-se via fluido nervoso e sangue e em certo momento</p><p>preenche todos os órgãos.</p><p>Desse modo se origina maravilhoso cativeiro. O candidato está</p><p>literalmente cativo na Gnosis, uma situação que, entre outros lugares, é</p><p>descrita tão magnificamente no Salmo 139:</p><p>Senhor, tu me sondas e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar; de</p><p>longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar, e</p><p>conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha língua, eis</p><p>que, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a tua</p><p>mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não posso atingi-lo.</p><p>Quando essa força de irradiação arde por completo no aluno e dele se</p><p>apodera por todos os lados, ele passará, a partir desse momento, a ver o</p><p>mundo dos fenômenos de maneira diversa. O aluno se aproximará</p><p>sensorialmente do mundo de modo absolutamente distinto. Ele está nesta</p><p>natureza como homem totalmente diferente. Ele abandonou o</p><p>egocentrismo da velha natureza e já não é uno com ela. Ele não é</p><p>atormentado pelas aflições próprias deste campo de vida, senão permanece</p><p>literal e corporalmente como um estranho neste mundo. Já não pertence ao</p><p>mundo, porém está nele.</p><p>Suas faculdades de reação funcionam de maneira completamente distinta.</p><p>Ele compreende melhor do que nunca o procedimento de seus</p><p>semelhantes, que ainda são perfeitamente unos com este campo de vida.</p><p>Ele sabe que esses pobres, esses condenados, não podem agir de outro</p><p>modo. Dessa maneira, o que irrita, enraivece e impele outros à ação o</p><p>deixará absolutamente impassível. Assim como compreendemos um</p><p>animal e verificamos as características e o comportamento da espécie e</p><p>não nos irritamos porque determinado animal é e age conforme sua</p><p>espécie, o irmão ou a irmã do sexto degrau distinguirá os diversos tipos</p><p>humanos em sua espécie e os considerará de maneira perfeitamente não</p><p>emocional.</p><p>Dia e noite, os seres humanos desta natureza são mantidos ocupados por</p><p>outros seres humanos de todas as formas possíveis, com seus problemas e</p><p>sua maneira de comportar-se. Talvez canseis o cérebro com todos os</p><p>muitos problemas, perguntas e enigmas a vossa volta, que são causados</p><p>por todos os seres humanos com quem tendes de lidar cotidianamente.</p><p>Todavia, tão logo estejais inflamados na torrente de amor da Gnosis, tereis</p><p>sobejamente tempo e energia, pois assim como conheceis o cãozinho do</p><p>vizinho, também conheceis o próprio vizinho. Com o raio de ação</p><p>inteiramente novo de vossos órgãos dos sentidos, sabeis, sentis, percebeis,</p><p>o que o vizinho pensa, o que ele é e o que fará. Em um relance descobris</p><p>seu tipo e então não tendes de defender-vos, não tendes de lutar nem</p><p>tendes de demorar-vos nisso. Tendes apenas de ser cautelosos.</p><p>Reconheceis um animal zangado e um animal estúpido. Não vos zangais</p><p>porque o animal está zangado, muito menos vos irritais por causa de sua</p><p>estupidez. Apenas levais isso em conta. Assim, vós, que estais no sexto</p><p>degrau, levareis em conta seres humanos zangados, estúpidos ou treinados</p><p>nesta ou naquela direção. Concomitantemente emana de vós a influência</p><p>que a Gnosis manifesta em vós. É a força do amor de Deus. Todavia,</p><p>atentai bem! Ela é uma força magnética, uma força buscadora e, ao mesmo</p><p>tempo, uma força atrativa.</p><p>Desse modo, caminhareis com essa nova faculdade entre a humanidade e</p><p>certamente entrareis em ligação com todos os diversos tipos humanos</p><p>possuidores de um átomo-centelha-do-espírito. Reconhecê-los-eis, assim</p><p>como eles se sentirão atraídos pela nova corrente magnética. Assim,</p><p>andareis qual pescador entre os homens e apanhareis irrevogavelmente em</p><p>vossa rede todos os que podem ser apanhados.</p><p>Isso é o amor fraternal:</p><p>verdadeira nova faculdade existencial irradiante na</p><p>Gnosis. Por trás dela não está o eu. Ela não é consequência de uma</p><p>decisão: “Agora tenho de amar o próximo!”, ou: “Agora me colocarei a</p><p>serviço do ser humano”. Quem possui essa faculdade está</p><p>existencialmente a serviço do ser humano. Ele não pode deixá-la, pois essa</p><p>faculdade o cerca de todos os lados. Este é o segredo do Círculo</p><p>Apostólico, este é o segredo do trabalho da Escola Espiritual moderna.</p><p>Por que os alunos vêm às centenas a nossos templos? Por que os seres</p><p>humanos fora da Escola Espiritual se admiram do procedimento dos</p><p>alunos, que semana após semana vão aos templos e mês após mês viajam</p><p>para os locais de conferência? Por que eles dizem: “Isso é</p><p>incompreensível, isso não pode ser”?</p><p>Porque o que está oculto aos homens deste mundo é revelado aos filhos de</p><p>Deus. Um filho de Deus é um ser humano com um átomo-centelha-do-</p><p>espírito a arder por trás do esterno, um ser humano que, perdido, tateia e</p><p>busca na noite do mundo. Esse filho de Deus é achado e, por conseguinte,</p><p>atraído para o campo de força da Fraternidade, pela força gnóstica do amor</p><p>fraternal, a qual se revela em número cada vez maior de irmãos e irmãs.</p><p>Nada pode resistir a esse amor fraternal, pois esse amor é um fogo</p><p>consumidor. Quem foi apanhado por ele e é arrastado por esse redemoinho</p><p>é subjugado. Semelhante ligação já quase não pode ser desfeita. Esse é o</p><p>segredo deste trabalho.</p><p>Não é necessário ser profeta para poder dizer com certeza que breve, e</p><p>com rapidez crescente, milhares buscarão a Escola Espiritual. Se vos</p><p>esforçardes em galgar a senda sétupla, isso desencadeará uma tempestade</p><p>de amor fraternal, cujo resultado ultrapassará todo o entendimento.</p><p>Essa experiência, esse conhecimento, ser-nos-á demasiado maravilhoso,</p><p>elevado.</p><p>Talvez também compreendais agora algo do famoso capítulo 13 da</p><p>Primeira Epístola aos Coríntios:</p><p>Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria</p><p>como o metal que soa ou como o címbalo que retine.</p><p>Paulo quer dizer que o ser humano sem a nova faculdade existencial não</p><p>tem força. “E ainda que eu pudesse profetizar e soubesse todos os</p><p>mistérios da ciência” — aqui ele alude ao ápice que o ocultismo natural</p><p>pode alcançar — “e ainda que tivesse fé e transportasse montanhas” —</p><p>aqui ele indica as alturas sagradas da vida religiosa natural e mística — “e</p><p>não tivesse amor, eu nada seria” — não se pode realizar nenhum trabalho</p><p>de libertação da humanidade sem esse amor — “e ainda que desse todas as</p><p>minhas posses aos pobres e entregasse meu corpo para ser queimado, e não</p><p>tivesse amor, nada disso me aproveitaria.”</p><p>Paulo alude aqui às limitações da vida humana natural. E então continua a</p><p>explicar o que é e faz o verdadeiro amor fraternal, que ele liberta o mundo</p><p>e a humanidade, como ele abarca, trespassa e purifica tudo, como é eterno</p><p>e imperecível, porque é Deus. E conclui: “Agora, pois, permanecem a fé, a</p><p>esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor”.</p><p>Um aluno que irradia, por causa da fé, lapidou seu átomo-centelha-do-</p><p>espírito, transformando-o em uma maravilhosa joia, a qual emite luz e traz</p><p>interiorização.</p><p>Um aluno preenchido de esperança colocou o círculo ígneo do cundalini</p><p>qual coroa sobre a cabeça, e essa força radiante dá coragem.</p><p>Porém o aluno que está no amor possui a nova faculdade do sexto degrau,</p><p>e isso dá força. Ele é acolhido no Círculo Apostólico, ele tem seu assento</p><p>no Terceiro Templo, ele tornou-se pescador de homens.</p><p>Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o</p><p>maior destes é o amor.</p><p>***</p><p>[109] Cf. 1 Jo 4:8,16.</p><p>[110] Cf. 1 Ti 3:16.</p><p>II-9 O amor – I</p><p>Explicamos com detalhes o amor fraternal, que se revela em faculdade</p><p>existencial realmente nova, irradiante na Gnosis, e não deve ser</p><p>confundido com o potencial de bondade do homem dialético.</p><p>Essa nova faculdade desenvolve-se no aluno do sexto degrau que tornou</p><p>possível a realização corporal de uma nova circulação de fluido gnóstico</p><p>no simpático, sem obstaculizar esse processo com o egocentrismo da velha</p><p>natureza. A luz que irradia dessa circulação ígnea magnética é o amor</p><p>fraternal de que fala a Doutrina Universal. Ela é uma força</p><p>verdadeiramente divina, nascida na carne, e confere um apostolado, isto é,</p><p>o candidato que possui essa força pode ser um verdadeiro servo de Deus,</p><p>um servo da Gnosis. Quando essa força de amor toma forma no sistema de</p><p>algum aluno, é-lhe possível irradiar e transmitir essa força santa, também</p><p>denominada Espírito Santo, aos que anseiam e buscam o Espírito. Tal</p><p>irmão ou irmã poderá espontaneamente alcançar outros e ajudá-los com a</p><p>Gnosis recebida. O fluido magnético do outro reino pode então, desse</p><p>modo, ser consolidado no coração dos homens abertos a isso.</p><p>O potencial de bondade da natureza comum, indicado também como amor</p><p>fraternal, está em forte contraste com isso. Esse potencial de bondade pode</p><p>estar apto a realizar muito, como o demonstra sobejamente a história</p><p>mundial, todavia nunca é libertador. Ele continua sendo da natureza</p><p>dialética e é uma faculdade totalmente distinta do amor fraternal a que a</p><p>Doutrina Universal se refere. Esse amor é o segredo do sexto degrau!</p><p>A piedade nasce mediante a perseverança. Talvez compreendais que essa</p><p>piedade não cresce nem se manifesta de modo automático. Nossas</p><p>explicações prévias deixaram isso bem claro. Também a utilização da nova</p><p>faculdade, seu uso prático, não pode nem deve ocorrer assim, sem mais</p><p>nem menos. Ela está ligada a leis santas. Somente quando o candidato que</p><p>possui a faculdade conhece e domina essas leis, é que ele pode e deve</p><p>utilizá-la na prática, com consequências que verdadeiramente servirão a</p><p>Deus. Talvez também possais compreender agora melhor a conexão entre</p><p>os três templos:</p><p>1. no Primeiro Templo o aluno é instruído na Doutrina Universal e é</p><p>confrontado com ela;</p><p>2. no Segundo Templo é empreendida uma tentativa de consolidar no</p><p>sistema, de maneira definitiva e consciente, a luz e a força do novo</p><p>auxílio magnético;</p><p>3. no Terceiro Templo o aluno — que desse modo irrompeu no Círculo</p><p>Apostólico e, portanto, dele faz parte — receberá instrução e auxílio</p><p>das leis sagradas do apostolado. Em dado momento, de posse do novo</p><p>autodomínio, ele poderá e deverá pescar do mar da vida almas humanas</p><p>buscadoras, a serviço da Fraternidade.</p><p>Queremos dar uma explicação mais detalhada concernente às três leis</p><p>sagradas do apostolado, a fim de que tenhais uma perspectiva bem nítida</p><p>do inteiro trabalho que é feito nos três templos. O fundamento desse</p><p>grande trabalho não são mistérios, e a chave única para a entrada é a</p><p>qualidade interior.</p><p>Assim, dirigimos a atenção para o último capítulo do Evangelho de João, o</p><p>capítulo 21.</p><p>O relato começa assim: Alguns alunos mais ou menos adiantados da</p><p>Escola Espiritual reuniram-se às margens do mar de Tiberíades, que é o</p><p>mar da vida dialética. Esses alunos dispõem de grandes possibilidades e</p><p>certamente não são os melhores. Eles compreendem a Doutrina Universal</p><p>com a consciência cerebral e conhecem todos os seus aspectos. Eles foram</p><p>instruídos pessoalmente por Jesus, o Senhor, que lhes revelou o caminho</p><p>da vida. Eles cresceram no trabalho da Escola Espiritual e assim foram</p><p>fortalecidos. Agora lhes vem espontaneamente a necessidade de sustentar</p><p>e expandir o trabalho que viram e ouviram também mediante atividade</p><p>pessoal. Por isso está presente neles, ao lado de seu conhecimento, o</p><p>desejo de ser pescadores de homens.</p><p>Simão Pedro disse: “Vou pescar”; os outros responderam: “Nós também</p><p>vamos contigo”. Eles saíram e subiram ao barco. Eles organizaram-se,</p><p>reuniram-se, discutiram, decidiram e foram; todavia, não pescaram nada!</p><p>Isso nunca se mostra de imediato. No início é como que se os pescadores</p><p>tivessem sucesso. Quando a manhã irrompe, porém, mostra-se que todas</p><p>as redes estão completamente vazias. Isso é uma experiência maravilhosa</p><p>para um aluno talentoso e ambicioso, isto é, reconhecer que ele de nada é</p><p>capaz senão juntar ilusões — se ele se põe a pescar segundo a natureza e</p><p>conservando seu egocentrismo.</p><p>O resultado então é completamente</p><p>negativo. Quem ainda não experimentou isso, quem ainda não está</p><p>consciente disso, quem ainda não pode aceitar isso, tem ainda de esfalfar-</p><p>se durante um período na noite de sua ilusão até que venha a alvorada da</p><p>desilusão.</p><p>Quando, na história de Pedro, a alvorada surge, Jesus, o Senhor, aproxima-</p><p>se deles e pergunta: “Tendes alguma coisa de comer?”[111]</p><p>Imaginai que vós, em semelhante estado de ser, sois desiludidos pela</p><p>aurora, porém não queirais aceitar essa desilusão. Esperastes tanto da</p><p>pesca, dirigistes o lançamento das redes e falastes tanto, vangloriando-vos</p><p>do resultado vindouro, que a alvorada vos encontrou arrasados. Então vem</p><p>a pergunta: “Tendes alguma coisa de comer?”</p><p>Ou podeis dizer com honestidade, do imo, embora, é lógico, muito</p><p>desiludidos: “Absolutamente nada!”, ou podeis, disfarçando</p><p>completamente vossa insuficiência e vossa própria consternante</p><p>descoberta, dizer com um sorriso magistral, um gesto de superioridade e</p><p>algumas rugas na testa: “Entrai, há aqui comida em abundância!” Fazeis</p><p>alarido. Aqui um livro e ali uma brochura. Pregais uma lição ao faminto</p><p>ou o convidais para uma reunião. E assim o dia passa, e nova noite de</p><p>ilusão cai sobre as ondas do mar da vida.</p><p>Aquilo por que o faminto indagava era algo da borbulhante, cálida, nova</p><p>faculdade magnética, da água viva do amor fraternal, da faculdade</p><p>magnética de Deus na carne. Ah! Não se vos levará a mal se nada tiverdes</p><p>a oferecer. Esse é o estado dialético fundamental! Não pode ser de outro</p><p>modo. Declarai isso, porém! Não vos escondais atrás da ilusão da própria</p><p>cegueira, da tola presunção do eu! Descobri a vós mesmos!</p><p>Trata-se aqui do grande momento psicológico na alma do aluno em que ele</p><p>pode responder à pergunta: “Tendes alguma coisa de comer?”, não com</p><p>desespero, orgulho ferido ou fingindo-se de ofendido, porém do imo, pleno</p><p>de autoconhecimento e alegria interior: “Absolutamente nada”. Quem</p><p>aceita e reconhece esse nada, e realmente está cheio de interesse pelo</p><p>horrível sofrimento e pela busca da humanidade, ouve a voz: “Lançai a</p><p>rede para o lado direito do barco e achareis”.</p><p>E o resultado? Cento e cinquenta e três peixes! Talvez conheçais o</p><p>significado desse número. A soma de seus algarismos é o número da</p><p>humanidade: 9. A rede tem ligação completamente impessoal com o</p><p>público que se interessa em encontrar a Escola Espiritual.</p><p>Como se desenvolve esse milagre aparente? A história narra que Pedro</p><p>estava nu. Ele lançara tudo fora, até os limites mais extremos de suas</p><p>possibilidades. Quem chegou a seu nada e se comporta</p><p>correspondentemente pode permanecer na luz universal da nova</p><p>dispensação* magnética. Quando essa luz puder afluir ao coração e</p><p>preencher a cabeça, o ardor do amor fraternal, a força com que os homens</p><p>terão de ser salvos do mar da vida, poderá demonstrar-se. Esse é o</p><p>significado do número cento e cinquenta e três. Quem nasceu nessa</p><p>ligação pode comer do pão celeste e dá-lo a outrem.</p><p>A fim de elucidar isso, um diálogo desenvolve-se entre Jesus e Pedro em</p><p>que as três leis sagradas e inabaláveis do apostolado são tratadas. Com</p><p>grande ênfase falamos convosco sobre essas leis. Não para confrontar-vos</p><p>já com elas, porém para deixar claro que todo o aluno, cada um em seu</p><p>próprio ritmo, tem de crescer para o cumprimento dessas leis. Além disso,</p><p>queremos lembrar-vos de que quem diz “Estou de pé” tem de cuidar para</p><p>não cair!</p><p>A primeira lei sagrada é descrita na história da seguinte maneira:[112]</p><p>Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-</p><p>me mais do que estes outros?” Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”.</p><p>Jesus lhe disse: “Apascenta os meus cordeiros”.</p><p>Imaginai que vos encontrais no círculo de todos os que vos amam, em</p><p>meio a vossos caros amigos e caras amigas, em meio àqueles para quem</p><p>talvez faríeis tudo, e que então ressoa a pergunta da Gnosis: “Amas-me</p><p>mais do que estes outros?” Responderíeis então que a torrente de bem-</p><p>aventurança que aflui ao santuário do coração é mais importante para vós</p><p>do que qualquer outra coisa? Que desejais aceitar todas as consequências</p><p>correspondentes? Que não dizeis isso em uma onda de emoção ou</p><p>exaltação, senão porque compreendeis de modo fundamental que esse</p><p>estado é vosso estado?</p><p>Caso digais um “sim”, então cumpristes a exigência da primeira lei</p><p>sagrada do apostolado. Isso não significa de modo algum, segundo espaço</p><p>e tempo, que ireis despedir-vos completamente de todos os vossos</p><p>parentes e amigos, senão que passareis a relacionar-vos com eles de</p><p>maneira completamente distinta: no mundo, porém já não do mundo, e que</p><p>as eventuais consequências já não trarão nenhum problema. Quem</p><p>preenche essa primeira lei sagrada ofereceu à Gnosis o santuário do</p><p>coração e somente ele pode pescar no mar da vida.</p><p>Uma segunda vez [Jesus] lhe disse: “Simão, filho de João, tu me amas?” “Sim, Senhor”,</p><p>disse ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”.</p><p>O candidato é colocado aqui perante a segunda lei sagrada. Agora já não se</p><p>trata do relacionamento emocional com outros, que eventualmente pode</p><p>ser um obstáculo ao grande trabalho da Fraternidade, porém da correta</p><p>relação conceitual com o sagrado trabalho.</p><p>Assim como o coração tem de estar livre do eu, este também é o caso com</p><p>o santuário da cabeça. A pureza do querer e do saber tem de tornar-se</p><p>absoluta. A vontade tem de ser absorvida de maneira harmoniosa pela</p><p>vontade da Gnosis. Assim deve ser demonstrado o amor à Gnosis. Quem</p><p>ainda está na cegueira da obstinação aniquila, de tempos a tempos, a</p><p>ligação de amor com a Gnosis, o que leva a horrível caos no simpático.</p><p>Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro</p><p>entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: “Tu me amas?” E respondeu-lhe:</p><p>“Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo”. Jesus lhe disse:</p><p>“Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais</p><p>moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho,</p><p>estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Disse isto para</p><p>significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-</p><p>lhe: “Segue-me”.[113]</p><p>Esta é a terceira lei sagrada do apostolado. Quem se consagrou à</p><p>Fraternidade, segundo o coração e a cabeça, com o não eu, já não trilhará,</p><p>em nenhuma circunstância, o caminho da natureza, mas sim todas as</p><p>veredas em que é conduzido pela Gnosis.</p><p>Somente então ele se torna um instrumento perfeito nas mãos da</p><p>Fraternidade, e a nova circulação magnética do simpático irradia, qual luz</p><p>do sol, o amor fraternal na escura natureza, e as cavernas mais tenebrosas</p><p>são aquecidas por essa chama. Quem cumpre essa terceira lei sagrada</p><p>experimentará que outro o cingirá e levará para onde ele não quer ir.</p><p>Aparentemente de modo sombrio e sinistro o evangelista observa: “Disse</p><p>isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a</p><p>Deus”.</p><p>É Pedro aqui de fato abandonado à morte? É dito aqui ao candidato:</p><p>“Agora que cumpriste essa lei, receberás o que lhe segue: perseguição e</p><p>martírio, prisão e uma morte miserável”?</p><p>Se isso fosse correto, o inteiro drama de Cristo e o seguir a Cristo por</p><p>completo seriam colocados na esfera mística estereotipada de sofrimento e</p><p>dor da religião natural.</p><p>Pelo contrário, a vida dialética é puro esforço e dissabor; todavia, quem</p><p>segue as pegadas de Cristo é dispensado dessa dor contínua e vai para onde</p><p>a vida e a existência dialéticas nunca podem existir. Não é assim que todo</p><p>o candidato, ao trilhar a senda, morre a morte da natureza completamente</p><p>não divina a fim de glorificar a Deus de modo absoluto no novo campo de</p><p>vida magnético?</p><p>***</p><p>[111] Cf. Jo 21:5.</p><p>[112] Cf. Jo 21:15.</p><p>[113] Cf. Jo 21:17–19.</p><p>II-10 O amor – II</p><p>Desejamos agora falar sobre o último degrau da senda sétupla: “[…] ao</p><p>amor fraternal o amor”. Novamente, fazemos uma retrospectiva para dar</p><p>uma visão geral de tudo o que foi transmitido nos capítulos</p><p>imediatos</p><p>precedentes. Vimos minuciosamente que caminho percorre a luz gnóstica,</p><p>a força do Reino Imutável, o fluido magnético não dialético, no aluno que</p><p>a ela se abre.</p><p>A chave para a senda é a fé, isto é, a ligação do átomo-centelha-do-espírito</p><p>no coração com a pura luz divina. Quando essa porta está aberta e a nova</p><p>força pode adentrar o sistema do aluno e aí atuar, ele estará realmente apto</p><p>para a senda da renovação. Por esse motivo, o primeiro degrau da senda</p><p>sétupla diz: “[…] acrescentai à vossa fé a virtude”. Quando a verdadeira</p><p>fé, e com ela, virtude, aptidão, estão presentes, há perfeita disposição de</p><p>abandonar a própria natureza egocêntrica, de diminuir cada vez mais</p><p>segundo o eu da natureza, a fim de que a nova luz possa afluir</p><p>desimpedida ao sistema.</p><p>Se essa condição foi cumprida, o candidato pode galgar o segundo degrau</p><p>e, com isso, progredir da virtude para o conhecimento. Esse segundo</p><p>degrau alude a uma libertação elementar, ou abertura do santuário da</p><p>cabeça ao fogo da renovação. A consequência disso é que a aptidão</p><p>recebida se manifesta em conhecimento. O antegozo da onisciência da</p><p>manifestação universal torna-se realidade. Quando o aluno chega a esse</p><p>ponto, desenvolve-se nele grande luta interior, pois duas naturezas, duas</p><p>forças, a velha e a nova, declaram-se agora nele. Trata-se, pois, se ele</p><p>trilhará até o fim a senda joanina do “É necessário que ele, o Outro, cresça</p><p>e eu diminua”.</p><p>Ele terá de demonstrar se leva a endura a sério. Por isso, ele terá de</p><p>mostrar autodomínio no terceiro degrau. Não apenas por algum tempo,</p><p>como em um esforço extremo, porém fundamentalmente. Ele mostra</p><p>assim, no quarto degrau, perfeita perseverança, grande, interna e imutável</p><p>fidelidade ao processo da graça que nele se revela. Quem é capaz disso,</p><p>portanto, quem é achado fiel, recebe no quinto degrau a piedade.</p><p>Essa é a descida do novo fluido gnóstico pelo cordão direito do simpático</p><p>a fim de que seja deitado o fundamento para um segundo fogo serpentino.</p><p>Se essa mudança fundamental do ser não experimenta nenhum estorvo, o</p><p>novo fogo do cordão direito do simpático irromperá através do plexo</p><p>sacro, ascenderá pelo cordão esquerdo do simpático e retornará a seu</p><p>ponto de partida, acima da medula oblonga.</p><p>Quando esse caminho é inteiramente explorado e a nova circulação ígnea</p><p>magnética se manifesta completamente ao longo dos dois cordões do</p><p>simpático, o novo fogo serpentino, a nova consciência, o novo eu nasce, e</p><p>o sexto degrau pode ser galgado: “[…] à piedade o amor fraternal”.</p><p>A nova consciência irradia, evidencia-se, tal qual o fazia o antigo eu. Uma</p><p>nova atividade, uma nova ação é levada ao mundo. Essa nova ação é</p><p>característica, extraordinariamente diversa de todos os esforços e</p><p>atividades da bondade da velha natureza. A nova ação é espontânea, não é</p><p>forçada magicamente. Ela é capaz de achar, atrair magneticamente e</p><p>capturar tudo o que está e se sabe perdido nas trevas do mar da vida, como</p><p>em uma rede tecida de novas linhas de força magnéticas. Mesmo se a</p><p>inteira parte da humanidade em consideração fosse nela apanhada, ela é</p><p>tão forte que resistiria. Apesar da grande quantidade de peixes, ela não se</p><p>romperia.</p><p>Esse é o segredo do trabalho fidedigno. Quando se pesca com a rede do</p><p>amor fraternal, a qual foi atirada no sexto degrau, todas as tempestades são</p><p>vencidas invariavelmente, pescas gloriosas se derramarão todos os dias na</p><p>praia.</p><p>Agindo e pescando desse modo, o sétimo degrau é galgado: “[…] ao amor</p><p>fraternal o amor”.</p><p>Examinemos agora o que significa o sétimo degrau, e o que ele tem a</p><p>dizer-nos. A Segunda Epístola de Pedro, de onde tiramos o texto da senda</p><p>sétupla, indica com relação a esse sétimo degrau: “Porque assim vos será</p><p>amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor”.[114]</p><p>Portanto, trata-se da participação corporal na nova vida, a entrada, o ser</p><p>acolhido definitivamente, em um estado de vida inteiramente novo.</p><p>***</p><p>Gostaríamos de falar sobre essa futura nova vida, porque tais palavras</p><p>concernem a todos. Quando forjamos a chave para a virtude, para a aptidão</p><p>à senda, mediante decisão séria e enérgica, participamos do processo que</p><p>conduzirá à nova vida.</p><p>Se realizarmos no primeiro degrau a ligação com o novo campo</p><p>magnético, a violência de toda a comoção dialética já não poderá fazer-</p><p>nos mal algum. Então já fomos acolhidos no campo de força da nova vida.</p><p>E o que mais poderíamos desejar?</p><p>Está fora de cogitação que queiramos, em nossos dias movimentados,</p><p>transmitir uma doutrina e dar visões sobre o que um dia poderá ser</p><p>possível. Falamos sobre novas forças cósmicas sumamente importantes</p><p>que têm de ser recebidas por nós.</p><p>A salvação que os grandes enviados outrora prometeram a nós pode de</p><p>novo evidenciar-se nestes dias. Por isso, temos de considerar como muito</p><p>atual as palavras do antigo e belo hino:[115]</p><p>Como te receberei</p><p>e como te tratarei,</p><p>ó desejo do mundo inteiro,</p><p>ó adorno de minha alma?</p><p>Não se trata apenas de que nós testemunhemos, e vós vos limiteis a ouvir.</p><p>Tendes de colaborar com a Escola Espiritual em uma grandiosa construção</p><p>que devemos e podemos realizar: o futuro novo homem!</p><p>Já não está longe o tempo em que as primeiras evidências desse novo tipo</p><p>humano virão à luz do dia. Será um homem que confirmará cabalmente as</p><p>palavras: “No mundo, porém não deste mundo”. Será uma multidão que</p><p>ninguém poderá contar. Ela se subtrairá a toda a disputa e a todo o barulho</p><p>da natureza dialética e entrará em repouso imperturbável, no repouso e na</p><p>imutabilidade de uma nova dispensação magnética, o repouso do povo de</p><p>Deus.</p><p>E cada um de vós poderá falar: “Este é o meu repouso para sempre; aqui</p><p>habitarei, pois o desejei”.[116]</p><p>Falamo-vos a fim de que também vós desejeis esse repouso e</p><p>compreendais que esse desejo não precisa ser pura fantasia nem um belo</p><p>sonho, porém que ele pode tornar-se realidade se tão somente quiserdes</p><p>utilizar todas as vossas possibilidades e na atual agitação</p><p>neorrevolucionária pôr as mãos ao arado, pois o tempo chegou!</p><p>Que desejo é exigido de vós? Que desejo atua de modo tão intensamente</p><p>libertador? É o desejo de salvação, isto é, o desejo de verdadeira cura.</p><p>Quem deseja cura tem de ter a consciência de estar doente, de estar</p><p>fundamentalmente danificado e de viver em um mundo que não oferece</p><p>nenhuma salvação e nos arrasta consigo em órbitas sem fim. Quem deseja</p><p>salvação deve estar disposto a suprimir a causa de todo o sofrimento, a</p><p>saber, sua ilusão, seu engano, seu instinto do eu, seu instinto de</p><p>conservação, em suma, ele próprio. Isso é anseio de salvação!</p><p>Quem assim anseia subtrair-se ao poder da ilusão, será conduzido à aurora</p><p>da consecução, a um novo dia, ao repouso inatacável do futuro novo</p><p>homem. Ele progredirá na senda sétupla tal como foi exposto</p><p>pormenorizadamente, na senda dos nascidos duas vezes, a senda da</p><p>transfiguração.</p><p>Quem desejar perder-se a si mesmo achará essa senda e, finalmente, no</p><p>sétimo degrau, verá a entrada para o novo reino aberta para si.</p><p>Essa entrada é aberta, como já dissemos, pelo desenvolvimento da nova</p><p>circulação magnética no simpático, pelo nascimento do segundo fogo</p><p>serpentino, do novo eu. Essa nova circulação magnética, esse novo eu,</p><p>constrói uma personalidade inteiramente nova. Se imaginardes o</p><p>microcosmo como uma esfera, então é como se no coração desse</p><p>microcosmo um velho templo fosse sistematicamente demolido e um</p><p>inteiramente novo fosse erigido. Explicaremos como isso é possível.</p><p>Sabeis que o nervo simpático consiste em dois cordões, cada um situado</p><p>em um lado da coluna vertebral. Em muitos locais, esses cordões são</p><p>interrompidos por nós nervosos ou gânglios. Um nó nervoso ou gânglio é</p><p>uma dilatação circular, lisa, de cor vermelha acinzentada, consistindo em</p><p>células de uma construção típica e situadas entre os nervos ou nas fibras</p><p>nervosas.</p><p>Nervos também nascem da medula espinal comum. Fala-se de um ramo</p><p>anterior e de um ramo posterior desses nervos da medula espinal. Os</p><p>gânglios do simpático estão em ligação direta com o ramo anterior dos</p><p>nervos correspondentes da medula espinal. Além disso,</p><p>o</p><p>átomo-centelha-do-espírito.</p><p>Quando o verdadeiro sol do Espírito nos chama e atendemos a seu</p><p>chamado, simultaneamente deixamos alguma coisa para trás, pois o</p><p>infravermelho é sempre acompanhado do ultravioleta. Este é o significado</p><p>das palavras: “Vai, vende tudo o que tens […] e segue-me!”[9] Este é o</p><p>significado da maçonaria da pedra angular. Quem quer construir sobre a</p><p>pedra angular, a luz do sol divino, deve sempre levar em consideração</p><p>ambos os efeitos dessa luz: demolir e construir, perder e ganhar!</p><p>Essa dupla atividade da luz divina tem enorme significado na vida. Sua</p><p>importância é tal que dá origem a todas as experiências de vida. Cada</p><p>página do livro da vida é escrita por essas influências. Vossa situação</p><p>particular, tanto como aluno, obreiro, homem ou mulher, vossas relações</p><p>com os outros e com a sociedade originam-se dessa atividade. Como</p><p>alunos da Escola Espiritual, é evidente que vos abris a essa poderosa</p><p>atividade da dupla luz de Deus. Do mesmo modo que podeis formar um</p><p>foco com um espelho côncavo quando este reflete a luz solar comum,</p><p>assim também a Escola Espiritual forma um foco para a luz divina.</p><p>À medida que esse espelho vai sendo finamente polido, que seu foco se</p><p>torna cada vez mais nítido, e todo o sistema de reflexão é aprimorado, o</p><p>átomo-centelha-do-espírito em vós é tocado, atraído e chamado com força</p><p>e poder cada vez maiores. Ao mesmo tempo, e esse é o segundo dom da</p><p>graça da Escola Espiritual, esse toque e esse chamado são explanados. Seu</p><p>caráter e sua intenção são explicados com detalhes. O aluno sabe assim o</p><p>que a luz divina infravermelha dele requer, por que o chama e para quê o</p><p>capacita.</p><p>Ela o capacita? Certamente, e de forma direta! A luz infravermelha divina</p><p>é acompanhada pelo potencial de radiação ultravioleta. Isso significa que o</p><p>aluno que deseja seguir os caminhos de Deus descobre que a radiação</p><p>ultravioleta remove, no momento certo, todas as dificuldades e barreiras.</p><p>Esse poder de Cristo aplaina a tal ponto o caminho que “seus pés já não</p><p>tropeçarão numa pedra”.[10]</p><p>“Fiel é o que vos chama”,[11] diz a Sagrada Escritura, “o qual também o</p><p>fará.” Desse modo, o chamado para a senda significa, ao mesmo tempo, a</p><p>possibilidade de trilhá-la. Por conseguinte, é com grande certeza que o</p><p>prólogo do Evangelho de João anuncia: “[…] a todos que o receberam,</p><p>deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.[12] Agora</p><p>compreendereis também por que alguém que conhece essas coisas pode</p><p>afirmar com segurança: a força do chamado é, ao mesmo tempo, a força</p><p>que abre o caminho.</p><p>Suponhamos agora que um aluno, em virtude de seu discipulado e de sua</p><p>presença no campo de força da Escola, seja atraído e chamado</p><p>intensamente, mas não esteja pronto para demolir o que deve ser demolido</p><p>nem queira abandonar o que tem de ser deixado para trás. A despeito de</p><p>entender tudo muito bem, o referido aluno agarra-se com ambas as mãos a</p><p>um sem-número de ilusões que ao longo de muitas encarnações, mediante</p><p>pensamentos e sentimentos, se transformaram para ele em aparente</p><p>realidade.</p><p>Que acontecerá doravante? Quando um aluno verdadeiro reage de modo</p><p>harmonioso ao aspecto chamador, ele também reagirá harmoniosamente</p><p>ao aspecto demolidor do desvelo de Cristo. A senda lhe será, então,</p><p>suavizada.</p><p>Se o aluno, no entanto, reage harmoniosamente ao aspecto chamador mas</p><p>não ao aspecto demolidor, ambas as influências atuarão</p><p>desarmoniosamente em sua vida. Isso é óbvio! Surge daí uma série de</p><p>dificuldades, sofrimentos vãos, preocupações sem fim, a dilaceração, a</p><p>solidão e a tristeza, esse perfeito ninho de serpentes em que estamos</p><p>aprisionados. Essas aflições, porém, de modo algum nos são impostas pela</p><p>Gnosis.* Nós mesmos é que nos mortificamos com o açoite do fanático</p><p>dialético. Nesse estado de ser, não há ninguém que possa socorrer-nos.</p><p>Nós mesmos temos de destruir o açoite do fanático.</p><p>Existe infinita alegria a vossa espera! Chamados a pertencer ao povo de</p><p>Deus, agarrai-vos, porém, à dor e à miséria. Podeis conceber maneira de</p><p>viver mais insensata?</p><p>Não deveis ver essas observações como um sermão ou um chamado, pois</p><p>já fostes chamados há muito, muito tempo, e como! Nosso chamado é</p><p>meramente fraquíssimo eco da eterna realidade. Falamo-vos sobre essas</p><p>coisas porque é hora! A fase da profecia já passou. A fase preparatória já</p><p>chegou ao fim. Entramos no período de realização!</p><p>Uma multidão de pessoas que respondem está sendo reunida de todos os</p><p>povos e países para nova atividade e novo desenvolvimento. Os que</p><p>desejam participar — e estas palavras são dirigidas aos que podem fazê-lo</p><p>— têm de apressar-se por razões científicas urgentes.</p><p>Já mencionamos que, além da radiação dupla do campo solar de Cristo, há</p><p>também o poder duplo de radiação desta natureza dialética. A luz</p><p>infravermelha natural liga-se ao eu, e a luz ultravioleta natural ataca e</p><p>destrói tudo o que a este eu se oponha. Assim, a dialética desenvolve o</p><p>perpétuo nascer, florescer e fenecer; o devorar para depois ser devorado.</p><p>Consequentemente, este campo de radiação natural tem um</p><p>desenvolvimento degenerativo, enquanto o campo de radiação de Cristo</p><p>está sujeito a um desenvolvimento regenerativo que se expande. Isto</p><p>significa que os dois campos estão expostos a uma mudança de vibração</p><p>em oposição recíproca, ou seja, eles afastam-se cada vez mais um do</p><p>outro!</p><p>Assim sendo, fica evidente que chegará um momento em que uma</p><p>entidade existente em um dos campos já não poderá participar do outro. A</p><p>diferença entre os dois campos, que no início era apenas fundamental e</p><p>qualitativa, tornar-se-á por fim tão grande estruturalmente, e os indivíduos</p><p>que se manifestam em ambos os campos, biologicamente tão diferentes</p><p>que, em dado momento, o homem pertencente ao campo dialético já não</p><p>poderá reconciliar-se, ligar-se com o campo de Cristo.</p><p>Semelhante situação trágica sempre surge ao fim de um período humano.</p><p>Fica claro, portanto, que um ser humano chamado pelo campo de Cristo,</p><p>mas apegado ao campo da dialética, não pode servir a dois senhores. Ele</p><p>será desligado do campo de Cristo, isto é, ele próprio o fará.</p><p>Chegou a hora em que esse processo de desligamento toma forma, uma</p><p>grande separação começa a desenvolver-se. A palavra “Cristo” será</p><p>silenciada nos lábios dos que não pertençam ao campo de Cristo. Eles</p><p>serão desmascarados e reconhecidos por todos. Os remanescentes, os</p><p>buscadores sinceros, têm ainda nas próprias mãos a escolha, se, com</p><p>determinação, despedirem-se a tempo de sua dualidade e, com toda a sua</p><p>vontade, confiarem-se ao campo de radiação de Cristo. Então os cânticos</p><p>dos antigos serão entoados também para eles:</p><p>Permanecereis em repouso entre os muros do aprisco, quando as asas da pomba se</p><p>cobrem de prata e suas penas com um reflexo de ouro pálido.[13]</p><p>As forças luminosas de Deus te guardarão em todos os teus caminhos. Elas te levarão</p><p>em suas mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra.[14]</p><p>Maçons da Rosa-Cruz, utilizai vossa razão! Construí sobre a eterna pedra</p><p>angular, recusada pelos construtores deste mundo. Celebrai conosco,</p><p>assim, o advento do dia do Senhor!</p><p>***</p><p>[6] O mar Mediterrâneo.</p><p>[7] Cf. Dt 30:3–4; Sl 147:2; Is 11:11–12; Ez 11:17, 34:11–13; 36:24.</p><p>[8] Cf. Dt 7:1.</p><p>[9] Cf. Mt 19:21; Mc 10:21; Lc 18:22.</p><p>[10] Cf. Sl 91:12.</p><p>[11] Cf. 1 Te 5:24.</p><p>[12] Cf. Jo 1:12.</p><p>[13] Cf. Sl 68:13.</p><p>[14] Cf. Sl 91:12.</p><p>I-3 A atividade sétupla do sol</p><p>divino</p><p>Conforme explicamos, este mundo de trevas e sua humanidade mortal</p><p>estão sendo atingidos por um espectro solar completo, um feixe perfeito</p><p>de raios do sol divino. O símbolo mais magnífico que a humanidade</p><p>possui dessa glória divina é, de fato, a imagem do sol material, e isso foi</p><p>compreendido pelos poetas, filósofos e iniciados no decurso de toda a</p><p>história mundial.</p><p>Pensemos apenas na majestosa figura de Hiawatha, o herói da epopeia de</p><p>Longfellow,[15] que podemos considerar como figura mítica, representando</p><p>a mais elevada, a melhor e a mais nobre vida dos povos. Longfellow relata</p><p>como Hiawatha, ao romper da aurora, ao nascer do sol, se entrega a</p><p>profunda reflexão a fim de entrar em ligação</p><p>desses gânglios do</p><p>simpático partem alguns feixes de nervos, que são ramificações de nervos</p><p>que, ao longo das artérias, se distribuem para quase todos os órgãos e</p><p>controlam os movimentos do coração e do inteiro sistema vascular.</p><p>Se puderdes agora fazer uma ideia disso, podereis tirar algumas</p><p>conclusões. E elas serão tanto mais acertadas se tiverdes algum</p><p>conhecimento da anatomia do corpo humano.</p><p>Quando um aluno do sexto degrau recebe a piedade, portanto, quando a</p><p>nova circulação magnética se realiza no simpático e esse aluno persevera</p><p>em sua autodemolição,* o fluido nervoso da velha natureza garantirá um</p><p>equilíbrio biológico geral na antiga estrutura corporal, mediante os ramos</p><p>posteriores dos nervos da medula espinal. Todavia, são interrompidas as</p><p>correntes nervosas da velha natureza, que eram secretadas ao longo dos</p><p>ramos frontais no corpo inteiro, e uma nova corrente nervosa, a corrente</p><p>do segundo fogo serpentino, assumirá então a tarefa da antiga natureza.</p><p>A consequência é que o sangue e o fluido nervoso se transmutam. A</p><p>atividade de todos os santuários e de todo o sistema endócrino é submetida</p><p>a mudanças. Assim, um sistema de linhas de força totalmente diferente se</p><p>forma na figura da personalidade comum quanto ao aspecto exterior,</p><p>porém iluminada e inflamada por correntes vitais totalmente outras que</p><p>partem da nova fonte de consciência no simpático.</p><p>Um novo templo surge. Um templo tríplice, segundo consciência, alma e</p><p>corpo. Um corpo material, não a figura densa da natureza dialética, senão</p><p>a forma sutil de uma nova natureza. Essa personalidade sutil não possui a</p><p>estrutura da entidade da esfera refletora, pois esta habita os fragmentos da</p><p>antiga e despedaçada personalidade dialética, cujo corpo material foi</p><p>totalmente aniquilado. Não, o irmão e a irmã do sétimo degrau</p><p>manifestam uma personalidade totalmente nova e glorificada que</p><p>compreende uma forma corpórea material. Para o homem comum essa</p><p>forma somente será visível se ela manifestar-se em conexão com a antiga</p><p>natureza, porém tão logo a antiga forma natural já não precise ser mantida,</p><p>a nova forma natural se retirará rumo ao reino da eternidade banhado pelo</p><p>sol.</p><p>Na terceira parte deste livro descreveremos pormenorizadamente a</p><p>natureza e as características dessa nova forma natural bem como de que</p><p>maneira ela se libertará das faixas de seu nascimento e ressurgirá do</p><p>túmulo.</p><p>Na Bíblia é relatado como o corpo crucificado de Jesus, o Senhor, foi</p><p>sepultado na cripta de José de Arimateia. José de Arimateia é o hierofante</p><p>dos novos mistérios, e a cripta é idêntica à cripta de Christian Rosenkreuz,</p><p>onde o novo corpo imperecível pode ser achado.</p><p>Nossos pensamentos de prece são que todos os que trilham a senda possam</p><p>concluir seu áureo caminho da cruz e ressurgir do túmulo da vitória,</p><p>renascidos e fortes, para a nova e santa vivência: a vivência santa do</p><p>futuro novo homem.</p><p>***</p><p>Agora sabeis como podeis progredir do amor fraternal rumo a uma</p><p>ascensão ao amor. É o amor que é denominado Deus, Espírito e Luz. Agora</p><p>compreendereis como Paulo o compreendeu: se tudo tivésseis e vos</p><p>faltasse esse amor, esse novo estado de ser, nada teríeis nem seríeis, pois</p><p>esse amor que é Deus, esse voo de águia do Espírito, é a grande e</p><p>maravilhosa meta de todos os que, nesta época de transição, são chamados</p><p>à luz.</p><p>Portanto, o amor não é questão de palavras ou de terno sentimento, porém</p><p>de ação salvadora e libertadora da humanidade. Seja essa ação, para a qual</p><p>mesmo o mais fraco entre nós foi escolhido, vosso começo e vosso fim,</p><p>vosso sentar e vosso levantar até o dia de vossa consumação!</p><p>Segui conosco na alegria do novo conhecimento! Celebrai conosco a festa</p><p>dos feitos do futuro novo homem!</p><p>***</p><p>[114] Cf. 2 Pe 1:11.</p><p>[115] Paul Gehardt (1607–1676) (N.T.).</p><p>[116] Cf. Sl 132:14.</p><p>Parte III · Os dons e os poderes</p><p>do novo homem</p><p>III-1 O renascimento aural</p><p>É chegado o momento de apresentar o futuro novo homem. Em ambas as</p><p>partes precedentes deste livro descrevemos os diversos aspectos</p><p>filosóficos e intrínsecos dessa nova gênese humana. A época que agora</p><p>irradia no brilho da clara luz matutina é o despontar do dia em que o novo</p><p>homem surgirá, agirá e será. Se não pertencermos aos que estão ligados à</p><p>terra e enredados nos véus cinzentos da dialética, reconheceremos sem</p><p>dúvida a natureza desse novo homem e poderemos verificar seu</p><p>reaparecimento na história mundial, o qual teve início no ano de 1952.</p><p>Outra vez brilhará nesta sombria ordem mundial o que se manifestou nesta</p><p>Época Ária há milhares de anos, mediante as fraternidades divinas, pelo</p><p>trabalho santo de Akhenaton no Egito, pelos grandes obreiros da Índia, por</p><p>Lao Tsé na China, por Zaratustra nos reinos caldeus, por Mani no Oriente</p><p>Médio, pela atividade de Platão e Pitágoras na Grécia, bem como também</p><p>pelos druidas e pelo trabalho dos cátaros na Europa Ocidental.</p><p>O dia do novo homem chegou. A aurora de uma nova dispensação do</p><p>verdadeiro povo de Deus rompeu a couraça da dialética. A corrente dos</p><p>sete templos soou outra vez, forte e firme, e invencivelmente recomeçou</p><p>seu trabalho, que com razão pode ser denominado o trabalho do</p><p>discipulado perfeito. O trabalho de renovação começou, os caminhos de</p><p>Renova estão sendo palmilhados.</p><p>Trilhar uma senda, principalmente no sentido muito especial que</p><p>tencionamos, pressupõe uma despedida ou um andar juntos. Há alunos</p><p>que, de coração e com toda a espontaneidade, querem seguir conosco.</p><p>Outros, todavia, ainda estão plenos de dúvidas, e ainda há talvez os que,</p><p>sem compreendê-lo completamente, ainda estão cheios de reserva e</p><p>crítica. Pois bem, esforçamo-nos em ajudá-los, porém não o quiseram. Por</p><p>isso, agora chegou a hora da despedida. Nós os saudamos. A aurora de um</p><p>novo dia paira qual coroa sobre os caminhos que elegemos. Abandonamos</p><p>a noite, e uma nova tarefa espera-nos. As palavras faladas agora e as que</p><p>serão no futuro somente são válidas para os que viajam conosco, elas</p><p>apenas serão eficazes para eles.</p><p>Deveis estar lembrados de que a força da renovação gnóstica, que pode ser</p><p>acolhida pelo átomo-centelha-do-espírito após um longo caminho, já</p><p>descrito por nós, finalmente brilha no ramo ascendente esquerdo do</p><p>simpático. Se essa plenitude de irradiação se manifesta, isso é prova de</p><p>que uma nova circulação magnética se formou no coração do microcosmo,</p><p>coincidindo com o corpo da natureza da morte. Esse nascimento tão</p><p>especial relaciona-se com a circulação de forças puramente gnósticas no</p><p>corpo da velha natureza, em suma, o desenvolvimento de uma nova</p><p>corrente nervosa. A consequência disso é, como dissemos, que tanto o</p><p>sangue como o fluido nervoso se transformam. A atividade dos santuários</p><p>da cabeça, do coração e da pelve e do sistema endócrino será</p><p>transformada. Paulatinamente um sistema de linhas de força totalmente</p><p>outro se forma, segundo a aparência exterior, na figura da personalidade</p><p>comum. Ele é, porém, irradiado e iluminado por correntes vitais</p><p>totalmente outras, que partem da nova fonte de consciência no simpático.</p><p>Um novo templo surge. Um templo tríplice, segundo consciência, alma e</p><p>corpo. Um corpo material, não à imagem grosseira da natureza dialética,</p><p>porém segundo a aparência sutilizada de uma natureza inteiramente nova.</p><p>Uma personalidade glorificada, incluindo, portanto, uma forma corpórea</p><p>material. Com essa nova forma, o candidato deve “sair ao encontro do</p><p>Senhor nas nuvens do céu”.</p><p>A viagem que ora iniciamos se relaciona com a construção desse novo</p><p>veículo, dessa arca, do navio celeste, necessário para alcançar nossa meta.</p><p>É claro que agora temos de discutir e estudar minuciosamente que</p><p>proporções nosso veículo deve ter, de que material ele deve ser e com que</p><p>ferramentas teremos sucesso. Cada um de nossos companheiros</p><p>compreenderá que em primeiro lugar a oficina tem de ser preparada; o</p><p>local de trabalho onde as marteladas devem ser desfechadas, onde o</p><p>esquadro e a régua podem ser utilizados sem estorvo, onde a rampa terá de</p><p>ser aplainada, a fim de que breve, sem incidentes, o navio celeste possa ser</p><p>confiado ao novo mar da plenitude de vida.</p><p>consciente com o Eterno, que</p><p>existe e trabalha por trás de toda a manifestação dialética.</p><p>De modo análogo também devemos examinar a eterna luz solar de Cristo,</p><p>para ensinar não somente a nós, mas também a todos os que são receptivos</p><p>a ela, a elevar-se a essa glória áurea, a fim de conduzi-los como novo povo</p><p>através dos portais da vida libertadora. Os tempos vistos por Longfellow</p><p>como futuro distante chegaram. A hora despontou agora. O tempo chegou!</p><p>O povo do Senhor está sendo chamado de todos os confins do mundo. O</p><p>essencial não é apenas reagir a esse chamado, mas também cumpri-lo e</p><p>mostrar se entendemos tudo o que serve a nossa paz eterna.</p><p>Já indicamos dois aspectos do espectro solar divino: o infravermelho, ou</p><p>atrativo, e o ultravioleta, ou demolidor. Descobrimos, mediante a</p><p>utilização da chave mística, que devemos compreender o aspecto</p><p>demolidor em sentido inteiramente diverso do que o faz o homem</p><p>dialético. O aluno incipiente, que se tornou cônscio do chamado, encara</p><p>esse aspecto da demolição como uma batalha, como luta intensa contra</p><p>uma natureza não divina, ímpia. No entanto, ele nada tem a demolir por si</p><p>mesmo! É a Gnosis quem o faz! É a luz ultravioleta que varre todos os</p><p>obstáculos, às vezes com a força de um furacão. Tudo o que o aluno tem</p><p>de fazer é permanecer em negação,* na negação da camisa de força em</p><p>que está aprisionado.</p><p>***</p><p>Conheceis o livro O andarilho das estrelas,[16] de Jack London? Um</p><p>homem jaz atirado no fundo de uma cela, cruelmente preso em uma</p><p>camisa de força. Vermes cobrem-lhe o corpo todo, e sua miséria é quase</p><p>completa. Quem aceita os sofrimentos derivados dessa experiência</p><p>corporal morre em meio a horror infernal. O herói dessa história</p><p>entretanto nega tudo isso e silencia. Não acusa os carcereiros, ri-se deles.</p><p>Pensa na magia estival dos bosques, no chilrear dos pássaros. Tenta</p><p>perceber a fragrância das flores, o murmurar da água no regato. E eis que a</p><p>fraqueza corporal se lhe torna em bênção. Desenvolve-se uma divisão de</p><p>personalidade. Ele abandona o corpo amarrado à camisa, esgueira-se</p><p>através das paredes e, cantando, atinge o vasto campo em que o sol aquece</p><p>o universo. Enquanto os carcereiros espiam pela vigia, e o prisioneiro jaz</p><p>mortalmente pálido, inconsciente, absorto, há liberdade e, considerando as</p><p>circunstâncias, imensa felicidade. Com essa alegria ele retorna ao corpo, e</p><p>a forma na matéria, carcomida de vermes, recebe a jubilante canção da</p><p>liberdade e exterioriza sua alegria! Ele sabe que é um prisioneiro, mas, ao</p><p>mesmo tempo, um liberto! Assim o encontram seus assombrados e</p><p>confusos carcereiros.</p><p>Agora, talvez, possais compreender, até certo ponto, o que a Escola define</p><p>como negação. Negação não é exaltação nem pôr de lado a realidade</p><p>dialética, mas uma atitude de afastamento interior dessa realidade, um</p><p>desprendimento. Este “afastamento” significa lançar-se à busca da</p><p>maravilhosa libertação.</p><p>Será essa negação um ato da vontade, como muita gente pensa? Será uma</p><p>mudança de dieta ou algo parecido? Negação assim compreendida</p><p>significaria apenas cultura de personalidade. Ninguém pode entregar-se a</p><p>esse estado de negação tal como é compreendido pela Escola Espiritual</p><p>sem que se reconheça positivamente atraído pelo toque do raio de luz</p><p>infravermelha do sol divino. Ninguém pode alcançar essa negação sem que</p><p>traga no coração o átomo-centelha-do-espírito. Quem possui essa</p><p>assinatura da vida original é chamado, atraído, e, se desejá-lo, alçado. O</p><p>aluno meramente tem de prosseguir. Sua negação é bem consequente e</p><p>positiva, porém ela é a consequência do chamado.</p><p>Vivenciar a força atrativa desse chamado e reagir a ele de modo positivo,</p><p>mediante a negação de todas as coisas deste mundo, eis o que Paulo</p><p>chamou de “fé”: lançar-se à busca de um ideal desconhecido e grandioso,</p><p>que surgiu radiante no horizonte da vida, rumo à força de luz que já de</p><p>longe vem a nosso encontro para envolver-nos com amor.</p><p>É um processo que preenche o aluno com a força e a irresistível alegria da</p><p>esperança e o faz cantar na camisa de força da decomposição. Se</p><p>compreenderdes essa linguagem, podereis preparar-vos, junto conosco, nas</p><p>fileiras da futura nova humanidade, para o novo dia que irrompeu. Fará</p><p>sentido, então, estudar minuciosamente o processo relacionado com todas</p><p>essas coisas e investigar todos os seus aspectos. Até agora utilizamos</p><p>quase que exclusivamente a chave mística. Passemos agora à consideração</p><p>dos pormenores.</p><p>O sol divino de que falamos envia sete espécies de raios ao mundo perdido</p><p>e decaído. Esses raios formam um espectro completo, constituído de:</p><p>vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta. São os sete raios</p><p>do sol divino, aos quais ligamos os alunos da Escola, de vez em quando,</p><p>mediante um canto mantrâmico:</p><p>Eis que avançamos no vermelho da aliança sanguínea,</p><p>vivendo do esplendor alaranjado do prana divino.</p><p>Nosso é o áureo coração da glória solar de Cristo.</p><p>Unidos permanecemos no verde país da esperança.</p><p>Poderosamente a amplidão azul se nos abre a distância…</p><p>A nuvem do Senhor, colorida de índigo, nos precede.</p><p>Então a face é despojada de todo o véu,</p><p>e o manto violeta dos reis-sacerdotes nos espera.</p><p>Esse sol irradia sobre o mundo e desperta o átomo-centelha-do-espírito no</p><p>coração humano.</p><p>O que acontecerá em consequência disso? Já tivemos a oportunidade de</p><p>responder a essa pergunta. Desde que o homem tenha assim despertado,</p><p>ele começará a buscar. Na prática, essa resposta nos diz muito pouco.</p><p>Devemos compreender o que ocorre psicológica e fisiologicamente no</p><p>homem quando ele é tocado por essa energia radiativa especial e mostra,</p><p>uma vez que possui o átomo-centelha-do-espírito, sintomas de reação.</p><p>Essa reação inicia-se com um trabalho no santuário do coração.</p><p>Geralmente, um ou outro abalo violento na vida comum faz que o átomo-</p><p>centelha-do-espírito no coração principie a vibrar intensamente. Até esse</p><p>momento, devido à conduta e à qualidade sanguínea do homem comum,</p><p>esse átomo mantinha-se em estado latente e de tal modo enclausurado que</p><p>não podia ser despertado pela luz do sol divino. Entretanto, quando em</p><p>razão de amarga experiência ocorre um colapso temporário na vida,</p><p>atingindo o próprio sangue, um dos sete ventrículos do coração se abre, o</p><p>fogo nele contido se inflama, e uma luz brilhante é irradiada sobre o timo,</p><p>pequena glândula situada atrás do esterno. Quando houver receptibilidade</p><p>do timo — em muitos casos um impulso de luz não é suficiente, entretanto</p><p>consideremos que nesse caso tal impulso foi suficiente —, o hormônio do</p><p>timo conduz essa força de luz à pequena circulação* sanguínea.</p><p>Quando esse processo tiver-se realizado, é certo que, após algum tempo, a</p><p>força de luz transportada pelo sangue tocará todos os centros cerebrais. Se</p><p>ela chegar ao santuário da cabeça do referido ser humano, este se</p><p>transforma instantânea e irrevogavelmente em um buscador, pois,</p><p>mediante a influência da força de luz nos centros cerebrais são despertados</p><p>pensamentos, todos da mesma categoria. Esse ser humano foi tocado pela</p><p>luz atrativa e, por intermédio do átomo-centelha-do-espírito, do timo, do</p><p>sangue e dos centros cerebrais, o “eu” dialético torna-se consciente do</p><p>chamado. Daí em diante, desenvolve-se, irresistivelmente, toda uma série</p><p>de pensamentos, e, à medida que os centros cerebrais vão sendo</p><p>estimulados a uma nova atividade, a atuação do átomo-centelha-do-</p><p>espírito prossegue seu trabalho, uma vez que foi aberta uma brecha tanto</p><p>no sangue como na consciência.</p><p>Sem dúvida, já tereis ouvido falar sobre a contemplação de bola de cristal.</p><p>Esse é um método ocultista negativo para obter e desenvolver a visão</p><p>etérica. É um trabalho extremamente perigoso para quem o pratica, pois,</p><p>junto com as visões, evoca uma legião de forças terrenas que aguardam</p><p>pelo fim funesto de sua vítima. Esse fim ocorre quando a luz protetora do</p><p>cundalini,* em torno da glândula pineal,* apaga-se como resultado do ato</p><p>de fitar o cristal. Podeis comparar esse fato com a queima de um fusível</p><p>em um circuito elétrico. Quando o fusível do cundalini se queima, o ser</p><p>humano em questão</p><p>torna-se um joguete das forças terrenas durante algum</p><p>tempo.</p><p>Podeis avaliar agora como os métodos ocultistas, positivos ou negativos,</p><p>nada mais são que imitações caricaturais da magia transfigurística. É o</p><p>que se dá também com o uso de bola de cristal. O cristal esmeradamente</p><p>lapidado, a joia cintilante mediante a qual a verdade pode manifestar-se, é</p><p>o átomo-centelha-do-espírito no coração! Quando, como resultado da</p><p>atividade já mencionada da luz universal, o ser humano dirige seus</p><p>pensamentos para uma vida que não está, e todavia tem de estar em algum</p><p>lugar, para as coisas ocultas que, necessariamente, devem ser</p><p>compreendidas, esse ser humano fita, por assim dizer, no cristal do próprio</p><p>coração, de onde inicialmente emergem apenas vagas visões. Entretanto, o</p><p>indivíduo simplório, que ouve a respeito da joia cintilante, instala-se em</p><p>frente de um pedaço de vidro ou lança ervas ao fogo para propiciar,</p><p>mediante o fumo, um estado de exaltação.</p><p>O átomo-centelha-do-espírito é também chamado o altar, de onde deve</p><p>elevar-se uma fragrância agradável a Deus para preencher inteiramente o</p><p>santuário da cabeça, de forma a que o homem sacerdotal possa</p><p>compreender a palavra do Espírito Santo. Então os pensamentos do</p><p>buscador elevam-se, um por um, e, como sabeis, pensamentos são</p><p>criações. Imagens-pensamentos povoam nosso campo* de manifestação, e</p><p>pensamentos similares têm a tendência de agrupar-se. Essas imagens-</p><p>pensamentos, consoante sua natureza, trarão harmonia ou desarmonia,</p><p>força ou fraqueza a nossa vida. Quando alguém começa a buscar nessa</p><p>direção, podemos acompanhar exatamente os acontecimentos que se</p><p>seguem.</p><p>Quando o hormônio do timo é introduzido no sangue da pequena</p><p>circulação, a força de luz é, evidentemente, obscurecida em maior ou</p><p>menor intensidade pela condição do sangue.</p><p>Em virtude de nosso nascimento, carregamos no sangue as imagens da</p><p>religião* natural ou do ocultismo natural, do humanismo natural ou do</p><p>materialismo, e é por isso mesmo que as primeiras imagens-pensamentos</p><p>evocadas pela força da luz são muito impuras e fracas.</p><p>Assim, a mudança processa-se muito lentamente. Compreendemos,</p><p>portanto, por que a busca é um processo inevitável. É um longo processo</p><p>de inumeráveis experiências, visto que, impulsionados por nossas</p><p>imagens-pensamentos, partimos para a experimentação. Associamo-nos a</p><p>toda a sorte de movimentos deste mundo, porque temos de verificar, na</p><p>prática, a verdade e a justeza de nossos pensamentos. Portanto, existem</p><p>aqui inúmeros seres humanos que já palmilharam muitos caminhos, não se</p><p>pouparam intermináveis esforços ou fadigas para finalmente encontrar a</p><p>Escola Espiritual. Consolai-vos, pois todos têm de seguir esse caminho!</p><p>Os influxos de força de luz do átomo-centelha-do-espírito e o mirar o</p><p>próprio cristal têm de prosseguir até que a imagem-pensamento da mais</p><p>perfeita pureza seja criada. Na Escola Espiritual sois eficazmente</p><p>auxiliados nesse processo. Dia após dia, hora após hora, todos os meios</p><p>são empregados para expor-vos os caminhos e as intenções do sol divino,</p><p>para, por assim dizer, soletrá-los para vós, palavra por palavra, de tal sorte</p><p>que, finalmente, possais guardar convosco a concepção mental do homem</p><p>imortal da maneira mais nítida possível.</p><p>Convosco, a vosso lado, em vosso campo de manifestação, deve nascer a</p><p>imagem* mental do homem celeste imortal, tão clara quanto possível,</p><p>antes de poderdes abandonar o já citado estágio de busca na senda.</p><p>Paulo fala sobre a imagem do homem celeste que o candidato deve trazer</p><p>consigo. Esse é um mistério admirável que não podia ser revelado até</p><p>agora na Escola. Na Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo 15, Paulo</p><p>dirige-se aos discípulos que se preparam para a senda:[17]</p><p>Mas não é primeiro o espiritual, senão o psíquico; depois o espiritual. O primeiro homem,</p><p>sendo da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Qual o terreno, tais também os</p><p>terrenos; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a</p><p>imagem do terreno, traremos também a imagem do celestial. Mas digo isto, irmãos, que</p><p>carne e sangue não podem herdar o reino de Deus; nem a corrupção herdar a</p><p>incorrupção. Eis que vos digo um mistério [de salvação] […] todos seremos</p><p>transformados […] Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da</p><p>incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade […] então se</p><p>cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a</p><p>tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?</p><p>Quando, após inúmeras orientações no longo caminho de busca, o aluno</p><p>tiver formado a imagem do homem imortal, como concepção mental</p><p>nascida da força da luz, fora do corpo, intensificada e vivificada pela</p><p>radiação do sol divino, nova etapa poderá ser empreendida. Essa nova</p><p>etapa, assim diz Paulo, é um mistério de “salvação” que, na prática,</p><p>significa um remédio, um meio para tornar-se são. A receita para isso é</p><p>que o corruptível se revista da incorruptibilidade, e o mortal, da</p><p>imortalidade. A concepção mental que acabamos de examinar desempenha</p><p>um papel essencial e dominante nesse processo. Examinemos agora esse</p><p>maravilhoso acontecimento em suas minúcias.</p><p>***</p><p>[15] Longfellow, H.W. The Song of Hiawatha. Dover Thrift Editions: New</p><p>York, 2006.</p><p>[16] London, J. O andarilho das estrelas. São Paulo: Axis Mundi, 1998.</p><p>[17] Cf. 1 Co 15:46–55.</p><p>I-4 A natureza do</p><p>aprisionamento humano</p><p>Como acabamos de ver, o candidato à nova vida libertadora deve formar,</p><p>antes de mais nada, a imagem do homem primordial, celeste, imortal, no</p><p>processo de santificação que tem de realizar. Ele deve construir essa</p><p>concepção mental, essa imagem-pensamento, em seu campo* de</p><p>respiração mediante mudança fundamental de vida.</p><p>Sabeis, provavelmente, que o campo de respiração abriga todas as formas-</p><p>pensamentos criadas pelo homem.</p><p>Pensamentos são coisas, lampejos de luz, impulsos de luz do cérebro.</p><p>Esses raios luminosos são combinações de substâncias muito tênues,</p><p>passíveis de serem averiguadas e pesadas com instrumentos de precisão.</p><p>Isso nos faz compreender que pensamentos são coisas, formas materiais de</p><p>fato, embora de natureza e estrutura muito mais sutis do que as de nosso</p><p>corpo físico denso.</p><p>Essas formas-pensamentos permanecem no campo de ação imediato de</p><p>seu criador ou em suas imediações. Elas agrupam-se com outras da mesma</p><p>natureza, tornando-se assim cada vez mais poderosas. Quando não as</p><p>vivificamos mentalmente e, portanto, se encontram em repouso em nosso</p><p>campo de respiração, esses seres-pensamentos aparentam formações de</p><p>nuvens que apresentam nitidamente certo movimento, como acontece com</p><p>as formações de nuvens no céu.</p><p>Quando observamos um ser humano, percebemos claramente como essas</p><p>nuvens de pensamentos surgem do lado direito do corpo, à altura da</p><p>cintura, erguem-se acima da cabeça para, em seguida, descerem e</p><p>desaparecerem no lado esquerdo do corpo à mesma altura da cintura.</p><p>Observando alguém, essa circulação acontece no sentido dos ponteiros do</p><p>relógio, enquanto que, observando esse processo em nós mesmos, o</p><p>movimento acontece em sentido contrário. Essas nuvens de pensamentos</p><p>têm de ser alimentadas porque são criaturas, seres vivos. Devemos</p><p>compreender que os pensamentos são entidades vivas de ordem e classe</p><p>definidas. Para sua subsistência, dependem de força de luz, de substância</p><p>luminosa do cérebro de que foram criadas. Por isso, esses seres pedem a</p><p>seu criador — obrigam-no, se possível — para os nutrir e manter com a</p><p>mesma força cerebral que os criou. Descreveremos agora minuciosamente</p><p>de que modo essa coação é exercida pelos frutos de nossos pensamentos.</p><p>Quando um ser humano cede a essa pressão completamente natural — e</p><p>isso ocorre todo o dia e quase a toda a hora — vemos surgir, dessas nuvens</p><p>mentais que circulam em nosso campo de respiração, formas bem</p><p>distintas, cuja característica exterior mais expressiva talvez sejam os</p><p>olhos. À medida que a forma vai sendo nutrida mentalmente, emana de</p><p>seus olhos uma influência cada vez mais poderosa, hipnotizante. Assim,</p><p>hipnotizado por suas</p><p>próprias criações mentais, esse ser humano é</p><p>arrastado à ação, a uma série de ações e, desse modo, a uma completa</p><p>escravidão por seus próprios fantasmas. Desse modo todos nós, no</p><p>decorrer de éons, nos tornamos escravos de nossa ilusão, de nossos</p><p>preconceitos e vícios. Estes, pela atividade de nossos pensamentos,</p><p>corporificaram-se em nosso campo de respiração e, conservados e</p><p>alimentados por nós, acabaram por dominar-nos inteiramente. A conduta</p><p>de vida que tantas vezes deploramos, contra a qual impotentemente nos</p><p>insurgimos, conduta de vida que envenena nossa existência, pois nos</p><p>enojamos de nós mesmos e corremos o perigo de perder todo o respeito</p><p>próprio, resulta dessa coação exercida pelo circuito dos hábitos de</p><p>pensamento, de nossas criações mentais no campo de respiração.</p><p>A humanidade está muito doente, mortalmente doente, vítima do próprio</p><p>instinto criador, e nenhum mortal escapa disso. O fato de o homem</p><p>dialético abusar, de segundo a segundo, do mencionado poder criador do</p><p>cérebro de modo tão horrível, revolucionário e caótico, com todas as</p><p>consequências, fez que ele descesse frequentemente a nível abaixo do</p><p>animal. Quando a Sagrada Escritura clama contra o abuso da santa função</p><p>criadora, refere-se a essa aplicação perniciosa da faculdade mental,</p><p>subordinada a uma vida de desejos quase ilimitada, e a suas</p><p>consequências. Encerradas no circuito dos hábitos de seus pensamentos,</p><p>muitas pessoas tornaram-se demasiado denegridas e abjetas para que</p><p>possam ser tocadas.</p><p>Se colocarmos com sinceridade nossa própria vida à luz discriminante da</p><p>Fraternidade, reconheceremos que — acorrentados na cadeia de hábitos de</p><p>pensamento — já vivenciamos pensamentos indesejáveis vir à tona de</p><p>nossa consciência, por motivos inescrutáveis, para realizar sua marcha</p><p>fatal. Quantas vezes teremos exclamado: “O mal que não quero, esse</p><p>faço!”[18]</p><p>Qual será a causa dessa funesta e indesejável torrente da vida de</p><p>pensamentos inferior, a qual escapa a nosso controle de modo tão</p><p>alarmante?</p><p>A causa pode, em geral, ser indicada como o sangue! Esse desejo, essa</p><p>predisposição a uma vida ímpia, está em nosso sangue! A dialética está</p><p>fundamentalmente enraizada em nosso sangue. Se, pela cultura da</p><p>vontade, tentamos refrear esse instinto sanguíneo da natureza, é possível</p><p>que consigamos, em certo sentido, canalizar essa torrente sanguínea. Mais</p><p>tarde, porém, ela se fará valer mais forte do que nunca sob outro aspecto.</p><p>Todo o ser humano é, sem nenhuma exceção, em certo sentido, mesmo que</p><p>às vezes muito secretamente, mais perigoso do que um animal feroz. O</p><p>instinto do sangue sempre forçará sua passagem de qualquer maneira. Isso</p><p>é uma questão vital para o animal humano. Agora perguntamos: como esse</p><p>instinto, esse arqui-instinto, surge em nosso sangue?</p><p>Para responder a essa ardente questão, teremos de ser muito minuciosos.</p><p>Até agora a Escola da Rosacruz Áurea se tem limitado a dar somente</p><p>explicações filosóficas e místicas sobre esse assunto, mas o tempo chegou,</p><p>e uma explicação científica faz-se necessária.</p><p>***</p><p>Talvez seja de vosso conhecimento que em nossa doutrina falamos de uma</p><p>personalidade quádrupla. Vamos examiná-la de maneira inteiramente</p><p>diversa da que temos feito até agora. Nosso corpo físico manifesta-se em</p><p>um campo etérico concentrado e por intermédio deste. Até onde este</p><p>campo etérico trabalha e se revela em nosso corpo, falamos de corpo</p><p>etérico (corpo vital), visto que vivemos de éteres. O corpo etérico</p><p>interpenetra o corpo material e se sobressai ligeiramente, conservando</p><p>ainda o formato deste, mas logo se funde com o campo de manifestação,</p><p>ou de respiração.</p><p>A faculdade mental do cérebro é também uma combinação de éteres, mas</p><p>de composição muito sutil. Existe, além disso, uma consciência no corpo.</p><p>Encontramos essa consciência no sistema cerebrospinal, a coluna* do</p><p>fogo* serpentino, e sabemos que esse fogo da consciência está</p><p>intimamente ligado ao sangue e ao fluido nervoso. Essa consciência, junto</p><p>com o sangue e o fluido nervoso, é governada por nosso ser-desejo e dele</p><p>se origina. O ser-desejo, de fato, é o núcleo interior de nossa existência</p><p>dialética material, é o eu, o eu sanguíneo, a alma terrena.</p><p>Ele possui no corpo uma sede determinada: o sistema fígado-baço. Aí ele</p><p>se abriga não apenas em sentido figurado, mas também literal. O fígado, o</p><p>baço, os rins e as suprarrenais, junto com o plexo solar — o conhecido</p><p>centro cerebral da pelve — formam o domínio do eu sanguíneo, do ser-</p><p>desejo.</p><p>O fígado é o órgão supremo de que os homens vivem. Se atentardes ao</p><p>nome,[19] sabereis que em alguns povos quem dava nome às coisas na</p><p>antiguidade sabia disso.</p><p>No sistema fígado-baço, junto com os órgãos a ele pertencentes, são</p><p>controlados e mantidos em certo estado de ser o sangue, o fluido nervoso,</p><p>o fogo serpentino e, por conseguinte, o homem como um todo. Todas as</p><p>forças de luz, e seus efeitos hormonais, que não se originam desta natureza</p><p>são, por isso, removidos do sangue por esse mesmo sistema. Dissemos que</p><p>o núcleo do ser-eu reside nesse sistema. Ele fica encerrado no baço.</p><p>Durante nosso estado de vigília, ele aí permanece enrolado qual uma</p><p>espiral. Durante o sono, porém, ele sai do baço, a espiral desenrola-se, e</p><p>uma fita de aparência de nuvem aparece. Vemo-la tomar forma no campo</p><p>de respiração, ou seja, a figura do verdadeiro homem dialético, nosso ser-</p><p>desejo, nosso verdadeiro eu sanguíneo. Esse eu, na maioria das vezes, é</p><p>bem diferente de nossa aparência física! Todavia, preferimos omitir aqui</p><p>sua descrição.</p><p>Compreendereis que esse ser-desejo, quando se manifesta no campo de</p><p>respiração, é bem diferente dos seres-pensamentos a que acabamos de</p><p>aludir. Durante o sono, esse ser-desejo, nosso verdadeiro eu dialético, pode</p><p>afastar-se do corpo físico a considerável distância, mas não tanto quanto o</p><p>corpo mental. Se levarmos em conta que todas as nossas experiências</p><p>noturnas são feitas com esse ser-desejo, sendo por ele absorvidas, e que</p><p>esse eu sanguíneo é originário exclusivamente desta natureza, ficará claro</p><p>por que lhe é impossível acolher impulsos libertadores. O eu da natureza</p><p>não pode tornar-se suscetível à vida superior. Ele tem de morrer, pois</p><p>“carne e sangue não podem herdar o reino de Deus”![20]</p><p>Quando, outrossim, por algum motivo somos tomados de forte agitação, o</p><p>eu sai do baço sem que o saibamos, prestes a lançar-se sobre um eventual</p><p>agressor. O baço, além de sede do ser-eu, é também a principal porta de</p><p>entrada das forças etéricas no corpo. O ser-desejo alimenta-se e vive</p><p>dessas forças e, desse modo, controla todo o sistema corpóreo. Por fim, os</p><p>fantasmas mentais, cuja origem e comportamento já descrevemos,</p><p>influenciam o baço consideravelmente.</p><p>O processo em questão pode ser descrito como segue: o ser-desejo impele</p><p>o cérebro a empregar sua faculdade criadora, sua atividade mental, de</p><p>acordo com a natureza e as necessidades do eu sanguíneo, povoando assim</p><p>com seres mentais todo o campo de respiração, ou campo etérico do</p><p>microcosmo. Cada uma dessas imagens-pensamentos forma um foco de</p><p>forças etéricas, as quais permanecem no campo de manifestação, e as</p><p>transmuta em concordância com sua própria natureza. Desse modo, o</p><p>campo etérico é trabalhado de certo modo por todos esses seres-</p><p>pensamentos, e o resultado desse trabalho é sorvido avidamente pelo ser-</p><p>desejo, o eu, mediante o baço. Todas essas forças circulam, por assim</p><p>dizer, por um canal: entram no corpo pelo baço e saem pelo fígado.</p><p>Vemos, pois, que todos esses fenômenos vitais servem para nutrir o ser-</p><p>desejo, o eu sanguíneo. Eis o quadro sinistro de nossa realidade!</p><p>Após terdes investigado por completo essa atividade inteiramente</p><p>miserável e, ao mesmo tempo, perigosa, e em consequência disso vos</p><p>tiverdes tornado conscientes de vosso aprisionamento em todas as fibras</p><p>do ser; após tudo isso ter sido examinado detalhadamente e demonstrado</p><p>em todos os seus matizes, de modo que mesmo uma criança possa</p><p>compreendê-lo, é possível que surja em vós a tendência de considerar</p><p>todas essas discussões como cruéis tribulações.</p><p>Assim como antigamente, quando Edgar</p><p>Allan Poe descrevia, minuciosa e</p><p>empolgantemente, situações sinistras, prisões e torturas, também podereis</p><p>exclamar: “Alto! Parai com isso! Sei que vivo em uma prisão. Por que</p><p>tendes, entretanto, de investigar e definir, com todos os seus pormenores,</p><p>os muros desta prisão e a natureza de suas limitações?”</p><p>Ninguém pode erguer-se do sepulcro da natureza sem que tenha</p><p>experimentado, até a medula, a frialdade da casa da morte em que “vive”.</p><p>Ninguém pode trilhar a senda libertadora sem ter sentido aqui, por toda a</p><p>parte, o sopro da morte.</p><p>Ninguém verá o Oriente da liberdade eterna sem que esteja preparado para</p><p>levar a cruz da verdade até nas horas mais sombrias da noite.</p><p>Quem não for suficientemente forte para suportar isso, permaneça</p><p>afastado de nosso trabalho! O evangelho de Jesus Cristo é somente para os</p><p>fortes, e esse evangelho começa com o desmascaramento. Entretanto, se</p><p>estais provando conosco, de fato, o amargo fel do aprisionamento e</p><p>aceitais o acre vinagre para beber, conduzir-vos-emos agora ao mistério de</p><p>salvação de Paulo, ao método de cura.</p><p>Eis aqui vos digo um mistério [de cura, de salvação], […] todos seremos transformados.</p><p>Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto</p><p>que é mortal se revista da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita:</p><p>Tragada foi a morte na vitória.[21]</p><p>Analisemos agora esse mistério. O verdadeiro aluno é capaz de construir,</p><p>em meio a este mundo efêmero, em seu microcosmo mortal e danificado,</p><p>algo incorruptível e imortal, ou seja, a concepção mental, a imagem</p><p>mental do homem celeste imortal. Esta concepção mental deve ser criada</p><p>de modo inteiramente diverso daquele descrito anteriormente, que origina</p><p>as tramas mentais. A referida concepção mental somente pode ser</p><p>realizada pelo homem que possui o átomo-centelha-do-espírito no</p><p>ventrículo direito do coração.</p><p>Quando esse átomo é tocado pela luz infravermelha da Gnosis, inicia-se</p><p>uma atividade muito especial no timo, glândula endócrina localizada atrás</p><p>do osso esterno. O átomo-centelha-do-espírito começa a vibrar</p><p>vigorosamente e, com seus impulsos de luz, ativa o timo, que por sua vez</p><p>passa a segregar um hormônio na corrente sanguínea.</p><p>O timo é ativo durante nossa infância, todavia se atrofia e torna latente em</p><p>seguida. Ele é reanimado, porém, pelo átomo-centelha-do-espírito, que foi</p><p>tocado pela luz gnóstica. Logo que o sangue, carregado com esse</p><p>hormônio especial, atinja a cabeça e, consequentemente, influencie o</p><p>cérebro, surgirão, em virtude das atividades do sangue nos centros</p><p>cerebrais, os mais surpreendentes pensamentos, aqueles que caracterizam</p><p>o verdadeiro “buscador”. Doravante, se poderá dizer que, graças a esse</p><p>maravilhoso trabalho, a imagem do homem imortal é concebida em seu</p><p>estado embrionário, inteiramente fora da esfera de influência do ser-</p><p>desejo, do eu sanguíneo. Devemos destacar que a natureza, a vibração e a</p><p>composição dessa trama mental, conforme já observamos, é</p><p>completamente diversa daquela dos outros seres mentais já mencionados.</p><p>Consequentemente, essa imagem não pode circular pelo canal do sistema</p><p>fígado-baço. Ela irradia calmamente no campo de respiração do candidato,</p><p>qual uma luz peculiar, e se mantém, na maioria das vezes, bem diante</p><p>dele, face a face. Essa imagem, atraída pela luz infravermelha da Gnosis,</p><p>vez por outra sai do inteiro sistema microcósmico, para além do ser*</p><p>aural, e depois retorna revigorada.</p><p>Todavia, o hormônio do timo, que ocasionou tudo isso, naturalmente desce</p><p>outra vez corrente sanguínea abaixo, e a atividade do corpo de desejos faz</p><p>os rins eliminar do sangue essa substância, sua inimiga.</p><p>No fígado e nos rins todas as substâncias estranhas à natureza do eu são</p><p>filtradas do sangue. Contudo, se o átomo-centelha-do-espírito continua a</p><p>vibrar, com todas as consequências que acabamos de descrever, ver-nos-</p><p>emos diante dessa estranha cisão tão familiar a inúmeros buscadores, a</p><p>vivência de duas vidas. Buscando, continuamos a construir nossa</p><p>concepção* mental supranatural mediante o auxílio da Escola Espiritual.</p><p>Pela disciplina interior e pela força sustentadora do campo de força</p><p>continuamos, sem cessar, a purificar nossa imagem mental divina da</p><p>ilusão e do engano.</p><p>Durante todo esse tempo vivemos a vida normal de efésio,* e</p><p>exteriormente pouco ou nada mudará em nossa vida. Correm os anos, e,</p><p>quando muito, nos aquecemos, vez ou outra, à imagem mental do</p><p>incorruptível que levamos conosco.</p><p>***</p><p>Precisamos, pois, advertir-vos de que esse estado de sonho, durante o qual</p><p>nos deleitamos com nossas tramas mentais, pode durar muito tempo,</p><p>tempo demais, às vezes até mesmo inúmeras encarnações. Por que isso</p><p>acontece?</p><p>Porque o ser-desejo não somente purifica biologicamente o sangue através</p><p>do sistema fígado-baço como também coopera, aparentemente, com vossa</p><p>inclinação de busca!</p><p>O ser-desejo, o eu, está pleno de astúcia* atlante. Ele possui atrás de si</p><p>uma cultura eônica. Assim como a cabeça possui um cérebro, e igualmente</p><p>o coração possui o seu, também a pelve possui seu cérebro, pleno de</p><p>consciência* cerebral lunar, localizado no plexo solar.</p><p>Guiado por essa inteligência, o eu tenta envolver vossa concepção mental</p><p>do eterno, nascida do átomo-centelha-do-espírito, com ilusões,</p><p>especulações de todo o gênero e absolutas inverdades. Prometeu é assim,</p><p>literalmente, preso e acorrentado. A imagem do incorruptível é</p><p>enclausurada no campo de respiração ou ligada a desenvolvimentos</p><p>ocultistas e religiosos naturais. Por isso, a Escola Espiritual está sempre</p><p>alerta a fim de conservar vivo seu trabalho, zelando assim pela pureza de</p><p>sua filosofia, pois dessa forma ela pode prestar a cada candidato o melhor</p><p>auxílio. Ela tem de espelhar-se no exemplo de suas predecessoras no</p><p>tempo, que viram repetidamente seu trabalho extinguir-se de forma</p><p>prematura em virtude de toda a sorte de obstáculos, criados da maneira</p><p>aqui descrita.</p><p>***</p><p>Agora, considerando tudo isso, aprendei o mistério de salvação, o mistério</p><p>de cura. Se o candidato conservar pura e limpa sua concepção mental do</p><p>ser imortal, mediante a vivência de um discipulado sincero e zeloso,</p><p>confiando-se completamente à direção da Escola Espiritual, esse ser</p><p>embrionário recém-nascido de Deus se desenvolverá em toda a plenitude.</p><p>Finalmente, o candidato trará consigo a imagem completa do homem</p><p>celeste original, nascido do polo infravermelho da luz da Gnosis.</p><p>O que deve suceder agora? O que acontecerá doravante? Sabeis que toda a</p><p>trama comum natural de pensamentos circula pelo canal do sistema</p><p>fígado-baço. Do mesmo modo, impulsionada pelo polo ultravioleta da luz</p><p>da Gnosis e por clara decisão da vontade[22] do candidato, a concepção</p><p>mental do homem celeste deverá doravante afluir a essa circulação pelo</p><p>canal do sistema fígado-baço, eventualmente mediante força interior, visto</p><p>que o ser-desejo, o eu, lhe recusará esse acesso.</p><p>Podeis prever as consequências disso. A fortaleza do eu é atacada em</p><p>decorrência dessa nova circulação de forças etéricas inteiramente</p><p>diferentes, os puros éteres de Cristo. O eu, o ser-desejo, é expulso do</p><p>centro da pelve, e um novo ser-desejo* nasce, a corporificação do</p><p>grandioso desejo por salvação.</p><p>Agora possivelmente compreendereis o antigo mito que data do alvorecer</p><p>da era dialética — a lenda de Adão e Eva. Adão é Manas, o pensador, a</p><p>imagem mental do imortal. Eva é o novo eu, o novo ser astral que, saindo</p><p>do lado do corpo, tem de manifestar-se. Ambos, esse homem e essa</p><p>mulher — devido a sua polarização, o ser astral é sempre representado</p><p>como sendo feminino —, esse novo Adão e essa nova Eva, precisam</p><p>nascer em nosso sistema. Quando ambos se unirem em santo trabalho,</p><p>deles nascerá, corporalmente, o novo homem transfigurado.</p><p>É esse o mistério de salvação a que Paulo alude. Esse é o processo. O</p><p>órgão nuclear dialético corruptível, o sistema fígado-baço do homem</p><p>material, precisa revestir-se do incorruptível. Ali, o incorruptível precisa</p><p>forçar seu caminho!</p><p>Então serão cumpridas as palavras jubilosas que estão escritas: “Tragada</p><p>foi a morte na</p>
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O NOVO HOMEM - Psicologia (2024)

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